Nesta semana lemos a Parashá Tsav (literalmente "Ordene"), que continua descrevendo muitos detalhes em relação à oferenda de Korbanót no Mishkan e alguns outros Serviços espirituais que eram diariamente realizados pelos Cohanim. Mas um dos Korbanót que chama muito a nossa atenção é o Korban Todá, que literalmente significa "A oferenda do agradecimento". Quando este Korban era oferecido? Em quatro situações específicas, nas quais a pessoa havia passado por um grande risco de vida, mas percebeu a Mão de D'us em sua salvação: ao ser libertado do cativeiro, ao se curar de uma doença grave, ao atravessar o oceano e ao atravessar o deserto. Estas quatro situações causam riscos iminentes de morte e, portanto, a pessoa agradecia a D'us por ter permanecido vivo, apesar dos grandes perigos. Explica o Rav Avraham Shmuel Binyamin Sofer zt"l (Hungria, 1815 - 1871), mais conhecido como Ktav Sofer, que quando alguém passa por uma grande dificuldade ou perigo, a ponto de sua salvação poder ser considerada milagrosa, o normal é agradecer apenas pelo milagre ocorrido e pela salvação do sofrimento. E, aparentemente, isso parece ser racionalmente correto, pois ninguém costuma agradecer pelos sofrimentos e dificuldades. Porém, o Midrash traz um interessante versículo de David HaMelech: "Aquele que oferece um Korban Todá Me traz honra, e Eu prepararei o caminho, Eu lhe mostrarei a salvação de D'us" (Tehilim 50:23). O Midrash então questiona que o termo "Me traz honra", em hebraico, deveria ser "Iechabedani", porém neste versículo está escrito "Iechabedaneni", isto é, ao invés de apenas uma letra "Nun", o versículo está escrito com duas letras "Nun". Por que? Para nos ensinar que, ao agradecermos com o Korban Todá, estamos dando a D'us honra sobre honra. Mas como entender estas palavras do Midrash? O Ktav Sofer explica que devemos agradecer a D'us pela salvação, mas que também devemos agradecê-Lo pela dificuldade, pois nos ensinou o grande Rabi Akiva: "Tudo o que D'us faz, faz para o nosso bem". Portanto, se houve um sofrimento e uma salvação, isto quer dizer que o próprio sofrimento também era algo bom. Mas como podemos agradecer por um sofrimento? Onde pode estar a bondade em uma dificuldade que passamos na vida? Existem algumas formas de enxergar as bondades por trás das dificuldades. Por exemplo, um sofrimento pode ser a forma que D'us utiliza para nos despertar e nos ajudar a consertarmos os nossos atos, como um pai que dá um tapa em seu filho para que ele perceba que está fazendo algo errado. Outras vezes as dificuldades são apenas um caminho para que venha para a pessoa uma bondade muito maior. É por isso que os nossos sábios explicam que da mesma forma que devemos abençoar com alegria algo bom que aconteceu em nossa vida, assim também devemos agradecer algo ruim que nos aconteceu, pois há alguma bondade escondida. Mas será que algum ser humano consegue viver desta maneira? Sim, muitas pessoas se trabalharam para ver a vida desta maneira. Por exemplo, David Hamelech nos deixou por escrito a certeza de que, apesar de todos os sofrimentos e dificuldades pelos quais ele passou, era assim que ele vivia a vida: "Eu Te agradecerei porque Você me respondeu, e Você foi minha salvação" (Tehilim 118:21). Nossos sábios explicam que a linguagem "Anitani" pode significar "Me respondeu", mas também pode significar "Me castigou com sofrimentos". Portanto, David Hamelech agradecia não apenas pela salvação, mas também pelas dificuldades que D'us mandava. David Hamelech também dizia: "Eu abençoarei a D'us em todos os momentos" (Tehilim 34:2). O que significa "todos os momentos"? Nos momentos bons e também nas dificuldades. David Hamelech conseguia ter a Emuná tão completa, a ponto de agradecer a D'us pelas salvações e bons momentos, mas também pelas dificuldades. Quando nossos sábios ensinam que devemos agradecer por algo ruim como agradecemos com alegria pelas coisas boas, não quer dizer que devemos dar uma festa quando passamos por um sofrimento, e sim que devemos receber os sofrimentos com amor, serenidade e tranquilidade, pois precisamos colocar no coração a certeza de que tudo o que D'us faz é para o bem, e somos nós que temos uma visão limitada dos acontecimentos. Portanto, esta é a resposta do nosso questionamento inicial, sobre a linguagem "Iechabedaneni", relacionada com o Korban Todá e escrita com duas letras "Nun". Aquele que oferecia o Korban Todá não deveria agradecer apenas pela salvação, mas também pela dificuldade ou sofrimento que veio antes. É por isso que a palavra "Me traz honra" está escrito com duas letras "Nun", para aprendermos que o agradecimento deve ser duplo, pela salvação e pelo problema também, honra sobre honra, pois tudo o que D'us faz é para o nosso bem. Desta maneira também podemos entender as palavras na continuação do versículo "e Eu prepararei o caminho, Eu lhe mostrarei a salvação de D'us". Mesmo que possamos acreditar que tudo o que D'us faz é para o nosso bem, como não temos o dom da profecia, não conseguimos saber no momento do sofrimento qual é a bondade que florescerá dele. Porém, aquele que confia em D'us com o coração pleno, com a certeza de que os sofrimentos também veem para o nosso bem, ao ponto de até mesmo agradecer por eles, então D'us abrirá seus olhos e seu coração entenderá como surgirá a bondade verdadeira de dentro daquele acontecimento ruim ilusório. Desta maneira, quando a pessoa honra D'us mesmo através de algo que, pela sua visão limitada, parecia ser algo ruim, a pessoa pavimenta o caminho para que D'us mostre para ela em sua salvação que o próprio mal é uma bondade. O nome de D'us mencionado neste versículo de David HaMelech é "Elokim", que normalmente está associado à característica de justiça estrita de D'us. Mesmo quando D'us nos castiga utilizando Sua justiça estrita, no fundo tudo é direcionado para nossa salvação, tudo é fruto da Sua misericórdia. Explica o Rav Yochanan Zweig que de acordo com o Midrash, no Mundo Vindouro o único tipo de sacrifício que ainda será oferecido será o Korban Todá. O que há de tão único neste Korban para que seja oferecido no Mundo Vindouro, enquanto os outros sacrifícios serão cancelados? Todos os sacrifícios são feitos para expiar as transgressões, com exceção do Korban Todá que é trazido para agradecer a D'us por alguma salvação milagrosa. Todos os outros sacrifícios são feitos para reparar um relacionamento danificado pelas transgressões. Como no Mundo Vindouro as transgressões não existirão, esses sacrifícios não terão mais propósito. A palavra "Todá", que significa "agradecimento", está associada à palavra "Modê", que significa "reconhecimento". Quando uma pessoa expressa seu apreço por algo que foi feito por ela, está reconhecendo o bem e declarando que espera a oportunidade de retribuir, como está implícito na expressão "obrigado", isto é, me sinto na obrigação de retribuir. Portanto, mostrar apreço é a maneira pela qual uma pessoa expressa que deseja que o relacionamento perdure e floresça. O Rav Moshe Chaim Luzzato zt"l (Itália, 1707 - Israel, 1746) explica que o Mundo Vindouro não tem limites. O ser humano continuará a obter prazer de sua perfeição conquistada por toda a eternidade. No mundo material, o crescimento é alcançado ao evitarmos e nos arrependermos das transgressões. No entanto, no Mundo Vindouro, o mundo da verdade e da claridade, cometer transgressões não será uma opção. Portanto, o crescimento só poderá ser alcançado expressando nossa gratidão pela recompensa que recebemos de D'us. Isso torna o Korban Todá mais apropriado para o Mundo Vindouro. Precisamos ser mais agradecidos a D'us. Em nossa visão limitada, muitas vezes deixamos de perceber bondades incríveis de D'us conosco. Mesmo nas dificuldades e sofrimentos há muita bondade escondida. Que possamos ter uma confiança plena em D'us, em Sua bondade e retidão, para que Ele possa abrir nossos olhos e corações para a verdade. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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