Nesta semana lemos a Parashá Pekudei (literalmente "Contas") que, como o nome já indica, começa nos ensinando sobre a prestação de contas de Moshé em relação aos materiais doados para a construção do Mishkan, incluindo os totais doados e onde cada material foi utilizado. Apesar de Moshé estar acima de qualquer suspeita, ele queria que tudo fosse feito com a máxima transparência, para que ninguém ficasse com a mínima suspeita de que ele havia se apropriado dos materiais caros doados ao Mishkan.
Com o término da construção do Mishkan e a Presença de D'us repousando sobre ele, a Parashá Pekudei marca o final do segundo livro da Torá, Shemot. É costume, ao completarmos a leitura de um livro da Torá, que todos os que estão presentes na sinagoga recitem as palavras "Chazak, Chazak,Venitchazek" (Forte, Forte , e que nos fortaleçamos). Por que é necessário dizer isso ao final de cada livro da Torá?
O Rav Shimon Schwab zt"l (Alemanha, 1908 - EUA, 1995) nos ensina que, ao completarmos algo e atingirmos um objetivo que estávamos perseguindo, a tendência natural é relaxarmos em nossa motivação e diminuirmos o nosso entusiasmo. É nesse momento que necessitamos de um fortalecimento, pois, apesar de termos terminado um certo objetivo, o trabalho ainda não está completo. Uma forma de seguirmos adiante com vigor é nos conscientizarmos que ainda não é o bastante o que alcançamos. Apesar da alegria da conquista, ainda há muito o que fazer. Portanto, este é o incrível efeito psicológico e espiritual das palavras "Chazak, Chazak, Venitchazek". É um despertar coletivo. Anunciamos na sinagoga que, apesar de termos alcançado um objetivo, isto é, terminar um dos livros da Torá, isso ainda não é o suficiente. Estamos terminando Shemot, mas ainda precisamos terminar Vayikrá, e depois Bamidbar, e finalmente Devarim. E mesmo depois de terminar Devarim, nós não podemos relaxar, pois devemos voltar novamente a Bereshit, desta vez de forma ainda mais profunda. Isso vale para todas as áreas da vida. Não podemos nos acomodar, achar que já atingimos o suficiente. Temos que sempre seguir em frente e desejar alcançar um nível um pouco mais alto, com entusiasmo. E mesmo quando parece difícil subir ainda mais, devemos fazer a nossa parte, e D'us nos ajudará. Este conceito se conecta com uma ideia muito interessante transmitida pela nossa Parashá. O Mishkan, por sua necessidade de ser transportado durante as muitas viagens do povo judeu no deserto, foi construído em várias partes que, durante a montagem, se encaixavam e davam volume ao Mishkan. Quando todas as partes do Mishkan e os utensílios ficaram prontos, eles foram trazidos para Moshé, como está escrito: "Eles trouxeram o Mishkan para Moshé" (Shemot 39:33). Isso significa que as partes do Mishkan, ainda não encaixadas umas às outras, foram levadas para Moshé. Mas por que isso foi necessário? Se D'us havia dado tanta sabedoria para os construtores e eles já haviam conseguido fazer os trabalhos mais complexos, por que já não aproveitaram para erguer o Mishkan?
Rashi (França, 1040 - 1105) nos ensina que o motivo pelo qual toda a estrutura desmontada foi trazida até Moshé, ao invés de ter sido erguida, foi que ninguém tinha capacidade de erguer o Mishkan por ele ser muito pesado. O Midrash diz que, já que Moshé não teve uma participação direta na construção do Mishkan, D'us achou apropriado deixar o trabalho de erguê-lo para ele. Por isso ninguém mais conseguiu montá-lo.
Porém, o Midrash nos revela que Moshé também duvidou de sua capacidade de levantá-lo, por isso ele perguntou a D'us: "Como é possível algum ser humano erguer uma estrutura assim tão pesada?". D'us então pediu a Moshé que ele ao menos fizesse um esforço. Moshé tentou tudo o que pôde, mas realmente percebeu que não conseguiria. Então um milagre ocorreu e o Mishkan ergueu-se sozinho. O mais incrível é que, mais adiante, a Torá escreve: "E Moshé montou o Mishkan" (Shemot 40:18). Por que está escrito que foi Moshé que montou o Mishkan, se o Midrash nos ensina que, na verdade, o Mishkan se ergueu sozinho através de um milagre Divino? A resposta é que, já que Moshé fez o esforço, fez tudo o que podia fazer, o versículo credita a ele a montagem do Mishkan.
O Rav Meir Rubman zt"l (Lituânia - Israel, 1967) ensina que deste Midrash aprendemos um princípio muito importante na espiritualidade do ser humano. D'us não exige de nós o resultado, Ele exige de nós apenas que façamos o esforço, dentro das nossas possibilidades. Em outras áreas da vida, a pessoa recebe os créditos apenas pela produção, não importando o esforço envolvido. Se a pessoa fez tudo o que podia, mas mesmo assim não conseguiu nenhum resultado, seu esforço foi completamente em vão. Mas não é assim que funciona com nossa espiritualidade. D'us não está interessado em resultados, e sim no esforço despendido por cada um. Em relação à espiritualidade e ao cumprimento das Mitzvót, D'us deseja a vontade e o esforço. Se vamos obter resultados, isso já não depende de nós.
Todos os dias, quando terminamos o nosso estudo de Talmud e nos preparamos para ir embora do Beit Midrash, lemos a seguinte declaração: "Pois nós trabalhamos e eles trabalham. Nós trabalhamos e recebemos recompensa, e eles trabalham e não recebem recompensa". Mas o que esta declaração está nos transmitindo? O que significa "eles trabalham e não recebem recompensa?" Aquele que se ocupa das atividades mundanas certamente é beneficiado! A pessoa que trabalha recebe seu salário, e se ela não trabalhar não recebe nada. Então como entender esta declaração?
Responde o Rav Issocher Frand que, em se tratando de espiritualidade, quando nós trabalhamos, recebemos por nossos esforços, sem importar se houve resultado ou não. Para D'us o que conta é se a pessoa tentou e se esforçou tudo o que podia. No entanto, em assuntos não espirituais, a abordagem é diferente, pois mesmo que a pessoa tenha trabalhado, se não conseguiu obter resultados, não será remunerada. Se alguém leva um terno sujo para lavar na tinturaria e, quando vai buscá-lo, recebe do tintureiro a notícia que as manchas não saíram, apesar de todos os esforços e tentativas, é obvio que esta pessoa não pagará nenhum centavo, pois deixou o terno para que ficasse limpo, não para que o tintureiro apenas tentasse limpá-lo. Já em assuntos espirituais, o que D'us deseja de nós é um esforço honesto e sincero. Se uma pessoa vai visitar um doente no hospital do outro lado da cidade, mas quando finalmente chega ao hospital o doente está no meio de um procedimento médico e não pode receber visitas, é considerado como se a pessoa cumpriu a Mitzvá de visitar o doente. Em relação ao estudo da Torá e ao cumprimento das Mitzvót, não temos ideia se nossos esforços serão bem sucedidos ou não. Porém, isso não é o mais importante. O que importa de verdade para D'us é ver nossa tentativa e nosso esforço. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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