Nesta semana lemos a Parashá Vayigash (literalmente "se aproximou"), que descreve o momento em que Yossef, o vice-rei do Egito, se revelou aos seus irmãos. O encontro foi um grande choque para os irmãos de Yossef, pois eles haviam passado os últimos 22 anos acreditando que haviam acertado no seu julgamento e que a venda de Yossef havia sido correta e justificada. Porém, a revelação de Yossef demonstrou que os sonhos dele não eram uma vontade subconsciente de roubar a primogenitura, e sim uma profecia que estava se materializado. Yossef, diferente do que eles pensavam, era um grande Tzadik (Justo). Foi a decepção de entender, 22 anos depois, que eles haviam errado gravemente. Como a fome ainda duraria mais alguns anos, Yossef pediu para que seus irmãos voltassem para Israel, buscassem suas famílias e viessem morar com ele no Egito, onde havia muita comida, pois ele havia armazenado durante os anos de fartura. Os irmãos voltaram para Israel e, com Yaacov e suas famílias, foram todos ao Egito, dando início ao processo que culminaria na escravidão do povo judeu. A ida de Yaacov e sua família ao Egito traz um detalhe interessante, como está escrito: "E na frente ele (Yaacov) enviou Yehudá para Yossef, para direcioná-lo a Goshen" (Bereshit 46:28). Por que Yaacov mandou um dos seus filhos na frente? Normalmente quem muda de país se preocupa com os detalhes de como será o assentamento no novo lugar. Por isso, pensaríamos que certamente Yaacov enviou Yehudá na frente para cuidar das necessidades materiais, como procurar um local adequado para estabelecer suas casas, um local bom para os animais e outros detalhes. Porém, Rashi (França, 1040 - 1105) explica que Yaacov mandou Yehudá na frente para estabelecer um Beit Midrash (Centro de Estudos), onde sua família poderia estudar Torá. Mas se o versículo diz somente que Yaacov mandou Yehudá na frente, sem explicitar com que intenções, como Rashi pode afirmar, com tanta certeza, que o motivo era para construir um Beit Midrash, e não para cuidar das necessidades materiais? Há um Midrash (parte da Torá Oral) que traz uma prova de que esta foi a verdadeira intenção de Yaacov. Quando os filhos de Yaacov voltaram do Egito, contando que Yossef estava vivo e era o vice-rei, Yaacov a princípio não acreditou. Os filhos tentaram trazer diversos tipos de argumentos para convencê-lo, mas nada adiantava. Somente quando Yaacov viu algumas carroças de mantimentos que Yossef havia mandado ele finalmente acreditou que Yossef estava vivo. Mas qual é a relação entre as carroças de mantimentos e o fato de Yossef estar vivo? Não era suficiente o testemunho dos próprios filhos? Além disso, aparentemente o Midrash está juntando dois assuntos que não tem nenhuma conexão entre si. Por que a história das carroças de Yossef é trazida como uma prova de que Yaacov mandou Yehudá na frente para montar um Beit Midrash, e não para cuidar das necessidades materiais da família? Explica o Rav Yehuda Leib Chasman zt"l (Lituânia, 1869 - Israel, 1935) que a resposta está em um comentário de Rashi, que explica que a palavra "carroça", em hebraico "Agalá", contém as mesmas letras da palavra "Eglá", que significa bezerro. O último assunto que Yaacov havia estudado junto com Yossef antes da sua venda era sobre bezerros sacrificados. Quando Yaacov se separou de Yossef, este último assunto de Torá que eles haviam estudado ficou guardado em seus corações, apesar dos 22 anos em que ficaram separados. Portanto, Yossef não estava mandando ao pai apenas uma carroça cheia de presentes, ele estava mandando ao pai uma bela mensagem: "Pai, apesar de estar 22 anos no Egito, um lugar de idolatrias e promiscuidades, e apesar de ser o segundo homem mais poderoso de todo o Egito, eu não me esqueci qual foi o nosso último estudo de Torá juntos". Somente então Yaacov realmente acreditou que Yossef estava vivo, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente. Porém, como isto prova que o envio de Yehudá foi com o intuito de construir um Beit Midrash? Ensinam os nossos sábios na Mishná: "O Olam Hazé (mundo material) se assemelha a um corredor diante do Olam Habá (Mundo Vindouro). Prepare-se no corredor para entrar no palácio" (Pirkei Avót 4:21). O Pirkei Avót está nos transmitindo que, da mesma forma que um corredor é apenas algo secundário diante do palácio, que é o principal, assim também a alma desce para o mundo material, apenas um corredor temporário, para se preparar com Torá e Mitzvót para sua entrada no palácio eterno no Olam Habá. De acordo com este ensinamento da Torá, as pessoas podem se comportar de três maneiras distintas. O primeiro grupo é composto pelas pessoas mais simples e tolas, que invertem a importância das coisas, considerando o secundário como principal e o principal como secundário. Estas pessoas colocam todas as suas preocupações e seus esforços direcionados a como aproveitar o Olam Hazé, sem se importar com sua espiritualidade e com o fato que, depois dos 120 anos, a vida neste mundo termina e começa a nossa vida verdadeira no Olam Habá, e que nossa eternidade depende justamente dos nossos esforços neste mundo para adquirir espiritualidade. O segundo grupo é composto por pessoas em um nível um pouco mais alto, que acreditam na Torá e tem temor a D'us. Porém, apesar de elas não esquecerem de se preocupar com os assuntos espirituais, o principal dos seus esforços são os assuntos materiais. A prova disso é que durante a vida elas investem a maior parte do seu tempo, esforços e preocupações no seu sustento, na sua saúde, na sua moradia e em outros assuntos que se referem ao mundo material. Muito do que elas também se ocupam com o mundo espiritual é pelo medo que o castigo de D'us possa atingir seus bens e sua saúde. Portanto, são pessoas que se preocupam com a espiritualidade, mas que esquecem que esta vida é limitada e que tudo o que conquistamos de bens materiais não será utilizado em nossa vida eterna. O terceiro grupo é composto por pessoas mais sábias, que vivem pensando no futuro, nos frutos eternos de cada ato. Estas pessoas colocam no coração a certeza de que seus dias na Terra são limitados e passageiros e, por isso, direcionam seus principais esforços no conserto de suas almas, preparando-as para a vida eterna. E mesmo os esforços que elas precisam fazer no mundo material estão apenas na categoria de "manter a vida durante o corredor temporário". Mas como sabemos em qual das três categorias uma pessoa se encontra? O que a pessoa pensa e os atos que ela faz acabam, com o tempo, se transformando em sua natureza. Por exemplo, quando uma pessoa quer se recordar de coisas que ocorreram no passado, o que ela mais lembra? Certamente as coisas que eram mais importantes e significativas para ela, enquanto as coisas secundárias, que não ocupavam espaço em seu coração, certamente já foram esquecidas e apagadas de sua memória. Portanto, é isto o que o Midrash está nos ensinando. Yaacov e sua família faziam parte do terceiro grupo de pessoas. Através dos presentes enviados por Yossef, fica claro que em todos os lugares onde Yaacov e seus filhos se encontravam, o centro de suas vidas era o estudo de Torá. Suas vidas giravam em torno do cumprimento das Mitzvót e do estudo da Torá mesmo nas situações mais difíceis. Dos 22 anos em que Yossef passou no Egito, alguns foram como escravo, outros foram na prisão e os últimos foram como vice-rei. Não faltaram sofrimentos, dificuldades e desafios em sua vida, mas mesmo assim ele se lembrava do último estudo de Torá com seu pai, demonstrando que a Torá era parte de sua natureza, era a parte principal do que ele colocava em seu coração. Além disso, por que os vários argumentos que os filhos de Yaacov tentaram utilizar para provar que Yossef ainda estava vivo não foram aceitos por Yaacov? Pois suas vidas eram tão centradas na Torá que ele sabia que se Yossef estivesse vivo, mandaria uma mensagem recordando o seu estudo de Torá. Foi o que aconteceu, através do envio das carroças. Ver as carroças, que remetiam ao último estudo de Torá que eles tiveram juntos, foi o único argumento que conseguiu convencer Yaacov. O episódio das carroças demonstrou que Yaacov pertencia ao terceiro grupo de pessoas, daqueles que tem claridade total sobre o propósito da vida passageira neste mundo material e que vivem de acordo com este propósito. Por isso o Midrash pôde afirmar, com certeza, que o ato de Yaacov de mandar seu filho Yehudá na frente estava de acordo com a sua principal motivação na vida: o estudo da Torá. De acordo com os ensinamentos da Parashá, devemos fazer algumas reflexões importantes: A qual dos grupos nós pertencemos? Fazemos da Torá o centro das nossas vidas ou vivemos e dedicamos nossos esforços ao mundo material, limitado e passageiro? Nossos atos demonstram nossa claridade de que nossa essência é espiritual e que nossa ocupação com o mundo material deve ser apenas para nos manter neste "corredor" no qual vivemos atualmente, ou nossos atos demonstram que, com as dificuldade e desafios da nossa vida, acabamos facilmente perdendo o foco? Como na história, a Torá é o nosso paraquedas espiritual, que nos fará chegarmos com segurança ao nosso objetivo. O caminhão se assemelha aos preparativos que fazemos no mundo material. Sem a Torá, estes preparativos são completamente vãos. Não precisamos nos desconectar do mundo material, vivendo uma vida de miséria e abstinência. Porém, precisamos manter o foco e, em todos os instantes, lembrar que estamos apenas em um corredor temporário. As aquisições materiais um dia acabam, mas as aquisições verdadeiras, as espirituais, levaremos para a eternidade. Shabat Shalom R' Efraim Birbojm
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