A Parashá desta semana, Pekudei (literalmente "Contas") começa falando sobre a prestação de contas do Mishkan. Como tudo foi construído a partir de doações do povo, Moshé, apesar de estar acima de qualquer suspeita, fez questão de prestar contas de tudo o que foi doado e para que cada material foi utilizado. Ele achou isto ainda mais necessário pelo fato de as doações terem sido trazidas inicialmente para a porta de sua tenda. Ele se sentia responsável por todo o material doado, em especial por se tratarem de materiais caros e preciosos, como ouro e prata. Isso nos ensina sobre a importância da transparência, principalmente quando estamos lidando com dinheiro público, algo infelizmente muito distante da realidade atual dos nossos governantes. Moshé não queria que pairasse sobre a cabeça das pessoas nenhum tipo de dúvida ou questionamento. A Torá nos ensina que depois que Moshé pediu ao povo para que doassem para o Mishkan, as doações excederam a quantidade de material necessário, apesar de terem sido voluntárias. A vontade de doar era tanta que Moshé precisou pedir para que parassem de trazer materiais, e um pouco sobrou, como está escrito: "Então Moshé ordenou, e eles anunciaram no acampamento, dizendo: "Que nenhum homem ou mulher faça mais trabalho para doação do Mikdash. Então, as pessoas pararam de trazer. E o trabalho era suficiente para todo o ofício, para fazer e sobrar" (Shemot 36:6,7). O Rav Ovadia MiSforno zt"l (Itália, 1475 - 1550) comenta que D'us ensinou a Moshé qual era a quantidade exata de materiais necessária para construir o Mishkan. Ele deu a medida precisa para cada item, tanto para a estrutura quanto para os utensílios, e assim que a quantidade doada chegou ao que era necessário, Moshé ordenou que as doações parassem. Porém, sabemos que isso não aconteceu na construção do Primeiro Beit Hamikdash, liderada por Shlomo HaMelech, e nem na "reforma" do Segundo Beit HaMikdash, conduzida por Hordus (Herodes). Em ambos os casos, desde o início foi coletado mais dinheiro e matéria-prima do que era necessário, enquanto no Mishkan foi recolhido apenas a quantidade exatamente necessária. Por que esta diferença de comportamento? E o que este pequeno detalhe pode ensinar para as nossas vidas? Antes de tudo, precisamos entender qual era a necessidade de recolher mais dinheiro e matéria-prima do que o necessário para a construção dos Templos Sagrados. O Talmud Yerushalmi explica que este "a mais" foi recolhido nos dois Templos Sagrados para que fossem fabricadas cópias de reserva de alguns dos utensílios usados no Serviço Divino. Isso era extremamente necessário, já que os utensílios, durante o uso diário, poderiam quebrar, se desgastar ou se tornar impuros. Em caso de necessidade, se não houvessem utensílios de reserva, os Serviços ficariam paralisados até que um novo fosse fabricado. Com utensílios sobressalentes, o trabalho poderia ser feito de forma contínua, sem a necessidade de nenhum tipo de interrupção. Na realidade, este é um conceito normal no mundo empresarial. Qualquer empresa que quer oferecer serviços de qualidade deve manter um inventário de peças sobressalentes. Por exemplo, um Buffet que serve comida não pode ter apenas o número exato de conjuntos de louças para as festas que espera servir. O Buffet deve estar preparado para quebras, perdas e furtos. Da mesma forma, o Beit Hamikdash também precisava ter uma reserva, para estar preparado para ocorrências imprevistas. Desta maneira, a resposta do Yerushalmi desperta um enorme questionamento: se as doações do Mishkan foram exatas, então não haviam utensílios sobressalentes. Por que Moshé não se preocupou com isso, para casos de quebra ou impurificação? Por que ele não achou necessário se precaver destes tipos de ocorrência, que não são tão raras de acontecer? Há uma interessante explicação de um grupo de comentaristas da Torá conhecidos como "Daat Zekeinim MiBaalei HaTosafot" na Parashat Terumá, em relação ao Aron HaKodesh, que pode nos ajudar a responder este questionamento. Certamente o Aron Hakodesh era o utensílio mais importante do Mishkan, pois nele estavam guardadas as Tábuas que continham os Dez Mandamentos, e ele ficava no Kodesh Hakodashim. O Aron HaKodesh era um utensílio muito bonito, feito de madeira e revestido de ouro por dentro e por fora. Mas não teria sido mais adequado, pela honra do Mishkan, que o Aron HaKodesh fosse feito de ouro maciço? Por que fazer de madeira e somente revestir de ouro? Será que Moshé queria fazer economia de dinheiro justamente na construção do utensílio mais importante da "Casa de D'us"? A resposta é que o Mishkan era portátil, para poder acompanhar o povo judeu durante as viagens. Toda vez que D'us sinalizava o início de uma nova viagem, através da elevação da nuvem que cobria o Mishkan, o povo desmontava toda a estrutura do Mishkan e preparava os utensílios para a viagem. Tudo era transportado pela Tribo de Levi. A estrutura, composta principalmente pelos "Kerashim" (enormes vigas de madeira), "Adanim" (bases metálicas) e coberturas de tapeçaria, era transportada em carroças, enquanto os utensílios eram carregados pelos Leviim, através de barras, em seus próprios ombros. Portanto, o Aron Hakodesh foi feito de madeira para pesar menos, pois se fosse feito de ouro puro certamente seria muito mais pesado e difícil de carregar. O mesmo também ocorria em relação ao Mizbeach de Ouro, no qual o incenso era queimado, e a Shulchan, que eram feitos de madeira, mais leve, e apenas revestidos de ouro, para torná-los mais leves e fáceis de carregar. Explica o Rav Yssocher Frand que isto pode nos ajudar a responder o questionamento em relação à ausência de utensílios de reserva na época do Mishkan. O Beit Hamikdash era fixo, isto é, mesmo que houvessem muitas cópias dos utensílios, todas elas ficavam guardadas, sem a necessidade de ninguém precisar carregá-las o tempo todo. Porém, no Mishkan, um Templo Móvel, tudo precisava ser transportado e, portanto, ter utensílios reservas implicaria em "alguém ter que carregar tudo isso". E não seria apenas uma única vez, pois durante os quarenta anos em que o povo judeu passou no deserto foram dezenas de viagens, algumas mais curtas, outras mais longas. Quando alguém precisa carregar algo, precisamos tentar facilitar a vida dele, ajudando a aliviar o peso. Este é um princípio muito importante no judaísmo: não devemos ser Tzadikim às custas dos outros. É como quando fazemos as malas de viagem. Em geral, é sabido que os homens viajam mais leves do que as mulheres. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de que quem carrega as malas normalmente são os homens. Durante uma viagem, se a mulher quer honrar o Shabat trocando de roupa a cada Seudá, que não faça isso às custas de seu marido carregar uma mala mais pesada. Da mesma forma, se o marido quer honrar o Shabat e não aceita que sua esposa utilize descartáveis, que ajude no fim do Shabat a lavar toda a louça. Não podemos ser Tzadikim às custas do trabalho dos outros. Se você quer fazer rigorosidades, que o esforço a mais recaia sobre você, não sobre os outros. Se D'us achou melhor fazer o Aron Hakodesh de madeira ao invés de ouro maciço e não ordenou que houvessem utensílios reservas no Mishkan pois alguém precisaria carregá-los, então também devemos ser rigorosos em não sobrecarregar outras pessoas. Podemos e devemos receber para nós Chumrot, mas sem que isso pese para qualquer outra pessoa. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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