Nesta semana lemos a Parashat Emor (literalmente "diga"), que começa com detalhes da santidade exigida pela Torá em relação aos Cohanim (sacerdotes) e ao Cohen Gadol (Sumo Sacerdote). Após trazer outros assuntos, como as leis referentes aos Korbanót (sacrifícios) e às Festividades judaicas, a Parashat termina nos descrevendo um incidente no qual um homem blasfemou publicamente contra D'us. Moshé não sabia qual punição aplicar a ele, já que D'us ainda não havia ensinado o que fazer neste caso específico. Por isso, Moshé prendeu o homem em uma cela até que pudesse esclarecer qual seria seu castigo. Em relação a este incidente, Rashi (França, 1040 - 1105) nos ensina algo surpreendente. No mesmo período em que o blasfemador estava preso, havia outro judeu também na prisão, aguardando seu julgamento. Era um homem que havia desrespeitado publicamente as leis do Shabat, incorrendo na pena de morte. Porém, Moshé não sabia exatamente qual tipo de pena de morte aplicar e, por isso, o homem ficou aguardando na prisão até Moshé esclarecer com D'us o que fazer. Porém, Rashi acrescenta um detalhe importante: os dois homens não foram colocados na mesma cela, para não causar a eles sofrimentos desnecessários. Mas que sofrimentos foram evitados ao separá-los? E por que se preocupar com o sofrimento de pessoas que haviam cometido erros tão graves? Explica o Rav Yehonasan Gefen que havia uma diferença fundamental entre os dois transgressores. Já era sabido que aquele que havia desrespeitado o Shabat seria punido com a morte, somente faltava definir qual pena de morte seria aplicada. Em contraste, em relação àquele que blasfemou contra D'us, ainda não era sabido qual seria sua pena. Portanto, caso os dois fossem colocados juntos, o blasfemador sofreria antes da hora, pensando que já havia sido decretada a pena de morte para ele. Também aquele que havia quebrado as leis do Shabat sofreria de forma desnecessária caso estivesse na mesma cela que o outro transgressor, pois uma pessoa se consola quando vê que não está sozinho em um sofrimento. Portanto, se o outro transgressor fosse inocentado da pena de morte, isto doeria ainda mais no transgressor que já havia recebido a pena de morte. Portanto, ambos foram colocados em celas separadas, pois assim seriam evitados sofrimentos desnecessários. Porém, sabemos que no final os dois foram condenados à morte. Será que esta pequena diminuição de sofrimentos foi realmente importante? Deste ensinamento aprendemos o grau de sensibilidade que D'us exige de nós. Apesar de se tratar de dois graves transgressores, mesmo assim eles foram tratados com o máximo de cuidado e respeito. Mesmo que mereciam a pena de morte, a Torá não desejava que eles passassem por qualquer outro tipo de sofrimento fora o que havia sido decretado, mesmo se fosse um sofrimento pequeno e momentâneo. Há dezenas de casos na Torá nos quais este conceito pode ser observado. Por exemplo, há algumas transgressões cujo castigo é a aplicação de 40 chicotadas. Porém, a Torá proíbe de maneira muito severa a aplicação de uma única chicotada a mais do que o número prescrito, como está escrito: "Ele o golpeará com 40 chicotadas. Ele não excederá, para que não lhe dê uma chicotada mais severa do que estas 40 chicotadas, e seu irmão será degradado diante dos seus olhos" (Devarim 25:3). Na prática, somente 39 chicotadas eram aplicadas, pois caso aquele que aplicava a pena das chicotadas tivesse errado as contas, assim ele não daria uma chicotada a mais do que era exigido pela Torá. Além disso, se estava claro que a pessoa era fraca ou muito idosa e não poderia suporta tantas chicotadas, neste caso era aplicada somente a quantidade que ela podia suportar. Outro exemplo do cuidado que devemos tomar para não causar um dano indevido pode ser encontrado na proibição de falar Lashon Hará (algo que pode denegrir outra pessoa). Apesar de o Lashon Hará ser algo muito grave, com consequências trágicas para todos os envolvidos, há algumas poucas exceções na Halachá (Lei judaica) nas quais podemos falar de forma negativa sobre outra pessoa e, se necessário, até mesmo causar a ela danos, para proteger outras pessoas. Porém, uma das condições que nos permitiria falar algo negativo sobre outra pessoa é que os danos que causaríamos a ela não sejam maiores do que uma punição que um Beit Din (Tribunal Rabínico) aplicaria. Por exemplo, se sabemos que uma pessoa roubou seu sócio, é permitido revelar esta informação para que o ladrão devolva o seu roubo. Porém, se sabemos que o sócio que foi roubado é alguém extremamente violento e que, ao saber do roubo, agrediria o ladrão de forma extremamente violenta, uma pena que nenhum Beit Din aplicaria, neste caso seria totalmente proibido revelar esta informação, pois estaríamos causando ao transgressor um castigo indevido, maior do que ele merece. Quando alguém é cuidadoso em não causar ao outro um dano indevido, então ele cumpre a Mitzvá de "Andar em todos os Seus caminhos" (Devarim 11:22), pois é assim que D'us se comporta, Ele nunca pune uma pessoa de forma desmedida, sempre o castigo aplicado é exatamente o que a pessoa precisa receber. Um exemplo impressionante é o episódio da venda de Yossef. Em seu nível espiritual gigantesco, Yossef havia cometido certos erros cujo castigo seria sua venda como escravo. No momento em que Yossef foi transportado ao Egito, a Torá ressalta que ele foi levado junto com uma caravana de especiarias. Este detalhe foi importante para nos ensinar o quanto D'us é rigoroso em não causar um sofrimento desnecessário a uma pessoa. Normalmente as caravanas que passavam por aquela região transportavam derivados de petróleo, que têm um cheiro muito forte. Yossef merecia ser vendido como escravo, mas não merecia viajar por muitos dias com um cheiro ruim. Por isso, D'us fez com que naquele dia caravanas com especiarias passassem por lá. Apesar de Yossef estar passando por terríveis sofrimentos físicos e emocionais, D'us foi rigoroso para que este pequeno acréscimo de sofrimento, que seria viajar com um cheiro ruim, fosse evitado, mesmo que para isso fosse necessário que acontecessem pequenos milagres ocultos. A sensibilidade de aplicar o castigo ou a repreensão apropriada para cada situação também pode ser encontrada nos nossos sábios. Certa vez o Rav Elazar Man Shach zt"l (Lituânia, 1899 - Israel, 2001) estava muito descontente com certas atitudes de um Rosh Yeshivá (Diretor espiritual). Ele viajou uma considerável distância com o único propósito de repreendê-lo. Porém, quando o Rav Shach chegou ao local onde estava o Rosh Yeshivá, ele permaneceu por algum tempo e foi embora sem dizer nada. Quando questionaram sua atitude, ele explicou que a esposa do Rosh Yeshivá estava presente durante toda a visita e ele não queria repreendê-lo na frente da esposa. Da mesma forma que o Rav Shach tinha claridade que era uma Mitzvá repreender aquele Rosh Yeshivá, a ponto dele fazer uma longa viagem somente para cumpri-la, ele também tinha claridade que fazê-lo na frente de sua esposa certamente causaria um sofrimento maior do que ele merecia, algo que seria injustificado. Por isso, ele desistiu da repreensão e preferiu ir embora sem falar nada. Este ensinamento da Parashat pode ser aplicado em duas áreas de nossas vidas. Em primeiro lugar, mesmo quando é necessário repreender ou castigar alguém, em especial nossos filhos ou alunos, é importante tomar cuidado para evitar puni-los de maneira excessivamente dura. É muito mais seguro e aconselhável evitar repreender caso haja qualquer probabilidade de que causaremos mais dor do que a pessoa merece. Se esta lição foi ensinada através de dois graves transgressores, que tinham pena de morte, certamente muito mais devemos aplicar para as pessoas que merecem repreensões apenas por pequenos erros. Além disso, outro ensinamento importante é que D'us não manda sofrimentos desnecessários. Precisamos ter Emuná (fé) de que tudo o que D'us faz é para o nosso bem, para o nosso crescimento. Por isso, mesmo quando passamos por alguma dificuldade, devemos ter a certeza de que isto foi mandado "sob medida" por D'us. O momento pelo qual estamos passando por uma dificuldade e a intensidade dos sofrimentos fazem parte dos Planos Divinos. Mesmo quando não conseguimos entender os Seus cálculos, mesmo que não podemos enxergar os motivos pelos quais Ele nos mandou certa dificuldade, devemos procurar qual é a mensagem que D'us está nos transmitindo. Pois da mesma maneira que um pai somente castiga seu filho por amor, para ajudá-lo a corrigir seus erros e tornar-se uma pessoa melhor, D'us quer somente o nosso bem. E isto Ele demonstra constantemente, nas milhares de bondades que nos faz a cada instante e nos "puxões de orelha" de amor que Ele nos dá. O importante é sabermos que, com cada "ingrediente", com o "calor do fogo" das dificuldades pelas quais passamos, D'us transforma a nossa vida em algo mais especial e significativo. Shabat Shalom R' Efraim Birbojm
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