quinta-feira, 9 de abril de 2015

AMOR RECÍPROCO - SHABAT SHALOM M@IL - SHVII DE PESSACH 5775

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AMOR RECÍPROCO - SHVII DE PESSACH 5775 (09 de abril de 2015)

 
"O Rav Yosef Chaim Shneur Kotler zt"l (Bielorússia, 1918 - EUA, 1982), filho de um dos gigantes de Torá dos Estados Unidos, o Rav Aharon Kotler zt"l (Bielorússia, 1891 - EUA 1962), ficou noivo de uma moça pouco antes de começar a 2ª Guerra Mundial. Por causa da guerra eles foram separados antes de conseguirem se casar, e ficaram muitos anos sem nenhum contato.
 
Quando a guerra terminou, a noiva do Rav Yossef Chaim, que havia ficado muito doente após tantos sofrimentos nas mãos dos nazistas, escreveu para seu noivo isentando-o do compromisso de se casar com ela. Ela argumentou em sua carta que estava muito doente e não conseguiria ser uma boa esposa. O Rav Yossef Chaim respondeu para ela:
 
- Você já perdeu seu pai, perdeu todo o seu dinheiro e perdeu sua saúde. Você acha realmente que eu vou deixar você perder também o seu noivo?"
 
Este é o nível de comprometimento exigido pela Torá entre um marido e sua esposa: chegar ao ponto de um estar mais preocupado com o outro do que consigo mesmo. E este é um modelo do nível que também devemos almejar na nossa conexão com D'us. 

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Nesta 5ª feira de noite (09/04) começa o "Shvii de Pessach", um novo Yom Tov. Diferente do que ocorre em Sucót, quando apenas o primeiro dia é Yom Tov, em Pessach também o sétimo dia é Yom Tov. Por que? Pois neste dia aconteceu mais um grande milagre: a abertura do Mar Vermelho, que permitiu aos judeus atravessarem o mar como se fosse terra seca e escaparem dos egípcios que os perseguiam no deserto. O impacto de mais este milagre foi tão grande que os judeus fizeram um cântico de agradecimento a D'us, chamado "Shirat HaYam" (Cântico do Mar).
 
Mas também há outro Cântico que está conectado com Pessach: o Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos), escrito por Shlomo Hamelech (Rei Salomão). Algumas pessoas leem o Shir Hashirim depois do Seder de Pessach, e também é costume ler o Shir Hashirim em público na sinagoga durante o Shabat de Pessach. Entendemos que o Shirat HaYam está conectado com Pessach, pois é parte central da nossa libertação do Egito, mas qual é a conexão entre o Shir Hashirim e a Festa de Pessach? E por que sua leitura foi estabelecida justamente no Shabat?
 
A chave para começarmos a entender está em uma leitura mais atenta dos versículos do Shir Hashirim, que revelam que a narrativa não é escrita a partir de uma perspectiva clara. Os versículos continuamente se alternam entre a narração na perspectiva de D'us e na perspectiva do povo judeu. O Midrash (parte da Torá Oral) traz uma explicação para esta "irregularidade", afirmando que há três casos na Torá onde o relacionamento entre o povo judeu e D'us foi expresso através de um "Shir" (Cântico). O primeiro é o "Shirat HaYam", entoado por Moshé e pelo povo judeu quando eles emergiram sãos e salvos do Mar Vermelho, e que mostra a perspectiva do povo judeu em seu relacionamento com D'us. O segundo é o "Haazinu", que retrata o relacionamento do povo judeu com D'us através da história e é escrito sob a perspectiva de D'us. E o terceiro é o Shir Hashirim, que de acordo com o Midrash é uma combinação de três Cânticos, pois "shir" significa "um cântico" e "shirim" significa "dois Cânticos", o que resulta em três Cânticos. Quais são os três Cânticos dentro do Shir HaShirim? Um cântico é quando D'us expressa Seus "sentimentos" em relação ao povo judeu, um segundo cântico é quando o povo judeu expressa seus sentimentos em relação à D'us, e um terceiro cântico é quando são expressados os sentimentos combinados do povo judeu e de D'us. O Midrash também afirma que o Shir Hashirim supera todos os Cânticos dedicados a D'us. Mas afinal, o que há de tão especial no Shir Hashirim?
 
Também se prestarmos atenção nas Tefilót de Shabat, notaremos algo interessante. Enquanto a Amidá (reza silenciosa) dos Yamim Tovim é a mesma para Shacharit, Minchá e Arvit, no Shabat cada Tefilá tem um formato diferente. Por exemplo, no Arvit dizemos "Ata Kidashta" (Você nos santificou) e "Veyanuchu ba" (descansarmos nela), no feminino. No Shacharit dizemos "Ysmach Moshé" (Moshé se alegrou) e "Veyanuchu bo" (descansarmos nele), no masculino. Já em Minchá dizemos "Atá Echad" (Você é um) e "Veyanuchu bam" (descansarmos neles), no plural. Por que estas diferenças? E o que cada uma das Tefilót do Shabat nos ensina?
 
Explica o Rav Yohanan Zweig que D'us se relaciona com o povo judeu de diversas maneiras. Algumas vezes é um relacionamento de Pai e filho, outras vezes é de Rei e súdito, e algumas vezes é de Senhor e escravo. Mas o Shir HaShirim, mais do que qualquer outro livro da Torá, foca em um relacionamento adicional: o relacionamento íntimo de um Marido com sua esposa. 
 
De acordo com a Halachá (Lei Judaica), o casamento é composto de três estágios. O primeiro estágio é o "Kidushin" (noivado), quando o noivo dá para a noiva um objeto de valor e, caso aceite, ela fica proibida a partir daquele momento de se relacionar com qualquer outro homem do mundo. O segundo estágio é o "Nissuin" (casamento), a partir do qual o noivo assume a responsabilidade financeira do bem estar de sua noiva. Neste estágio é feita uma grande festa, e no final da festa os convidados acompanham os noivos, cantando e dançando, até a sua nova casa. O terceiro estágio é o "Yichud" (isolamento), no qual o noivo e a noiva ficam sozinhos em uma área isolada, guardados por duas testemunhas que garantem a privacidade completa deles. Atualmente estes três estágios são feitos em uma única cerimônia.
 
O Shir HaShirim é o Cântico que expressa a intimidade do relacionamento entre D'us e o povo judeu, enquanto a espiritualidade do Shabat é o cenário que favorece este relacionamento. As três Seudót (refeições) e as três Tefilót do Shabat correspondem aos três estágios do casamento. No Arvit dizemos "Atá Kidashta" (Você nos santificou) e de noite temos a Mitzvá da Torá de fazer Kidush, refletindo o estágio de Kidushin. Em Shacharit dizemos "Ysmach Moshé" (Moshé se alegrou), que reflete a natureza festiva do Nissuin, e é marcado pela refeição festiva do dia. Em Minchá dizemos "Atá Echad VeShimchá Echad, Umi Keamchá Israel Goi Echad Baaretz" (Você é Um, e Seu nome é Um, e quem é como Israel, um povo único no mundo), que descreve a Unicidade de D'us e Seu relacionamento único e especial com o povo judeu, uma conexão eterna, que reflete o estágio do Yichud. Até mesmo as Zemirot (canções) de Shabat refletem estes três estágios do casamento. As músicas cantadas durante o dia têm um ritmo muito mais animado do que as músicas cantadas durante a noite, refletindo o caráter mais festivo do Nissuin. Já as músicas cantadas na Seudá Shlishi, após a reza de Minchá, têm um tom mais voltado à música ambiente, algo mais sublime. E a própria Tefilá de Minchá também é feita em um tom menor, refletindo o caráter de intimidade.
 
E por que a diferença de gêneros nas Tefilót de Shabat? Explica o Rav Yohanan Zweig que o Kidushin causa um efeito muito maior sobre a noiva, pois ela fica proibida de se casar com outros homens, e por isso a Tefilá de Arvit está escrita em uma linguagem feminina. Já o Nissuin causa um impacto muito maior sobre o noivo, pois ele passa a estar financeiramente responsável pela noiva, e por isso a Tefilá de Shacharit está escrita em uma linguagem masculina. O Yichud representa a união do noivo e da noiva, e por isso a Tefilá de Minchá está escrita em uma linguagem no plural, pois o relacionamento entrou no estágio em que ambas as partes são igualmente afetadas, já que elas se tornaram uma só.
 
Os três Cânticos também refletem os três estágios do casamento. O "Shirat HaYam" é o Kidushin, pois foi composto no momento da abertura do Mar Vermelho, o início da nossa jornada através do deserto, descrita pelo Profeta Yirmiahu como o início do casamento do povo judeu com D'us, como está escrito: "Eu lembro da bondade da sua juventude, do amor dos seus dias de noiva; você Me seguiu no deserto, em uma terra não semeada" (Yirmiahu 2:2). O "Haazinu" foi recitado antes da iminente entrada do povo judeu na Terra de Israel, e o Midrash compara a lamentação de Moshé, que não poderia entrar junto com o povo judeu, com o sofrimento de um pai que não consegue ver sua filha entrando na Chupá (que é parte do "Nissuin"). Já "Shiur HaShirim" contém ambos os aspectos anteriores, isto é, o Kidushin e o Nissuin, mas também contém o Cântico entoado por ambas as partes, o povo judeu e D'us, em uníssono. É este terceiro aspecto do Shir HaShirim, que descreve o nível de intimidade do relacionamento entre o povo judeu e D'us, que levou nossos sábios a afirmarem que, enquanto os outros Cânticos são "Kodesh" (Sagrados), o Shir HaShirim é "Kodesh Kodashim".
 
Este amor recíproco entre o povo judeu e D'us pode ser percebido nos diferentes nomes da Festa de Pessach. Enquanto o povo judeu chama esta festa de "Pessach", a Torá chama esta festa de "Chag HaMazót". Por que esta diferença? Enquanto nós louvamos a D'us por Ele ter nos salvado do Egito, e em especial por ter poupado a vida dos nossos primogênitos ao saltar nossas casas durante a Praga da Morte dos Primogênitos (Pessach vem do hebraico "Passach", que significa "saltar"), D'us nos louva por termos confiado Nele ao ponto de irmos ao deserto, um lugar inóspito e sem alimentos nem água, levando apenas algumas Matzót que não tiveram tempo de fermentar. Este é o amor verdadeiro entre D'us e o povo judeu, quando cada um se preocupa antes com o bem estar do outro. Por isso o Shir Hashirim é tão adequadamente lido durante o Shabat de Pessach, a Festa na qual revivemos a criação deste vínculo eterno de amor recíproco entre D'us e o povo judeu.
 
Pessach Kasher Ve Sameach e Shabat Shalom
 
Rav Efraim Birbojm

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