Nesta semana lemos a Parashá Bechukotai (literalmente "Nos Meus estatutos"), que nos ensina sobre as Brachót que recaem sobre o povo judeu quando andamos nos caminhos de D'us e as Klalót (maldições) quando nos afastamos dos caminhos Dele. Na verdade, tudo é parte da bondade de D'us que, como um pai, às vezes precisa nos castigar, por amor, quando percebe que estamos colocando nossa vida espiritual em risco. No final da Parashá há dois versículos que chamam a atenção: "Eles então confessarão sua transgressão e a transgressão de seus pais, a traição com a qual Me trataram, e que também Me trataram com acaso. Então Eu também vou tratá-los com acaso" (Vayikrá 26:40,41). Estes versículos são difíceis de serem entendidos, pois eles vêm no fim da longa lista de Klalót. Os versículos começam falando sobre o Vidui, a confissão das transgressões, uma parte importante no processo de arrependimento, mas na continuação vemos que D'us continuará castigando o povo. Aparentemente o versículo está nos ensinando que D'us não aceitou o arrependimento do povo judeu. O que faltou para ser um arrependimento válido? Explica o Rav Israel Meir HaCohen zt"l (Bielorússia, 1838 - Polônia, 1933), mais conhecido como Chafetz Chaim, que só o Vidui, sem um arrependimento completo, não tem absolutamente nenhum valor. Não devemos apenas confessar sobre os erros do passado, mas também assumir um compromisso futuro de conserto e melhoria dos nossos atos. Isso é chamado de "Kabalá Al HaAtid" (receber para o futuro), o compromisso de consertar futuramente nossos atos. Foi isso que faltou ao povo judeu. Certa vez, durante a recitação das Selichót (Tefilá na qual pedimos desculpas a D'us pelas nossas transgressões), o Chafetz Chaim interrompeu de repente a Tefilá e disse: "Para que serve falarmos as Selichót, dizendo para D'us que pecamos contra Ele? Não está tudo revelado diante Dele? O principal das Selichót, portanto, é recebermos sobre nós o compromisso de não voltarmos aos mesmos erros". Com esta frase simples, o Chafetz Chaim conseguiu despertar todas as pessoas presentes em um arrependimento sincero. Há outro ponto que também é fundamental para que o arrependimento seja completo e verdadeiro, que aparece justamente na continuação do versículo que falou sobre o Vidui: "Eu vou trazê-los de volta para a terra dos seus inimigos. Se, então, seu coração obstruído se tornar submisso, seus sofrimentos por sua transgressão serão apaziguados" (Vayikrá 26:41). Deste versículo percebemos que uma das partes mais importantes do arrependimento é a submissão do coração a D'us, isto é, o sentimento de humildade e coração quebrado. Uma das principais causas dos erros que cometemos é a arrogância, o sentimento de superioridade. Explica o Rav Yitzchak Meir Rotenberg zt"l (Polônia, 1799 - 1866), mais conhecido como Chidushei Harim, que o ser humano se assemelha aos objetos de barro. Quando queremos tirar a impureza espiritual de um objeto de metal, o mergulhamos em uma Mikvê. Porém, quando queremos tirar a impureza espiritual de um utensílio de barro, a única forma é quebrá-lo. Assim também é o ser humano, a única forma de purificar o coração é quebrando-o. O Talmud (Nedarim 38a), em nome do Rav Yochanan, traz uma preciosa lição: "D'us não repousa Sua Presença a não ser sobre alguém que é valente, sábio, rico e humilde". O Rav Shmuel Eliezer Eidels zt"l (Polônia, 1555 - 1632), mais conhecido como Maharsho, faz uma interessante pergunta: podemos entender que a Presença de D'us só repousa sobre alguém que tem sabedoria e humildade. Porém, por que valentia e riqueza são elementos necessários para que a Presença de D'us repouse sobre a pessoa? A resposta é que as três características apontadas pelo Talmud são, na realidade, o motivo verdadeiro da humildade. Quando uma pessoa é fraca ou pobre, a humildade dela é apenas uma consequência natural das suas circunstâncias de vida. Portanto, não há nenhum mérito em sua humildade. Já aquele que é valente, rico e sábio, que tem todos os motivos para ser uma pessoa extremamente arrogante, mas mesmo assim consegue ser humilde, é sinal de que entendeu que todas as suas qualidades não têm nenhum valor perante a grandeza de D'us. Se esta pessoa chegou ao nível de humildade, certamente foi através de muita reflexão e introspecção. E como escolheu se subjugar perante D'us, merece que a presença de D'us repouse sobre ela. A Parashá traz Klalót muito duras. Nossos sábios explicam que vale a pena todas estas Klalót se houver ao menos uma chance de, através disso, o povo judeu conseguir cumprir as palavras do versículo "Se, então, seu coração obstruído se tornar submisso". E se é tão querido por D'us um coração quebrado, mesmo quando é consequência de tantas e tão duras Klalót e castigos, maior ainda é o valor daquele que quebra seu coração mesmo sendo valente, rico e sábio, pois este nível de humildade veio através da reflexão sobre a grandeza de D'us e o quanto o ser humano é pequeno perante Ele. A humildade é tão importante que é considerada a base para todas as outras qualidades espirituais, pois aquele que é humilde recebe uma ajuda Divina especial em seu crescimento. Em contraste, o arrogante não tem nenhuma ajuda Divina, como ensina o Rabeinu Yona (Espanha, século 12): "É uma abominação para D'us todo aquele que tem um coração orgulhoso. O orgulhoso é entregue nas mãos do Yetser Hará (má inclinação), pois D'us não o ajuda, já que ele é uma abominação". Há um último ponto que explica a presença do traço de caráter da humildade justamente nas pessoas mais elevadas. A pessoa que é espiritualmente elevada está sempre preocupada em alcançar a perfeição espiritual e, por isso, quebra seu coração, olhando sempre para si mesma como se faltasse algo. As pessoas elevadas também estão sempre com medo de perder os níveis que já conquistaram. Portanto, mesmo aqueles que chegaram no nível de estarem "felizes com a sua porção" também têm um coração quebrado e humilde, pois quanto maior o nível espiritual de uma pessoa, maiores são os motivos de cuidado e preocupação para não perder as conquistas espirituais. Certamente o maior ser humano que já passou pela face da Terra foi Moshé Rabeinu. E, não por coincidência, também foi o mais humilde. Justamente por causa de sua grandeza ele tinha medo de perder seu elevado nível espiritual e, ao mesmo tempo, estava sempre preocupado em alcançar os níveis que ainda não havia atingido em seu Serviço a D'us. Este medo e preocupação faziam de Moshé um homem extremamente humilde. Esta é uma das principais lições da nossa Parashá: D'us ama aqueles cujo coração é humilde. De todas as qualidades, certamente a humildade é uma das mais importantes no nosso crescimento espiritual. Faça seu trabalho com toda a força, o melhor que puder, e sempre com humildade. Pois mesmo quando as pessoas não reconhecem, D'us está acompanhando todo o seu esforço e sua dedicação. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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