Nesta semana lemos a Parashá Tetsavê (literalmente "Ordene"), que ensina os detalhes das roupas que os Cohanim utilizavam nos Serviços do Mishkan, em especial as roupas do Cohen Gadol, que continham muitos detalhes e envolviam o uso de muitos materiais nobres, tais como ouro e pedras preciosas. O Cohen Gadol utilizava oito roupas para fazer os Serviços no Mishkan, e estas eram elas: O Efod (um "Avental", que protegia a parte de trás e era amarrado pela frente, feito de lã de várias cores e fios de ouro), o Choshen Mishpat ("Peitoral", também feito de lã de várias cores e continha 12 pedras preciosas, que representavam as 12 Tribos, presas sobre engastes de ouro), o Meil (um "Manto" de lã azul celeste, com sinos de ouro e romãs de lã na sua borda inferior), o Tsits (uma "Tiara" de ouro, com a inscrição "Kadosh LaHashem"), o Avnet (um "Cinto" com cerca de 16 metros de comprimento, que dava várias voltas na cintura), o Ktonet (uma "Túnica" de linho com detalhes tridimensionais), o Mitsnefet (um "Turbante") e a Michnassaim (uma "Calça curta" que cobria as partes íntimas). Cada uma destas roupas, além do belo efeito visual, também tinha um profundo efeito espiritual. Por exemplo, cada roupa era responsável pela expiação de algum erro específico do povo judeu, como o Choshen Mishpat, que vinha expiar por erros judiciais, o Mitsnefet, que vinha expiar o erro da arrogância, e o Meil, que vinha expiar o erro do Lashon Hará. Em relação ao Meil, havia um detalhe interessante. Os sinos de ouro que ele continha em sua borda inferior emitiam um barulho quando ele se movia, como está escrito: "Seu som será ouvido quando ele entrar no Santuário diante de D'us" (Shemot 28:35). Isso garantia que, antes de entrar no Santuário, a presença do Cohen Gadol fosse anunciada. Mas por que este barulho da roupa era importante? O que isso nos ensina? Nossos sábios, além dos muitos ensinamentos relacionados às Mitzvót, também nos transmitiram muitos ensinamentos de como nos comportar e nos tornar pessoas melhores, com Derech Eretz (bons modos). Por exemplo, o Midrash traz, em nome do Rabi Shimon bar Yochai: "Há quatro coisas que D'us odeia. Uma delas é uma pessoa que entra em sua própria casa de repente, sem bater. E nem é necessário dizer sobre alguém que entra na casa do seu vizinho sem bater". De forma semelhante, o Talmud (Pessachim 112a) traz sete instruções que Rabi Akiva deu ao seu filho, Rabi Yehoshua. Uma delas é: "Meu filho, nunca entre em sua casa de repente, e muito menos na casa de seu amigo". O Rav Shmuel ben Meir zt"l (França, 1085 - 1158), mais conhecido como Rashbam, cita o versículo da nossa Parashá, sobre o barulho da roupa do Cohen Gadol, como a fonte deste ensinamento do Rabi Akiva. Porém, se prestarmos atenção, perceberemos que há uma dificuldade nas palavras do Rashbam. Pareceria lógico supor que o versículo indica que uma pessoa é obrigada a anunciar sua presença antes de entrar na casa de outra pessoa, já que se refere ao Cohen Gadol fazer barulho antes de entrar na "casa de D'us". A novidade dos nossos sábios é que eles aprenderam deste versículo a anunciar sua presença até mesmo antes de entrar em suas próprias casas. Como a exigência do Cohen Gadol de se anunciar antes de entrar no Santuário, que é a morada da Presença Divina, pode ser a fonte da exigência de que devemos nos anunciar antes de entrar em nossas próprias casas? Além disso, a Torá afirma: "Eles devem construir para Mim um Santuário e Eu residirei neles" (Shemot 25:8). Para ser gramaticalmente correto, o versículo deveria ter declarado "e Eu residirei nele". Que mensagem está sendo ensinada por essa aparente inconsistência gramatical? Explica o Rav Yochanan Zweig shlita que, infelizmente, por sermos influenciados pela sociedade secular, muitos acreditam que para experimentar a presença de D'us precisamos estar na sinagoga. De forma equivocada, assumimos que entrar na sinagoga é semelhante a entrar na "casa de D'us" e que Ele se encontra apenas lá dentro. Consequentemente, quando saímos da sinagoga, sentimos que deixamos D'us para trás, isto é, não levamos D'us e Seus ensinamentos e leis para a nossa vida e para o nosso comportamento cotidiano. E isso fica ainda mais ressaltado dentro de nossas próprias casas, onde colocamos nossos nomes na porta e sentimos que lá dentro podemos fazer o que quisermos, já que somos os "donos de casa". Talvez esse seja o conceito escondido por trás da palavra "religião", que vem do verbo "religar". Implica em, durante a semana, as pessoas sentirem que podem fazer o que bem entenderem, desde que, uma vez por semana, compareçam ao "templo" e se reconectem a D'us. Neste sentido, o judaísmo não é uma religião, pois não nos desconectamos de D'us nem mesmo por um instante. D'us está presente em tudo o que fazemos, do momento em que acordamos até o momento em que fechamos os olhos para dormir. Isso é algo literal, pois ao abrirmos os olhos já dizemos "Modê Ani", agradecendo a D'us por Ele ter restituído nossa alma após uma noite de sono. Já quando vamos dormir, a última coisa que fazemos é o "Kriat Shemá SheAl HaMitá", um agradecimento e pedido de proteção durante o sono. Acordamos e vamos dormir todos os dias conectados com D'us. O Rabi Akiva está nos ensinando algo incrível através da roupa com sinos do Cohen Gadol. Embora a estrutura que construímos no Mishkan seja para a presença de D'us vir residir, ainda assim ela ainda é considerada nosso lar. O Mishkan, e em menor escala nossas sinagogas, são o protótipo comunitário do que nossos próprios lares devem ser. A presença de D'us não deve ser confinada a uma estrutura que é considerada Seu lar, pois, em tal caso, não poderíamos tirar um exemplo dela em um nível pessoal para os nossos próprios lares. O Mishkan deve ser visto como o projeto para a construção dos nossos próprios lares individuais. Da mesma forma que é óbvio para todos nós que o Mishkan contém santidade, assim também nossos lares devem ter santidade. Da mesma forma que no Mishkan as pessoas se comportavam com Tzniut (recato) e Derech Eretz, assim também uma pessoa deve se comportar dentro da sua própria casa. D'us não está apenas na sinagoga, Ele está em todos os lugares. É por isso que somos ordenados a construir uma estrutura de maneira que, em última instância, facilitará não apenas que a Presença Divina repouse dentro dela, mas, ainda mais importante, que a Presença Divina repouse dentro de nós. Desta maneira, poderemos fazer atos sempre corretos, em todos os momentos do nosso dia, santificando o Nome de D'us em todas as nossas atitudes. Não podemos ser um tipo de pessoa dentro da sinagoga e acharmos que fora dela não temos nenhuma responsabilidade com nossa espiritualidade. As Mitzvót nos ensinam que precisamos estar conectados com D'us o tempo todo, em tudo o que fazemos. A própria Kipá que colocamos o dia todo em nossas cabeças é um lembrete de que D'us está constantemente sobre nós, nos observando, não importa onde estamos e o que estamos fazendo. Mesmo dentro de casa, estamos cercados de Mitzvót, começando pelas Mezuzót em nossas portas, que mostram que aquele também é um local da morada de D'us. A Presença Divina repousa em uma casa onde há Shalom Bait e harmonia. Viva a vida como se estivesse sempre diante de D'us. Desta maneira, certamente o resultado serão muitos atos de Kidush Hashem. Mesmo se não virarem manchetes nos jornais do mundo, serão lindas manchetes diante de D'us. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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