BS"D
PREPARANDO-SE PARA AS DIFICULDADES - PARASHÁ BEHALOTECHÁ 5773 (24 de maio de 2013)
Júlio estava andando em um parque. Diante dele, a uma curta distância, estava uma mãe e sua filhinha de três anos de idade. A menininha andava contente, segurando um balão de gás na mão. De repente, quando a menininha estava distraída, uma rajada de vento arrancou o balão de sua mão e ele começou a subir em direção ao céu. Júlio se preparou para escutar, em poucos segundo, um grande escândalo. Mas não foi isto o que aconteceu. A pequena menina acompanhou com os olhos o balão indo para o céu, virou-se alegremente para sua mãe e gritou: "Uau!".
Júlio, sem perceber, havia aprendido naquele momento uma importante lição de vida. Mais tarde, naquele mesmo dia, ele recebeu um telefonema de uma pessoa com a notícia de um problema inesperado. Em um primeiro momento ele sentiu vontade de dizer "Não acredito! E agora, o que faremos?". Mas então Júlio lembrou-se da reação da garotinha. Ele então abriu um grande sorriso e disse para a pessoa que aguardava, aflita, do outro lado da linha:
- Uau, este problema é interessante. Como podemos resolvê-lo juntos?
Uma coisa é certa: a vida sempre tentará nos desequilibrar apresentando problemas inesperados e situações difíceis. Isto é um fato. Mas o que está em nossas mãos é a nossa reação, a nossa resposta diante dos problemas. Podemos escolher ser derrotados, ou podemos escolher ser vitoriosos.
Quanto mais nos prepararmos para encarar os problemas de maneira positiva e confiante, quanto mais investirmos em nossa espiritualidade para adquirirmos ferramentas de autocontrole e Emuná (fé), estaremos aumentando as chances de, nas situações mais difíceis, olharmos os nossos problemas de maneira positiva, ao invés de perdermos a tranquilidade e a esperança.
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A Parashá desta semana, Behalotechá, descreve o momento em que o povo judeu já se aproximava de sua entrada na Terra de Israel, após cerca de um ano no deserto, mas termina com uma série de transgressões, que culminaram no terrível pecado dos espiões, descrito na Parashá da semana que vem, e o consequente decreto de que o povo judeu permaneceria 40 anos no deserto. Entre os pecados desta Parashá estão o "excesso de vontade" do povo de abandonar o Monte Sinai, como uma criança que foge da escola ao escutar o sinal, e o pecado de terem desejado tanto comer carne a ponto de reclamarem do Man que D'us mandava diariamente, causando com que uma praga matasse muitos judeus.
Ao escutarmos estas transgressões, como definimos em nossas cabeças o nível dos judeus daquela época? Parecem pessoas guiadas apenas pelos desejos, ávidas por prazeres físicos imediatos, que não apreciavam o prazer profundo do estudo da Torá no Monte Sinai e os benefícios espirituais de comer Man, a comida que caía do céu. Mas certamente este é um entendimento equivocado, pois aquela era uma gerações de pessoas em um elevado nível espiritual, que haviam presenciado os grandes milagres da saída do Egito e a revelação de D'us no Monte Sinai. A geração do deserto é conhecida como "a geração do conhecimento" e, portanto, não poderiam ter se comportado como animais, apenas guiados pelos seus desejos. Então como devemos entender estes graves erros desta geração tão elevada?
Explica o Rav Avraham Grodzinsky que o povo judeu, durante todo o período em que estava no deserto, estava vivendo acima das leis da natureza. Eles não comiam uma comida normal, não precisavam se envolver com tarefas domésticas como lavar as roupas, não precisavam arar a terra e presenciavam constantemente milagres abertos. Esta não é a vida normal para a qual D'us nos criou, pois não somos anjos, seres meramente espirituais. A vida verdadeira é uma vida de interação com o mundo material, na qual é necessário um esforço constante para elevar o material e transformá-lo em espiritual. Os anjos não passam pelos testes que nós passamos, e são justamente os testes que nos elevam e nos conectam a D'us em um nível especial e único. Então por que D'us fez com que o povo judeu vivesse desta maneira "artificial" por tanto tempo? Pois, em Sua sabedoria superior, D'us queria que o povo judeu se preparasse para os futuros testes que se deparariam quando entrassem na terra de Israel. Eles precisavam de um tempo de espiritualidade pura para que, quando precisassem estar envolvidos com o mundo material, continuassem firmes no propósito de se conectar a D'us em cada pequeno ato do cotidiano.
Porém, esta situação "artificial" tinha um lado negativo. Quando uma pessoa está sujeita a testes e dificuldades, ela se conecta a D'us através do esforço utilizado para derrotar sua má inclinação. Cada vez que ela vence um teste, ela se eleva e adquire mais espiritualidade. Mas enquanto o povo judeu vivia neste estado "sobrenatural", eles não estavam sujeitos a nenhum tipo de teste e, portanto, o seu elevado nível espiritual em que eles se encontravam não foi conquistado, e sim dado de presente por D'us.
Esta foi a fonte dos erros descritos nesta Parashá. O povo judeu já estava há quase um ano no deserto, imersos em total espiritualidade. Eles então sentiram que já estavam prontos para voltar ao mundo material. Sua motivação era sincera e sua intenção era pura, pois o povo judeu queria aplicar toda a espiritualidade absorvida no Monte Sinai na difícil tarefa de elevar o mundo material. Foi este o motivo que os levou ao "excesso de vontade" de abandonar o Monte Sinai. Não uma vontade infantil de fugir da espiritualidade, e sim o desejo de viver de maneira a conseguir elevar o material ao espiritual. Isto também explica a rejeição do Man e a vontade de comer carne. O Man simboliza o estilo de vida "sobrenatural", e o povo sentiu-se pronto para abandonar este estado "artificial" e começar uma existência real, dentro das leis da natureza, comendo comida normal. Eles acreditavam que assim se deparariam com os testes que acompanham uma vida física e, portanto, teriam a oportunidade e o mérito de se aproximar de D'us em um nível nunca antes atingido.
Porém, se esta foi a verdadeira motivação do povo judeu, então por que D'us os castigou de maneira tão severa? Responde o Rav Avraham Grodzinsky que o momento do povo judeu voltar a uma existência natural ainda não havia chegado. Eles ainda precisavam viver uma vida "sobrenatural" por mais algum tempo, para estarem suficientemente preparados para vencer os desafios que encontrariam pela frente. O desejo de sair deste estado "sobrenatural" foi, portanto, prematuro e grave, pois colocou em risco todo o elevado nível espiritual do povo judeu. Além disso, o povo foi duramente castigado pois, ao invés de confiar em D'us, preferiu fazer seus próprios cálculos. Se D'us continuava mandando Man, significava que ainda era importante continuar no nível "sobrenatural". Se D'us não os havia mandado sair do Monte Sinai, significava que ainda havia muita espiritualidade para ser absorvida antes dos testes. A consequência foi desastrosa, causando uma queda espiritual que culminou no pecado dos espiões, e aquela geração inteira, a geração do conhecimento, morreu no deserto e não teve o mérito de entrar na Terra de Israel.
Portanto, fica para nós uma enorme lição de vida. Para podermos enfrentar os desafios e dificuldades da vida, é necessária uma preparação espiritual. A vida verdadeira não é uma vida de anjos, uma vida completamente espiritual, e sim uma vida material, na qual o materialismo precisa ser canalizado para o espiritual e, através do controle dos nossos impulsos e desejos, podemos nos conectar a D'us. Isto somente é possível com a devida preparação. O tempo diário que passamos no Beit HaMidrash (Centro de estudos de Torá), nos dedicando a estudar a Torá e a trabalhar nossas Midót (características), é uma das partes mais importantes na nossa preparação para os desafios da vida. Durante este tempo diário, no qual a pessoa quer se dedicar ao seu crescimento espiritual, ela deve se desconectar de suas ocupações mundanas e se focar na sua espiritualidade. Uma dica simples e importante é desligar o telefone celular durante o estudo de Torá e da Tefilá (reza), para aproveitarmos profundamente cada momento de espiritualidade do nosso dia.
A vida sempre nos traz dificuldades. Mas são justamente as dificuldades que nos ajudam a crescer. Quanto mais estivermos preparados, maiores serão as chances de conseguirmos reagir da maneira correta aos testes da vida. Assim, como a menininha do balão de gás, ao invés de lamentarmos e reclamarmos quando surgir uma dificuldade, poderemos abrir um enorme sorriso e dizer aos nossos problemas: "Uau".
"NÃO DIGA A D'US QUE VOCÊ TEM UM GRANDE PROBLEMA. DIGA AO PROBLEMA QUE VOCÊ TEM UM GRANDE D'US"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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