Nesta semana lemos a Parashá Ekev (literalmente "recompensa"), na qual Moshé continua seus discursos finais. Ele fala sobre temas importantes, tais como a recompensa pela obediência e a garantia de D'us da vitória sobre os nossos inimigos. Moshé também adverte o povo sobre os perigos da prosperidade e da autoconfiança demasiada. A Parashá traz também o segundo parágrafo do Shemá Israel, que começa com as seguintes palavras: "E será, se você escutar Meus mandamentos que Eu te ordeno hoje, que ame Hashem, seu D'us, e que O sirva com todo o seu coração e com toda a sua alma" (Devarim 11:13). Este versículo reforça a ideia de que nosso relacionamento com D'us é baseado em reciprocidade. Quando cumprirmos as Suas Mitzvót, Ele nos recompensa com Suas Brachót. Na sequência, D'us também nos informa as consequências de nos desviarmos dos caminhos corretos. Há algo neste versículo que nos chama a atenção. A Torá utiliza a expressão "servir a D'us com todo o coração". Mas o que significa isso? De acordo com Rashi (França, 1040 - 1105), o "Serviço do coração" refere-se à nossa Tefilá. Rashi inclusive questiona de onde aprendemos que Tefilá é um "Serviço", e traz como resposta as palavras do versículo: "Teu D'us, a quem você serve regularmente" (Daniel 6:17). Daniel viveu na época do exílio da Babilônia, após a destruição do Primeiro Beit Hamikdash. Então a que Serviço o versículo estava se referindo? À Tefilá. E assim também está dito em relação a David Hamelech: "A minha Tefilá será estabelecida como a oferenda de incenso diante de Você" (Tehilim 141:2). Da mesma forma que a oferenda de incenso é um Serviço, também a Tefilá é um Serviço. O Rambam (Espanha, 1135 - Egito, 1204), nas leis sobre a Tefilá, também escreve: "Cumpra a Mitzvá de rezar todos os dias, como está dito: "E sirva Hashem, teu D'us". Este "Serviço" refere-se à Tefilá, como está dito: "que O sirva com todo o seu coração", o os sábios disseram: "Que tipo de Serviço é feito com o coração? A Tefilá" ". O primeiro ponto que percebemos nos dois comentários é que o principal elemento da Tefilá é o coração, isto é, a Kavaná. A Tefilá é um serviço do coração, não um serviço da boca. Apesar de as palavras da nossa Tefilá terem muita santidade, principalmente por terem sido compiladas pelos "Anshei Knesset HaGuedolá", sábios muito puros e sagrados, ainda assim não é suficiente apenas falar as palavras sem nenhum tipo de sentimento para conseguir nos conectar verdadeiramente a D'us. Além disso, tanto para Rashi quanto para o Rambam, a Tefilá é considerada uma "Avodá" para D'us. Porém, o Rav Ytzchak Pinchas Goldwasser shlita explica que, se pararmos para refletir sobre este conceito, um questionamento muito grande se desperta no nosso entendimento sobre o que significa a Tefilá. "Avodá" literalmente significa "Serviço". A palavra "Serviço" implica em servir, oferecer algo, doar de si ao outro. Porém, onde está a nossa doação na Tefilá? Ao contrário, na Tefilá estamos esperando receber coisas de D'us. Isto significa que a pessoa que reza, na verdade, está apenas preocupada consigo mesma, e não está fazendo absolutamente nenhum "Serviço" a D'us! Então por que a Tefilá é chamada de Avodá? Para responder este questionamento, o Rav Moishe MiTrani zt"l (Grécia, 1500 - Israel, 1580), mais conhecido como Mabit, faz algumas perguntas interessantes sobre a nossa Tefilá e, através delas, nos ajuda a entender um pouco mais sobre sua essência verdadeira e qual deve ser o nosso foco. Em primeiro lugar, o Talmud (Brachót 34a) nos ensina que a Amidá, a reza silenciosa, é dividida em três partes. As primeiras Brachót são de louvor, as Brachót intermediárias são de pedidos e as Brachót finais são de agradecimento. O Talmud explica que as primeiras Brachót são como um escravo que derrama louvores diante do seu mestre. Já as intermediárias se assemelham a um escravo que pede recompensa ao seu mestre. Porém, isso não significaria que a Tefilá é um ato de bajulação, como um servo que elogia seu mestre antes de fazer algum pedido importante para influenciá-lo a atender seu pedido? Isso não seria uma forma de hipocrisia? Além disso, em relação às últimas Brachót, que são de agradecimento, o Talmud diz que se comparam a um escravo que já recebeu a recompensa de seu mestre e se retira. Parece, pelas palavras do Talmud, que devemos fazer a Tefilá esperando que ela seja escutada e atendida imediatamente. Porém, isso não é verdade! Nossos sábios ensinam justamente o contrário, que todo aquele que espera que seus pedidos sejam atendidos imediatamente acabarão se decepcionando e se frustrando. Então o que significa esta comparação do Talmud? E, finalmente, não deveria ser inadequado repetir o mesmo pedido várias vezes? Se uma pessoa viesse diante de um rei e ficasse repetindo diversas vezes diante dele o mesmo pedido, não seria considerado um desacato? Certamente o rei ficaria extremamente irritado, pois se ele quisesse atender o pedido, teria feito isso da primeira vez que escutou. A insistência parece ser algo que estraga o pedido. Da mesma forma, D'us sabe tudo e pode tudo. Ele já não escutou os nossos pedidos da primeira vez em que fizemos? Será que insistir não seria algo desagradável? Afinal, se Ele quisesse nos atender, já teria feito isso! Ao repetirmos todos os dias os mesmos pedidos na nossa Tefilá, de manhã, de tarde e de noite, isso não pode ser considerado inclusive uma falta de respeito com D'us? Explica o Mabit que um dos fundamentos mais importantes da nossa Tefilá é que não devemos rezar com a expectativa e a intenção de que nossos pedidos serão atendidos imediatamente. Este não é o propósito da Tefilá. O verdadeiro propósito da Tefilá é internalizar o conceito de que não há no mundo nada e nem ninguém para quem devemos rezar e nos apoiar a não ser D'us. Também é o momento de reconhecermos que temos faltas e necessidades neste mundo, e não há ninguém que pode preenchê-las a não ser D'us. É por isso que devemos despejar diante Dele nossas necessidades, e repetidas vezes. Não buscando o atendimento imediato, e sim a internalização de que tudo vem Dele. No final, a recompensa virá, mas não porque a Tefilá tem como único objetivo alcançar o que pedimos. A pergunta prática que devemos nos fazer é: se eu soubesse que minha próxima Tefilá não será atendida, será que eu a faria do mesmo jeito? Se a resposta for "não", isso significa que talvez não entendemos o propósito verdadeiro da Tefilá, que é injetar Emuná no nosso coração. Uma das principais intenções da nossa Tefilá, portanto, deve ser expressar a dependência total do ser humano em relação a D'us, reconhecer que somente Ele pode suprir nossas necessidades. Portanto, a essência da Tefilá é mais sobre a devoção e a honra a D'us do que sobre a satisfação dos nossos pedidos específicos. Desta maneira, o propósito da Tefilá não é pelo escravo, e sim pelo seu Mestre. Por isso ela é chamada de "Avodá". Aprendemos da nossa Parashá, portanto, dois pontos muito importantes. O primeiro é a importância da Kavaná na nossa Tefilá, como ensinam nossos sábios: "Uma Tefilá sem Kavaná é como um corpo sem alma". Além disso, aprendemos que um dos propósitos da nossa Tefilá é colocar no nosso coração a certeza de que tudo vem de D'us e que Ele, e só Ele, pode nos ajudar a conseguir tudo o que precisamos. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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