Nesta semana lemos a Parashá Pinchás, que fala sobre a nova contagem do povo judeu, as leis de herança e a escolha de um sucessor para Moshé, que havia recebido o decreto de não entrar na Terra de Israel. E assim D'us respondeu a Moshé quando foi questionado sobre quem cuidaria do povo judeu após o seu falecimento: "Pegue para você Yehoshua bin Nun, um homem que tem um espírito dentro de si" (Bamidbar 27:18). Mas o que significa o atributo de "ter um espírito dentro de si"? E qual é a relação entre este atributo e o cargo de liderança? Explica o Rav Yossef Yozel Horowitz zt"l (Lituânia, 1847 - Ucrânia, 1919), mais conhecido como Alter MiNovardok, que para esclarecer o assunto é necessário antes de tudo entender qual é a essência do papel de um líder. Em toda sociedade existe uma grande diversidade de pessoas, que diferem entre si em suas naturezas e traços de caráter. Nossos sábios ensinam que assim como não existem dois rostos iguais, também não existem formas de pensar iguais. Por isso, as pessoas também diferem nos tipos de problemas que as incomoda e nas soluções necessárias. Portanto, um líder, cujo trabalho é resolver os problemas dos seus seguidores e aliviá-los da sua angústia, deve ter um amplo entendimento, para conseguir compreender o espírito de cada um. Para isso ele deve ser um homem de muitos talentos, para conseguir ajudar cada pessoa exatamente no que ela necessita. O líder deve ter, portanto, duas qualidades principais: uma é a capacidade de conhecer as pessoas de uma forma profunda e fundamental. A segunda é a sabedoria e o entendimento para resolver as dificuldades de cada pessoa de acordo com o que ela precisa. Moshé pediu a D'us alguém assim: "Que Hashem, o D'us dos espíritos, aponte um homem sobre a congregação" (Bamidbar 27:16). Não foi à toa que Moshé se referiu a D'us com este título. Sua intenção era dizer que D'us, que conhece verdadeiramente o espírito de cada pessoa, era o único que saberia encontrar um homem que pudesse compreender as deficiências e os consertos necessários do seu povo. O que D'us respondeu a Moshé? "Pegue para você Yehoshua bin Nun, um homem que tem um espírito dentro de si". D'us estava informando a Moshé a característica principal de um líder: antes de tudo ele deve ter o espírito de ser líder sobre si mesmo. Sendo seu espírito forte o suficiente para controlar sua natureza e seus traços de caráter, bem como resolver todas as suas questões de acordo com a visão verdadeira, sem se desviar com as influências negativas do mundo, ele também pode liderar o público e proporcionar-lhes uma educação de acordo com a verdade. Aqui D'us estava revelando um grande segredo. Tudo depende da nossa capacidade de autocontrole. Se uma pessoa não tem constância e não tem controle sobre si mesma, e todo interesse a desvia das decisões equilibradas, como poderá conduzir uma comunidade? Quando ele tiver contato com muitas pessoas, se confundirá e acabará bajulando, manipulando e se desviando de acordo com seus próprios interesses pessoais. É por isso que D'us escolheu Yehoshua bin Nun, alguém que conseguia dominar seu espírito. Qual era a ocupação de Yehoshua? Ele arrumava os bancos do centro de estudos de Moshé. Isto significa que ele conseguia se ocupar com qualquer atividade necessária para o bem comum, sem se importar com a sua honra. Foi por isso que D'us o escolheu como líder, pois ele havia demonstrado que conseguiria cumprir sua tarefa de forma plena. Podemos perceber este conceito observando os grandes rabinos que estiveram em postos de liderança do povo judeu em diferentes gerações. Um dos maiores líderes do povo judeu das gerações passadas foi, sem sombra de dúvidas, o Rav Yerucham Leibovitz zt"l (Bielorússia, 1873 - 1936), o famoso Mashguiach da Yeshivá de Mir. Entre os alunos, ele era visto como um modelo de vida, sempre firme e decisivo em todos os assuntos, individuais e coletivos, que eram trazidos diante dele. Um dos seus alunos mais proeminentes, o Rav Shlomo Wolbe zt"l (Alemanha, 1914 - Israel, 2005), escreveu que mesmo depois de muitos anos após ter saído da Yeshivá ele ainda desejava reviver a imagem que havia guardado do Mashguiach, que apenas de olhar para os alunos já conseguia ajudá-los a se levantarem das quedas espirituais que haviam sofrido com o decorrer dos meses de estudo. Todos os seus ensinamentos saíam do fundo da sua alma. A santidade de sua alma e seu coração puro foram as fontes das quais ele extraiu e fez brotar a maioria dos seus ensinamentos. No entanto, como o Rav Yerucham conseguiu chegar a este nível de santidade? Suas anotações, guardadas como tesouro pelos seus filhos, trazem a resposta. Assim ele escreveu em seu caderno de Kabalót para Yom Kipur: "Refleti e percebi que eu não estou sob o meu próprio controle, estou sob controle dos outros, pois é o materialismo que me controla. Não apenas isso, mas o materialismo também suborna meu intelecto, para enganá-lo com suas palavras tortas, com o único objetivo de afastar o homem do que é verdadeiramente bom. Portanto, recebo sobre mim, Bli Neder, fazer com que o meu intelecto tenha domínio sobre mim, e talvez D'us me ajude. E, por isso, recebo sobre mim, Bli Neder, fazer cinco vezes por dia coisas que vão contra a minha vontade. Como penalidade, se eu perder um único dia, darei dez kupkes (moeda antiga)". Este foi seu principal direcionamento na vida. É interessante perceber que ele adquiriu seu amplo conhecimento espiritual indo sempre contra seus desejos naturais. E, a partir disso, ele chegou ao seu grande princípio, de que o propósito da criação do ser humano é se doar ao próximo. Sua bondade, sempre no limite de suas forças, era testemunhada em todas as situações, nas quais ele simplesmente entregava a vida por este objetivo. Faltaria papel para descrever toda a devoção aos seus alunos e seus atos de bondade com todos os que o procuravam. E com essa mesma dedicação ele abordava cada Mitzvá e as cumpria sem deixar para trás nenhum detalhe, mesmo quando seu estado de saúde exigia que ele fosse mais leniente consigo mesmo. Ele mencionava um interessante ensinamento do Talmud (Makot 23b). Foram entregues a Moshé 613 Mitzvót, sendo 365 Mitzvót negativas, correspondendo aos 365 dias do ano, e 248 Mitzvót positivas, correspondendo aos 248 membros do corpo. O Talmud está nos ensinando que as Mitzvót são direcionadas a todos os dias do ano e a todos os membros do corpo. Somente assim, aproveitando todos os dias do ano e utilizando todos os membros do nosso corpo para fazer o bem, poderemos chegar à plenitude, santificação e pureza. E o Rav Yerucham se dedicou nestas duas áreas de forma incansável. Em relação a aproveitar todos os dias, ele mantinha um caderno no qual escrevia todos os detalhes do seu dia: que horas havia se levantado, quantos tempo havia levado para se vestir, quanto tempo havia tomado banho, e assim por diante, desde o despertar até a hora de dormir. E, em relação aos membros do corpo, é incrível o quanto ele conseguiu santificar seu corpo. Era percebido por todos os que entravam no seu Beit Midrash que todos os seus movimentos eram calculados, até o ponto de não haver movimentos desnecessários nele. Enquanto estava sentado na Yeshivá com seu Chavruta, durante cinco horas consecutivas ele não levantava os olhos do livro. Pelas ruas de Mir, ele caminhava com a cabeça baixa, preso em seus pensamentos, sem virar a cabeça para os lados. Verdadeiros líderes são construídos com autocontrole. Não nas grandes atitudes e nos grandes desafios da vida, mas nos pequenos detalhes, nas pequenas decisões, nas atitudes mais simples. Através do autocontrole, mesmo que não sejamos grandes líderes do povo judeu, que possamos ao menos ser grandes líderes sobre nós mesmos. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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