Nesta semana o Shabat coincide com a próxima Festa do Calendário Judaico: Sucót, também conhecida como "Zman Simchateinu" (A época da nossa alegria). É uma festa com Mitzvót que quebram o nosso cotidiano. Por exemplo, nós abandonamos as nossas casas e habitamos em Sucót, cabanas, trocando o conforto dos nossos tetos de concreto por tetos composto de galhos, folhas e bambus, completamente expostos às intempéries. Também cumprimos a Mitzvá dos "Arbaat HaMinim", as quatro espécies agrícolas sobre as quais fazemos diariamente uma Berachá e as balançamos durante a Tefilá. Em relação à Festa de Sucót, assim está escrito na Torá: "Durante um período de sete dias vocês viverão em Sucót. Cada residente entre os judeus viverá em Sucót, para que as próximas gerações saibam que Eu fiz com que os Filhos de Israel vivessem em Sucót quando os tirei da terra do Egito" (Vayikrá 23:42,43). O Talmud (Sucá 11b) traz uma discussão sobre qual é a motivação de habitarmos por uma semana na Sucá. Segundo Rabi Eliezer, as "Sucót" do versículo se referem às "Ananei Hakavod", as "Nuvens de Glória", enquanto Rabi Akiva diz que se referem literalmente às cabanas que eles fizeram durante a estadia no deserto. O que eram exatamente as Ananei Hakavod, mencionadas na opinião de Rabi Eliezer? Eram nuvens milagrosas com várias funções, como proteger o povo do frio e do calor, formando um ambiente com temperatura ideal. Além disso, alisavam o caminho no deserto, tornando-o uma planície para que não tivessem que subir nos montes ou descer em vales. Também limpavam o terreno de répteis indesejáveis e animais peçonhentos. Para completar, ainda lavavam e passavam as roupas dos judeus, sem causar desgaste ao pano. Porém, a associação entre Sucót e as Ananei Hakavod desperta uma grande pergunta. Por que não temos nenhuma Festa associada aos milagres do Man e ao poço de Miriam, que alimentaram e saciaram a sede de todo o povo judeu, mais de três milhões de pessoas, durante 40 anos? Em que aspecto o milagre das Ananei Hakavod era maior? Explicam nossos sábios que há uma diferença básica entre o milagre das Ananei Hakavod e todos os demais milagres que ocorreram com o povo judeu. Os outros milagres eram "indispensáveis", como o Man, para que o povo não morresse de fome, o poço de Miriam, para que não morressem de sede, e as dez pragas, para que o Faraó aceitasse mandá-los embora do Egito. Já os milagres das Ananei Hakavod não tinham, à priori, uma necessidade absoluta. Não aconteceria nada se o povo tivesse que subir montanhas, matar cobras que aparecessem, se agasalhar contra o frio ou lavar e passar suas roupas. Então por que D'us fez este milagre? Explica o Rav Eli Bahbut que os milagres das Ananei Hakavod realmente eram "desnecessários". Porém, justamente por isso eram um sinal de amor e carinho de D'us pelo Seu povo. Ao dar a eles mais do que era necessário, mais do que era "obrigatório", D'us estava demonstrando o quanto Ele apreciava Seu povo. Mesmo de acordo com a opinião de Rabi Akiva, também o fato de os judeus morarem em cabanas demonstra a bondade Divina além do necessário, pois durante os 40 anos no deserto o povo nunca precisou se esforçar para construir casas fixas no deserto a cada vez que acampavam. Rabi Akiva também concorda que havia nuvens milagrosas para proteger o povo, pois isto está explícito no versículo "E D'us ia adiante deles durante o dia em uma coluna de nuvem para guiá-los no caminho" (Shemot 13:21). Por isso, bastava construir cabanas com galhos de árvore como teto, mesmo que no deserto o dia é muito quente e a noite é muito fria, já que as Ananei Hakavod os protegiam do frio e do calor. Por isso, a essência da Festa de Sucót é o amor e a afeição de D'us por nós. É a "Época de nossa alegria", quando cumprimos as Mitzvót por vontade, não por obrigação. É o momento de fazermos Teshuvá por amor, e não por temor, como fizemos em Rosh Hashaná e em Yom Kipur. Assim como D'us nos deu as Ananei Hakavod por amor, e não por ser algo obrigatório, devolvemos agora este amor para Ele. É por isso que na Mitzvá dos Arbaat HaMinim encontramos uma lei diferente: as quatro espécies devem ser "Hadar", isto é, bonitas. Em todas as demais Mitzvót da Torá, o "Hidur", o embelezamento, vem somente como um acréscimo, mas não faz parte da própria Mitzvá. Porém, na Mitzvá dos Arbaat HaMinim, fazer "além da obrigação" é parte intrínseca da Mitzvá. Na Festa de Sucót, a essência é cumprir as Mitzvót com amor, e não só pela obrigação. É por isso que vemos nas vendas de Arbaat Haminim pessoas olhando com todo o cuidado e escolhendo de forma meticulosa. A Mitzvá de Sucá também é diferente de todas as demais Mitzvót, uma vez que o judeu a cumpre com todo o seu corpo e o tempo todo. É a nossa expressão de amor a D'us de forma recíproca. Trata-se de estar totalmente imerso na vontade Divina. Embora a obrigação seja somente ficar na Sucá para comer pão e dormir, nós fazemos mais do que isso e transformamos a Sucá em nossa moradia fixa. No fim dos tempos, quando os povos do mundo perceberem a verdade, pedirão a D'us para também cumprir as Mitzvót. O Talmud (Avodá Zara 3a) ensina que D'us então oferecerá a eles a Mitzvá de Sucá. Mas D'us mandará um clima tão quente que eles não aguentarão e sairão de lá chutando a porta. O que isto nos ensina? Que a Mitzvá de Sucá é uma expressão de amor a D'us, uma vontade de fazer além do obrigatório, por amor a Ele. Só quem está ligado a D'us na raiz de sua alma é capaz de fazer isso. Os povos do mundo são capazes de cumprir sua obrigação de forma técnica, mas amar D'us, fazer de boa vontade o que não é obrigatório, já é um nível que eles não podem alcançar. Quando eles ficarem isentos da Mitzvá devido ao calor, não ficarão tristes por terem perdido o mérito de cumprir a Mitzvá, conforme faz o povo judeu. Eles chutarão a Sucá, exatamente o contrário do amor esperado. O povo judeu está ligado a D'us através do cumprimento das Mitzvót, não apenas pela obrigação, mas principalmente pelo amor e afeição, como um filho que serve a seu pai. Ensina o mais sábio de todos os homens, Shlomo Hamelech: "Assim como a água reflete a face de uma pessoa, também o coração do homem reflete o coração do seu semelhante" (Mishlei 29:19). Se estamos alegres, vemos nossa face alegre refletida, mas se estamos tristes, vemos a nossa face triste refletida. Isto pode parecer óbvio, mas a grande sabedoria de Shlomo Hamelech é nos ensinar que isto também pode ser aplicado ao nosso relacionamento com o próximo. Se sentirmos amor pelo próximo, receberemos de volta este amor, mas se o odiarmos, será ódio que receberemos de volta. Porém, o Rav Avraham Twerski zt"l (EUA, 1930 - Israel, 2021) faz uma pergunta interessante. Se é assim, por que muitas vezes não percebemos a reciprocidade? Quando Shlomo HaMelech utilizou o reflexo da água, e não o reflexo de um espelho, transmitiu um profundo ensinamento. O espelho reflete um objeto posicionado mesmo à distância, mas a água só reflete ao aproximarmos o objeto dela. A proximidade e a distância têm um impacto profundo em um relacionamento. Portanto, para que possamos obter a reciprocidade, temos que nos aproximar, diminuir a distância em relação ao próximo, e então veremos com claridade a concretização deste ensinamento. Isso se aplica tanto em nossos relacionamentos pessoais quanto no nosso relacionamento com D'us. Se queremos sentir D'us mais próximo e "sorrindo" pra nós, devemos nos aproximar Dele e sorrir. Isto é Sucót. SHABAT SHALOM E CHAG SAMEACH R' Efraim Birbojm |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Por favor, deixe aqui a sua pergunta ou comentário sobre o texto da Parashá da semana. Retornarei o mais rápido possível.