Nesta semana lemos a Parashá Shemini, que significa literalmente "Oitavo". Por que a Parashá recebe este nome? Pois após o Mishkan ter sido finalmente terminado, ele foi inaugurado. Mas esta inauguração não durou um único dia. Durante os sete primeiros dias, a partir do dia 23 do mês de Adar, D'us ordenou a Moshé que pessoalmente erguesse diariamente o Mishkan, fizesse todos Serviços como se fosse o Cohen Gadol e o desmontasse. Somente no oitavo dia, no Rosh Chodesh Nissan, os Cohanim foram consagrados e, a partir daquele dia, seriam os únicos que poderiam fazer os Serviços sagrados. A Parashá conta sobre os Serviços justamente neste oitavo dia de inauguração. O número sete represente o mundo material, enquanto o número oito representa o transcendental, estar acima da natureza. Esta seria a nova realidade do povo judeu através do Mishkan, uma conexão direta com D'us, uma forma de a nossa espiritualidade se tornar um pouco mais palpável e perceptível no cotidiano. A Parashá começa trazendo um detalhe que chama a atenção. Durante a inauguração do Mishkan, foi requerido que Aharon HaCohen e o povo judeu trouxessem diferentes tipos de Korbanót. Entre eles haviam "Korbanót Olá" (sacrifícios de elevação), que eram completamente queimados sobre o Mizbeach, e "Korbanót Chatat" (sacrifícios de culpa), para expiar erros cometidos. Como Korban Chatat, Aharon foi ordenado a trazer um bezerro, enquanto o povo judeu foi ordenado a trazer um cabrito. Mas por que justamente estes animais? Além disso, o Midrash nos ensina que Aharon e o povo judeu tinham contas a prestar com D'us por causa das transgressões cometidas no começo e no final. O que significam estas palavras do Midrash? Explicam os nossos sábios que a linguagem "transgressões do começo" se refere à venda de Yossef. Os irmãos de Yossef sentiam muita inveja dele, por causa do tratamento diferenciado que seu pai, Yaacov, dava para ele. O auge do ciúme ocorreu quando Yaacov deu a Yossef uma túnica de lã fina. Por causa deste sentimento negativo, os irmãos acabaram desviando o julgamento de Yossef e o consideraram um criminoso perigoso, um potencial ladrão de primogenitura, que merecia pena de morte. No final, decidiram não derramar seu sangue, mas quiseram anular seus supostos planos malvados vendendo-o como escravo para o Egito. Para convencer o pai de que eles eram inocentes em relação ao desaparecimento de Yossef, eles rasgaram e mergulharam sua túnica no sangue de um cabrito, para simular que Yossef havia sido devorado por um animal feroz. É por isso que um cabrito foi trazido como expiação desta transgressão. Já a linguagem "transgressões do final" se refere à terrível transgressão do Bezerro de Ouro. O povo judeu, desesperado com a demora de Moshé em descer do Monte Sinai, construiu um bezerro feito de ouro, deixando D'us furioso, a ponto de querer destruir todo o povo judeu. O Bezerro de Ouro era a materialização da falta de confiança do povo judeu em D'us e a falta da percepção de que cada judeu poderia se conectar com D'us diretamente, sem a necessidade de intermediários. É por isso que um bezerro era trazido como expiação desta transgressão. Porém, deste Midrash surge uma grande pergunta. Podemos entender por que o povo judeu tinha que fazer um conserto em relação à transgressão do Bezerro de Ouro durante a inauguração do Mishkan, pois o Bezerro de Ouro, criado para ser um intermediário entre o povo judeu e D'us, era como uma idolatria, uma afronta direta à D'us, e fez com que a Presença Divina se afastasse. Portanto, o momento da inauguração do Mishkan, o local onde residiria a Presença de D'us, isto é, que traria a Presença Divina de volta para o mundo, era o momento adequado para que o conserto do relacionamento do povo judeu com D'us fosse feito. No entanto, qual é a conexão entre a venda de Yossef e a inauguração do Mishkan? Já que era uma transgressão cometida há tanto tempo, por que tinha que ser "consertada" justamente no momento da inauguração do Mishkan? E qual é a mensagem transmitida para nós? Explica o Rav Issocher Frand que a transgressão da venda de Yossef estava embasada no sentimento de inveja. Os irmãos não conseguiram suportar o fato de Yaacov ter dado a Yossef um tratamento diferenciado. Mas por que este ciúme consumia tanto os irmãos de Yossef, grandes Tzadikim, que foram os fundadores das 12 Tribos de Israel? Eles fizeram um cálculo completamente equivocado. Se Yossef era tão especial, a ponto de merecer um tratamento diferenciado e até mesmo uma roupa fina, então isso significava que eles não eram especiais. Incapazes de viver com essa ideia, eles bolaram um plano contra Yossef, que culminou em sua venda como escravo. Qual foi o grande erro dos irmãos de Yossef? O fato de alguém ser especial e receber um tratamento diferenciado não quer dizer que você também não é único especial. As pessoas são diferentes, e têm funções diferentes no mundo, mas ninguém é melhor do que ninguém. O sentimento dos irmãos de Yossef era completamente equivocado. Yossef realmente teve um papel de destaque, se transformando no vice-rei do Egito e salvando sua família da fome que também assolou a Terra de Israel. Porém, os irmãos também deram uma contribuição única e especial, pois cada um deles deu origem a uma das 12 Tribos de Israel, que foram as fundações do povo judeu. Mas por que isso precisava ser lembrado e "consertado" justamente na inauguração do Mishkan? Pois a inauguração do Mishkan tinha o potencial de despertar novamente os sentimentos negativos da inveja e do ciúme. O que estava acontecendo quando o Mishkan estava sendo inaugurado? Uma única família foi escolhida para assumir o sacerdócio. A família de Aharon, irmão de Moshé, realizaria todos os Serviços sagrados, vestiria uma roupa especial dos Cohanim, roupas finas, com ouro, pedras preciosas e tecidos caros, além de receber presentes especiais do resto do povo, como partes dos Korbanót, a primeira tosquia das ovelhas e as primícias das frutas. Era um tratamento muito diferenciado, diferente do que era experimentado pelo resto do povo. Por todas estas diferenças, os Cohanim seriam, portanto, um alvo fácil para os invejosos. E esta inveja poderia levar a atos de desprezo ou outras consequências até piores, como aconteceu no caso de Yossef. A inveja é a porta de entrada do ódio gratuito e do Lashon Hará. Portanto, a inauguração do Mishkan foi o momento ideal para lembrar que no judaísmo há regras. Há regras para os Cohanim, para os Leviim e para os Israelim. Há regras para os homens e para as mulheres. Ninguém é melhor do que ninguém, cada pessoa tem o seu papel e sua função únicos no mundo. O fato de os Cohanim receberem roupas honrosas e um papel de destaque não fazia deles pessoas melhores do que o resto do povo. Uma pessoa ser especial não faz com que as outras não sejam, pois aos olhos de D'us cada ser humano é único e insubstituível. Portanto, a inauguração do Mishkan foi um momento apropriado para expiar a transgressão da venda de Yossef, pois era um lembrete ao povo do grande perigo de se deixar levar pelo ciúme e inveja. Assim também funciona a nossa vida. Nem todos são iguais, nem todos possuem as mesmas forças. Nem todos vão ter as mesmas funções e responsabilidades. Nem todos vão receber os mesmos benefícios e privilégios. Porém, todos devem estar contentes com o papel que lhes foi atribuído por D'us. Se estamos neste mundo, isso significa que o mundo precisa de nós. Se tivermos essa claridade, não sentiremos inveja de ninguém. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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