Nesta semana lemos a Parashat Haazinu (literalmente "Que escute"), que traz um cântico de Moshé expressando o reconhecimento da total harmonia da Criação Divina. E este reconhecimento se conecta com a nossa próxima parada no Calendário Judaico. No próximo domingo de noite (13 de outubro) começaremos a reviver a Festa de Sucót, também conhecida como "Zman Simchateinu" (A época da nossa alegria). Mas por que justamente esta festa é associada com a alegria? Além disso, saímos de Rosh Hashaná, uma época de Din (Julgamento), passamos por Yom Kipur, uma época de Kapará (expiação dos nossos erros) e Tahará (purificação) e, finalmente, chegamos a Sucót, a época de Simchá (alegria). A proximidade entre as três festas nos traz um ensinamento muito importante e profundo: não pode haver Simchá verdadeira sem passar pelo Din, pela Kapará e pela Tahará. Como o julgamento e a limpeza espiritual se conectam com a alegria? A resposta está na primeira Festa do Calendário Judaico, Pessach, a data que marca a saída do Egito. O Egito era uma manifestação de uma sociedade idólatra, odiada por D'us e apenas esperando para ser julgada e destruída. Mas por que este tinha que ser o berço para o surgimento do povo judeu? E por que o primeiro destino depois de deixarmos o Egito, a caminho do Monte Sinai, foi um local chamado Sucót? A palavra Mitzraim, "Egito", também significa "limites", isto é, aquilo que restringe. A explicação mais simples é que Mitzraim foi o lugar da escravidão física e espiritual do povo judeu. Porém, há um entendimento mais profundo. Talvez o que mais limitava o Egito era sua visão distorcida da realidade. Muitas vezes as vontades humanas entram em conflito com a "vontade Divina". A obediência parece uma submissão que causa perda de liberdade. Não acreditar em D'us pode representar a liberdade, a fuga do peso das regras. Assim se comportavam os egípcios, e assim se comportam as sociedades que querem se afastar de D'us. Mas o que pode não ser tão óbvio é que essa filosofia da "libertar-se de D'us" também é uma forma de limitação. Ironicamente, esta noção da "liberdade", portanto, não é uma liberdade verdadeira, é um aprisionamento. Por exemplo, se você pegar uma peça de roupa e remover os fios que prendem suas diversas partes, a peça se desfaz. A roupa, que com suas partes unificadas proporcionava cobertura e calor, torna-se uma massa de pedaços individuais com pouco ou nenhum significado. Isto representa a negação da realização do potencial da roupa. O mesmo vale para o "tecido da Criação". Se removermos a existência de D'us, removeremos o "fio" que une os aparentemente infinitos fragmentos individuais da história e que os transformam em um tecido coerente e significativo. A consciência de que D'us existe é o entendimento de que toda pessoa, todo ato, toda célula, tudo faz parte do mesmo universo e tudo se conecta. É o entendimento de que não podemos fazer absolutamente nenhum ato sem impactar na Criação e sem afetar o destino do mundo. Além disso, a consciência da existência de D'us é o entendimento de que tudo é possível, é o conhecimento da extensão do nosso próprio potencial, que está muito além do que percebemos. Aquele que não acredita em D'us é livre para vagar pela terra, mas aquele que tem a consciência de D'us é livre para alcançar além das estrelas, como Avraham, conforme está escrito "[D'us] então levou [Avraham] para fora e disse: "Olhe para o céu e conte as estrelas. Veja se você pode contá-las" (Bereshit 15: 5). D'us estava dizendo: "Avraham, Eu fiz este universo, que está além da sua compreensão. Se Eu o mantenho a cada instante, se sou Eu quem cria cada potencial e permite sua realização, será que Eu não posso te dar um filho em sua velhice? Eu não posso fazer o que Eu quiser, sem limites?". Avraham, na época, acreditava apenas no que sua experiência de vida e seus cinco sentidos podiam experimentar. Por isso, ele questionava: "Poderia um homem de 99 anos ter um filho? Isso já aconteceu antes?" A resposta de D'us foi: "Olhe além da realidade física, veja o infinito, veja que existe um potencial além do que você percebe com seus sentidos. Saiba que seu potencial está lá fora, esperando para ser cumprido de acordo com a Minha vontade, pois eu sou D'us, ilimitado em possibilidades". Aquele que acredita que a vida e o sucesso são frutos do acaso é muito limitado no que pode realizar. Como resultado, a pessoa se torna egoísta, porque acha que tudo depende apenas dela mesma. Ela acaba escolhendo a rota mais segura e com menos riscos. E, normalmente, a realização é algo arriscado, enquanto o conforto é seguro. Desta maneira, a limitação acaba se tornando uma escolha de vida. Assim, pouco a pouco, o mundo se transforma em um lugar desprovido de alegria. A miséria infligida pela sociedade egípcia representa muito mais do que apenas a dor física, representa a ausência de alegria. Os egípcios não acreditavam em D'us, nem em possibilidades ilimitadas, apenas acreditavam em conforto. Eles não acreditavam em milagres, e aprenderam que eles existiam da maneira mais dolorosa. Os egípcios viam qualquer realização ambiciosa como um risco e, por isso, em busca de segurança, afundaram cada vez mais, até morrerem espiritualmente. Muitos judeus que acreditavam no mesmo modo de vida morreram na nona praga. O restante precisou ser levado para fora do Egito, para olhar as estrelas, contá-las e receber a mesma lição de Avraham, de que a consciência de D'us nos faz acreditar em todas as possibilidades, pois D'us pode fazer o que quiser. E a realização do nosso potencial, o entendimento de que tudo é possível, é o que cria alegria. Após D'us avisar a Avraham que ele seria pai aos 99 anos, está escrito: "Avraham atirou-se sobre sua face e riu" (Bereshit 17:15,17). Esta é a alegria criada pelo entendimento de que não somos limitados. O lugar mais lógico para a primeira parada depois de deixar o Egito era um local que os ajudaria a acreditar em um potencial que estava além dos cinco sentidos. Sucót deveria ensinar-lhes a realidade dessa verdade, libertá-los da verdadeira escravidão imposta pelo Egito: o pensamento restrito, tendo como consequência o comodismo. Rosh Hashaná e Yom Kipur precedem Sucót. O Din nos reconecta com a Fonte de todo o potencial. Ao nos esforçarmos para atingir a Kapará, solidificamos nosso compromisso de usá-lo, enquanto a Tahará garante sua realização. Sucót comemora tudo isso. Chegamos a Sucót repletos de uma sensação de liberdade, uma sensação de que podemos atingir o nosso potencial. Esta é a alegria real e duradoura. Um aspecto da Sucá, a cabana que habitamos durante os sete dias de Sucót, é que ela representa as "Nuvens da Glória" com as quais D'us envolveu o povo judeu e o protegeu dos perigosos do deserto. As Nuvens eram mérito de Aharon HaCohen, alguém que amava e perseguia a paz. Há, portanto, uma conexão entre a paz, as Nuvens e a Sucá. E assim dizemos na reza de Arvit: "E espalhe sobre nós a Sucá da Sua paz". A qualidade principal de Aharon, crucial para seu papel de Cohen Gadol, era sua falta de egoísmo. Ele era um homem completo, sentindo como se não tivesse necessidades pessoais, concentrando-se nas necessidades dos outros. Ele era um homem espiritual, desapegado do mundo físico, "feliz com a sua parte". Como Aharon construiu esta característica? Ele acreditava que o que ele tinha na vida era o que D'us queria que ele tivesse. Se D'us desejasse que ele tivesse mais ou menos, assim Ele o ordenaria. Portanto, como podemos nos preocupar conosco quando outros têm necessidades que parecem não ser satisfeitas? Isso faz parte de estarmos felizes com o que temos. Além disso, quando reconhecemos e acreditamos totalmente na justiça de D'us, isto é, sabemos que Ele controla tudo e todos, isto cria a paz. A paz dentro de nós mesmos e a paz com os outros. O que alguém nos dá ou tira de nós acontece como uma expressão da vontade Divina. Esta é a lição que Aharon ensinou ao povo: D'us está aqui, cuidando de você. Ele conhece suas necessidades e dá a você o que você precisa o tempo todo. A "Sucá da paz" vem todos os anos fortalecer este ensinamento. Não se preocupe demais, confie em D'us e veja a possibilidade ilimitada que está à sua frente. O Din ensina sobre nosso potencial ilimitado, pois lembramos que D'us, o Criador e Juiz do nosso potencial, é ilimitado. A Kapará nos desperta para a urgência de cumpri-lo e nos esforçarmos o máximo que pudermos. A Tahara nos transforma e nos ajuda a chegarmos ao sucesso. E a Simchá vem como o combustível, para alimentar nossa vontade de crescer e nos colocar no nosso caminho para a grandeza espiritual. SHABAT SHALOM E CHAG SAMEACH R' Efraim Birbojm |
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