Nesta semana lemos a Parashá Vayikrá, iniciando o terceiro Livro da Torá. Neste Livro, Torá começa a ensinar muitos conceitos sobre santidade, pureza e impureza espiritual. A Parashá Vayikrá fala principalmente dos Korbanót, a principal forma de servirmos e nos aproximarmos de D'us. Neste Shabat também lemos a Parashá Zachor, para cumprirmos a Mitzvá da Torá de lembrarmos o que Amalek nos fez, quando nos atacou de forma covarde no deserto, para tentar nos "esfriar" espiritualmente. Com a Parashá Zachor lembramos da Mitzvá de exterminar a lembrança de Amalek do mundo, pois Amalek representa todo o mal e a escuridão. E no Motsei Shabat (23/mar/24) começaremos a reviver a próxima Festa do Calendário Judaico: Purim, uma festa muito alegre, na qual comemos, bebemos e dançamos com muita alegria, revivendo a milagrosa salvação do povo judeu na época de Mordechai e Esther, pouco antes da reconstrução do Segundo Templo Sagrado, durante o exílio Persa. D'us nos salvou do decreto de um homem do povo de Amalek, Haman, o primeiro ministro do rei Achashverosh, que queria exterminar todo o povo judeu, homens, mulheres e crianças, em um único dia. A Meguilat Esther, livro no qual toda a história de Purim foi registrada, é extremamente profunda. Inclusive, se prestarmos atenção nos detalhes, perceberemos que surgem muitos questionamentos. Por exemplo, a Meguilá começa contando sobre um banquete oferecido pelo rei Achashverosh, governante da Pérsia, como está escrito: "No terceiro ano do seu reinado, ele fez um banquete para todos os seus oficiais..." (Esther 1:3). Qual era o motivo deste banquete? Havia uma profecia de Yirmiahu HaNavi, de que o exílio do povo judeu duraria 70 anos e que depois o Templo Sagrado seria reconstruído e o povo judeu voltaria para a Terra de Israel. De acordo com os cálculos de Achashverosh, o septuagésimo ano do exílio judeu passou sem consequências, acabando assim com o medo de uma libertação judaica. Achashverosh celebrou essa ocasião com um banquete luxuoso, exibindo os utensílios sagrados saqueados do Templo Sagrado pelo exército de Nevuchadnetzach. O versículo que descreve a ostentação apresentada no banquete (Esther 1:6) contém uma letra escrita em um tamanho maior do que as outras, um "Chet", que tem o valor numérico de oito. Isso alude ao fato de que Achashverosh celebrou a derrota do povo judeu vestindo os oito trajes do Cohen Gadol. Porém, o Talmud (Meguila 11b) ensina que quase uma década antes, Belshatzar, neto de Navuchadnetzach, deu uma festa aos seus lordes e, animado pelo vinho, mandou trazer os utensílios sagrados que o seu avô havia roubado do Templo Sagrado de Jerusalém e bebeu neles. Ele também estava celebrando o que erroneamente calculou como o término do septuagésimo ano do exílio judaico. Porém, embora tenha exibido os utensílios sagrados, não há menção dele vestindo os oito trajes do Cohen Gadol. Qual foi a motivação de Achashverosh em vestir os trajes sacerdotais? Além disso, logo após o plano fracassado de Bigtan e Teresh, em sua tentativa de assassinar o rei, Achashverosh elevou a posição de Haman para primeiro ministro, a segunda pessoa mais poderosa em seu reino. Por que essa foi a reação de Achashverosh ao atentado malsucedido? Outro ponto que chama a atenção é que Haman, em sua nova posição, desfilava pela cidade exigindo que todas as pessoas se curvassem diante dele. Essa ação poderia ter sido vista como uma tentativa de usurpar o poder do rei. Por que Achashveirosh permitiu que Haman se comportasse como se fosse um deus? Finalmente, o ponto de virada da narrativa da Meguilá ocorre no início do sexto capítulo. Achashverosh, sofrendo de insônia, pediu que as Crônicas do reinado fossem lidas diante dele. Ele descobriu que Mordechai nunca havia sido recompensado por ter salvado sua vida. Achashverosh perguntou a Haman o que deveria ser feito com o homem que o rei deseja especialmente honrar, e Haman, pensando que era ele o objeto da benevolência do rei, sugeriu que essa pessoa deveria usar a coroa e a roupa do rei, montar no cavalo do rei e ser conduzida por um dos mais nobres oficiais do rei. Achashverosh conferiu essa honra a Mordechai e exigiu que Haman o conduzisse pessoalmente no desfile pela cidade. De acordo com o Talmud (Meguila 16a), Haman também foi obrigado a cuidar da higiene de Mordechai. Por que Achashverosh submeteu Haman a esta completa e total humilhação, justamente diante de Mordechai, seu inimigo jurado? Ele não deveria honrar seus ministros importantes? A resposta de todas estas perguntas pode ser encontrada ao nos aprofundarmos em outra importante história da Torá. O Talmud (Shabat 10b) afirma que um pai não deve favorecer um filho em relação ao outro. Como resultado de Yaakov ter dado a Yossef uma túnica, o povo judeu foi obrigado a descer ao Egito. Como Yaakov, que foi capaz de enganar Essav e Lavan, não percebeu que dar ao seu filho essa peça adicional de roupa alimentaria as chamas da inveja e do ressentimento entre Yossef e seus irmãos? Por outro lado, há uma aparente contradição. Yaakov ensinou a Yossef toda a Torá que aprendeu durante os quatorze anos em que estudou na Yeshivá de Shem e Ever. Por que isso não incitou os irmãos contra Yossef e não causou inveja? Outro ponto interessante é que depois que Yossef se revelou aos seus irmãos, deu a eles presentes, oferecendo a cada um uma nova roupa. Porém, para Binyamin ele deu cinco conjuntos de roupas e trezentas peças de prata. O Talmud (Meguilá 16a) questiona: como Yossef, que foi vítima da inveja causada pelo favoritismo, pôde cair na mesma falha? O Talmud responde que as ações de Yossef aludiam a um evento futuro na história judaica, quando Mordechai, descendente de Binyamin, seria vestido com cinco trajes reais. Mas isto realmente consegue responder o questionamento do Talmud? Como um evento futuro tiraria a inveja dos irmãos naquele momento? Explica o Rav Yochanan Zweig que, na maioria das sociedades, há uma posição que representa o poder político do estado e outra que representa a liderança religiosa. No caso do povo judeu, essas seriam as posições do rei e do Cohen Gadol. O uso por Achashverosh dos trajes do Cohen Gadol reflete sua tentativa de consolidar em si mesmo as posições política e religiosa. Porém, após um atentado contra sua vida, Achashverosh procurou um aliado que lhe oferecesse segurança. Ele conseguiu isso dando a Haman a posição de líder religioso. Portanto, Achashverosh não se sentiu ameaçado por Haman se comportar como um deus e forçar os outros a se curvarem diante dele. Por outro lado, Haman queria mais do que isso. Quando ele pensou que Achashverosh queria lhe conceder uma honra adicional, pediu para ser rei por um dia, pois isso lhe daria também prestígio político. O estabelecimento de uma posição política geralmente é realizado por um oficial religioso. Por exemplo, o profeta ungia o rei e a o governante era estabelecido pelo clero. Achashverosh solicitou que Haman preparasse Mordechai para seu dia como rei pois o líder religioso tem esta obrigação. Aos olhos de Achashverosh, isso não era uma vergonha para Haman, mas sim uma demonstração de respeito por sua posição. Assim como Aharon banhou e vestiu os Leviim quando eles iniciaram os Serviços, Haman deveria fazer o mesmo por Mordechai. Quando Yaakov transmitiu a Yossef a Torá que recebeu na Yeshivá de Shem e Ever, os irmãos não se sentiram ameaçados, porque isso representava apenas o favoritismo de Yossef em questões religiosas, mas não a usurpação da soberania de Yehuda, que os irmãos entendiam que seria o rei. No entanto, quando Yaakov deu a Yossef uma vestimenta adicional, que simbolizava aspirações de liderança, isso foi vista como uma ameaça à soberania política do povo judeu e, portanto, encontrou a resistência dos outros filhos. Quando Yossef deu a Binyamin vestimentas adicionais, ele explicou aos irmãos que isso se referia às vestimentas que seriam usadas por Mordechai. Mordechai recebeu de Achashverosh a riqueza e a posição de Haman. Isso significava que era uma nomeação religiosa, não política. Portanto, isso tranquilizou os irmãos de Yossef. O presente a mais para Binyamin não representava uma ameaça à estabilidade política do povo judeu. Destas explicações interessantes, que conectam duas histórias do povo judeu, podemos aprender algo muito importante: D'us está no comando. A falta de Emuná nos faz tomarmos atitudes equivocadas. A busca por honra de Achashverosh quase o matou, ao querer reunir em si todos os poderes. O povo judeu passou por muitos sofrimentos no Egito por causa da inveja dos irmãos de Yossef, que acharam equivocadamente que Yossef queria roubar o poder. Quando confiamos na Mão de D'us, vivemos mais tranquilos, sem medo e sem inveja de ninguém. SHABAT SHALOM E PURIM SAMEACH R' Efraim Birbojm |
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