Acabamos de sair renovados de Yom Kipur, o dia em que, através do jejum, rezas e lágrimas limpamos nossas almas das manchas causadas pelas transgressões. D'us então nos deu mais uma Festa, Sucót, que vem como uma comemoração pelo julgamento favorável. Na noite desta quarta feira (04 de outubro) começamos a reviver a Festa de Sucót, na qual trocamos nossas casas confortáveis por cabanas de madeira com cobertura de folhas e bambus. Nossos sábios ensinam algo muito interessante em relação aos Shalosh Regalim (Pessach, Shavuót e Sucót, as três Festividades nas quais todo o povo judeu fazia uma peregrinação ao Beit Hamikdash - Templo Sagrado). Cada um dos Shalosh Regalim está associado a um dos nossos patriarcas. Pessach corresponde a Avraham, Shavuót corresponde a Ytzchak e Sucót corresponde a Yaacov. O Rav Yaacov ben Asher (Alemanha, 1270 - Espanha, 1340), mais conhecido como Tur, traz um versículo da Torá como fonte deste ensinamento: "E Yaacov viajou para Sucót e construiu para ele uma casa, e para seus rebanhos ele fez cabanas" (Bereshit 33:17). Porém, além da conexão através das palavras do versículo, em que características Yaacov e Sucót são semelhantes? E o que esta conexão nos ensina? Sucót é uma Festa diferente das outras Festas. Por exemplo, durante todos os dias da Festa de Sucót, toda vez que alguém vai cumprir a Mitzvá de habitar a Sucá ele deve pronunciar a Brachá de "Leishev BaSucá". Isto não acontece na Festa de Pessach, na qual temos a Mitzvá de comer Matzá. A Brachá de "Al Achilat Matzá" somente é pronunciada durante o Seder de Pessach, mas em qualquer outro momento em que a Matzá for consumida recitamos apenas a Brachá de "Hamotsi Lechem Min Haaretz". Mas se existe a Mitzvá de comer Matzá em Pessach, por que não recitamos a Brachá de "Al Achilat Matzá" durante todos os dias? De acordo com o "Sefer Kol Bo", quando a pessoa está comendo Matzá durante Pessach, não é algo evidente e perceptível que ela está comendo a Matzá por ser uma Mitzvá. Como a pessoa está proibida de comer pão, ela pode estar comendo a Matzá simplesmente por estar com fome e não ter outra opção. Já em Sucót, entretanto, não há nenhum outro motivo para habitar em uma cabana a não ser com o propósito de cumprir a Mitzvá. Portanto, podemos fazer a Brachá de "Leishev BaSucá" durante todos os dias de Sucót, pois é evidente que o que estamos fazendo na Sucá é apenas em nome da Mitzvá. Há outra diferença interessante entre Sucót e as outras Festas. Sucót também é conhecida como "Zman Simchateinu" (a época da nossa alegria). Porém, as outras Festas também são épocas de muita alegria, então por que apenas Sucót recebe este nome? Responde o Rav Yossef Chaim (Iraque, 1832 - 1909), mais conhecido como Ben Ish Chai, que apesar de todas as Festas serem muito alegres, em Sucót há uma alegria extra, justamente pelo fato da Mitzvá de habitar na Sucá se estender por todos os dias da Festa. Esta possibilidade de constantemente cumprir a Mitzvá em honra da Festa desperta em nós uma enorme alegria. Além disso, apesar de pequenas mudanças no nosso cotidiano, nas outras Festas continuamos vivendo normalmente, dentro das nossas casas, não há diferenças tão essenciais na forma de nos comportarmos. Consequentemente, a pessoa não tem algo que a relembre o tempo inteiro de que está imersa em uma Festa, e, portanto, a alegria é um pouco menor. Já em Sucót, por sairmos de casa e vivermos na Sucá, parte da grande alegria é a recordação constante de que estamos vivendo imersos em uma Festa. Uma das características mais interessantes de Sucót é que mesmo as atividades mais mundanas, como comer e dormir, podem ser transformadas em Mitzvót. Normalmente estas atividades são consideradas "neutras", isto é, não são absolutamente nem Mitzvót nem Aveirót (transgressões). Porém, o simples ato de fazer estas atividades dentro de uma Sucá as transformam em Mitzvót e nos permite pronunciar a Brachá de "Leishev BaSucá". Portanto, Sucót é uma Festa única em seu poder de transformar simples atos mundanos em Mitzvót de grande santidade. Em relação à Yaacov, também percebemos que há muitas diferenças entre ele e os outros patriarcas. De todos os patriarcas, Yaacov foi o que mais se envolveu com as dificuldades diárias da vida, como lidar com pessoas desonestas, trabalhar muitas horas por dia e criar uma grande família. Por muitos anos ele precisou lidar com as áreas "neutras" do trabalho e da casa, impossibilitado de dedicar todo o seu tempo para o estudo e as rezas. Um aspecto da grandeza de Yaacov é que, apesar disso, ele conseguiu elevar suas atividades mundanas a um nível de enorme santidade. Uma das provas de que mesmo imerso em um mundo material ele estava completamente conectado à espiritualidade está contida em uma conversa de Yaacov com seu irmão Essav no reencontro deles após muitos anos de exílio. E assim Yaacov falou para seu Essav: "Com Lavan eu morei" (Bereshit 32:5). Rashi (França, 1040 - 1105) explica que a linguagem "morei" em hebraico é "Garti - גרתי", e quando recombinamos suas letras formamos a palavra "Tariag - תריג", que corresponde ao valor numérico 613, simbolizando o número de Mitzvót da Torá. A mensagem que Yaacov estava transmitindo ao seu irmão Essav é que, apesar das condições adversas no exílio, mesmo vivendo na casa de um trapaceiro, em uma cidade cuja marca registrada eram as enganações e mentiras, ele havia se mantido firme e comprometido com o cumprimento da Torá e das Mitzvós. O Talmud (Pessachim 88a) traz outro ensinamento com a mesma mensagem. Nossos sábios ensinam que Avraham descreveu o Beit Hamikdash (Templo Sagrado) como sendo uma montanha, Ytzchak o descreveu como um campo e Yaacov o descreveu como uma casa. Por que Yaacov associou o Beit Hamikdash a uma casa? Pois é em casa que costumamos fazer a grande maioria das atividades mundanas do nosso cotidiano, incluindo comer, dormir e algumas formas de trabalhos domésticos. Yaacov elevou todos estes tipos de atividades, porque ele via as atividades mundanas como oportunidades para chegar ao nível de santidade. De maneira similar, o Talmud (Brachót 26b) nos ensina que os patriarcas estão relacionados com as nossas três rezas diárias, Shacharit (reza da manhã), Minchá (reza da tarde) e Arvit (reza da noite). Avraham corresponde ao Shacharit, Ytzchak corresponde à Minchá e Yaacov corresponde ao Arvit. Diferente de Shacharit e Minchá, Arvit era originalmente uma reza opcional (isto não se aplica mais atualmente, pois durante a história o povo judeu recebeu sobre si a reza de Arvit como sendo uma obrigação). Mas por que Yaacov está associado a uma reza que não era obrigatória? Pois isto representa justamente a sua habilidade de transformar atividades não obrigatórias em Mitzvót. Yaacov representa o desejo da pessoa de se conectar a D'us mesmo quando não está obrigada. Além disso, as três primeiras Brachót da Amidá (Reza silenciosa) também estão relacionadas com os três patriarcas. A primeira Brachá, cujo enfoque é o Chessed (bondade) de D'us, está relacionada com Avraham. A segunda Brachá, cujo enfoque são os atos de Guevurá (bravura) de D'us, está relacionada com Ytzchak. A terceira Brachá, cujo enfoque é a Kedushá (Santidade) de D'us, está relacionada com Yaacov. Por que Yaacov está relacionado com a Kedushá? Pois Kedushá não significa a pessoa se abster do mundo material através de jejuns, voto de silêncio e voto de castidade. Kedushá significa utilizar o mundo material, mas de uma maneira que o mundo material se santifica e tudo é utilizado para servir a D'us. Explica o Rav Yehonasan Gefen que, com todo este entendimento, fica clara a conexão de Yaacov com a Sucá. A essência de ambos é transformar atividades opcionais e mundanas em atos sagrados. É fácil sentir a santidade das atividades obviamente espirituais, como o estudo da Torá e as rezas. Em Yom Kipur, cobertos com o Talit e jejuando, é fácil sentir e viver a santidade do momento. Mas não é simples se conectar a D'us quando estamos comendo, dormindo ou trabalhando. Este é o grande desafio de Sucót e, portanto, a grande oportunidade desta Festa. Em Sucót nossos atos mais mundanos se transformam em Mitzvót apenas por estarem sendo feitos dentro da Sucá. É o momento de despertarmos nossa consciência em relação à presença de D'us no nosso cotidiano. Se aproveitarmos esta oportunidade, poderemos carregar esta lição para o ano inteiro. Assim, poderemos continuar a santificar nossos atos mundanos mesmo depois do fim de Sucót. CHAG SAMEACH E SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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