Nesta semana lemos a Parashá Vayakel (literalmente "E reuniu"), que novamente trata da construção do Mishkan, o Templo Móvel, que representava o local de "moradia" da Presença de D'us no mundo. Apesar de a Torá já ter se alongado muito nas Parashiót Terumá e Tetzavê, descrevendo todos os detalhes construtivos do Mishkan e de seus utensílios, naquelas Parashiót a construção do Mishkan era apenas um projeto, um potencial. Já na Parashá desta semana o Mishkan começou a ser efetivamente construído, com a intensa participação do povo judeu, tanto na doação dos materiais quanto na doação da mão de obra. Em relação à mão de obra para a construção do Mishkan, o Ramban zt"l (Nachmânides) (Espanha, 1194 - Israel, 1270) traz um interessante questionamento. A construção do Mishkan era uma empreitada muito grandiosa, com detalhes construtivos extremamente rebuscados. Esperaríamos que a escolha dos construtores fosse baseada em elementos técnicos, isto é, na busca de pessoas com habilidades para trabalhos manuais ou com conhecimentos mínimos de construção. Porém, o que a Parashá nos ensina? "E veio todo homem cujo coração o elevava" (Shemot 35:21). Este era o único requisito para a difícil construção do Mishkan? Explica o Ramban que não havia ninguém com qualquer tipo de experiência anterior em relação a estes tipos de trabalhos requeridos para a construção do Mishkan e não havia nenhum artesão que pudesse transmitir a eles ao menos os conceitos básicos. Mesmo assim, houveram aqueles que se levantaram e se voluntariaram para participar das atividades construtivas, pessoas cujo coração as elevou e as conectou a D'us, aqueles que assumiram a responsabilidade de fazer a construção acontecer. Explica o Rav Yerucham Leibovitz zt"l (Bielorússia, 1873 - 1936) que este versículo da Torá vem nos ensinar o incrível valor da iniciativa e da ambição positiva, que podem transformar o mundo e a vida de cada um de nós. Se prestarmos atenção nas pessoas mais poderosas e influentes do mundo, aqueles que chegaram ao topo, perceberemos que há um ponto em comum entre todas elas: o sucesso delas veio somente graças à sua incrível capacidade de iniciativa. Todo aquele que tem a força da iniciativa guarda dentro de si o potencial de grandeza, e são boas as chances dele conseguir chegar ao topo do sucesso. Porém, ao contrário, quando a pessoa não tem iniciativa, não terá sucesso em seu caminho e não conseguirá subir na escada das conquistas. Em geral, as pessoas que não têm iniciativa terminam se tornando pessoas pequenas, muito abaixo do seu verdadeiro potencial, e as chances naturais é que permaneçam sempre neste nível mais baixo. Na construção do Mishkan, D'us não escolheu os melhores profissionais, os mais capacitados e com mais experiência, e sim aqueles cujo coração os elevou, isto é, aqueles que receberam sobre si fazer o trabalho, que tiveram a iniciativa e o empreendedorismo. Naquela geração, esmagada pela opressão da escravidão egípcia, infelizmente não eram muitos que tinham esta característica. Moshé anunciou, diante de todo o povo, um empreendimento gigantesco, com detalhes complexos. Era a construção da "Casa de D'us", que traria a Presença Divina para perto do povo, um empreendimento que nunca havia existido na história da humanidade. Não havia trabalhadores com nenhum tipo de experiência e não havia possibilidade de treinamento. Parecia algo impossível. Mas nem mesmo todos estes desafios impediram aqueles de espírito empreendedor de se levantarem e se voluntariarem ao trabalho. Eles não hesitaram nem por um instante, responderam imediatamente à convocação de Moshé. Esta é a força que existe dentro daqueles que têm iniciativa na vida. É justamente isso que nos transmitiu o mais sábio de todos os homens, Shlomo Hamelech: "Vá até a formiga, preguiçoso, veja o comportamento dela e se torne sábio. Pois ela não tem chefe, supervisor nem governante e mesmo assim, prepara o seu pão no inverno e reúne na época da colheita seu alimento" (Mishlei 6:6-8). Mas por que Shlomo HaMelech utilizou justamente a formiga como inspiração para o preguiçoso? Explica o Midrash que a formiga não vive mais do que seis meses, e tudo o que ela precisa comer durante a vida é uma espiga e meia de trigo. Porém, mesmo assim ela trabalha duro durante todo o verão. Mas por que ela junta tanta comida, se provavelmente nem mesmo estará viva quando o inverno chegar? Pois ela pensa: "Talvez D'us decretará para mim vida e, caso isso aconteça, eu quero estar com a comida pronta". O Rabi Shimon bar Yochai conta que certa vez encontraram em um formigueiro uma quantidade de 300 Kor (cada Kor equivale a aproximadamente 250 litros), que as formigas haviam estocado durante a época da colheita para o inverno. É isso que Shlomo Hamelech estava ensinando ao preguiçoso. Da mesma forma que a formiga acumula comida na época de fartura, para poder comer sossegada na época de escassez, assim também o preguiçoso deve se preocupar em juntar Mitzvót neste mundo, onde elas são abundantes, para levá-las ao Mundo Vindouro, onde já não há mais o que fazer para juntar méritos. A formiga é um animal pequeno e frágil. Olhando-a, quanto podemos esperar que ela possa realizar durante sua breve vida? Além disso, sua motivação é baseada em um argumento pouco realista, de que talvez D'us mudará as leis da natureza e ela viverá mais tempo. Apesar disso, percebemos a força de iniciativa da formiga, que contra todas as expectativas, acaba conseguindo fazer atos que vão muito além das suas possibilidades e alcança níveis de sucesso inacreditáveis. Se pararmos para refletir, chegaremos a uma incrível conclusão: se até mesmo um animal minúsculo como a formiga consegue, através de seu espírito empreendedor, resultados tão incríveis, muito mais o ser humano, com sua força gigantesca. Além disso, diferente da formiga, que precisa apenas de uma espiga e meia de trigo, o ser humano tem diante de si uma tarefa extremamente difícil. Portanto, cada ser humano precisa se esforçar no limite, se reinventar e injetar dentro de si a força da iniciativa. Com tamanho empreendimento diante de si, qual é a esperança de um ser humano que somente consegue reunir uma espiga e meia de trigo quando, na realidade, precisava ter juntado 300 Kor? Infelizmente hoje em dia muitos se encontram nesta situação. Este é o segredo do florescimento dos gigantes espirituais de cada geração. Não é a capacidade de estudo que os transformou em gigantes. O segredo do sucesso foi a intensa vontade interna. A força da iniciativa, o espírito empreendedor deles, que estava sempre acima de suas forças, os elevou tão alto. Não podemos mergulhar na escuridão da desistência. Precisamos injetar ânimo em cada passo em direção ao sucesso, viver com uma iniciativa contínua. Isso não é uma opção em nossas vidas, é uma obrigação, como ensinam nossos sábios: "O ser humano está obrigado o dizer: 'Quando meus atos chegarão ao nível dos atos de Avraham, Ytzchak e Yaacov?'". A linguagem dos nossos sábios é "obrigado", pois este é um dos princípios fundamentais no nosso trabalho espiritual: a "imitação" dos passos dos gigantes espirituais. Quem tem iniciativa não tem medo do fracasso. Ele cai, se levanta, aprende com seu erro e continua subindo na escada do sucesso. Essa é a nossa meta, esse é o nosso verdadeiro potencial. Basta acreditarmos em nós mesmos. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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