Nesta semana lemos a Parashá Shoftim (literalmente "Juízes"), que traz muitas leis de conduta do povo judeu. Moshé novamente ressaltou os perigos da idolatria e de buscarmos fontes para saber o futuro, como a astrologia, as adivinhações e os falsos profetas. Moshé também começou a preparar o povo para as guerras de conquista de Israel, nas quais eles enfrentariam fortes e poderosos exércitos, e ressaltou a importância da Emuná de que D'us estaria sempre ao lado deles e os ajudaria nas batalhas, como realmente ocorreu sob a liderança de Yehoshua. A Parashá também traz um assunto interessante: as leis em relação ao "Melech Israel". O rei deve ser um exemplo para o povo e, por ser um grande líder, deve se cuidar ainda mais do que as outras pessoas. Por exemplo, ele não deve acumular cavalos para si, apenas o suficiente para sua carruagem. Não deve acumular muita prata e ouro para si, apenas o suficiente para prover o sustento de seus soldados. Também deve escrever para si um Sefer Torá e levá-lo consigo durante o tempo todo, inclusive quando sai para a guerra, quando se senta para julgar e quando se reclina para comer, como está dito: "E estará com ele, e ele o lerá todos os dias de sua vida" (Devarim 17:19). Como continua este versículo? "para que ele aprenda a temer a Hashem, seu D'us". Aprendemos que se o rei quer desenvolver seu temor a D'us, não é suficiente apenas estudar a Torá de vez em quando. Mesmo que ele já seja um grande sábio, o versículo ressalta que ele deve estudar a Torá "todos os dias de sua vida". Escreve o Rav Moshe Chaim Luzzato zt"l (Itália, 1707 - Israel, 1746) que as distrações e a falta de constância são os maiores obstáculos para a aquisição do temor a D'us. Ele especifica que a fonte deste ensinamento é justamente o versículo que nos ensina as leis referentes ao rei de Israel. Com esta responsabilidade de não se distrair e não fazer interrupções todos os dias de sua vida, o Melech Israel aprenderá a temer a D'us. O Rav Chaim Shmulevitz zt"l (Lituânia, 1902 - Israel, 1979) explica que, na realidade, este comando se aplica a qualquer pessoa, não apenas ao rei. Então por que ele é ensinado especificamente em relação ao rei? Pois o rei tem um motivo a mais para que a Torá cobre a constância dele. Ele está normalmente muito mais ocupado do que as outras pessoas, e é mais provável que acabe se distraindo com suas responsabilidades e afazeres. Porém, mesmo com todas as suas obrigações, ainda assim ele não está isento da constância no seu estudo da Torá. Mesmo que seja um excelente rei, se não tiver cuidado para manter a constância, não desenvolverá o temor a D'us necessário para o cargo. E se até mesmo um rei, que tem tantas responsabilidades e ocupações, não pode deixar de manter a constância em seu estudo de Torá, muito mais as pessoas comuns. Podemos olhar nossos patriarcas e matriarcas como modelos de vida. Sobre Avraham Avinu foi dito: "E Avraham estava velho, e vinha com seus dias" (Bereshit 24:1). O que significa dizer que, no final da vida de Avraham, todos os dias estavam com ele? A cada dia Avraham acrescentava algo novo, ele estava sempre crescendo espiritualmente. Não houve nem mesmo um único dia no qual Avraham disse "Hoje estou cansado, só quero relaxar". Todos os dias ele se trabalhou para crescer, mesmo que fosse em um pequeno ponto. É por isso que Avraham se tornou um dos pilares do mundo. Em Sara também percebemos a mesma característica. O versículo diz: "E foram os anos da vida de Sara 127 anos, os anos da vida de Sara" (Bereshit 23:1). Por que esta repetição "os anos da vida de Sara"? Rashi (França, 1040 - 1105) explica que todos os dias de Sara foram iguais em bondade. Isso significa que cada momento da vida de Sara foi dedicado ao trabalho espiritual, a fazer bondades, sem interrupção. Também Sara não disse em nenhum dia da sua vida "Hoje não farei bondades, descansarei um pouco". Por causa da constância e do foco, Sara alcançou um nível de profecia ainda maior que o de Avraham. Nossos sábios comparam as distrações e a falta de constância com uma pessoa que coloca uma chaleira com água no fogo e, alguns instantes antes de a água ferver, ele tira a panela do fogo até que a água esfrie. A pessoa então novamente coloca a chaleira no fogo, mas antes de ferver ele a tira de novo. E ele repete isso toda vez que a água está prestes a ferver. O resultado é que, desta forma, a água nunca ferverá! Assim também é aquele que cai nas distrações e não mantém o foco no Serviço Divino, ele sempre precisará recomeçar seu crescimento. Não aprendemos isso apenas dos nossos patriarcas, mas também dos grandes sábios de Torá de cada geração. Por exemplo, há um ensinamento incrível em relação ao Rabi Akiva, que foi um gigante espiritual. Após ser incentivado por sua esposa a se dedicar ao estudo da Torá, ele foi a um Beit Midrash distante e voltou para casa apenas após 12 anos, já com uma grande quantidade de alunos e como um rabino de renome. Porém, antes de entrar em casa, ele escutou sua esposa dizendo: "Se meu marido pudesse me escutar agora, eu pediria para que ele ficasse no Beit Midrash por mais 12 anos". Quando ele ouviu isso, imediatamente retornou ao seu estudo, sem nem mesmo entrar em casa, nem por um instante. Porém, ele fez certo? Onde estava a gratidão pela sua esposa, que o havia incentivado tanto e havia ficado sozinha por 12 anos? Ele era um simples pastor ignorante e, graças aos incentivos dela, agora ele era o "Raban shel Israel". Por que, então, Rabi Akiva não entrou em casa pelo menos por alguns instantes, ao menos para alegrar o coração de sua esposa? A resposta é que o Rabi Akiva conhecia a grande perda causada pelas interrupções. Ele sabia que o maior sonho de sua esposa era ele virar um grande sábio de Torá, e isso só seria possível com foco e constância. Por isso, imediatamente voltou ao Beit Midrash, onde passou mais 12 anos estudando, voltando finalmente após 24 anos de estudo contínuo e trazendo consigo 24 mil alunos. Rabi Akiva sabia que a soma de duas metades não era igual a um inteiro. Ele sabia que 12 anos mais 12 anos não equivaliam a 24 anos de estudo sem interrupções. Rabi Akiva foi um dos poucos rabinos que tiveram o mérito de entrar no "Pardess", isto é, ter contato com os níveis mais profundos e ocultos da Torá. Tudo o que ele conquistou foi através de anos de estudo contínuo, o que ele não teria conseguido se tivesse estudado de pouco em pouco. Encontramos outra forma de perda através das distrações. Explica o livro Messilat Yesharim que quando chega o momento de cumprir uma Mitzvá, ou quando uma pessoa decide cumprir uma Mitzvá, ela não deve deixar de cumpri-la imediatamente, pois não há perigo espiritual maior do que este. Deixar a espiritualidade para depois pode significar, na maioria das vezes, deixá-la de lado para sempre, como ensinam nossos sábios: "Não diga 'quando tiver tempo estudarei', pois talvez nunca tenha tempo" (Pirkei Avót 2:4). Talvez estes exemplos dos nossos patriarcas e grandes sábios de Torá nos soem como algo extremista. Porém, eles tinham a consciência do valor da constância, de não fazer interrupções, de não tirar a chaleira do fogo. É justamente por isso que chegaram a níveis espirituais incríveis. A falta de constância e de foco, com tantas distrações, é provavelmente o motivo de atualmente não alcançarmos grandes níveis espirituais. E até mesmo aqueles que estudam regularmente a Torá não alcançam a grandeza que poderiam por causa disso. O grande desafio da nossa geração é certamente nosso smartphone e as outras distrações, que quebram a nossa constância. Não apenas no estudo de Torá, mas também nas nossas Tefilót e nas outras Mitzvót, inclusive nas Mitzvót "Bein Adam Lehaveiro", que muitas vezes dependem justamente de o outro sentir que nos importamos com ele de verdade. D'us não manda um teste que não podemos passar. Se este foi o teste que Ele escolheu para a nossa geração, é sinal de que temos a força para superar. Não precisamos deixar de usar o smartphone em nosso trabalho, mas que ele esteja desligado ao menos durante o nosso estudo e as nossas Tefilót, para não tirar o nosso foco. De acordo com a dificuldade de um teste, assim é a sua recompensa. Que possamos aproveitar o mês de Elul, o último mês do ano, a preparação para o nosso Julgamento de Rosh Hashaná, para tomarmos decisões que podem impactar positivamente em todo o nosso crescimento espiritual. SHABAT SHALOM – QUE SEJAMOS INCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA R' Efraim Birbojm |
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