Nesta semana lemos a Parashá Vaerá (literalmente "E Eu apareci"), na qual D'us começa a mostrar ao Faraó seu "cartão de visitas", após o Faraó ter questionado "Quem é Hashem, para que eu ouça a Sua voz e deixe Israel sair? Não conheço Hashem" (Shemot 5:2). D'us começa a mandar as sete primeiras pragas, que foram pouco a pouco devastando todo o Egito e quebrando a resistência do Faraó, uma pessoa extremamente obstinada. Porém, há um detalhe nesta Parashá que desperta um forte questionamento. Desde a Parashá da semana passada, e continuando na nossa Parashá, D'us instruiu Moshé a pedir uma libertação temporária do povo judeu. Por exemplo, na Parashá Shemot está escrito: "E eles (Moshé e Aharon) disseram (ao Faraó): 'O D'us dos hebreus veio até nós. Agora vamos fazer uma viagem de três dias pelo deserto e sacrificar a Hashem, nosso D'us'" (Shemot 5:3). Também na Parashá desta semana está escrito: "Nos deixe ir para uma jornada de três dias no deserto, para oferecermos sacrifícios a Hashem" (Shemot 8:23). Conforme percebemos pelos versículos, D'us instruiu Moshé a pedir ao Faraó a liberação do povo judeu por apenas três dias, o que significa que depois destes três dias eles voltariam à escravidão egípcia. Mas sabemos que o povo judeu não voltou nunca mais ao Egito. Após saírem, foram diretamente receber a Torá no Monte Sinai e posteriormente se prepararam para a entrada na Terra de Israel. Em nenhum momento a Torá menciona um eventual planejamento de volta ao Egito. Então por que D'us instruiu Moshé a pedir ao Faraó algo que aparentemente não era verdadeiro? Poderíamos responder que era apenas uma forma que D'us encontrou para informar ao Faraó que os judeus não voltariam mais, e que o Faraó havia entendido bem este recado. Porém, essa possibilidade pode ser facilmente derrubada pelas próprias palavras do Faraó, quando ele disse a Moshé: "Eu os deixarei ir para oferecer sacrifícios a Hashem, seu D'us, no deserto, mas não vão muito longe!" (Shemot 8:24). Mesmo que depois o Faraó voltou atrás e não permitiu mais a saída do povo judeu até após a décima praga, fica claro que ele realmente acreditou que seriam apenas três dias, e que posteriormente os judeus voltariam à escravidão! Será que D'us estava sendo desonesto com Faraó? Além do problema moral e filosófico que envolveria o Criador do mundo falar mentiras, o Talmud (Shabat 55a) afirma que "a assinatura de D'us é a Verdade". Então por que D'us pediu ao Faraó três dias de liberdade quando, na realidade, pretendia libertar o povo judeu do Egito para sempre? Como podemos resolver esse problema? Explica o Rav Boruch Leff que, em primeiro lugar, quando D'us disse três dias, Ele realmente quis dizer três dias, e apenas três dias. Naquele momento, somente 210 anos de escravidão haviam se passado, e não os 400 anos que D'us havia profetizado a Avraham após o "Pacto entre as partes", como está escrito: "Você (Avraham) deve saber que sua descendência será estrangeira em uma terra que não é deles, e eles os escravizarão e os oprimirão por 400 anos" (Bereshit 15:13). Porém, eles já estavam chegando ao nível 49 de impureza espiritual, e caso chegassem ao nível 50, não poderiam nunca mais sair daquele estado de impureza e não poderiam mais receber a Torá. Estes três dias no deserto, imersos em espiritualidade e conectados com D'us, longe das idolatrias e imoralidades egípcias, seriam suficientes para que o povo judeu se reconstruísse espiritualmente e suportasse os 190 anos restantes de escravidão. Como o Faraó rejeitou esse "Plano de liberdade de três dias", ele nunca se concretizou. Portanto, quando o povo judeu finalmente deixou o Egito, eles partiram para sempre. Porém, há outra mensagem muito importante neste pedido de D'us para que o povo judeu fosse libertado por apenas três dias. Se alguém nos pedisse hoje para que mudássemos completamente nosso estilo de vida, do dia para a noite, e que nos tornássemos imediatamente tão eruditos e piedosos quanto o maior líder de Torá da geração, certamente nem tentaríamos. Não pelo fato de não sermos boas pessoas ou não termos anseios de crescimento espiritual, e sim pois há desafios tão avassaladores que são praticamente impossíveis de serem vencidos do dia para a noite. Por outro lado, se tivéssemos alguns anos para desenvolver este crescimento mais profundo, então isto até seria possível. As pessoas mudam e crescem gradualmente, aos poucos, passo a passo. É muito comum vermos pessoas que cresceram rápido demais caindo tão rápido quanto cresceram. Crescimento rápido demais, sem bases, não tem efeitos duradouros. D'us sabia que Faraó era muito materialista, apegado a todas as suas posses. Os escravos judeus eram uma parte significativa de suas posses. Pedir ao Faraó para mandar embora para sempre os judeus, seus escravos, seria uma demanda impossível de ser aceita pelo Faraó, seria um teste que ele não poderia passar. D'us queria que Faraó percebesse gradualmente que ele não possuiria para sempre os judeus como escravos. Portanto, Ele planejava levar os judeus por três dias, fazer com que eles O servissem e, desta maneira, o Faraó começaria a entender que, no futuro, os judeus serviriam a D'us e não a ele. Esse pedido de D'us, de "apenas três dias", era algo que o Faraó poderia responder afirmativamente. Embora no final o Faraó acabou recusando, ele pelo menos era capaz de passar no teste caso quisesse, era algo que estava ao seu alcance. Mas havia ainda outro grande benefício neste pedido de D'us ao Faraó. Os judeus também estavam com suas cabeças escravizadas pela realidade egípcia. Apesar dos sofrimentos, eles estavam em uma zona de conforto. Portanto, essa proposta de saída temporária também foi benéfica para a nação judaica. Eles haviam passado muitos anos no Egito e foram afetados negativamente. Se D'us os tivesse ordenado a deixar o Egito repentinamente, eles teriam dificuldade em abandonar suas inclinações culturais e idólatras para servir apenas a D'us. Assim como o Faraó, eles precisavam de tempo para se acostumar com a ideia de que o povo judeu deixaria o Egito. Só gradualmente poderiam começar a servir a D'us, através de Sua Torá e Mitzvót. Eles estavam ligados demais ao Egito, não conseguiriam mudar sem um alívio temporário. Com esta preparação psicológica, quando chegou o momento da saída, o povo judeu passou no teste. Somos pessoas boas e queremos atingir nosso potencial espiritual máximo. No entanto, às vezes, nos movemos rápido demais, causando com que o nosso crescimento não seja duradouro. Por exemplo, saímos sempre de Yom Kipur decididos a nunca mais falar Lashon Hará. E, então, sem perceber, acabamos tropeçando algumas vezes e desistindo. Qual é o erro que cometemos? Um compromisso grande demais em um tempo curto demais. O correto seria pequenos compromissos, tal como definir horários em que nos policiaremos mais para evitar o Lashon Hará, e fazermos um planejamento a longo prazo. Passo a passo, conseguiremos chegar ao nosso objetivo. Este ensinamento também aparece de uma maneira interessante em uma Parashá da Torá que começa de forma incomum: a Parashá Mishpatim, que começa com a palavra "E". A letra "Vav", que literalmente significa "e", tem o papel de conectar duas ideias. Se esta Parashá, que traz dezenas de Mitzvót, começa com um "Vav", isso significa que o início da Parashá Mishpatim está conectada com o fim da Parashá anterior, Yitró, que terminou falando sobre algumas leis de construção do Mizbeach, o Altar de sacrifícios. Qual é a conexão entre os dois assuntos? Uma das regras do Mizbeach é que os Cohanim deveriam subir através de uma rampa, e não através de degraus. Qual é a diferença entre uma rampa e degraus? Uma escada tem degraus, isto é, passos bem definidos, implicando que há uma medida predefinida de quão alto se deve alcançar a cada movimento para frente. Mas não é isso que D'us quer de nós, um crescimento "padrão". No caminho das Mitzvót, D'us quer o nosso crescimento como a subida em uma rampa, onde cada um cresce ao seu próprio ritmo, numa série de passos bem pequenos. Muitas vezes o crescimento de uma pessoa é impedido pela sensação de estar sobrecarregado. Se uma meta for muito elevada, inevitavelmente falharemos e ficaremos desanimados. Precisamos aprender a crescer mais lentamente. Precisamos ter paciência em nosso crescimento espiritual. E precisamos lembrar que o mais importante não é o quão alto estamos na nossa rampa espiritual, e sim a garantia de que estamos sempre subindo. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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