Nesta semana lemos a Parashá Vaieshev (literalmente "E se assentou"). Após a Torá ter apenas mencionado os descendentes de Essav em um único capítulo, no final da Parashá Vaishlach, sem dar muita importância para eles, nossa Parashá começa a descrever de forma longa e detalhada os descendentes de Yaacov, que dariam origem às 12 Tribos de Israel. Mas há algo que precisa ser esclarecido antes de estudarmos os detalhes de suas vidas. Apesar de uma leitura superficial nos induzir a pensar que eles cometeram crimes hediondos, devemos saber que eles eram Tzadikim, pessoas retas, que cumpriam em todos os detalhes a vontade de D'us. A Torá coloca uma "lente de aumento" nos erros dos Tzadikim, para que possamos enxergá-los e aprender com eles. A Parashá começa nos ensinando que o relacionamento entre os filhos de Yaacov não era de união e harmonia. Os irmãos de Yossef começaram a odiá-lo, com ciúmes por ele ser o filho preferido de Yaacov e por ter recebido de presente do pai um manto de tecido fino. O ódio ficou ainda pior quando Yossef começou a fazer Lashon Hará de seus irmãos, contando ao pai sobre atitudes erradas que eles faziam. Apesar das boas intenções de Yossef, que queria o melhor dos irmãos, e contava ao pai apenas para que eles pudessem ser repreendidos e consertassem seus atos, Yossef estava errado. Há diversas leis em relação ao "Shmirat Halashon" (cuidado com a nossa fala), e precisamos conhecê-las para não tropeçarmos. Em primeiro lugar, Yossef deveria ter julgado seus irmãos de maneira positiva, isto é, deveria ter dado a eles o benefício da dúvida. Na realidade, tudo o que ele suspeitava dos irmãos eram mal entendidos que, com apenas um pouco de verificação, poderiam ter sido esclarecidos. Além disso, de acordo com as leis de "Shmirat Halashon", antes de falar informações negativas sobre uma pessoa, mesmo que seja com propósitos construtivos, para que aquele que escuta ajude a pessoa que fez o erro, ainda assim é necessário antes falar com o próprio transgressor, pois talvez o problema pode ser resolvido sem precisar envolver outras pessoas. Se Yossef tivesse falado diretamente com os irmãos antes de ter ido falar mal deles para o pai, teria percebido que estava enganado em relação a eles. Qual foi a consequência deste erro de Yossef? D'us é extremamente rigoroso até com os pequenos erros dos Tzadikim. Após ter sido falsamente acusado pela esposa do Potifar, um ministro do Faraó, Yossef ficou dez anos na prisão, um ano por cada irmão sobre quem ele falou Lashon Hará. Porém, mesmo depois dos dez anos terem passado, Yossef não foi libertado imediatamente, o que fica evidente no início da Parashá da semana que vem, Miketz, onde está escrito "E aconteceu que, ao final de dois anos, o Faraó sonhou" (Bereshit 41:1). O sonho do Faraó marcou a libertação de Yossef, pois ele foi o único capaz de interpretar seu sonho. Isso quer dizer que Yossef foi libertado apenas dois anos depois do fim de sua "pena Celestial". Por que ele não foi liberado imediatamente quando terminou de pagar pelo seu erro? A resposta está em outro erro cometido por Yossef , que aparece no final da Parashá. Quando Yossef já estava na prisão há quase 10 anos, chegaram o chefe dos copeiros e o chefe dos padeiros do Faraó. Eles haviam sido descuidados com a comida do Faraó e foram mandados para a prisão para aguardar seu julgamento. Certo dia cada um dele teve um sonho, e Yossef os interpretou corretamente, avisando que em três dias o chefe dos padeiros seria condenado à morte, enquanto o chefe dos copeiros seria restituído ao cargo. Yossef então pediu ao chefe dos copeiros: "Mas lembre-se de mim quando as coisas estiverem boas para você e, por favor, faça-me um favor e mencione-me ao Faraó, e você me tirará desta casa" (Bereshit 40:14). O Midrash nos ensina que, pelo fato de Yossef ter dito ao copeiro "lembre-se de mim", e depois "mencione-me ao Faraó", isto é, ter usado duas expressões de ajuda, dois anos foram adicionados ao tempo em que ele ficou aprisionado. Por que? Pois isso foi considerado uma falta de Emuná. Precisamos confiar somente em D'us, e não nas pessoas. Mesmo que certamente Yossef confiava em D'us, pelo fato de ele também ter confiado no chefe dos copeiros, lembrando ele duas vezes de ajudar a libertá-lo da prisão, Yossef foi castigado. O Rav Chaim Soloveitchik zt"l (Bielorrússia, 1853 - Polônia, 1918) faz um interessante questionamento: o que teria acontecido se Yossef tivesse pedido uma única vez ajuda ao chefe dos copeiros? A priori, se ele foi punido com dois anos de prisão por ter pedido duas vezes, então provavelmente ele teria sido punido com apenas um ano de prisão por ter pedido uma única vez. Mas será que esta conta está correta? Ensinam os nossos sábios que devemos ter Emuná, confiar plenamente em D'us, saber que tudo o que acontece está sob o controle de Suas Mãos. Porém, dentro das regras que D'us definiu no mundo, Ele nos ordenou a fazermos a nossa parte, nos esforçando para que Sua Mão possa ficar oculta, resguardando o nosso livre arbítrio. Por exemplo, devemos confiar em D'us que teremos o nosso sustento, mas precisamos trabalhar, fazer o nosso esforço. O grande teste é não achar que foi o esforço que trouxe o nosso sustento, pois isso seria falta de Emuná. Também há um limite do quanto devemos nos esforçar. Por exemplo, alguém que quer jogar na loteria pode comprar apenas um único bilhete. Se ele comprar mais de um bilhete, estará demonstrando que não confia plenamente em D'us, pois se for a vontade Dele que a pessoa ganhe, um único bilhete é suficiente. Este exemplo da loteria também se aplica à conduta de Yossef. Se ele tivesse pedido ajuda uma única vez, não teria recebido nenhum castigo, pois ele teria apenas cumprido sua obrigação de procurar um meio natural para livrar-se do sofrimento, ao invés de se apoiar em uma salvação milagrosa. Porém, ao repetir seu pedido, Yossef extrapolou no esforço necessário, demonstrando uma falta de Emuná. Mas ainda assim a pergunta não está completamente respondida. Se a atitude de pedir uma única vez teria sido correta, e o erro de Yossef foi ter pedido uma segunda vez, então por que ele recebeu dois anos de punição, pelas duas vezes em que pediu ajuda ao chefe dos copeiros? O correto seria receber a punição de um único ano de prisão, apenas pela segunda vez em que ele pediu, que foi equivocada! A resposta é que, ao pedir uma segunda vez, Yossef demonstrou que mesmo na primeira vez em que ele pediu ajuda, sua intenção não foi apenas se esforçar para procurar meios naturais. Ele acabou colocando sua esperança em um intermediário, um ser humano, ao invés de confiar unicamente em D'us. O segundo pedido simplesmente revelou que o primeiro pedido também foi feito com a intenção equivocada e, portanto, Yossef foi punido pelos dois. É um teste difícil vivermos em um mundo onde o esforço para obtermos os resultados é obrigatório, mas, ao mesmo tempo, devemos saber que tudo vêm de D'us. O mundo material engana, nos induz a acreditarmos que os resultados foram fruto do nosso esforço, como dizemos todos os dias no Shemá Israel: "Não sigam seus corações e seus olhos, atrás dos quais vocês se desviam" (Bamidbar 15:39). Um dos entendimentos de "seguir os olhos" é acreditar nos esforços do mundo material. Portanto, é necessário um reforço constante na nossa Emuná, a certeza no coração de que tudo vem de D'us. Yossef demonstrou que aprendeu com seu erro, pois na Parashá Miketz, quando ele foi convocado pelo Faraó para decifrar seus sonhos, ele poderia pegar para si os créditos do seu dom, o que seria até mesmo importante para garantir sua liberdade. Porém, ele afirmou: "Não serei eu (que interpretarei seus sonhos). D'us dará uma resposta que trará paz ao Faraó" (Bereshit 41:16). Este conceito da Emuná completa se conecta com a próxima parada do nosso Calendário Judaico: a Festa de Chanuka, que se inicia no próximo domingo de noite (18/dez). Em Chanuka nós relembramos um grande milagre: a vitória na batalha, quando um pequeno grupo, mal treinado e mal equipado, de uma família de Cohanim, conseguiu derrotar o maior império da época, os gregos. Porém, os vencedores não comemoraram fazendo desfiles militares, e sim com louvores e agradecimentos a D'us. A Festa de Chanuka não é uma lembrança da coragem dos combatentes, e sim uma lembrança da salvação através da intervenção Divina. É essa a mensagem que devemos levar para o ano todo: a vitória e o sucesso não vêm por causa da nossa sabedoria e do nosso esforço, e sim porque esta é a vontade de D'us. SHABAT SHALOM E CHANUKA SAMEACH R' Efraim Birbojm |
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