Nesta semana lemos a Parashá Bechukotai (literalmente "Nos Meus decretos"), na qual Moshé transmitiu ao povo judeu uma série de Brachót que eles receberiam caso andassem nos caminhos da Torá e das Mitzvót, mas logo em seguida ele enumerou uma enorme quantidade de Klalót (maldições) que atingiriam o povo judeu caso eles se desviassem dos caminhos espirituais. São Klalót assustadoras o suficiente para tirar o nosso sono. As Brachót do início da Parashá são concluídas com o versículo: "Eu sou Hashem, o D'us de vocês, que tirei vocês da terra do Egito, de serem escravos deles, e Eu quebrei os bastões do jugo de vocês e conduzi vocês erguidos" (Vayikra 26:13). O jugo, uma peça de madeira que prende o boi ao arado, representa metaforicamente nossa condição de escravos no exílio do Egito. Os "bastões do jugo" deve se referir às cavilhas do jugo que, quando quebradas, permitem que o jugo seja retirado do pescoço do animal. Isso se refere à nossa libertação da escravidão egípcia. Este versículo é a fonte de algo que dizemos quase todos os dias, um dos "HaRachaman" do Birkat Hamazon: "HaRachaman Hu ishbor uleinu meal tzavareinu, veHu yolicheinu komemiut leartzeinu" (Que o Misericordioso quebre o jugo dos nossos pescoços e nos conduza eretos à nossa terra). Este "HaRachaman" é muito semelhante ao versículo da nossa Parashá, mas com uma pequena diferença. No Birkar Hamazon dizemos que D'us quebrará o jugo dos nossos pescoços, enquanto o versículo da nossa Parashá apenas menciona quebrar os bastões do jugo, ao invés de falar sobre quebrar o próprio jugo. Por que esta diferença? Quando um agricultor termina o arado anual, ele não quebra o jugo que estava sobre o animal, pois sabe que vai precisar dele novamente dentro de alguns meses para arar a terra novamente. Neste caso, o agricultor simplesmente remove o jugo dos bois, retirando os bastões que mantêm o jugo no lugar, mas não se desfaz do jugo em si. No entanto, quando um agricultor decide se aposentar, o que ele faz? Ele tira o jugo do seu animal e o quebra, como um símbolo de que aquela fase de vida terminou. Como o jugo já não serve para mais nada, então ele pode ser quebrado. Quando D'us fez a promessa contida na nossa Parashá, metaforicamente se referindo à libertação do povo judeu como "quebrar os bastões do jugo", Ele sabia que a saída do Egito seria uma remoção temporária do jugo do povo judeu, pois, infelizmente, no decorrer da história, haveriam outros períodos de exílio, nos quais o jugo seria colocado novamente sobre nós. Portanto, é como se D'us estivesse dizendo: "Eu quebrarei os bastões do jugo de vocês, mas não descartarei o jugo, pois infelizmente ele será usado novamente em algum momento futuro". No entanto, no HaRachaman do Birkat Hamazon, pedimos a D'us para que Ele, com Sua misericórdia infinita, no futuro quebre para sempre o jugo que está no nosso pescoço. Imploramos para que, de uma vez por todas, Ele destrua os jugos do cativeiro de nossos exílios, que sofremos repetidamente em nossa história, e que Ele nos conduza finalmente, de uma vez por todas, de cabeça erguida à nossa Terra. Talvez um dos nossos maiores problemas atualmente é que perdemos a percepção de que estamos no exílio, por nos desconectarmos da Torá. Uma das provas disso é a forma como lemos a Parashá desta semana. Quando terminam as "boas notícias" da Parashá, então começam as terríveis Klalót, as maldições condicionais que recaem quando abandonamos a Torá e as Mitzvót, como está escrito: "Mas se não ouvirem a Mim e não cumprirem todas estas Mitzvót...", então D'us diz: "Eu quebrarei o orgulho da força de vocês" (Vayikrá 26:14,19). Infelizmente testemunhamos, ao longo da história, o cumprimento das previsões terríveis que estão descritas na nossa Parashá. Explica o Rav Yssocher Frand que atualmente o costume é que quem recebe esta Aliá, que contém todas as Klalót, é o próprio "Baal Korê", aquele que lê a Torá, sem que tenhamos que "convocar" alguém. Como o Baal Korê já está ao lado do Sefer Torá, ele mesmo já faz as Brachót e a leitura sem ser "formalmente" chamado à Torá. Porém, havia antigamente na Europa um costume diferente, um pouco questionável. O Gabay, responsável da sinagoga, procurava alguém muito pobre, que precisava desesperadamente de dinheiro, e pagava-lhe para que ele aceitasse receber esta Aliá. Como ninguém queria ser chamado para as Klalót, ofereciam para esta pessoa três rublos, que naquela época era muito dinheiro. Embora isso talvez não seja algo socialmente bonito, pois envolvia se aproveitar da pobreza e do desespero de uma pessoa, ainda assim este costume carrega uma mensagem positiva: as profecias da Torá eram reais para as pessoas daquela época. Isso realmente significava algo para as pessoas, a ponto de elas sentirem medo de receber aquela Aliá. O conteúdo destes versículos era real para elas. A única maneira de encontrar alguém disposto a receber esta Aliá era contratar alguém desesperado. O Rav Yaakov Kamenetsky zt"l (Lituânia, 1891 - EUA, 1986) também contava um incidente que ele se lembrava que ocorreu na Europa quando ainda era criança. Durante o recreio, as crianças jogavam um jogo de fichas. Uma criança perdeu todas as suas fichas e ficou muito chateada. Ela então disse para outra criança: "Vou trocar metade do meu Olam Habá por três fichas". Obviamente foi uma atitude tola e infantil, mas demonstra que, para as pessoas daquela geração, o Olam Habá era algo palpável, quase uma mercadoria real, com significado prático. Infelizmente, este nível de Emuná palpável não é tão sentido em nossos dias. Atualmente, infelizmente nos comportamos com indiferença em relação às Klalót da Torá. Se uma pessoa recebe esta Aliá, não reflete sobre isso e não se incomoda. Pouco tempo depois ela pode tranquilamente descer para o Kidush e fazer um "Lechaim". É interessante perceber que, imediatamente após as Klalót, a Torá traz o assunto de "Erchin", que significa "Avaliações". Uma pessoa podia voluntariamente doar o "Erech" (valor) de si mesmo ou de outra pessoa ao Beit HaMikdash. Como o valor desta pessoa era medido, para saber o quanto era necessário doar em dinheiro? A Torá traz valores determinados com base na faixa etária e no gênero. Mas por que este assunto vem logo depois das Klalót? Por que terminar algo arrepiante com uma seção "técnica", que trata das leis de avaliações? A perda da sensibilidade espiritual tem um efeito devastador: as pessoas perdem a noção do seu verdadeiro valor. O Rebe Menachem Mendel de Kotzk zt"l (Polônia, 1787- 1859) explica que a razão pela qual o assunto de Erchin segue o assunto das Klalót é que a Torá está tentando nos ensinar que, não importa o que aconteça a uma pessoa, ela deve sempre lembrar do seu valor. Um ser humano tem um "Erech" e, aconteça o que acontecer, mesmo após a degradação e as humilhações contidas nas Klalót, uma pessoa tem um valor único. A reação do Rebe de Klausenberg no Holocausto personificou esse conceito. Nosso valor não depende do comportamento dos outros. Enquanto nos comportarmos com ética e moral, enquanto formos honestos, enquanto nos importarmos com os outros, seremos parte do Povo Escolhido. Somos nós que escolhemos nosso valor, não os outros. Mesmo que nosso exílio atual seja tão longo, não perdemos as esperanças. Por isso, pedimos no Birkat Hamazon que desta vez, quando chegar o momento certo, seja a oportunidade de jogar o nosso jugo fora para sempre. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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