Nesta semana lemos a Parashá Shelach Lechá (literalmente "Envie para você"), que traz o evento trágico que mudou a história do povo judeu. Após D'us ter diversas vezes afirmado que a Terra de Israel era boa e fértil, além de ter garantido que milagres aconteceriam na sua conquista, diante de inimigos maiores e mais numerosos, o povo insistiu com Moshé que queriam que espiões fossem enviados para verificar as condições da terra, em uma tremenda demonstração de falta de Emuná. Doze espiões foram enviados, um de cada Tribo, e dez voltaram falando mal da terra, dizendo ser impossível conquistá-la. Isso causou uma enorme histeria e um choro coletivo, causando com que D'us ficasse furioso e decretasse que toda aquela geração não poderia entrar na Terra de Israel. Eles tiveram que permanecer por 40 anos no deserto, até que toda aquela geração morresse e apenas uma nova geração tivesse o mérito de herdar a terra. A Parashá ensina que os espiões escolhidos eram pessoas especiais, espiritualmente muito elevadas, como Calev ben Yefune e Yehoshua Bin Nun, que originalmente se chamava Hoshea. Antes de Moshé enviar os espiões, ele mudou o nome de "Hoshea" para "Yehoshua". A letra "Yud", que foi adicionada no início do nome dele, simbolizava D'us, como se Moshé estivesse desejando que D'us salvasse Yehoshua do plano dos espiões. Nossos sábios explicam que este "Yud" era o mesmo que foi retirado do nome de Sara, esposa de Avraham Avinu, que originalmente chamava-se "Sarai", e depois seu nome foi mudado para "Sara". Muitos comentaristas questionam o motivo pelo qual este "Yud" precisou vir justamente de Sara. O que havia no nome de Sara que poderia ajudar Yehoshua, em especial naquele momento tão difícil, com tantas más influências à sua volta? O Rav Yssocher Frand sugere que Yehoshua precisava de uma força especial para evitar cair nas más influências dos outros espiões. Sara representava tal força. Quando Yitzchak era criança, Sara percebeu que ele estava correndo o risco de cair espiritualmente sob a péssima influência de Ishmael, que fazia as piores transgressões. Ela insistiu para que Hagar e Ishmael fossem expulsos de casa, pois sabia as influências que as más companhias podem ter sobre uma pessoa. Por mais cruel que possa ter parecido na época o ato de forçar um pai a mandar embora de casa seu próprio filho, Sara percebeu que isso era fundamental para a continuidade do povo judeu. Sara representava, portanto, a força contra as más influências, justamente o que Yehoshua mais precisava naquele momento. Por isso, quando Moshé sentiu que Yehoshua precisaria de uma força interior e da coragem de se levantar contra a multidão, ele colocou em Yehoshua uma parte do nome de Sara, para que ele ganhasse esse aspecto da força de personalidade dela. Porém, há outras duas grandes dificuldades neste assunto do envio de espiões. Quando Moshé os enviou, deu-lhes uma série de instruções. Primeiro, pediu-lhes que fizessem uma avaliação militar dos habitantes e das cidades da Terra de Israel. Além disso, Moshé pediu-lhes que avaliassem a terra em si, em termos de sua fertilidade e se era intrinsicamente boa. Quando espiões são enviados em uma missão, geralmente são enviados como uma ferramenta estratégica. Podemos entender as instruções para avaliar o potencial militar, mas as instruções para investigar a terra em termos da qualidade do seus frutos e de sua fertilidade parecem fora de contexto em uma missão de espionagem. Por que Moshé pediu para que os espiões observassem estes aspectos? Finalmente, D'us avisou explicitamente para Moshé que não concordava com a missão dos espiões, o que aprendemos das palavras "Shelach Lechá", que literalmente significam "envie para você". Segundo Rashi (França, 1040 - 1105), D'us estava dizendo para Moshé: "Não estou ordenando a você, mas se desejar, você pode enviar espiões". Como o povo pressionou Moshé, ele aconselhou-se com D'us, que avisou: "Eu disse ao povo que a terra é boa. Agora juro que lhes darei a oportunidade de tropeçar nas palavras dos espiões, para que não herdem a terra". Então por que Moshé decidiu mesmo assim enviar os espiões? O que ele pretendia ganhar com esta missão, que vinha de um lado tão negativo do povo, baseado em falta de Emuná? A resposta é que Moshé não estava apenas enviando-os como espiões estratégicos. Moshé também estava tentando injetar neles uma atitude, a atitude de que "esta é a minha terra". Moshé não queria que eles fossem para a Terra de Israel como meros espiões, mas sim que se comportassem como "donos da terra". Moshé pediu para que vissem vários pontos, tais como a fertilidade da terra e a qualidade dos frutos, como se estivesse dizendo aos espiões: "Vão verificar a terra de vocês, onde futuramente suas casas estarão localizadas. Verifiquem o mercado imobiliário, verifiquem a agricultura, verifiquem a produtividade, pois esta será a sua terra. Vocês devem olhar para ela como se já fosse sua". Aproximar-se da Terra de Israel com a atitude de "esta é minha terra" é totalmente diferente do que a atitude de entrar como um espião estratégico. Um espião pensa em termos de "será que seremos capazes de ter sucesso?". Já o proprietário pensa apenas em termos de "como, que método devo usar?". Esse é o espírito que Moshé queria colocar nos espiões, de que a verdadeira questão não era "se", e sim "como". Moshé considerou vital que Yehoshua entendesse essa ideia. Ele não poderia ter dúvidas se a terra era realmente nossa. Quem, na Torá, sentiu de verdade que a Terra de Israel era nossa? Sara. Quando ela pediu para que Avraham expulsassse seu filho Ishmael, ela disse: "Este não herdará com meu filho" (Bereshit 21:10). Ela se referia ao fato de que Ishmael não teria uma porção na Terra de Israel. Esta terra pertence completamente a Yitzchak, sem parcerias. A Terra de Israel pertence à nação judaica, não aos Ishmaelim. Ela é nossa. Portanto, Moshé pegou o "Yud" de Sara e deu a Yehoshua, para que ele entrasse na Terra de Israel levando consigo a atitude de Sara. Esta é a atitude que devemos ter em relação à verdadeira posse da Terra de Israel. É nossa porque D'us nos deu. Esta é a atitude que os espiões precisavam ter ao entrar na terra. Moshé estava dizendo a eles: "Examinem seu imóvel. É seu, e não pertence a mais ninguém". Essa era a única maneira de conquistar a Terra de Israel. Isso não se aplica apenas a sentir que a Terra de Israel é nossa por direito. Isso se aplica a qualquer outra área da vida na qual precisamos ter uma atitude de sermos "donos da casa". Quando uma pessoa tem uma atitude vencedora, quando ela assume a responsabilidade, então as coisas dão certo. Isso também vale para áreas como o casamento e a educação dos filhos. Toda vez que não nos sentimos "donos da casa", nos esquivamos das nossas verdadeiras responsabilidades. Já o sentimento de "é minha responsabilidade" nos faz corrermos atrás do sucesso. Tudo na vida é uma questão de atitude, e era isso que Moshé tentou injetar nos espiões, em especial em seu querido aluno Yehoshua. Este era o "Yud" de Sara. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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