quinta-feira, 21 de novembro de 2019

LENDO NAS ENTRELINHAS - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHAT CHAIEI SARÁ 5780


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PARASHAT CHAIEI SARÁ 5780:

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LENDO NAS ENTRELINHAS - PARASHAT CHAIEI SARÁ 5780 (22 de novembro de 2019)


"O Rabino Goldstein estava no meio de uma aula de Talmud com um grupo de jovens. Eles discutiam um caso interessante, sobre falsas testemunhas que foram desmascaradas pelo Tribunal Rabínico. No meio da discussão sobre uma das opiniões do Talmud, Roberto, um dos frequentadores da sinagoga, fez uma pergunta:
 
- Rabino, é verdade que os suicidas são enterrados de forma desonrosa, perto da parede do cemitério?
 
O rabino explicou a gravidade do ato de suicídio e alguns detalhes das leis envolvidas, mas algo o incomodou muito. A pergunta estava completamente fora de contexto! Ele entenderia a pergunta se o estudo fosse sobre morte ou sobre o valor da vida, mas qual era a conexão entre o suicídio e o assunto das falsas testemunhas?
 
Apesar de incomodado, o rabino continuou a aula normalmente. No final da aula, ele aproximou-se de Roberto e, de forma carinhosa, começou a perguntar qual era o motivo daquele questionamento totalmente fora de contexto. Roberto quis desconversar em um primeiro momento, dizendo que era apenas uma curiosidade sua, já que havia escutado sobre as duras leis que se aplicavam a um suicida e queria saber se era verdade. Porém, o rabino não se convenceu com a resposta e continuou insistindo. Após alguns minutos de conversa, tudo se esclareceu. Roberto estava passando por tantas dificuldades e sofrimentos que, infelizmente, estava determinado a terminar com a sua própria vida. Felizmente, aquele rabino, com sua sensibilidade especial, havia percebido a tempo que havia algo de errado. Com muitos conselhos importantes e a ajuda de outros membros da comunidade, Roberto se convenceu de que nenhum dos seus problemas era maior do que o valor da vida." (História real)
 
Precisamos desenvolver a sensibilidade necessária para "ler nas entrelinhas" e entender que as pessoas nos transmitem muito mais do que apenas as palavras que elas pronunciam. Somente com esta sensibilidade poderemos ajudar os outros no máximo nível de bondade.

 

A Parashat da semana passada, Vaierá, descreveu a "Akeidat Ytzchak", o último teste de Avraham, no qual ele demonstrou estar disposto a sacrificar seu próprio filho para cumprir a vontade de D'us. No último instante, um anjo impediu Avraham de sacrificá-lo, pois já havia sido suficiente a sua demonstração de lealdade. Naquele momento, Avraham começou a refletir. Se ele realmente tivesse sacrificado Yitzchak, que na época já tinha 37 anos, ele teria morrido sem deixar descendentes, o que quebraria toda a transmissão dos valores espirituais para as futuras gerações. Avraham decidiu então que era hora de Ytzchak se casar. D'us profeticamente informou a ele que seu irmão Nahor teve muitos descendentes e entre eles havia uma potencial esposa para Ytzchak.
 
É por isso que na Parashat desta semana, Chaiei Sara (literalmente "A vida de Sara"), Avraham enviou seu fiel servo, Eliezer, para procurar uma esposa adequada para seu filho. Avraham orientou Eliezer a procurar uma moça no local onde vivia sua família. Quando Eliezer chegou ao seu destino, ele rezou para que D'us o ajudasse a determinar quem deveria ser a esposa de Yitzchak. Eliezer pediu a D'us um "sinal", definindo os critérios de escolha da moça que seria encaminhada por D'us: "Será a moça a quem eu direi: 'Por favor, verta seu jarro para que eu beba', e ela responder: 'Beba, e eu também darei de beber aos seus camelos', esta será a moça designada para seu servo, para Yitzchak, e poderei saber, através dela, que Você fez bondade com meu senhor" (Bereshit 24:14). Porém, por que Eliezer fez a escolha através de "sinais Divinos"? Por que não fez a escolha de uma maneira mais objetiva, procurando uma moça que tivesse bons traços de caráter?
 
Os comentaristas da Torá explicam que Eliezer não sugeriu a D'us um sinal aleatório. Ele não pediu, por exemplo, uma mulher que estivesse com um vestido rosa de bolinhas verdes. Os sinais que ele pediu a D'us eram, ao mesmo tempo, uma forma de verificar se a futura matriarca do povo judeu tinha um senso de bondade altamente desenvolvido. Isto é possível perceber nos detalhes do pedido de Eliezer. Ele planejava pedir água apenas para si mesmo, mas esperava que a moça escolhida reagisse de uma maneira proativa e, por sua própria iniciativa, também oferecesse água aos seus numerosos camelos. O Rav Ovadia Sforno zt"l (Itália, 1475-1550) ressalta que Eliezer queria testar se ela iria além do que ele verbalmente havia expressado em seu pedido. Isto demonstraria que ela tinha a sensibilidade necessária para perceber que as suas verdadeiras necessidades eram muito maiores do que a água para beber que ele havia pedido. O sinal era, portanto, um teste de bondade em um nível mais elevado.

De maneira semelhante, o Rav Meir Leibush zt"l (Rússia, 1809 - 1879), mais conhecido como Malbim, ressalta que não bastava que Rivka fosse bondosa. Eliezer também queria que ela demonstrasse um profundo nível de sabedoria, que lhe permitisse atender melhor as necessidades dele. Ele foi muito preciso em seu pedido a Rivka. Ele pediu que ela lhe vertesse a água, ao invés de ele mesmo pegar o pote para beber. Mas o que isto demonstrava? Que traço de caráter Eliezer estava testando em Rivka?
 
Normalmente as pessoas se irritam quando alguém é "folgado", isto é, quando uma pessoa se acomoda e se aproveita da bondade dos outros, ao invés de se esforçar para conseguir o que precisa. Infelizmente muitas pessoas se recusam a ajudar mendigos na rua e os rechaçam com a expressão "Vai trabalhar, seu encostado". Por que é tão comum este tipo de reação? Pois não julgamos as pessoas de forma positiva. Não paramos para refletir que provavelmente aquela pessoa "encostada" nunca teve as mesmas condições que nós, nunca foi ensinada e estimulada a se esforçar e a vencer suas dificuldades. Provavelmente esta pessoa nunca teve estudo e nem recebeu condições de ter um trabalho digno. É justamente este sentimento de egoísmo, de julgar os outros de forma negativa, que impede tantas pessoas de fazerem bondade com aqueles menos favorecidos.
 
Era justamente este traço de caráter que Eliezer queria testar em Rivka. Ele esperava checar, ao pedir para uma moça frágil que ela o servisse, ao invés de ele mesmo se esforçar e se servir, se ela se irritaria com a sua suposta preguiça, ou se ela tentaria julgá-lo favoravelmente. Por exemplo, ela poderia imaginar que ele estava pedindo para que ela vertesse a água pois estava com alguma dor nas mãos, que o impedia de verter sozinho o jarro de água. Deste modo, se ela tivesse sensibilidade e sabedoria, ela perceberia que, se ele não tinha forças nem mesmo para segurar o jarro para si mesmo, certamente também seria incapaz de tirar água para todos os seus numerosos camelos. Se ela fosse uma moça que buscava fazer bondades completas, ela executaria a árdua tarefa de servir pessoalmente água aos camelos de Eliezer. Somente quando Rivka passou com sucesso nestes testes foi que Eliezer percebeu que havia encontrado uma esposa apropriada para Yitzchak. Alguém com um coração bondoso, que julgava as pessoas de forma positiva.
 
Não era suficiente Rivka ser apenas gentil. Eliezer buscava alguém que demonstrasse também sabedoria e sensibilidade, de forma que pudesse perceber as verdadeiras necessidades dos outros sem que fosse necessário pedir diretamente. Aprendemos daqui que, para fazermos bondade de maneira ideal, precisamos também de sabedoria. Isto não significa que a pessoa precisa ter um grau de inteligência extremamente alto, mas que ela precisa desenvolver uma sensibilidade com as pessoas ao seu redor, para que possa, desta maneira, perceber as necessidades dos outros e provê-las sem precisar ser abordado.
 
O Rav Yossef Dov Soloveitchik zt"l (Bielorrússia, 1820 - 1892), mais conhecido como Beis HaLevi, aprende um ensinamento semelhante de um versículo no final da Meguilat Ester. Ao exaltar os louvores de Mordechai como líder do povo judeu, a Meguilá nos diz que ele "procurava o bem para o seu povo" (Ester 10:3). Porém, o que há de especial em um líder fazer bondades, a ponto de a Meguilá querer ressaltar isto como algo especial em Mordechai? Não era óbvio? O Beis Halevi explica que Mordechai não apenas fazia bondades. Ele não esperava até as pessoas o procurarem e pedirem ajuda. Ao invés disso, ele se antecipava, procurava as pessoas e tentava perceber quais eram as suas reais necessidades e como ele poderia ajudar a cada uma delas.
 
Ao longo da vida, nos deparamos com muitas pessoas que precisam de ajuda, de todos os tipos. No entanto, muitas vezes elas têm vergonha de pedir ajuda explicitamente. Por isso, é muito importante nos esforçarmos para adquirir um comportamento semelhante ao de Rivka, isto é, a sensibilidade de perceber as necessidades dos outros antes deles precisarem pedir ajuda. Precisamos sempre olhar nas entrelinhas do que uma pessoa está nos pedindo ou nos contando. Por exemplo, uma pessoa certa vez estava vivendo em um nível de pobreza desesperador, porém, tinha vergonha de contar aos amigos e pedir ajuda. Como esta situação foi descoberta e a pessoa foi ajudada? Um amigo certa vez lhe emprestou 25 Shekalim, um valor muito baixo. Algumas semanas depois, eles casualmente se encontraram e a pessoa perguntou se ele poderia pagar a dívida. O rosto do devedor ficou branco, ele baixou os olhos e, com muita vergonha, disse que não tinha condições de pagar o empréstimo. Tal reação fez com que seu amigo percebesse que havia algo errado. Imediatamente ele começou a investigar e descobriu que seu amigo não tinha dinheiro suficiente nem para as necessidades mais básicas.
 
Às vezes, a expressão facial de uma pessoa ou um comentário casual podem indicar alguma necessidade. Está ao nosso alcance desenvolver uma sensibilidade maior, para "ler nas entrelinhas" e, assim, aumentar muito a nossa capacidade de fazer bondade ao próximo.
 

SHABAT SHALOM

 

R' Efraim Birbojm

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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
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