sexta-feira, 26 de junho de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ KORACH 5769

BS"D
ZOMBANDO DE QUEM? - PARASHÁ KORACH 5769 (26 de junho de 2009)

"Havia um lindo jardim onde crescia uma roseira carregada de rosas e, à sua sombra, vivia um caracol. Em redor do jardim cresciam avelãs e havia campos onde pastavam ovelhas e vacas. O caracol passava o dia zombando dos outros, e assim dizia para as rosas:

- Que medíocre a vida de vocês. Há de chegar a minha hora, e então eu farei mais do que dar rosas ou avelãs, muito mais do que dar leite como fazem as vacas e lã como fazem as ovelhas.

Um ano mais tarde, o caracol estendia-se ao sol quase no mesmo lugar onde estivera no ano anterior, sem que tivesse produzido nada naquele tempo, enquanto a roseira se ocupava em criar novos botões e a manter todas as pétalas frescas e bonitas. Novamente o caracol atacou a roseira com sarcasmo:

- É por isso que você não faz nada melhor na vida. Você sempre teve uma vida demasiadamente fácil!

- É verdade - concordou a roseira - sempre tive tudo o que eu necessitava. Mas você teve ainda mais sorte do que eu. Você recebeu o dom do raciocínio, a capacidade de pensar e refletir sobre a vida. Certamente fará muito mais do que eu pelo mundo.

- Não, não, de modo nenhum - negou o caracol - O mundo não existe para mim. Que tenho eu a ver com ele? Já é suficiente que me ocupe comigo.

- Mas não deveríamos dar aos outros o melhor de nós mesmos? É verdade que só dou rosas, mas você, que é tão dotado, o que você faz pelo mundo?

O caracol não respondeu. A roseira continuou a florescer na sua inocência, enquanto o caracol dormia dentro da sua casa. O mundo nada significava para ele. Passaram os anos, o caracol voltou à terra, a rosa também. Mas no jardim brotavam novas roseiras, enquanto os novos caracóis arrastavam-se dentro das suas casas, passeando pelo mundo que nada significava para eles"

Esta é a lição para nossas vidas. Quando alguém tenta nos atingir, nos ridicularizando ou tentando diminuir nosso valor, é porque são apenas pessoas vazias tentando provar algo para si mesmas.
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A Parashá desta semana, Korach, nos descreve sobre uma rebelião que desafiou a liderança de Moshé e Aharon, mas que terminou em tragédia. Korach, primo de Moshé, achava que merecia um cargo de respeito dentro do povo judeu e, cegado pela inveja, começou a instigar, com calúnias e zombarias, o povo contra Moshé, alegando que a escolha de Aharon como Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) não era Divina e sim uma escolha pessoal de Moshé para beneficiar seu irmão. Duzentos e cinquenta homens do povo se juntaram a Korach na rebelião, e todos eles morreram queimados por um fogo que veio do céu. O povo, colocando em Moshé a culpa da morte daqueles homens, novamente reclamou e foi duramente castigado com uma praga, na qual morreram tragicamente milhares de pessoas. Finalmente D'us mandou um sinal para tirar qualquer dúvida de que a escolha de Aharon era Divina: o chefe de cada tribo colocou um bastão dentro do Mishkan (Templo Móvel), cada um com seu nome inscrito, e no dia seguinte milagrosamente o bastão de Aharon apareceu com uma flor e frutos.

Deste episódio ficam duas dúvidas. Os homens que decidiram seguir Korach eram pessoas inteligentes, então como foram convencidas a ir contra Moshé, o mesmo Moshé que os havia tirado do Egito com milagres abertos? Podemos entender Korach, que estava movido pela inveja, mas o que convenceu as outras pessoas a se juntarem em uma rebelião tão irracional? Além disso, se no final houve um sinal milagroso que convenceu a todos que Aharon realmente havia sido escolhido por D'us, por que o sinal não foi mandado logo que surgiu a dúvida, evitando a morte de milhares de pessoas?

Ensina o livro Lekach Tov que Korach sabia que racionalmente não conseguiria convencer ninguém a segui-lo em uma rebelião contra Moshé. Então o que ele fez? Aproveitou um momento de fraqueza do povo, quando todos estavam abalados pelo duro decreto de permanecer 40 anos vagando no deserto, e começou a ridicularizar algumas das Mitzvót, como por exemplo o Tzitzit e a Mezuzá, deixando a entender que os ensinamentos de Moshé tinham erros lógicos e, portanto, haviam sido inventados por ele e não entregues por D'us. Ele utilizou a força da "Leitzanut" (ridicularizar coisas sérias), que anestesia a pessoa, possibilitando que mesmo idéias irracionais sejam aceitas.

Ensinam o livro Messilat Yesharim (Caminho dos justos) que quando uma pessoa erra, tem duas maneiras de voltar ao caminho correto. A primeira maneira é o despertar interno, isto é, quando a pessoa se torna introspectiva e reflete sobre seus atos, encontrando a fonte dos seus erros e trabalhando para não voltar a errar mais. A outra maneira é o despertar externo, quando D'us precisa nos enviar sofrimentos que nos dão uma chacoalhada e nos tiram do nosso "sono" espiritual. A "Leitzanut" funciona como um óleo sobre o nosso coração, fazendo com que qualquer tentativa de reflexão "escorregue" e não penetre. Foi o que ocorreu quando o povo escutou Korach ridicularizando Moshé e as Mitzvót, o coração deles se fechou para qualquer entendimento racional e lógico das coisas. Por isso, não adiantaria fazer o milagre da vara de Aharon diante do povo, eles não receberiam a mensagem. Foi necessário que antes D'us mandasse uma praga, para sacudir o povo e tirá-los deste estado de anestesia.

Este ensinamento podemos utilizar para nossas vidas. Sempre quando somos confrontados por uma nova idéia, diferente do que nós pensamos, em geral a primeira atitude que temos é olhar de forma pejorativa, muitas vezes fazendo piadas e criando preconceitos contra esta nova idéia. Por que fazemos isso? Isto é uma defesa psicológica, pois assumir que estar errados causa um desconforto, uma certa sensação de inferioridade, e queremos fugir deste ataque à nossa auto-estima. Quando alguém não está seguro de si mesmo, ridiculariza as coisas que o ameaçam. Isto torna ainda mais difícil para a pessoa fazer um julgamento racional e equilibrado, e leva o ser humano a tomar muitas vezes decisões completamente equivocadas.

Portanto, a lição que tiramos de Korach é não ridicularizar o que não conhecemos. Precisamos ser humildes e saber que, antes de fazer qualquer julgamento precipitado, é preciso questionar e refletir bastante na vida.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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