Na Parashá desta semana, Vayigash (literalmente "E se aproximou"), a Torá continua o relato da história de Yossef e seus irmãos. No final da Parashá da semana passada, a história estava em seu clímax, quando Biniamin foi acusado de roubo e os irmãos, ainda sem perceber que o vice-rei era seu irmão Yossef, não sabiam o que fazer. Então no início da Parashá desta semana Yehudá, o líder dos irmãos e aquele que havia ficado responsável por Biniamin, tomou coragem e fez um discurso emocionado ao vice-rei, implorando por misericórdia em nome de seu pai velhinho, e se oferecendo para ficar como escravo no lugar de Biniamin. Yossef ficou tão comovido com esta atitude de Biniamin que não conseguiu mais guardar o segredo e se revelou aos irmãos, que ficaram em estado de choque, sem conseguir esboçar nenhum tipo de reação diante daquela surpresa. Finalmente eles se abraçaram e choraram. Yossef e seus irmãos pareciam estar finalmente reconciliados. Mas será que eles chegaram a um nível verdadeiro e pleno de amor, confiança mútua e perdão? Infelizmente, prestando atenção em alguns detalhes, percebemos que não. Houveram grandes avanços em ambos os lados, mas o objetivo final não foi atingido, deixando para nós um grande desafio. Por exemplo, apesar das várias tentativas sinceras de Yossef de reconciliação, há algo que falta nas palavras dele. Ele nunca disse: "Eu perdôo vocês". Ele quis tirar a culpa das costas dor irmãos, falando que D'us tinha um plano maior, e que ele e os irmãos faziam parte daquele plano, mas nunca explicitou seu perdão. Talvez tenha sido a ausência do perdão explícito que amedrontou os irmãos e fez com que eles nunca se sentissem completamente à vontade com Yossef. Além disso, no momento em que Yossef se revelou aos irmãos está escrito: "Yossef não conseguiu mais se conter... E Yossef disse aos seus irmãos: 'Eu sou Yossef. Meu pai ainda está vivo?'" (Bereshit 45:1,3). Ao dizer que Yossef não pôde se conter, a Torá está nos informando que, se ele pudesse, teria esperado que seus irmãos chegassem a um nível maior de entendimento do erro que haviam cometido e, assim, poderiam concluir seu processo de arrependimento. Outro detalhe que chama a atenção foi quando Biniamin, acusado de roubo, foi condenado à escravidão. Seus irmãos mais velhos se recusaram a deixá-lo e lutaram por sua libertação. Porém, parecia que Biniamin realmente havia errado e que eles estavam ao seu lado apenas porque ele era o irmão deles. Em nenhum momento eles discutiram a inocência de Biniamin. O Midrash ensina que os irmãos acreditaram que Biniamin era realmente ladrão. Portanto, se o amor entre os irmãos fosse pleno, se tivessem aprendido a lição, eles teriam imediatamente defendido Biniamin, pois conhecendo sua retidão, teriam certeza de sua inocência. Também vemos a superficialidade no relacionamento entre Yossef e seus irmãos na Parashá da semana que vem, pois quando Yaacov faleceu, os irmãos imediatamente suspeitaram que Yossef finalmente aproveitaria para se vingar. Eles basearam suas suspeitas nas palavras de Yossef ao se revelar: "Meu pai ainda está vivo?", o que, segundo o entendimento deles, significava que Yossef não faria nenhum mal a eles em respeito ao pai, mas que assim que o pai falecesse, ele se vingaria. Isto significa que a confiança mútua que deveria existir nunca foi alcançada. Enquanto Yossef estava claramente motivado pelo desejo de que seus irmãos fizessem Teshuvá, eles o consideravam mesquinho e vingativo. O Rabeinu Bechaye zt"l (Espanha, 1255 - 1340) vai além e cita os dez mártires da época do exílio romano, gigantes espirituais como o Rabi Akiva e Raban Shimon bem Gamliel. Eles são apontados como a reencarnação dos irmãos de Yossef, que precisavam passar por aquele "conserto" de morrerem torturados "Al Kidush Hashem"(santificando o Nome de D'us) por terem vendido Yossef. Se eles precisaram reencarnar, isto significa que ainda havia alguma "dívida" a ser paga. Mas certamente eles fizeram Teshuvá, se arrependeram pelo resto de suas vidas do grave erro cometido! O que faltava ser consertado? A conclusão é que faltou o perdão de Yossef para que o conserto fosse completo, já que nossos sábios ensinam que nas transgressões "Bein Adam Lehaveiró" (entre a pessoa e seu companheiro), enquanto a pessoa que sofreu o dano não perdoa, também não há perdão Divino, nem em Yom Kipur e nem mesmo após a morte, sendo necessário os envolvidos voltarem em uma nova encarnação para um futuro conserto. Porém, por que havia dez mártires, se apenas nove irmãos estavam envolvidos na venda de Yossef? Eram no total 12 irmãos, mas Biniamin estava em casa, Yossef foi a vítima e Reuven havia saído antes da venda e, portanto, não participou dela! O Rabeinu Bechaye sugere que Yossef tinha alguma responsabilidade, por ter causado a inimizade com os irmãos e, portanto, a expiação dos seus pecados também foi exigida. Mas talvez possamos sugerir uma resposta diferente: o próprio Yossef foi o décimo mártir pois ele nunca perdoou seus irmãos completamente e, portanto, também carregava a culpa. Se ele tivesse conseguido se controlar por mais tempo, talvez pudessem chegar a um ponto de reconciliação completa. Mesmo assim, vemos que os irmãos viveram junto com Yossef no Egito por muitos anos e, infelizmente, continuaram com medo dele. As cicatrizes da venda permaneceram sem cura. No entanto, se eles não tinham chegado a um nível verdadeiro de amor e confiança entre si, a ponto de desconfiarem que Biniamin realmente tinha roubado o cálice de prata, por que foram defendê-lo? Pois quando foram atacados por alguém "de fora", isto é, pelo vice-rei egípcio, eles se uniram na defesa um do outro. Essa é uma grande realidade nos nossos dias quando olhamos para Israel e o povo judeu. Quando somos ameaçados por um inimigo "externo", como os ataques árabes, aceitamos nossas diferenças e nos unimos na luta pela sobrevivência. No fundo, cada judeu possui um profundo senso de preocupação com o próximo. Porém, infelizmente, em tempos de paz, parece que nos esquecemos disso e as sementes da desunião e da desconfiança começam a brotar, dilacerando profundamente nosso povo. Quando Yossef se reencontrou com Biniamin, eles se abraçaram e choraram. Em certo nível, foram lágrimas de alegria pelo reencontro. Mas nossos sábios explicam que, naquele momento, Yossef e Biniamin entenderam que a lição de confiar em nossos irmãos judeus não havia sido internalizada e, portanto, o mesmo problema estava destinado a ressurgir no futuro, resultando em destruição e tragédia para nosso povo, como a destruição do nosso Templo Sagrado, justamente por causa da desunião e o ódio gratuito dentro do povo judeu. Cada um de nós tem o poder e a responsabilidade de mudar esta situação. Nas guerras e ameaças nos unimos. Que possamos também nos unir na paz, com confiança uns nos outros, nos tornando uma luz para as nações. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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