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FORÇA DA INOVAÇÃO - PARASHÁ BECHUKOTAI 5774 (16 de maio de 2014)
Quando escutamos o nome de Abraham Lincoln, o 16° presidente dos Estados Unidos, pensamos que ele teve uma vida recheada de sucessos. Enquanto foi presidente, Lincoln liderou o país de forma bem-sucedida, mesmo durante sua maior crise interna, a Guerra Civil Americana, preservando a união, conseguindo abolir a escravidão, fortalecendo o governo nacional e modernizando a economia. Abraham Lincoln é considerado um dos três melhores presidentes da história dos Estados Unidos.
Mas a verdade é que nem sempre foi assim. Seu caminho até o sucesso foi árduo e sofrido. Ele passou dificuldades na infância, quando seu pai perdeu toda a fortuna que tinha. Aos 23 anos tentou um cargo na política, mas perdeu a disputa. Aos 24 anos resolver abrir uma loja, mas faliu em pouco tempo. Aos 32 anos tentou montar um negócio de advocacia com alguns amigos, mas logo a sociedade se desfez. Aos 35 anos, passou pelo trauma de ver sua namorada falecer, e ainda resistiu a um colapso nervoso que teve aos 36 anos, que o fez passar um bom tempo no hospital.
Mas a vontade de entrar na política não havia desaparecido. Aos 45 anos ele disputou uma cadeira no senado, mas perdeu. Aos 47 anos ele concorreu à nomeação do partido republicano para e eleição geral, porém foi derrotado. Aos 49 anos tentou o senado e fracassou novamente. Somente aos 51 anos ele foi eleito o presidente dos EUA.
Será que seríamos capazes de fazer essa jornada? Falir, ser derrotado, perder entes queridos, adoecer, e mesmo assim não perder a vontade de continuar tentando alcançar o sucesso? Abraham Lincoln nos ensinou que esta é a fórmula dos vitoriosos: nunca desistir. Se ele não tivesse continuado, alguém se lembraria de Abraham Lincoln hoje em dia? Certamente que não. Mas ele escolheu entrar para a história e mudar o mundo. Ele poderia ter desistido diante das dificuldades, mas ele escolheu vencer e inovar. A cada derrota, Abraham Lincoln aprendeu a se reconstruir.
Na Parashá desta semana, Bechukotai, a Torá nos afirma que quando seguirmos os caminhos que D'us nos comandou receberemos muitas Brachót (bênçãos), como fartura e segurança, mas se nos desviarmos dos caminhos corretos, tragédias terríveis acontecerão ao povo judeu. Estas palavras já se cumpriram em várias épocas da nossa história, tanto a Brachá, como durante o reinado de Shlomo Hamelech (Rei Salomão), quanto as tragédia, como nas destruições dos Templos Sagrados e nos exílios do povo judeu.
Porém, há algo que nos chama a atenção. No meio da descrição das tragédias condicionais, a narração é interrompida para trazer algumas palavras de consolo: "E Eu me lembrarei do Meu pacto com Yaacov, e também do Meu pacto com Yitzchak, e também do Meu pacto com Avraham Eu me lembrarei, e Eu me lembrarei da Terra" (Vayikrá 26:42). Mas por que a ordem na qual os patriarcas são mencionados está ao contrário da ordem cronológica? Rashi (França, 1040 - 1105), comentarista da Torá, explica que se os méritos de Yaacov, o "menor" dos patriarcas, não for suficiente, então D'us levará em conta os méritos de Yitzchak. Se mesmo assim ainda não for suficiente, D'us levará em conta também os méritos de Avraham, o "maior" dos patriarcas. Mas por que Avraham é considerado o maior dos patriarcas? Qual característica fez com que ele tenha mais méritos do que Yitzchak e Yaacov?
Estamos sempre acostumados a associar Avraham apenas à característica de Chessed (bondade). Realmente sua tenda no deserto tinha quatro entradas, para que os visitantes se deparassem sempre com a porta aberta, não importando de que direção viessem. Além disso, a Torá descreve que Avraham recebeu os anjos fantasiados de simples beduínos como se fossem verdadeiros reis, servindo-os com as mais deliciosas comidas. Mas não foi apenas esta a característica de Avraham que o diferenciou de todas as outras pessoas. Ele tinha outra característica importante, que o fez chegar ao topo da espiritualidade: a força da inovação.
Se refletirmos sobre os testes de Avraham, perceberemos que foram muito mais difíceis de serem vencidos do que os dos outros patriarcas. Ele nasceu em um mundo onde todos, inclusive seus próprios familiares, eram idólatras. Seu desafio era criar, a partir do nada, uma perspectiva e uma forma de vida completamente novas, começando uma nova época na história. Para espalhar ao mundo inteiro o conceito da existência de D'us, Avraham teve que lutar contra todas as atitudes e estilos de vida prevalecentes na época e começar algo completamente novo, vagarosamente e com muita paciência. Ele poderia ter desistido diante das dificuldades, pois certamente teve muitas decepções e fracassos no caminho. Mas foi sua "força de inovação" que não o deixou desistir e possibilitou que ele tivesse sucesso.
Quando o Rambam (Maimônides) (Espanha, 1135 - Egito, 1204) descreve a contribuição de Avraham ao mundo, repete várias vezes que ele era um inovador, o revolucionário e pioneiro "fundador" do povo judeu. Avraham foi o primeiro em tudo o que fez. Ele não tinha modelos para seguir, estava sempre desbravando novos caminhos. Por isso, quando queremos nos comportar como Avraham, não devemos apenas desejar seguir seus passos em relação ao Chessed que ele fazia, mas também devemos almejar ter a sua força de inovação, que trouxe tantos benefícios ao mundo.
O Rav Shlomo Ephraim (Polônia, 1550 – Praga, 1619), mais conhecido como Kli Yakar, ressalta a importância da força de inovação. Durante a descrição da criação do mundo, ao final de cada dia a Torá termina com a frase "e viu D'us que era bom". A única exceção é o final do segundo dia da criação, onde nada está escrito. Explica o Kli Yakar que em todos os dias da criação algo novo foi criado, com exceção do segundo dia, quando D'us separou as águas de baixo e as águas de cima, que já existiam. Neste dia nada novo foi criado e, portanto, ele não foi descrito como um dia bom.
Existem inúmeras áreas nas quais a habilidade de inovar pode fazer muita diferença. É parte da natureza do ser humano deixar sua vida cair na força do hábito. Isto ocorre em vários aspectos, inclusive no crescimento espiritual, nos relacionamentos e nas habilidades de criar e construir. Nos acostumamos com nossa condição e estagnamos na vida. Um dos exemplos mais perceptíveis disso é a nossa Tefilá (reza), que muitas vezes é pronunciada de forma mecânica e desinteressada, apenas palavras que saem da boca e não do coração. Por isso, há momentos na vida em que é muito importante dar um passo para trás e avaliar onde são necessárias novas abordagens. Pois novas abordagens frequentemente nos trazem formas alternativas de lidar com situações problemáticas e difíceis.
Mas não adianta apenas querer inovar. Tão importante quanto tentar buscar novas abordagens para atingir um objetivo é estarmos dispostos a ir até o fim para alcançá-lo, apesar das dificuldades que naturalmente surgirão pelo caminho. Mudar significa sair da "zona de conforto", arriscar, buscar novos desafios. Podemos aprender isto através do exemplo de uma das maiores universidades do mundo. Qualquer pessoa que quer estudar em Harvard precisa inicialmente fazer um requerimento formal. O próximo passo é passar por uma entrevista, na qual o aluno mostra suas notas e descreve ao entrevistador detalhes da sua vida. O entrevistador então faz um relatório que, anexado às notas do estudante, é encaminhado ao "Escritório de Admissão de Harvard". De todos os pedidos encaminhados, apenas 6% são aceitos para cursar a faculdade. Muitos pensam que o único critério utilizado para a admissão são as notas dos alunos, mas isto não é verdade. O Escritório de Admissão deixa claro aos entrevistadores que eles devem buscam alunos que, além de terem boas notas, saíram de suas zonas de conforto. Harvard busca alunos que saíram dos seus limites e dos limites de suas escolas, comunidades e famílias. Harvard procura pessoas inovadoras, que estão dispostas a aceitar novos desafios e encontrar novas formas de resolver as dificuldades. Por que? Pois Harvard sabe que pessoas com este perfil são os que têm maior potencial de se tornarem, no futuro, pessoas de sucesso.
Somos descendentes de Avraham. Temos dentro de nós esta força de inovação, esperando para ser utilizada. Cada um de nós pode mudar o mundo, basta termos a coragem de sair da nossa zona de conforto e trabalharmos duro para alcançar o sucesso, sem desistir por causa dos obstáculos do caminho.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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Na Parashá desta semana, Bechukotai, a Torá nos afirma que quando seguirmos os caminhos que D'us nos comandou receberemos muitas Brachót (bênçãos), como fartura e segurança, mas se nos desviarmos dos caminhos corretos, tragédias terríveis acontecerão ao povo judeu. Estas palavras já se cumpriram em várias épocas da nossa história, tanto a Brachá, como durante o reinado de Shlomo Hamelech (Rei Salomão), quanto as tragédia, como nas destruições dos Templos Sagrados e nos exílios do povo judeu.
Porém, há algo que nos chama a atenção. No meio da descrição das tragédias condicionais, a narração é interrompida para trazer algumas palavras de consolo: "E Eu me lembrarei do Meu pacto com Yaacov, e também do Meu pacto com Yitzchak, e também do Meu pacto com Avraham Eu me lembrarei, e Eu me lembrarei da Terra" (Vayikrá 26:42). Mas por que a ordem na qual os patriarcas são mencionados está ao contrário da ordem cronológica? Rashi (França, 1040 - 1105), comentarista da Torá, explica que se os méritos de Yaacov, o "menor" dos patriarcas, não for suficiente, então D'us levará em conta os méritos de Yitzchak. Se mesmo assim ainda não for suficiente, D'us levará em conta também os méritos de Avraham, o "maior" dos patriarcas. Mas por que Avraham é considerado o maior dos patriarcas? Qual característica fez com que ele tenha mais méritos do que Yitzchak e Yaacov?
Estamos sempre acostumados a associar Avraham apenas à característica de Chessed (bondade). Realmente sua tenda no deserto tinha quatro entradas, para que os visitantes se deparassem sempre com a porta aberta, não importando de que direção viessem. Além disso, a Torá descreve que Avraham recebeu os anjos fantasiados de simples beduínos como se fossem verdadeiros reis, servindo-os com as mais deliciosas comidas. Mas não foi apenas esta a característica de Avraham que o diferenciou de todas as outras pessoas. Ele tinha outra característica importante, que o fez chegar ao topo da espiritualidade: a força da inovação.
Se refletirmos sobre os testes de Avraham, perceberemos que foram muito mais difíceis de serem vencidos do que os dos outros patriarcas. Ele nasceu em um mundo onde todos, inclusive seus próprios familiares, eram idólatras. Seu desafio era criar, a partir do nada, uma perspectiva e uma forma de vida completamente novas, começando uma nova época na história. Para espalhar ao mundo inteiro o conceito da existência de D'us, Avraham teve que lutar contra todas as atitudes e estilos de vida prevalecentes na época e começar algo completamente novo, vagarosamente e com muita paciência. Ele poderia ter desistido diante das dificuldades, pois certamente teve muitas decepções e fracassos no caminho. Mas foi sua "força de inovação" que não o deixou desistir e possibilitou que ele tivesse sucesso.
Quando o Rambam (Maimônides) (Espanha, 1135 - Egito, 1204) descreve a contribuição de Avraham ao mundo, repete várias vezes que ele era um inovador, o revolucionário e pioneiro "fundador" do povo judeu. Avraham foi o primeiro em tudo o que fez. Ele não tinha modelos para seguir, estava sempre desbravando novos caminhos. Por isso, quando queremos nos comportar como Avraham, não devemos apenas desejar seguir seus passos em relação ao Chessed que ele fazia, mas também devemos almejar ter a sua força de inovação, que trouxe tantos benefícios ao mundo.
O Rav Shlomo Ephraim (Polônia, 1550 – Praga, 1619), mais conhecido como Kli Yakar, ressalta a importância da força de inovação. Durante a descrição da criação do mundo, ao final de cada dia a Torá termina com a frase "e viu D'us que era bom". A única exceção é o final do segundo dia da criação, onde nada está escrito. Explica o Kli Yakar que em todos os dias da criação algo novo foi criado, com exceção do segundo dia, quando D'us separou as águas de baixo e as águas de cima, que já existiam. Neste dia nada novo foi criado e, portanto, ele não foi descrito como um dia bom.
Existem inúmeras áreas nas quais a habilidade de inovar pode fazer muita diferença. É parte da natureza do ser humano deixar sua vida cair na força do hábito. Isto ocorre em vários aspectos, inclusive no crescimento espiritual, nos relacionamentos e nas habilidades de criar e construir. Nos acostumamos com nossa condição e estagnamos na vida. Um dos exemplos mais perceptíveis disso é a nossa Tefilá (reza), que muitas vezes é pronunciada de forma mecânica e desinteressada, apenas palavras que saem da boca e não do coração. Por isso, há momentos na vida em que é muito importante dar um passo para trás e avaliar onde são necessárias novas abordagens. Pois novas abordagens frequentemente nos trazem formas alternativas de lidar com situações problemáticas e difíceis.
Mas não adianta apenas querer inovar. Tão importante quanto tentar buscar novas abordagens para atingir um objetivo é estarmos dispostos a ir até o fim para alcançá-lo, apesar das dificuldades que naturalmente surgirão pelo caminho. Mudar significa sair da "zona de conforto", arriscar, buscar novos desafios. Podemos aprender isto através do exemplo de uma das maiores universidades do mundo. Qualquer pessoa que quer estudar em Harvard precisa inicialmente fazer um requerimento formal. O próximo passo é passar por uma entrevista, na qual o aluno mostra suas notas e descreve ao entrevistador detalhes da sua vida. O entrevistador então faz um relatório que, anexado às notas do estudante, é encaminhado ao "Escritório de Admissão de Harvard". De todos os pedidos encaminhados, apenas 6% são aceitos para cursar a faculdade. Muitos pensam que o único critério utilizado para a admissão são as notas dos alunos, mas isto não é verdade. O Escritório de Admissão deixa claro aos entrevistadores que eles devem buscam alunos que, além de terem boas notas, saíram de suas zonas de conforto. Harvard busca alunos que saíram dos seus limites e dos limites de suas escolas, comunidades e famílias. Harvard procura pessoas inovadoras, que estão dispostas a aceitar novos desafios e encontrar novas formas de resolver as dificuldades. Por que? Pois Harvard sabe que pessoas com este perfil são os que têm maior potencial de se tornarem, no futuro, pessoas de sucesso.
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SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
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