BS"D
VIVER PARA QUE? - PARASHÁ VAETCHANAN 5769 (31 de julho de 2009)
"O Rav Avramski costumava contar sobre os anos de exílio que passou na Sibéria. Foram anos difíceis, de sofrimentos e humilhações diárias. Eram condições de vida terríveis, com trabalhos forçados pesados que quebravam o corpo, eram amargos como a morte. Muito morriam de doenças, de desgosto ou simplesmente porque desistiam de viver naquelas condições. Certo dia, o Rav Avramski acordou pela manhã e começou a recitar o "Modê ani" (um agradecimento por D'us ter nos devolvido a nossa alma, nos dando a oportunidade de mais um dia de vida). Mas de repente começou a se questionar:
- Por que eu estou agradecendo por mais um dia de vida? Que vida eu terei aqui hoje? Mais um dia de pancadas, sofrimentos e humilhações! Se pelo menos eu tivesse oportunidade de estudar Torá ou cumprir Mitzvót, valeria a pena os sofrimentos. Mas nem isso eu consigo, então por que estou recitando o "Modê Ani"?
Mas mesmo com tantos questionamentos, o Rav Avramski conta que continuou a recitar o "Modê Ani", até que chegou às palavras finais, e elas lhe trouxeram um grande consolo: "Raba Emunatecha" (grande é a minha crença em Você). Foi então que ele começou a pensar:
- É verdade que eles tiraram a minha Torá e as minhas Mitzvót. É verdade que eu recebo diariamente pancadas e humilhações. Mas a minha crença em D'us eles não podem tirar de mim. E por esta crença vale a pena levantar e viver mais este dia de vida.
E com esta força e determinação o Rav Avramski conseguiu levantar e suportar muitos anos difíceis na Sibéria"
Quando temos claridade e foco no nosso propósito, nossa vida muda completamente, e mesmo os sofrimentos mais difíceis podem ser superados se soubermos o porquê estamos aqui.
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Na Parashá desta semana, Vaetchanan, Moshé continuou seu discurso de despedida para o povo judeu. Ele relembrou que não poderia entrar em Israel junto com o povo por um erro que havia cometido no deserto. Apesar de ter suplicado muitas vezes para entrar em Israel, D'us não havia mudado de idéia, e havia inclusive pedido para que Moshé parasse de pedir. A Guemátria (soma do valor numérico das letras em hebraico) da palavra "Vaetchanan" (e suplicou) é 515, o número de vezes que Moshé suplicou para que D'us o deixasse entrar com o povo em Israel. Daqui surgem duas perguntas: sabemos que D'us é misericordioso e sempre escuta nossas súplicas, então por que aparentemente não escutou o pedido de Moshé? E fora isso, por mais que todo judeu sonha em passear em Israel, experimentar um Falafel e flutuar no Mar Morto, certamente estas não eram as motivações de Moshé. Por que ele suplicou tantas vezes para poder entrar em Israel?
Explicam os nossos sábios que Moshé estava em um nível tão elevado que, se entrasse em Israel, imediatamente o Beit Hamikdash (Templo Sagrado) seria construído, e seria tão sagrado que não poderia ser destruído nunca mais. Porém, quando Moshé bateu na pedra ao invés de pedir para que ela desse água ao povo, ele perdeu a oportunidade de fazer o povo judeu se elevar espiritualmente. Se o povo tivesse visto o poder de D'us de fazer sair água de uma pedra no meio do deserto através do simples pronunciamento de palavras, teria aumentado sua fé e teria chegado a um nível espiritual muito alto, compatível com o nível de Moshé e do Beit Hamikdash eterno. Mas o povo não se elevou, e neste nível mais baixo eles entraram em Israel. Quando o povo judeu cometeu transgressões, a fúria de D'us foi despejada nas pedras e madeiras do Beit Hamikdash, para que o Beit Hamikdash fosse destruído mas o povo judeu fosse poupado. Mas se fosse construído um Beit Hamikdash definitivo, quando o povo cometesse pecados (por estar naquele nível espiritual mais baixo) não haveria como desviar a fúria de D'us para o Beit Hamikdash e o povo judeu seria destruído. Portanto D'us escutou as súplicas de Moshé, mas por uma grande bondade com o povo judeu Ele não permitiu que Moshé entrasse na terra de Israel. Mas afinal, por que Moshé queria tanto entrar?
Quando observamos os Tzadikim (justos) da Torá, vemos que eles têm algo em comum: tudo o que eles fazem é com "Zrizut" (agilidade). Por exemplo, quando Avraham Avinu recebeu a visita dos anjos disfarçados de beduínos, ele preparou tudo correndo, querendo aproveitar cada segundo. Por que? Pois é muito grande a diferença entre uma pessoa que sabe sentir a perda de uma Mitzvá e uma pessoa que não sabe sentir. Avraham corria pois sabia que nos segundos que sobrariam ele podia fazer mais uma Mitzvá, ele sabia claramente que não há nenhum segundo sobrando, ele sabia que cada Mitzvá vale eternidade. Nós, ao contrário, fazemos as coisas com calma, deixamos para amanhã o que poderíamos ter feito hoje, não temos muita pressa, pois não sentimos a perda de uma Mitzvá, não sabemos quanto vale cada segundo neste mundo.
A mesma preocupação com as Mitzvót nós observamos em Moshé. Cada instante da sua vida foi vivida para o estudo da Torá e o cumprimento das Mitzvót, ele não desperdiçou nenhum segundo. Mas ele sabia que muitas das Mitzvót somente podiam ser cumpridas em Israel, e foi por isso que ele implorou para entrar, pela oportunidade de poder cumprir mais e mais Mitzvót. Sua preocupação não era com o turismo em Israel, era com as Mitzvót a mais que poderia cumprir, com a eternidade que ele poderia ganhar.
Existe uma diferença muito grande entre as pessoas que consideram este mundo o objetivo da vida e aquelas que sabem que este mundo é apenas um caminho para a vida verdadeira no Mundo Vindouro. As pessoas que pensam que esta vida é o principal estão dispostas a tudo para atingir seus desejos e obter prazeres. Mas qual a prova de que estas pessoas não dão valor para cada segundo? O grande número de pessoas que, por não conseguir atingir seus objetivos materiais, se suicidam e desperdiçam toda a vida que teriam pela frente. Esta é a consequência de não saber o valor verdadeiro de cada dia, de cada hora, de cada segundo neste mundo. Muitas pessoas vão, quando tem algum tempinho livre, "matar tempo" no Shopping. A expressão é correta, pois estamos "matando o tempo", isto é, estamos cometendo um "suicídio espiritual" ao desperdiçar a oportunidade de ouro que recebemos que se chama tempo.
Já as pessoas que tem claridade do objetivo da vida sabem apreciar cada segundo, sabem que não há tempo sobrando, estamos no meio de uma construção espiritual. Isso nos ajuda a superar dificuldades e a vencer desafios na vida. Os Tzadikim sabem que cada Mitzvá que nos falta é como se fosse uma parte do corpo que está faltando e, portanto, eles valorizam cada oportunidade. Eles não abririam mão de nem mesmo um segundo na vida, pois eles sabem para que estão vivendo.
Moshé sabia o valor de cada Mitzvá. Ele sabia que o que fazemos neste mundo fica guardado para a vida eterna, para o Mundo vindouro. Ele sabia que mesmo com os sofrimentos e as dificuldades a vida vale a pena, pois o que estamos ganhando neste mundo, o nosso crescimento espiritual, ninguém pode tirar de nós. Será que nós também temos claridade do nosso objetivo na vida? Aproveitamos nosso tempo para construir nossa eternidade ou "matamos o tempo" sem nenhum objetivo? O tempo não para, cada segundo passa e não volta nunca mais.
Que possamos aproveitar a vida para construir nossa eternidade.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
MUITO BOA A REFLEXÃO
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