sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAYIGASH 5771

BS"D
COLÍRIO CONTRA OLHO GORDO - PARASHÁ VAYIGASH 5771 (10 de dezembro de 2010)
"Uma mulher certa vez contratou um renomado artista para pintar o seu retrato. Antes de começar o trabalho, ela instruiu ao artista:
- Quando você for fazer a pintura, inclua brincos de ouro, um colar de diamantes, braceletes de esmeralda, um broche de rubi e um Rolex.
- Mas se a senhora não está usando nenhuma destas jóias - perguntou o artista, curioso - então por que quer que eu as pinte no quadro?
A mulher abriu um sorriso e explicou:
- É para se um dia meu marido resolver se divorciar de mim e se casar com outra mulher. Vai ser incrível ver a cara da nova esposa dele quando ela olhar este quadro e pensar que eu ganhei dele todas estas jóias e ela não ganhou nenhuma. A vida dele vai se tornar um verdadeiro inferno!"
A inveja é um dos sentimentos mais destruidores, desviando o ser humano do caminho correto.
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Na Parashá desta semana, Vayigash, Yossef finalmente se revelou para seus irmãos. Imediatamente eles se envergonham, reconhecendo o erro que haviam cometido ao vender seu irmão, motivados pelo sentimento de inveja. Yossef consolou os irmãos dizendo: "D'us me enviou à frente de vocês, para garantir sua sobrevivência na terra e para sustentar vocês através de uma grande salvação" (Bereshit 45:7). Mas as palavras de Yossef parecem estranhas, pois é como se ele estivesse diminuindo sua própria importância, como se estivesse dizendo que sua única função era sustentar fisicamente seus irmãos.
Na continuação da Parashá vemos que realmente Yossef não havia sido escolhido para ser o líder espiritual do povo judeu, este cargo coube a Yehuda. Quando Yaacov se preparava para ir ao Egito reencontrar-se com Yossef, ele enviou antes seu filho Yehuda. Explica Rashi, comentarista da Torá, que Yehuda foi na frente de seus irmãos para preparar centros de estudo de Torá no Egito. Resumindo, Yossef teve apenas o papel de "preparar o terreno", mas Yehuda foi o verdadeiro líder, e dele saíram futuramente os reis de Israel. É como se Yossef fosse o "segundo mais importante". Será que Yossef não sentiu inveja? Será que ele não se sentiu inferior?
Observando a vida de Yossef, percebemos que sempre foi um padrão ele ser o "segundo mais importante". Na casa de Potifar ele era muito importante, a casa inteira estava sob seu comando, mas ele era apenas o segundo, estava abaixo de Potifar. Na prisão, todos os prisioneiros foram entregues na sua mão, mas ele era o segundo, estava abaixo do chefe da prisão. E finalmente Yossef governou sobre todo o Egito, teve um imenso poder, mas estava abaixo do faraó, era sempre o segundo. Que lição aprendemos de Yossef?
Explica o rabino Yonathan Guefen que o ensinamento da Parashá não é que Yossef era uma pessoa conformista, ao contrário, a Torá está nos ensinando uma grande qualidade de Yossef: a de saber que todo o sucesso vem de D'us e que não há sentido em lutar contra o que Ele decretou, pois tudo o que Ele faz é com precisão e com cálculos que nosso intelecto não compreende. O teste de Yossef foi um teste muito difícil, mas ele conseguiu vencer. Todos querem ser os melhores. Todos querem ser medalha de ouro. Ninguém se contenta com a medalha de prata. Yossef também queria ser o primeiro, mas ele viu a Mão Divina colocando-o sempre como segundo. Yossef entendeu que este era o seu papel e que desta maneira ele estaria contribuindo da melhor maneira para o futuro do povo judeu. Para ele ser o segundo era receber a medalha de ouro, pois entendeu que este era o seu papel. Em nenhum momento ele se sentiu inferior. Por isso ele estava contente e não sentiu inveja de Yehuda.
Nem todos passam neste difícil teste. A Torá nos conta que dois descendentes de Yossef também foram submetidos ao mesmo teste. Um deles foi Yoshua Bin Nun, o ajudante de Moshé, que passou no teste com louvor. O outro foi o rei Yeravam, que infelizmente fracassou.
Yoshua foi, durante todo o tempo em que o povo judeu permaneceu no deserto, o número dois, o fiel servidor de Moshé. Ele poderia ter sentido inveja, poderia ter almejado estar no lugar de destaque de Moshé, como Korach, que dominado pela inveja, mobilizou uma rebelião contra Moshé. Mas Yoshua estava contente em ser o segundo, em preparar as coisas para Moshé, em aprender de seu mestre preciosos ensinamentos. Ele não achava que se diminuía com isso, pois entendeu que esta era a sua função no mundo, esta seria a sua maior contribuição, para isto ele tinha vindo. Por sua humildade e submissão ele foi escolhido como o sucessor de Moshé.
Já Yeravam não conseguiu passar no mesmo teste. Houve um momento na história em que o reinado de Israel foi dividido em dois. Yeravam, que era inicialmente uma pessoa justa e correta, recebeu do profeta Achiya o governo do Reino do Norte, que compreendia 10 das 12 tribos, a maior parte do povo judeu. Porém, Yeravam também recebeu do profeta Achiya o comunicado de que seu reinado seria apenas temporário e que, no futuro, o trono novamente se reunificaria e continuaria nas mãos dos descendentes do rei David. Se ele tivesse aceitado seu papel secundário, teria sido um dos grandes Tzadikim (Justos) da nossa história e teria trazido muita prosperidade para o povo judeu. Porém, apesar de saber que esta era a vontade de D'us, Yeravam decidiu que ele não seria o segundo. Na festa de Hakel, quando todo o povo se reunia no Beit-Hamikdash (Templo Sagrado), ele sabia que o rei do Reino do Sul ficaria sentado e ele teria que permanecer de pé. Para evitar que isto acontecesse, ele colocou idolatrias nas estradas que levavam a Jerusalém e proibiu que as pessoas fossem para o Beit-Hamikdash. No final, durante seu reinado a idolatria se espalhou entre os judeus e ele foi considerado um dos piores reis de todos os tempos, responsável pelo grande afastamento de parte do povo judeu das leis da Torá.
De Yeravam aprendemos a gravidade da inveja e a destruição que ela pode causar. Mesmo depois de ter pecado muito, D'us deu a Yeravam a oportunidade de se arrepender. O Talmud conta que D'us apareceu para ele e disse: "Se arrependa, e então Eu, você e o rei David passearemos juntos no Gan Éden (paraíso)". A primeira pergunta que Yeravam fez para D'us foi "Quem andará na frente?". Quando D'us respondeu que o rei David estaria à frente, Yeravam decidiu nunca se arrepender de seus maus atos, pois ele não podia aceitar ser o segundo. Sua arrogância o destruiu, e o Talmud (Torá Oral) lista-o entre as pessoas que não receberão nenhuma porção no Mundo Vindouro.
Segundo o judaísmo, um dos piores sentimentos do ser humano é a inveja. Então para que D'us criou a inveja? Para que possamos utilizá-la de maneira positiva, tendo uma inveja construtiva, olhando a grandeza espiritual dos outros e desejando também atingir altos níveis espirituais. Porém, quando utilizamos a inveja de maneira negativa, querendo tomar o lugar ou as posses dos outros, querendo passar por cima do que D'us nos decretou, ela pode destruir nossa vida, como ensina o Pirkei Avót: "Três coisas tiram o homem do mundo: a inveja, a honra e a busca pelos desejos".
Esta é a grande lição que aprendemos de Yossef ter sido o "número dois". Devemos desejar e lutar para ser grandes, devemos ter o desejo de chegar ao topo, porém há momentos em que D'us nos mostra claramente que determinadas realizações não são o melhor para nós. Por exemplo, uma pessoa pode se esforçar no estudo de Torá e mesmo assim não atingir o cargo que gostaria. Podemos e devemos nos esforçar, mas não há sentido em tentar ir contra a vontade de D'us. Não devemos nos comparar com os outros, cada um tem um papel único e especial. Sem a ajuda de Yossef, de nada adiantaria a força espiritual de Yehuda. A inveja é uma grande tolice, que nos faz tropeçar justamente no trampolim que poderia nos levar para o alto.
"Pedi para D'us força para mudar o que eu posso mudar, paciência para agüentar o que eu não posso mudar, e sabedoria para saber distinguir entre os dois"
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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