Nesta semana lemos a Parashá Tzav (literalmente "Ordene"), que continua explicando os vários tipos de Korbanót que eram oferecidos no Mishkan. Além disso, a Parashá fala sobre a consagração dos Cohanim, isto é, a preparação para que pudessem iniciar os Serviços espirituais. Este processo de "inauguração" dos Cohanim envolvia o mergulho na Mikve, a colocação das vestimentas sagradas, a unção com um óleo especial e a oferenda de alguns tipos de Korbanót. Depois disso a Parashá descreve a consagração de todos os utensílios do Mishkan, que também foram ungidos com um óleo especial. Em relação à inauguração dos Cohanim, D'us disse para Moshé: "Leve com você Aharon e seus filhos, e as vestes, e o óleo de unção, e o novilho do Korban pelo pecado, e os dois carneiros, e o cesto de Matzót" (Vayikrá 8:2). Logo depois, o versículo confirma que Moshé fez tudo exatamente como D'us o havia ordenado. Porém, em seguida, ocorreu algo estranho. Moshé virou-se para o povo judeu e disse: "Isto é o que o D'us ordenou que fosse feito" (Vayikrá 8:5). O que Moshé quis dizer com isso? Rashi (França, 1040 - 1105) explica que, com estas palavras, Moshé estava transmitindo ao povo judeu a seguinte mensagem: "As coisas que vocês vão me ver fazendo agora, todas foram ordenadas por D'us. Portanto, não digam que estou fazendo isso pela minha própria honra ou pela honra do meu irmão". Como Moshé estava prestes a iniciar a inauguração de Aharon e seus filhos como Cohanim do povo judeu, e isto estava sendo feito diante dos olhos de todo o povo, ele queria que o povo soubesse que a escolha de seu irmão e de seus sobrinhos como Cohanim não era uma questão particular, e sim uma ordem de D'us. Mas por que Moshé sentiu necessidade de dizer estas palavras? Era necessário justificar seus atos perante o povo? Alguém desconfiaria que Moshé, alguém digno da confiança de D'us, estava indicando por sua própria vontade seu irmão? Em especial, por se tratar dos serviços do Mishkan, havia alguma suspeita que recaía sobre Moshé? Para responder este questionamento, o Rav Yerucham Leibovitz zt"l (Bielorússia, 1873 - 1936) traz um impressionante ensinamento dos nossos sábios. O Talmud (Shekalim 3:2) ensina que aquele que era tesoureiro e entrava para recolher as doações que estavam depositadas em uma câmara específica do Beit Hamikdash não podia entrar usando sapatos, sandálias, com os seus Tefilin colocados ou carregando alguns outros objetos. Qual era o motivo desta proibição? Ele não podia entrar com nada que pudesse ser utilizado para esconder dinheiro, para que, caso futuramente ficasse rico, as pessoas não dissessem: "ele enriqueceu roubando as doações do Beit Hamikdash". O Talmud continua e explica que mesmo que não haja efetivamente suspeita de que alguém queira roubar dinheiro do Beit Hamikdash, ainda assim aquele que recolhe o dinheiro da câmara deve, no entanto, tomar estas precauções, pois uma pessoa deve parecer correta aos olhos das pessoas assim como deve parecer correta aos olhos de D'us, como está escrito: "E estarão 'limpos' diante de D'us e diante de Israel" (Bamidbar 32:22). Este versículo, que nos ensina a importância de estarmos "limpos" aos olhos de todos, se refere a uma conversa entre Moshé e os representantes das Tribos de Reuven e Gad, que vieram declarar a Moshé sua vontade de não entrar na Terra de Israel. Após receberem uma dura bronca de Moshé, por potencialmente causarem desunião e enfraquecimento do povo, Reuven e Gad explicaram a Moshé que eles estavam comprometidos a ajudar o povo a conquistar a Terra de Israel. Moshé então enfatizou que os homens das Tribos de Reuven e Gad deveriam ter um comportamento exemplar, entrando para guerrear na frente das outras Tribos, para que as pessoas não desconfiassem que eles estavam fazendo "corpo mole", já que não tinham interesse de viver em Israel. Isto significa que não bastava estarem "limpos" aos olhos de D'us, mas também era importante que estivessem "limpos" aos olhos das pessoas. Este é o conceito da "Nekiut" (limpeza) dos nossos atos, que devem ser sempre precisos e bem planejados para que não levantem nenhum tipo de desconfiança ou suspeita. Voltando para o ensinamento do Talmud, ainda há algo que precisa ser esclarecido. Entendemos que alguém poderia esconder moedas dentro de um sapato ou de uma sandália. Mas como alguém esconderia dinheiro dentro de um Tefilin? Os comentaristas explicam que as pessoas poderiam pensar que o coletor poderia abrir as costuras do Tefilin e colocar moedas dentro para roubar. Mas certamente ninguém faria este tipo de coisa com um Tefilin, um objeto sagrado, ainda mais para roubar moedas do Beit Hamikdash! Mesmo assim não era permitido entrar usando Tefilin. Daqui vemos como é importante o conceito de estar "limpo" diante de D'us e diante das pessoas. O mais incrível é perceber que esta lei também se aplicava a Aharon HaCohen e seus filhos, pois essa obrigação era válida para todos, sem exceções. Mas pairava alguma dúvida sobre a honestidade de Aharon e de seus filhos? Certamente que não. Então podemos aprender que o conceito de "estarão 'limpos' diante de D'us e diante de Israel" não se refere à pessoa ser suspeita ou não, e sim à pessoa se comportar com um grau completo de "limpeza" e transparência em todos os seus atos, o que é uma Mitzvá por si só. A Mitzvá se trata de se afastar até mesmo de uma "poeira" de suspeita. Alguém que fez atos nos quais faltou transparência, mesmo que não tenha feita absolutamente nada de errado, ainda assim não está incluído na categoria de "limpeza dos atos". Nos ensina Shlomo Hamelech: "Um homem confiável terá muitas Brachót" (Mishlei 28:20). Explica o Midrash que este versículo se refere a Moshé, que era um homem de extrema confiança de D'us, e quando ele era tesoureiro de algo, isto recebia Brachá, pois Moshé era muito confiável. Porém, este ensinamento aparentemente contradiz outro ensinamento do Talmud (Shekalim 5:5), que ensina que não se aponta menos do que dois responsáveis pelo dinheiro público. Então como Moshé poderia ser sozinho o tesoureiro do Mishkan? A resposta é que Moshé era tesoureiro sozinho por causa da confiança que D'us sentia nele. Mesmo assim, Moshé fazia questão de sempre chamar outras pessoas para fazer junto com ele a prestação de contas, como está escrito em relação à finalização da construção do Mishkan: "Estas são as contas do Mishkan, que foram calculadas por Moshé... através de Itamar" (Shemot 38:21). Isso ilustra o profundo significado de "serão limpos", significando que não deve haver qualquer brecha nos nossos atos que possa gerar suspeitas e desconfianças. Se D'us tivesse ordenado a Moshé que escolhesse o Cohen Gadol e não tivesse indicado Aharon, Moshé não poderia tê-lo nomeado. Embora todos em Israel soubessem que não havia ninguém mais adequado para o cargo do que Aharon, pelo fato de ele ser seu irmão, havia a possibilidade de as pessoas dizerem que a escolha havia sido por razões pessoais, o que comprometeria a integridade de Moshé e sua "limpeza". Portanto, o versículo diz: "Isto é o que o D'us ordenou que fosse feito". Moshé estava dizendo: "Estou fazendo isso apenas porque é o mandamento de D'us, e não tenho escolha a não ser obedecer". Vivemos atualmente em um mundo tão desonesto que atos de honestidade chamam ainda mais a atenção. Precisamos nos esforçar para que nossos atos sejam exemplares, tanto aos olhos de D'us quanto aos olhos das pessoas. A Halachá nos ensina, por exemplo, que uma pessoa que precisa sair antes do final da Tefilá deve explicar aos outros frequentadores da sinagoga o motivo urgente que o está levando a fazer isso. Mesmo que D'us saiba que a saída é justificável, é importante que as pessoas também saibam disso. Devemos ser exemplares aos olhos de D'us, mas também é muito importante sermos exemplares aos olhos das pessoas. Assim, além de não causarmos nenhuma suspeita ou desconfiança, poderemos nos tornar modelos de conduta para os outros. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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