sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAIGASH 5770

BS"D

A HONRA DOS OUTROS - PARASHÁ VAIGASH 5770 (25 de dezembro de 2009)

"Em uma pequena comunidade judaica da Europa, o rabino da cidade se enganou ao responder uma simples questão de Halachá (lei judaica). Embora a falha grosseira não tivesse sido percebida pela grande maioria dos judeus locais, ela não passou despercebida por duas pessoas maliciosas da cidade. Querendo envergonhar publicamente o rabino, os dois malvados bolaram um terrível plano: escreveram uma carta para o famoso Rabino Ytzchak Elchanan Spektor, rabino da cidade de Kovno, na Lituânia, fazendo a mesma pergunta. Eles sabiam que o grande rabino Spektor, um dos maiores da geração, responderia a simples pergunta de maneira correta. Eles planejavam então mostrar a carta para toda a cidade, envergonhando o rabino publicamente e tirando toda a sua credibilidade.

Quando o rabino Ytchak Elchanan recebeu a carta, ficou surpreso. Embora muitas pessoas daquela cidade enviassem perguntas para ele, aqueles dois homens nunca haviam lhe perguntado nada. Além disso, a pergunta era muito simples, qualquer rabino local poderia responder. Ele ficou intrigado com aquela carta e decidiu investigar. Confirmando suas suspeitas, ele descobriu que aqueles dois homens eram grandes encrenqueiros, com um histórico de causar confusões na comunidade onde viviam. Entendeu que eles estavam tramando um plano para humilhar o rabino da cidade. Então o rabino Ytchak Elchanan teve uma idéia genial: enviou uma carta endereçada aos dois homens com a resposta errada à questão enviada, que era exatamente como o rabino da cidade havia respondido. Então, no dia seguinte, ele mandou um telegrama, que certamente chegaria antes da carta, com a resposta correta. No telegrama ele também pedia para que a carta que ele havia mandado, que chegaria em alguns dias, fosse descartada, pois a resposta escrita nela estava equivocada.

Por que a idéia era genial? Desta maneira os dois homens mal-intencionados não poderiam usar nem a carta nem o telegrama para humilhar o rabino da cidade, pois a carta trazia a mesma resposta dada pelo rabino e o telegrama mostrava que mesmo o grande e famoso rabino Ytzchak Elchanan Spektor havia se equivocado, não sendo, portanto, uma vergonha para o rabino local".

Além do rabino Ytzchak Elchanan Spektor ter sido um grande conhecedor das leis judaicas, uma de suas maiores virtudes foi o amor e a preocupação com o próximo. Para evitar que uma pessoa que ele nem mesmo conhecia fosse humilhada, ele estava disposto a passar por cima do seu orgulho e colocar em risco a sua própria credibilidade (História Real).

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Na Parashá da semana passada Yossef havia tramado um plano para testar se seus irmãos haviam se arrependido do que haviam feito com ele. Ele suspeitava que se os irmãos também tivessem a oportunidade de se livrar de seu irmão mais novo, Biniamin, eles o fariam. Por que justamente Biniamim? Pois como Yossef, Biniamin também era filho de Rachel, a esposa preferida de Yaacov, e provavelmente também despertava inveja nos irmãos. Então Yossef escondeu na sacola de Biniamin um cálice de prata, acusou-o de roubo e condenou-o a ser escravo no Egito. Assim, caso os irmãos realmente sentissem inveja, deixariam Biniamin se tornar escravo e não o defenderiam.

Mas na Parashá desta semana, Vaigash, a Torá nos mostra que os irmãos de Yossef estavam realmente arrependidos de tudo o que haviam feito. Quando viu seu irmão Biniamim ameaçado, Yehuda se aproximou de Yossef e, acreditando que estava diante de um total estranho, tentou convencê-lo a libertar Biniamim, se oferecendo inclusive para ser escravo no lugar dele. Yehuda enfatizou os sofrimentos do seu velho pai, que certamente morreria se aquele filho não voltasse para casa. Quando Yossef viu o arrependimento dos irmãos e escutou sobre todo o sofrimento de seu pai Yaacov, ele não agüentou mais continuar com aquela encenação, como está escrito: "E não podia Yossef se conter diante de todos os que estavam à sua volta, e então ele ordenou: "Retirem todas as pessoas diante de mim". E não permaneceu ninguém quando Yossef se revelou para os seus irmãos" (Bereshit 45:1).

Mas há uma aparente contradição neste versículo. Primeiro está escrito que Yossef já não podia mais se conter, mas depois está escrito que primeiro ele mandou todos os egípcios saírem e somente depois se revelou. Se ele não podia mais se conter, por que não se revelou imediatamente? Além disso, o Midrash (Torá Oral) ressalta que este foi um ato aparentemente impensado de Yossef, pois ele pediu para que todos os egípcios saíssem, inclusive seus guardas pessoais, ficando sozinho com seus irmão. Os irmãos o viam como um egípcio inimigo e, sob intensa pressão, poderiam tê-lo matado facilmente, antes mesmo dele conseguir se explicar. Por que Yossef se colocou em uma situação tão perigosa?

Explica o Rav Yehuda Leib Chassman que o ato de Yossef não foi impensado, ele sabia muito bem que estava correndo um enorme risco de vida. Então por que ele decidiu correr este risco? Simplesmente para não envergonhar seus irmãos em público. Ele não podia aguentar a idéia de que os egípcios presenciariam o momento de sua revelação e a conseqüente vergonha dos seus irmãos, e para evitar isso estava disposto a dar sua própria vida.

Além disso, quando Yossef decidiu se revelar aos seus irmãos, levou em consideração que, quanto mais rápido o fizesse, mais rápido poderia se reencontrar com seu querido pai Yaacov. Ele já estava pronto para se revelar, suas emoções transbordavam. Porém, apesar das saudades, apesar da vontade de abraçar seus irmãos, ele teve autocontrole, e somente se revelou quando todos egípcios haviam saído. Isso mostra o quanto Yossef valorizava a honra dos outros, o quanto estava disposto a abrir mão para evitar humilhar alguém em público.

A Torá ensina que envergonhar uma pessoa em público é comparado com um assassinato. Quando uma pessoa é envergonhada, ela fica com o resto vermelho. Ensina o livro Derech Hashem (O caminho de D'us) que parte da nossa alma se encontra no sangue. Por que a pessoa fica com o rsoto vermelho quando é envergonhada? Pois o sangue sobe de uma vez, como se a alma estivesse tentando sair do corpo para não passar por aquela vergonha. E como a morte é definida como o desligamento entre a alma e o corpo, envergonhar alguém em público é como se fosse um assassinato, é como se estivéssemos, em algum nível, matando a outra pessoa.

Mas apesar da Torá mostrar que envergonhar alguém em público é muito grave, atualmente isto é visto como algo comum, e não damos muita importância. Quantas vezes envergonhamos uma pessoa em público apenas para fazer uma piada e nos destacar no grupo? Quantas vezes perdemos a cabeça e, em discussões fúteis, humilhamos o outro em público? Quantas vezes chamamos as pessoas por apelidos pejorativos, principalmente aqueles que se referem às características físicas da pessoa, sem pensar no quanto a pessoa fica machucada e magoada?

Um dos maiores problemas é que não conhecemos as Mitzvót, e graves transgressões são, aos nossos olhos, coisas normais e inocentes, e por isso não nos arrependemos. Então temos duas soluções para este problema. A primeira é estudar e conhecer os ensinamentos da Torá, que nos ajudam a ser pessoas melhores a cada dia. A segunda é usar sempre o bom senso, parar para refletir sobre as conseqüências dos nossos atos, como nos ensinou o sábio Hilel: "Não faça aos outros o que não gosta que te façam". Sempre que quisermos fazer uma piada ou colocar um apelido em alguém, temos antes que pensar se gostaríamos se fosse conosco. Com estas duas dicas podemos nos afastar de atitudes que Yossef daria a vida para não cometer, mas que nós fazemos para não perder a piada ou simplesmente porque não temos autocontrole.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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