sexta-feira, 11 de março de 2011

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAYIKRÁ 5771

BS"D
VONTADE DE CRESCER - PARASHÁ VAYIKRÁ 5771 (11 de março de 2011)
"O Sr. Goldsmitch era um homem de negócios muito bem sucedido. Mas o que as pessoas mais admiravam nele era o imenso Chessed (bondade) constantemente feito com os pobres. Todos os necessitados da cidade sabiam que, em momentos de dificuldade, podiam contar com ele.
Certa manhã o Sr. Goldsmitch recebeu um telefonema. Era o Sr. Stern, um conhecido que vivia na mesma cidade. O Sr. Stern explicou que estava passando por dificuldades e precisava de uma soma alta para pagar as dívidas e tentar recomeçar a vida. Apesar de ser um negócio arriscado, o Sr. Goldsmitch prontamente concordou com o empréstimo e pediu para que o Sr. Stern estivesse no seu escritório pontualmente ao meio dia para receber o dinheiro.
Chegou meio dia, o Sr. Goldsmitch já estava com o dinheiro separado, esperando pelo Sr. Stern, mas nada dele aparecer. Mais meia hora e nada. Uma hora depois o Sr. Goldsmitch, profundamente irritado, voltou aos seus afazeres. Durante todo o dia ninguém apareceu para pegar o dinheiro.
No dia seguinte de manhã novamente tocou o telefone. Era o Sr. Stern novamente. Ele pediu perdão pela ausência, explicou que havia acontecido um grande imprevisto. O Sr. Goldsmitch entendeu e novamente marcaram para o meio dia. Porém, chegou meio dia e nada do Sr. Stern aparecer. Durante todo o dia novamente ninguém veio receber o dinheiro. Desta vez o Sr. Goldsmitch ficou realmente irritado. Será que aquele senhor achava que ele não tinha nada mais importante para fazer?
Na manhã seguinte novamente toca o telefone. Era o Sr. Stern, telefonando como se nada tivesse acontecido. O Sr. Goldsmitch explodiu:
- Você está me fazendo de tonto? Você me pede uma quantia de dinheiro que eu não emprestaria para mais ninguém. Eu separo o dinheiro, fico sentado te esperando e você não aparece. Depois me liga no dia seguinte como se nada tivesse acontecido e novamente não aparece! Você está brincando comigo? Eu tenho coisas melhores para fazer com meu precioso tempo!!!
O Sr. Stern ainda tentou se explicar, mas era tarde demais. O Sr. Goldsmitch já havia batido o telefone..."
Podemos pensar que o Sr. Stern é um louco ou um desocupado. Mas explica o Rav Sholom Schwadron que infelizmente nós também fazemos isto todos os dias. Quando rezamos, pedimos para que D'us tenha misericórdia e nos dê sabedoria. D'us, em Sua infinita bondade, escuta nossos pedidos, prepara uma legião de anjos para abrir nossos olhos e encher nosso coração de sabedoria e fica aguardando o momento em que vamos sentar para começar a estudar. Durante toda a manhã não temos tempo. Chega a hora do almoço, Ele espera que possamos encontrar um tempinho para abrir um livro. Mas lemos o jornal, olhamos as últimas notícias, conversamos com nossos amigos no Facebook, mas nada de abrir um livro. Porém D'us é paciente, Ele espera, quem sabe de noite. Mas de noite estamos cansados, precisamos terminar um trabalho, tem um filme imperdível na televisão, e depois vamos dormir. D'us ficou o dia inteiro esperando pelo nosso estudo para nos mandar sabedoria, mas nós não aparecemos para receber.
Na manhã seguinte, começa um novo dia, vamos para a sinagoga e novamente pedimos: "D'us, nos dê sabedoria".
Até quando vamos pedir para D'us sabedoria e deixá-Lo esperando o dia inteiro?
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Nesta semana começamos o terceiro livro da Torá, Vayikrá, que também é conhecido como "Torat Cohanim" (Instruções dos sacerdotes), por descrever com detalhes muitos dos serviços Divinos feitos especialmente pelos Cohanim. E a Parashá desta semana descreve um dos principais serviços que os Cohanim faziam: os Korbanót (oferendas). A palavra Korban vêm da raiz "Karov", que significa "proximidade". Os Korbanót eram uma maneira de conexão com D'us, principalmente para uma pessoa que havia pecado e se afastado de sua espiritualidade, e trazia o Korban como uma maneira de se reconectar. Atualmente, que não temos mais os Korbanót, podemos nos conectar com D'us através da nossa Tefilá (reza).
Entre os vários detalhes dos Korbanót, há um que nos chama a atenção. A Torá nos descreve que os Korbanót precisavam ser oferecidos com sal, como está escrito "E toda sua oferenda de oblação deverá ser oferecida com sal, e não deixarás faltar sal do pacto de D'us em sua oblação; em todos os seus sacrifícios oferecerás sal" (Vayikrá 2:13). A Torá fala sobre um "pacto de sal". Que pacto é este?
No segundo dia da criação D'us dividiu as águas, separando-as em águas que ficam acima do firmamento e águas que ficam abaixo do firmamento. O conceito das águas de cima do firmamento é um dos grandes mistérios da criação, que apenas poucos chegam ao nível de entender. Já as águas de baixo do firmamento são constituídas principalmente pela água dos mares. Explica o Midrash (parte da Torá Oral) que as águas de baixo reclamaram, pois estavam descontentes por ficarem mais distantes de D'us. Como consolo, D'us ofereceu para as águas de baixo a possibilidade de participarem dos serviços Divinos na festa de Sucót, quando a água era jorrada no Altar do Beit-Hamikdash (Templo Sagrado). Mesmo assim as águas não ficaram satisfeitas de participar dos serviços Divinos apenas por uma semana durante o ano, e continuaram reclamando. D'us então concordou que as águas de baixo participassem do serviço Divino diário, através da adição do sal, que é retirado das águas dos mares, nas oferendas do Beit-Hamikdash.
Deste Midrash surge uma grande dúvida. Se a participação das águas de baixo no serviço Divino poderia ser diária, por que quando as águas reclamaram, D'us inicialmente deu apenas a possibilidade das águas serem utilizadas em Sucót? Por que D'us já não ofereceu diretamente a possibilidade da utilização do sal nos Korbanót todos os dias?
Explicam os nossos sábios que este é um dos fundamentos mais importantes em nosso trabalho espiritual aqui neste mundo. A verdade é que as águas de baixo mereciam ser oferecidas apenas durante a festa de Sucót, e por isso D'us ofereceu apenas isso em um primeiro momento. Mas elas não estavam contentes, elas queriam mais, e mais do que isso, elas pediram mais. Como D'us viu que as águas de baixo pediram mais espiritualidade, Ele deu mais. E esta é a regra: quando pedimos espiritualidade, quando queremos crescer, D'us nos ajuda. Mas será que é assim tão simples? Muitos de nós gostaríamos de nos elevar espiritualmente e estarmos mais conectados com D'us. Chegamos até mesmo a pedir nas nossas rezas. Por que na maioria das vezes não conseguimos? Por que para as águas de baixo pareceu tão simples, enquanto para nós parece ser tão difícil?
A resposta é que quando as águas de baixo pediram um crescimento espiritual, mostraram que desejavam isto com todas as suas forças. Já quando nós pedimos para crescer espiritualmente, desejamos isso com todas as nossas forças? Quando pedimos para D'us sabedoria para entender, nos esforçamos abrindo livros? Quando pedimos para D'us espiritualidade, nos esforçamos para cumprir as Mitzvót de uma maneira mais completa? Nossos pedidos acabam ficando vazios, pois pedimos mas não demonstramos, através dos nossos atos, que queremos de verdade.
Muitas pessoas têm a ilusão de que se inscrevendo em um curso de "Kabalá" vão aprender sobre todos os segredos do oculto e se tornarão pessoas mais espirituais. Isso é uma grande enganação. Pessoas se tornam mais espirituais através do esforço diário, através de cada Mitzvá, pois é cada uma das Mitzvót que nos conecta com D'us. Grandes palácios são construídos com pequenos tijolos. Grandes pessoas foram construídas através de pequenos atos cotidianos de auto-aprimoramento. O estudo diário da Torá nos eleva, nos transforma em pessoas melhores. Não há outra forma, não há caminhos mais curtos.
Na própria Torá há vários níveis de entendimento. D'us vai mandando sabedoria para quem Ele vê se esforçando diariamente. Assim ensinam os nossos sábios: "Se alguém disser que se esforçou e não conseguiu, não acredite nele. Mas se alguém disser que se esforçou e conseguiu, nele você pode acreditar". O entendimento é um milagre, é um presente de D'us, mas só vêm através do esforço, que é a nossa demonstração de vontade. Pedimos para D'us as coisas, mas não nos esforçamos para receber. Ele fica o dia inteiro esperando por um momento de conexão espiritual, para que Ele possa nos mandar tudo o que pedimos. Mas sempre temos tempo para tudo, menos para a espiritualidade.
Que possamos aprender das águas de baixo a lição de querer de verdade nosso crescimento espiritual. Não apenas nas nossas palavras, mas principalmente nos nossos atos cotidianos.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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