quinta-feira, 13 de setembro de 2012

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ NITZAVIM E ROSH HASHANÁ 5773

BS”D

MENSAGEM DE ROSH HASHANÁ 5773

Novamente o ano passou rápido e Rosh Hashaná já aparece no horizonte. Em breve recomeçaremos o ciclo do ano, o ciclo da vida. Baruch Hashem fechamos mais um ano, com a expectativa de estarmos com o saldo positivo nas contas de D’us. Não foi um ano fácil, pois não faltaram dificuldades e momentos dolorosos. Mas junto com os sofrimentos certamente houve muito crescimento e amadurecimento. E não podemos nos esquecer de agradecer a D’us por todas as alegrias e comemoração que tivemos no ano.

Gostaria de agradecer a todos os leitores, e cada um em particular, por mais um ano em que estivemos juntos semanalmente, na tela do computador do escritório ou na mesa de Shabat. Agradeço principalmente pelo que recebo de vocês, como ensina o Talmud: “Aprendi muito com meus mestres, mais ainda com meus companheiros, mas acima de tudo com meus alunos”. Agradeço as perguntas, os comentários e as sugestões que são enviadas.

Completamos neste ano, Baruch Hashem, um ciclo de 10 anos de Shabat Shalom M@il. Também precisamos comemorar o sucesso do Blog (www.ravefraim.blogspot.com) que chega, em pouco mais de 3 anos, a 30 mil visitas.

Agradeço a D’us pela força e pela forma como Ele me ilumina a cada semana. E agradeço à minha família, que sempre me apoiou nesta iniciativa e aceita, com alegria, que parte do meu tempo seja dividido com todos vocês. Com os e-mails, tento compartilhar um pouco dos ensinamentos da Torá que D’us me deu o mérito de conhecer.

Aproveito a oportunidade para pedir perdão a qualquer um que possa ter se ofendido, por qualquer mensagem que eu tenha enviado ou atitude que eu tenha tomado. Certamente não tive intenção de magoar ou ofender ninguém. Se alguém tiver alguma mágoa ou reclamação, por favor me avise para que eu possa pedir desculpas pessoalmente.

Que possamos aproveitar estes últimos dias do ano para aumentar nossos méritos, tentando crescer um pouco mais em Torá e Mitzvót, para que sejamos todos inscritos no Livro da Vida, com muita saúde, sustento, alegrias, paz e espiritualidade. Que neste ano de 5773 possamos continuar nos encontrando, semanalmente, neste maravilhoso mundo dos conhecimentos da Torá.

Com um enorme agradecimento e carinho,

R’ Efraim Birbojm

PEQUENO DEMAIS PARA NOSSA GRANDEZA – PARASHÁ NITZAVIM E ROSH HASHANÁ 5773 (14 de setembro de 2012)

“Arnaldo era um bom menino, mas as más influências de garotos encrenqueiros da escola fizeram com que ele também começasse a fazer coisas feias, tanto na escola quanto em casa. O pai tentou conversar, passou a gritar e chegou até mesmo a deixá-lo de castigo, mas nada adiantava. Parecia que aquela má conduta tinha virado a essência dele. Mesmo com 8 anos, ninguém mais podia com ele.

Certo dia, o pai teve uma ideia para tentar despertá-lo. No momento em que o viu fazendo algo errado, imediatamente chamou-o. Arnaldo ficou assustado com o flagrante e já se preparou para o pior. Mas ao invés da esperada bronca ou castigo, o pai calmamente pediu para que ele fosse ao seu quarto e trouxesse o chinelinho que usava quando tinha 4 anos. Arnaldo, mesmo sem entender o pedido do pai, fez o que ele mandou e trouxe o chinelinho. O pai então pediu que ele vestisse o chinelinho, mas Arnaldo deu risada, achando que o pai estava brincando. Mas ao olhar para o rosto do pai, viu que ele estava sério. O pai então repetiu mais uma vez para ele calçar o chinelinho, e desta vez Arnaldo fez o que o pai mandou. Ou melhor, tentou fazer, pois obviamente o chinelo não entrou no seu pé. Naqueles últimos 4 anos ele havia crescido muito e seu pé não cabia mais dentro daquele pequeno chinelinho. Então ele falou:

- Pai, você não percebeu que meu pé cresceu? Como vou calçar este chinelinho tão pequeno, que eu usava quando tinha apenas 4 anos, se meu pé hoje em dia é tão grande?

O pai então respondeu:

- Preste atenção no que você mesmo disse agora. Este chinelo representa as suas más ações. O seu pé representa o seu potencial espiritual. Você não percebe que estes atos feios que você anda fazendo não cabem em uma pessoa tão grande e boa como você? Você não percebe que transgressões não combinam com o seu coração bondoso? Você pode até forçar o pé dentro do chinelo, mas ele nunca vai entrar. Assim também é você, filho. Você é um bom menino, tenho certeza de que estes atos pequenos e feios que você tem feito não cabem em alguém tão grande quanto você. Só falta você perceber isto.

Arnaldo foi pego de surpresa. Se viesse uma bronca ou um castigo, ele teria se rebelado ainda mais. Mas o pai foi tão doce, e mostrou de forma tão clara que ele estava errado, que decidiu mudar. Ele entendeu que podia ser uma boa pessoa, fazer coisas positivas para o mundo, ao invés de ficar se comportando de forma tão pequena e mesquinha. Ele decidiu que nunca mais deixaria aqueles maus atos, tão pequenos, entrarem dentro de seu enorme coração”

No dia em que percebermos o quanto somos grandes, então entenderemos que as transgressões não cabem em nossos enormes corações.

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Neste Shabat lemos a Parashá Nitzavim, e no domingo a noite (16 de setembro) é Rosh Hashaná, o Ano Novo judaico, dia em que toda a humanidade passará diante de D’us e todos os nossos atos são julgados. Mas há algo interessante neste dia, pois Rosh Hashaná está incluído nos “Asseret Iemei Teshuvá” (10 dias de Teshuvá). A Teshuvá, o retorno aos caminhos corretos, inclui o arrependimento pelos maus atos e a decisão de não voltar mais a cometê-los. Mas diferente de Yom Kipur, em nenhum momento de Rosh Hashaná nós pedimos perdão a D’us pelos nossos pecados. Na verdade, em Rosh Hashaná nós nem mesmo mencionamos que pecamos. Então onde está a Teshuvá de Rosh Hashaná?

A resposta começa na Parashá Nitzavim, que traz alguns versículos enigmáticos: “Esta Mitzvá que Eu os comando hoje, não está escondida de vocês e nem distante... Pois a coisa está muito próxima de vocês, na sua boca e no seu coração, para cumpri-la” (Devarim 30:11,14). Sobre qual Mitzvá o versículo está falando?

Explica o Ramban (Nachmânides) que o assunto trazido nestes versículos é justamente a Mitzvá de Teshuvá. E a Torá está nos ensinando, ao afirmar que a Mitzvá de Teshuvá “está muito próxima de vocês”, que é algo acessível a qualquer pessoa e algo fácil de ser cumprido. Mas se a Teshuvá inclui um arrependimento sincero, abandonar completamente o pecado e a decisão de não voltar a errar, fazer isto de maneira sincera não é nada simples. Mesmo quando estamos convictos de que queremos mudar, isto não é feito sem dificuldade e esforço. Então como pode ser que o Ramban explica que o versículo, que descreve uma Mitzvá fácil de ser cumprida, se refere à Mitzvá de Teshuvá?

A pergunta fica ainda mais difícil quando olhamos a definição do Rambam (Maimônides) sobre o que é Teshuvá. Ele ensina (Hilchót Teshuvá 2:2) que a Teshuvá verdadeira e sincera somente ocorre quando a pessoa que pecou está convicta de que nunca mais voltará aos seus maus caminhos e está confiante a ponto de até mesmo D’us atestar que ela nunca mais voltará aos erros do passado. Mas como um ser humano pode garantir que nunca mais voltará aos erros do passado? O ser humano é feito de carne e osso, isto é, está sempre suscetível a erros e constantemente sendo testado pelo seu mau instinto. Ensinam os nossos sábios que “não há nenhum homem no mundo que faz o bem e não comete transgressões”. Quem pode chegar ao nível de colocar D’us como testemunha de que nunca mais na vida vai voltar a cometer o mesmo erro?

O Rambam continua e diz que a Teshuvá somente é perfeita quando, depois do arrependimento, a pessoa se vê diante da oportunidade de novamente cometer o mesmo pecado, mas desta vez consegue vencer a tentação e não cai novamente. Ele cita como exemplo de Teshuvá perfeita uma pessoa que transgrediu através de relações ilícitas e novamente se vê fechado com a mesma mulher, no mesmo local e sentindo a mesma atração física que sentiu anteriormente, mas desta vez consegue se libertar do desejo e vencer o teste.

Mas há algo muito estranho no exemplo trazido pelo Rambam. A Torá proíbe uma pessoa de se colocar intencionalmente em uma situação de teste. Ao contrário, devemos fazer de tudo para diminuir os nossos testes. Por exemplo, uma pessoa que fez Teshuvá e deixou de comer carne com leite não deve passar pela porta do McDonald’s, para não se colocar em uma situação de desejo desnecessário. Então como o Rambam fala que a Teshuvá verdadeira é apenas quando a pessoa passa exatamente pela mesma situação em que caiu anteriormente? Não é até mais louvável que a pessoa, por seu cuidado e temor a D’us, nunca mais chegue nem perto do mesmo teste que a fez cair anteriormente?

O Talmud (Iomá 86b) ajuda a responder estas perguntas ao nos ensinar um fundamento espiritual muito importante. Quando uma pessoa repete muitas vezes o mesmo pecado, ele se torna permitido aos seus olhos. O Talmud está nos ensinando que um dos principais motivos pelo qual nós pecamos é nos enxergarmos como seres compostos pelos nossos atos do passado. Portanto, quando uma pessoa comete muitas vezes determinado erro e está diante de uma nova oportunidade de pecar, ela pensa que não é possível que o pecado a impacte mais do que já fez. A pessoa sente que o pecado já faz parte de sua própria essência e por isso não consegue se desconectar dele. Ela não consegue se comprometer a não voltar a cometer o mesmo pecado, e mesmo que se comprometa, será uma frustração quando ela certamente cair novamente, pois a pessoa que não se liberta dos seus pecados certamente voltará a cair, é apenas questão de tempo.

Explica o Rav Yohanan Zweig que o Rambam não está dizendo que existe alguém que pode chegar ao nível de garantir que nunca mais repetirá um erro, e muito menos que uma pessoa deve se colocar em teste para provar que fez uma Teshuvá verdadeira. O Rambam está ensinando qual é a atitude correta requerida para uma Teshuvá verdadeira. O primeiro passo é a pessoa se desconectar das suas atitudes passadas. Ela deve sentir que os maus atos cometidos no passado não refletem sua natureza verdadeira e, portanto, mesmo nas mesmas circunstâncias, ela não voltaria a cometer o mesmo pecado. A Teshuvá verdadeira somente é possível quando a pessoa se desconecta completamente de seus comportamentos negativos do passado e entende que eles não são parte de sua essência verdadeira. A pessoa pode até mesmo voltar a cometer o mesmo erro no futuro, mas por ter sido puxada por seu mau instinto, e não pelo fato do seu comportamento negativo do passado estar enraizado em sua essência.

Ninguém pode garantir que nunca mais voltará a pecar. Isto seria até mesmo um sinal de arrogância, como ensina Shlomo Hamelech: “Bem aventurado é aquele que tem medo sempre”, isto é, aquele que constantemente tem medo de pecar. Com a consciência de que nossos erros do passado não são parte do nosso presente e futuro, garantiremos que eles não nos influenciarão a cometer novos pecados.

Esta é a essência de Rosh Hashaná, o dia do julgamento. A Teshuvá de Rosh Hashaná é o entendimento de que o passado não nos controla. Esta é a fonte da Teshuvá verdadeira: se desconectar do que já erramos, entender a nossa grandeza, saber que os erros que cometemos são pequenos demais comparados com o nosso potencial. Isto é algo acessível para todos. Por isso a Torá diz que a Mitzvá de Teshuvá é algo fácil de ser alcançado.

Em Rosh Hashaná devemos fazer de D’us o nosso Rei. Não existe um rei de carne e osso sem súditos. A pessoa pode ter um trono, um manto e um cetro, mas se não tem súditos, ele não é rei. D’us, o Rei dos reis, não depende de ninguém. Em Rosh Hashaná dizemos que D’us é Rei, foi Rei e será Rei, isto é, mesmo antes de nossa existência e depois de nossa existência Ele sempre será Rei. Mas apesar de não precisar de nós, Ele nos escolheu como Seus súditos. Por isso não lembramos nem confessamos nossos pecados em Rosh Hashaná, pois Rosh Hashaná é o entendimento de que somos tão grandes que não “cabemos” mais nos pecados que cometemos no passado.

Esta é a grandeza de cada um de nós que precisamos focar em Rosh Hashaná. Fomos escolhidos por D’us para fazer Dele o nosso Rei. Não apenas os grandes sábios, nem só as pessoas mais puras e elevadas. Cada um de nós foi escolhido, cada um de nós pode ser um súdito do verdadeiro Rei. E quando entendemos a nossa grandeza, a nossa verdadeira conexão com D’us, nos desconectamos dos pecados e nos permitimos começar o novo ano completamente limpos e purificados.

“SHETICATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM” (QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA).

SHABAT SHALOM E SHANÁ TOVÁ

R' Efraim Birbojm

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