Nesta semana lemos a Parashá Lech Lechá (literalmente "vá para você"), que começa a descrever um pouco da vida de Avraham Avinu, nosso primeiro patriarca, uma das pessoas que mais influenciou a história da humanidade e fez com que o conceito de um D'us único se tornasse óbvio para a grande maioria das pessoas. Mas Avraham não nasceu um gigante espiritual, ele foi crescendo aos poucos, vencendo os testes da vida, questionando, observando e aprendendo com os erros e acertos. A Parashá também descreve um pouco da vida de Sara, nossa primeira matriarca. Ela também passou por vários testes e precisou superar dificuldades. Por exemplo, a Parashá nos ensina que Sara, mesmo após muitos anos de casada, não conseguia ter filhos. Entendendo que o problema estava nela, sugeriu ao marido, Avraham, que se casasse com sua serva Hagar, para que pudesse ter um filho com ela. Sara pretendia criar o filho da serva como se fosse seu próprio filho. Avraham seguiu a sugestão da esposa e casou-se com Hagar. Porém, quando Hagar percebeu que estava grávida, começou a tratar Sara, sua patroa, com desrespeito e desprezo. Sara, com autorização de Avraham, tratou-a de forma dura, para "colocá-la em seu lugar", e Hagar fugiu dela, indo para o deserto. Hagar então teve um encontro com um anjo, como está escrito: "E ele (o anjo) disse: 'Hagar, serva de Sarai, de onde você vem e para onde vai?' E ela disse: 'De diante de Sarai, minha senhora, estou fugindo'. E o anjo de D'us lhe disse: 'Volte para sua senhora, e deixe-se afligir sob as mãos dela'" (Bereshit 16:8,9). O que representa este diálogo e o que nos ensina para a vida? O Rav Ovadia Sforno zt"l (Itália, 1475 - 1550) explica que o anjo estava transmitindo para Hagar a seguinte mensagem: "Hagar, reflita um pouco. De onde você está fugindo? Da casa de Avraham. Você sabe o tamanho do mérito de pertencer à casa de Avraham? Você tem ideia de como você é uma pessoa melhor em virtude de viver na casa de Avraham? Você estava em um ambiente de santidade e pureza, e agora você está indo para um lugar sem santidade, habitado por pessoas más!". Hagar respondeu que não estava indo para nenhum lugar específico, simplesmente estava fugindo, pois não aguentava mais aquela situação intolerável. O anjo então disse que ela deveria voltar de qualquer forma, não importando o quão ruim e difícil fosse. Já o Rav Simcha Zissel Ziv Broida zt"l (Lituânia, 1824 - 1898), mais conhecido como Saba MiKelem, explica que há outro nível de entendimento para este diálogo entre Hagar e o anjo. Ao ser questionada "de onde você vem e para onde você vai?", Hagar respondeu: "Não precisa se preocupar comigo. Desde que passei a viver na casa de Avraham, fiquei imune às influências negativas. Eu cheguei a esse nível de santidade durante os anos em que passei no ambiente sagrado da casa de Avraham, então nada de ruim pode acontecer comigo. Eu não me corromperei". Porém, ao ouvir isso, o anjo respondeu: "Hagar, você está completamente enganada. Não importa quantos anos você passou na casa de Avraham. Veja para onde você vai. O novo ambiente para onde você está indo certamente lhe afetará negativamente, pois o ambiente nos influencia. Hoje, seus valores podem estar corretos, mas ninguém pode garantir que está imune das más influências e que pode viver em um ambiente negativo sem ser afetado". A melhor prova de que podemos cair muito quando estamos sob más influências é Lót, o sobrinho de Avraham. Por muito tempo Avraham foi o seu tutor. Avraham cuidou dele, educou-o nos caminhos de D'us, ensinou-lhe sobre Chessed e o instruiu a viver um estilo de vida adequado. No entanto, quando Lót se separou de Avraham e foi para Sdom, seu sistema de valores mudou totalmente. Nossos sábios ensinam que, após se separar, Lót disse: "Eu já não preciso de Avraham e nem do D'us dele". O Alter MiKelm explica que Lót nunca disse explicitamente essas palavras. O que nossos sábios estão transmitindo é que alguém que diz "posso sair da casa de Avraham e viver em Sdom sem ser afetado" é como se dissesse "Não preciso de Avraham e nem do seu D'us". Era uma forma de Lót se autoenganar, para se convencer de que havia feito a escolha certa. Porém, a história mostrou o quanto ele estava enganado e o quanto caiu espiritualmente por causa de sua escolha errada. Explica o Rav Yissocher Frand que nenhuma pessoa está imune ao ambiente em que vive. As pessoas são seres sociais, elas são afetadas pelas pessoas em volta. Uma pessoa que diz "Sou forte, influências negativas não me afetarão" está se colocando em perigo. Isso irá afetá-la certamente. Foi isso que o anjo transmitiu para Hagar: "Volte para a casa de Avraham, para as boas influências, não importa o quão difícil seja. Pois, se você não o fizer, você cairá muito". Na Parashá da semana passada, lemos sobre o Dilúvio e a Arca construída por Noach, que salvou sua família. Após quase um ano trancado na Arca, Noach enviou uma pomba para saber se as águas já tinham diminuído, como está escrito: "A pomba retornou a ele de noite, e eis que havia uma folha de oliveira em seu bico, e Noach soube que as águas diminuíram sobre a terra" (Bereshit 8:11). Mas de onde a pomba trouxe aquela folha de oliveira? O Ramban zt"l (Nachmânides) (Espanha, 1194 - Israel, 1270) diz que há diferentes opiniões e, de acordo com uma delas, a pomba trouxe a folha do Gan Éden, que não tinha sido atingido pelo Dilúvio. Mas se a pomba trouxe a folha do Gan Éden, que não havia sido inundado, então como isto era uma prova que as águas já tinham baixado? Explica o Ramban que os portões do Gan Éden foram fechados para que as águas não entrassem e, após cessarem as águas, os portões foram novamente abertos. Se a pomba conseguiu entrar no Gan Éden, isso era sinal de que as águas já haviam baixado. Se pararmos para refletir sobre este ensinamento do Ramban, aprenderemos algo incrível. A força do Dilúvio foi tão grande que até mesmo o Gan Éden precisou ter seus portões fechados para impedir que as águas invadissem. Este ensinamento é muito importante para as nossas vidas. Atualmente estamos presenciando um verdadeiro "dilúvio espiritual", que está arrancando e destruindo impiedosamente os valores plantados e cultivados por várias gerações. Se até o Gan Éden teve que fechar seus portões para não ser atingido, muito mais nossas casas precisam ser "blindadas" para nos proteger deste "dilúvio espiritual". Muitas vezes passamos por testes e tentações que nos levam a lugares que talvez não sejam os melhores ambientes. Dizemos a nós mesmos: "Não devo me preocupar, posso lidar com isso, sou forte o suficiente". Porém, não é assim, pois todos precisam de um bom ambiente. Precisamos fechar nossas casas e nossas vidas diante das más influências. Ensinam os nossos sábios: "Rabi Yossef ben Kisma disse: 'Uma vez eu estava andando na estrada, quando eu encontrei um homem. Ele me cumprimentou e eu o cumprimentei de volta. Ele me disse: "Rabino, de que lugar você é?". Eu disse a ele: "Eu sou de uma grande cidade de estudiosos e sábios". Ele me disse: "Rabino, você estaria disposto a morar conosco em nossa cidade? Eu lhe darei milhares e milhares de dinares de ouro, pedras preciosas e pérolas". Eu respondi: "Mesmo que você me desse toda a prata, ouro, pedras preciosas e pérolas do mundo, eu não iria viver onde não fosse um lugar de Torá" (Pirkei Avot 6:9). O Rav Yechezkel Levenstein zt"l (Polônia, 1895 - Israel, 1974) faz uma interessante pergunta: o homem que fez a oferta devia ser muito rico. Por que, então, ele não pensou em se mudar para uma cidade com mais Torá? A resposta é que este homem provavelmente ganhava seu sustento na cidade onde morava, e não estava disposto a abandonar seu comodismo para ir viver em um local de Torá. Ele pensava: "Eu posso viver aqui. Trarei um rabino e tudo vai estar bem". Isso é um erro. Nem Hagar, nem ninguém, está imune às más influências do seu ambiente. Esta é a lição do diálogo entre Hagar e o anjo. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, deixe aqui a sua pergunta ou comentário sobre o texto da Parashá da semana. Retornarei o mais rápido possível.