Nesta semana começamos o último Livro da Torá, o Sefer Devarim, também conhecido como "Mishnê Torá", que significa literalmente "a repetição da Torá", pois este Livro traz os discursos de despedida de Moshé antes do seu falecimento e da entrada do povo judeu na Terra de Israel. E o que Moshé falou em seus discursos finais? Ele recordou os principais acontecimentos dos 40 anos em que o povo judeu vagou pelo deserto, entre eles muitos erros graves que o povo cometeu, como o Bezerro de ouro e o erro dos espiões. O erro dos espiões, que causou com que o povo judeu chorasse no deserto sem motivo, nos conecta com a próxima parada do Calendário Judaico, logo após o final do Shabat: Tishá Be Av, o dia mais triste do ano, o dia no qual choramos e nos enlutamos pela destruição dos nossos dois Templos Sagrados. Porém, o nosso Segundo Templo já foi destruído há quase dois mil anos! Por que choramos até hoje? Nos ensina o profeta: "Alegrem-se com Yerushalaim e se regozigem por ela todos os que a amam. Que se alegrem com ela todos os que por ela choram" (Yeshayahu 66:10). O Talmud (Taanit 30b) aprende destas palavras que todo aquele que se enluta por Yerushalaim tem o mérito de vê-la em sua alegria. Entretanto, há algo que chama a atenção neste ensinamento. Quando falamos sobre a alegria de Yerushalaim, a priori estamos falando sobre um evento futuro, quando D'us nos permitirá reconstruir nossa cidade e nosso Templo Sagrado. Portanto, deveria estar escrito que todo aquele que se enluta por Yerushalaim "verá a sua alegria", e não "vê", no presente! Qual é a alegria que aquele que se enluta por Yerushalaim tem agora? Segundo o Rav Chaim Vologziner zt"l (Lituânia, 1749 - 1821), a resposta está em um evento trágico que ocorreu na vida do nosso patriarca Yaacov. Após enviar seu filho preferido, Yossef, para saber como estavam seus outros filhos, Yaacov recebeu as roupas de Yossef completamente rasgadas e ensanguentadas. Parecia que ele havia sido destroçado por um animal feroz. Yaacov se enlutou por seu filho durante 22 anos, algo que o fez sofrer muito e envelhecer. Porém, o Talmud (Pessachim 54b) nos ensina que D'us decretou a todos os enlutados que os entes queridos falecidos vão sendo aos poucos esquecidos do coração, isto é, um espírito de consolo faz a pessoa enlutada conseguir retomar a vida. Se existe esta força espiritual de consolo, por que Yaacov passou 22 anos enlutado, como está escrito "Mas ele (Yaacov) se recusou a ser consolado, e ele disse: 'Pois eu vou descer, por causa do meu filho, como um enlutado para a sepultura'" (Bereshit 37:35)? Explica Rashi (França, 1040 - 1105) que o consolo somente é mandado por alguém que realmente faleceu, mas ninguém aceita o consolo por uma pessoa que ainda está viva, mesmo que acredite que a pessoa esteja morta. Está decretado que uma pessoa morta deve ser esquecida do coração, mas não uma pessoa viva. O mesmo se aplica à Yerushalaim. Se há quase dois mil anos ainda choramos por ela, e não nos consolamos, isso nos ensina que Yerushalaim não morreu. É isso o que o Talmud está nos ensinando. Obviamente todo aquele que se enluta por Yerushalaim se alegrará quando a cidade e o nosso Templo Sagrado forem reconstruídos. Porém, já há uma alegria imediata: a constatação de que Yerushalaim não morreu. Entretanto, se Yerushalaim não morreu, por que não nos enlutamos por ela sempre, sem interrupção, como Yaacov, já que não há consolo pelos que estão vivos? E mais do que isso: até mesmo em Tishá be Av, a "data de falecimento" de Yerushalaim, muitos não conseguem se emocionar e sentir a dor do luto! Nossos sábios trazem uma dura resposta para este questionamento. Se Yerushalaim não está morta, e mesmo assim nos consolamos com sua destruição, isso é um sinal de que estamos, neste assunto, na categoria de "mortos", e que qualquer sentimento em relação à destruição dos nossos Templos Sagrados se apagou dentro de nós. Somente os vivos se enlutam pelos mortos, mas os mortos não se enlutam pelos vivos. Isso significa que aquele que se enluta por Yerushalaim já experimenta uma segunda alegria imediata: saber que está espiritualmente vivo. Fora a importância de sentir a dor pela destruição de Yerushalaim e dos nossos Templos Sagrados, precisamos entender exatamente qual foi o erro que levou a estas tragédias, para podermos nos esforçar para consertar e termos o mérito de nos alegrarmos com a reconstrução do Beit Hamikdash. O Talmud (Baba Metsia 85a) nos ensinando que esta pergunta foi feita até mesmo pelos maiores sábios e profetas da época, como está escrito: "Quem é o homem tão sábio que pode entender isso? E quem é aquele a quem a boca de D'us falou, para que o declare? Por que a terra foi destruída?" (Yirmiahu 9:11). De acordo com o Talmud, isso foi falado pelos sábios, mas eles não souberam explicar. Isso foi falado pelos profetas, mas eles não souberam explicar. Até que veio D'us e pessoalmente explicou: "Pois eles abandonaram a Minha Lei, que Eu coloquei diante deles, e não deram ouvidos à Minha voz, nem andaram de acordo com ela" (Yirmiahu 9:12). Rav Yehuda acrescentou que aquela geração não fazia Berachá antes de estudar Torá. Porém, este ensinamento do Talmud é difícil de ser entendido, pois é sabido que os judeus foram castigados com a destruição do Primeiro Templo por estarem tropeçando nas três piores transgressões da Torá: idolatria, assassinato e relações ilícitas. São transgressões tão graves, e tão óbvias, que não entendemos o questionamento do profeta Yeshayahu e a afirmação do Talmud de que nenhum sábio ou profeta conseguiu explicar! Portanto, precisamos explicar que a pergunta "Por que a terra foi destruída?" não veio esclarecer qual transgressão causou a destruição do Templo Sagrado, isso já era algo sabido. A pergunta era: qual é o motivo original pelo qual o povo judeu se desviou dos caminhos de D'us. O povo judeu, quando entrou na Terra de Israel, conduzido por Yehoshua, estava em um nível espiritual muito elevado. Como cometeram estas três transgressões tão graves? É isso que o profeta Yeshayahu estava questionando. Os sábios da geração avisaram que haveria a destruição e repreenderam o povo, pois os viam transgredindo, mas não conseguiam explicar o motivo que os levou a fazer transgressões tão graves. Também os profetas advertiram o povo sobre a destruição, mas também não souberam explicar o motivo daquela queda espiritual tão grande. Até que veio D'us pessoalmente e explicou: pois eles haviam abandonado a Torá. Mas algo assim tão marcante não foi percebido pelos sábios e profetas? A resposta é que "abandonar a Torá" não necessariamente significa se afastar completamente do estudo e do cumprimento das Mitzvót, mas se enfraquecer nestas áreas. Quando a pessoa já não estuda Torá com entusiasmo, já não escuta a Voz de D'us e já não anda nos Seus caminhos. É uma queda lenta e silenciosa, mas constante. Rav Yehuda acrescentou que eles não faziam Berachá antes de estudar Torá. Isso não é um motivo por si só, e sim mais um indicador de que, aos olhos daquela geração, a Torá não tinha mais tanta importância. Mesmo que eles estudavam Torá, o estudo não ajudava a fazê-los voltar aos caminhos corretos. O pilar para chegarmos ao nível de temor a D'us, bons traços de caráter e cumprimento das Mitzvót é o estudo da Torá. Sem a Torá, não conseguimos servir D'us de maneira completa. Que possamos, através da Torá, consertar nossos erros e nos transformar em pessoas melhores, para termos o mérito de ver a alegria de Yerushalaim novamente. SHABAT SHALOM E TSOM KAL R' Efraim Birbojm |
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