Nesta semana lemos a Parashá Noach, que descreve as consequências trágicas de quando a humanidade escolheu se desviar dos caminhos corretos. D'us mandou um dilúvio que apagou toda a vida na Terra. Somente Noach e sua família encontraram graça aos olhos de D'us, como está escrito: "Mas Noach encontrou graça aos olhos de D'us... Noach era um homem justo, íntegro em sua geração. Noach andava com D'us" (Bereshit 6:8,9). Entretanto, por que a Torá escreveu que Noach era íntegro "em sua geração"? Rashi explica que há uma forma de entender isto como um louvor, pois era extremamente difícil ser íntegro em uma geração tão perversa. Mas Rashi diz que também este versículo pode ser entendido em um contexto negativo. Noach, em comparação com as pessoas de sua geração, era íntegro. Porém, se estivesse na geração de Avraham, teria sido considerado alguém sem nenhuma importância. Mas como entender esta ideia? Em que sentido Avraham era tão maior do que Noach, a ponto de ofuscá-lo completamente? A pergunta fica ainda mais forte ao observarmos um importante detalhe da Haftará lida após a Parashat Noach, que traz palavras do profeta Yeshayahu: "Pois com uma leve ira Eu escondi Meu semblante de você por um momento, mas com eterna bondade lhe mostrarei misericórdia - disse seu Salvador, D'us - Pois isso será para Mim como as "águas de Noach": assim como jurei nunca mais trazer as "águas de Noach" sobre a terra, assim jurei não ficar irado com você ou repreendê-lo" (Yeshayahu 54:8,9). Percebemos que o profeta se refere ao dilúvio como sendo "as águas de Noach". Por que o dilúvio não foi chamado de "águas da geração de Noach"? De acordo com o Zohar, a Torá está fazendo uma crítica a Noach, por não ter pedido a D'us misericórdia para sua geração. Em outras palavras, o Zohar está dizendo que o dilúvio é chamado pelo nome de Noach porque ele não rezou o suficiente por seus contemporâneos. Mas Noach não deveria ter sido culpado por isso. D'us veio a Noach e anunciou que as pessoas daquela geração eram perversas e que por isso Ele iria destruí-las. D'us ordenou que Noach construísse uma arca para salvar sua família e os pares selecionados de cada espécie de animais, pois mais ninguém merecia ser salvo. Então por que Noach deveria ter questionado o decreto de D'us? Por que ele deveria ter feito Tefilá para suspender os planos do Criador? E, além disso isso, como sabemos que tal Tefilá teria revertido a determinação Divina de acabar com a corrupção humana, que havia se arrastado por tantos anos? Explica o Rav Yssocher Frand que a prova de que as Tefilót de Noach poderiam ter salvado sua geração está nos versículos que lemos após o fim do dilúvio: "Então Noach construiu um altar para D'us, e tomou de todo animal puro e de toda ave pura, e ofereceu oferendas sobre o altar. D'us sentiu o aroma agradável, e disse em Seu coração: 'Não continuarei a amaldiçoar a terra novamente por causa do homem... Nem continuarei a ferir todo ser vivo como fiz'" (Bereshit 8:20,21). A Tefilá de Noach foi aceita e D'us admitiu que ele estava certo: "Nunca mais Eu trarei um dilúvio para destruir a terra" (Bereshit 9:11). Se Noach tivesse construído tal altar e feito tal Tefilá antes do dilúvio, provavelmente a destruição poderia ter sido evitada. Noach poderia ter salvado toda a humanidade. Porém, Noach não rezou. Talvez ele não se importou como deveria, não sentiu a dor dos outros. Ou talvez ele não acreditou no poder das suas próprias Tefilót e, por isso, não pediu. Como castigo, o dilúvio foi chamado pelo seu nome: "as águas de Noach". Esta era a grande diferença entre Avraham e Noach. Enquanto Noach não rezou pela humanidade, Avraham se "indispôs" com D'us, implorando repetidas vezes para que Ele poupasse a cidade de Sdom da destruição. Sdom não era uma cidade de Tzadikim, muito pelo contrário, era uma cidade de pessoas perversas e cruéis. Mesmo que D'us havia avisado a Avraham que destruiria Sdom por causa da maldade de seus habitantes, ainda assim Avraham se importou com eles e rezou muito para que fossem poupados da destruição. Não havia nenhuma garantia de que aquela Tefilá realmente funcionaria para salvar Sdom, mas Avraham conhecia a força da Tefilá, e por isso tentou. De fato, aquela Tefilá não funcionou para salvá-los, pois D'us entendeu, em Sua sabedoria infinita, que o mundo seria melhor sem a cidade de Sdom. Mas Avraham teve o mérito de ter se importado e ter tentado. Já Noach infelizmente nem tentou. Qual é a receita para que nossa Tefilá realmente possa ser atendida? O Talmud (Rosh Hashaná 18a) traz um ensinamento importante a este respeito. O Rabi Meir costumava dizer que duas pessoas que adoeceram com a mesma doença ou dois criminosos condenados pelo mesmo crime, é possível que um melhore e o outro não melhore, que um seja absolvido e o outro não seja absolvido, que um viva e o outro morra. Por que isso acontece? Pois um fez Tefilá e suas rezas foram atendidas, enquanto o outro fez Tefilá mas suas rezas não foram atendidas. O Talmud explica que aquele que fez uma "Tefilá completa" foi atendido, enquanto aquele que não fez uma "Tefilá completa" não foi atendido. Mas o que significa uma "Tefilá completa"? É difícil dizer que a diferença seja na Kavaná. É improvável que uma pessoa reze sem Kavaná quando sua vida está em perigo ou ela está em seu leito de morte. O Rav Elyahu Lopian zt"l (Polônia, 1876 - Israel, 1970) explica que o Talmud não está dizendo que um deles rezou com concentração e o outro não. Segundo ele, uma "Tefilá completa" se refere a uma pessoa que acredita no poder de sua Tefilá. Ela acredita no Poder ilimitado de D'us e na comunicação com Ele através das rezas e, portanto, quando ela reza, ela é atendida. A outra pessoa, entretanto, não tinha confiança de que sua Tefilá seria atendida e, por isso, realmente não foi atendida. Nossos sábios utilizam este conceito na prática, não apenas como teoria. Certa vez a irmã do Rav Menachem Mendel Morgensztern zt"l (Polônia 1787 - 1859), mais conhecido como Kotzke Rebe, estava muito doente e nenhum tratamento funcionava para curá-la. Ela foi até a casa de seu irmão, bateu na porta e, quando ele abriu, ela pediu para que o Rebe rezasse pela saúde dela. Porém, para a surpresa dela, o Rebe disse: "Não há nada que eu possa fazer por você", e fechou a porta de casa na cara dela. A irmã, desesperada, olhou para o céu e começou a chorar. Com lágrimas escorrendo no rosto, ela disse: "Mestre do Universo, até meu próprio irmão me abandonou. Só sobrou Você para me ajudar! Por favor, não me abandone!". O Rebe então novamente abriu a porta e disse: "Era isso o que eu queria ouvir. Não é um rabino ou um médico que podem ajudar você, somente o Todo Poderoso. Eu só queria levar você a essa realização. Uma vez que você chegou a esta conclusão, então você ficará bem". Esta foi uma "Tefilá completa". Nossos sábios descrevem que a Tefilá é algo que "está nas alturas do mundo, mas mesmo assim as pessoas a desprezam". Nossas Tefilót têm um impacto cósmico, mesmo quando parece que elas não foram atendidas. Avraham não conseguiu salvar Sdom, mas certamente suas Tefilót ficaram guardadas, beneficiando outras pessoas. Nem sempre vemos os resultados imediatos das nossas Tefilót, pois às vezes o efeito delas não será sentido a não ser após muitas gerações. Achamos que quando fazemos Tefilá por um familiar doente, a Tefilá ajuda apenas aquele doente, mas não conhecemos o verdadeiro poder da Tefilá. Mesmo que a pessoa por quem rezamos possa falecer, nossas Tefilót não foram em vão, e certamente salvarão muitas outras vidas. Por isso, nunca desista da Misericórdia Divina. Reze, mesmo quando tudo parecer impossível. Acredite no poder da sua Tefilá. Certamente ela será recebida por D'us e ficará guardada para ser utilizada em uma ocasião especial. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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