Nesta semana lemos a Parashá Haazinu (literalmente "Escute"), que traz um Cântico de louvor a D'us feito por Moshé em seu último dia de vida. Moshé começou louvando D'us, descrevendo como Ele é perfeito, justo e fiel, um Pai que criou, sustentou e guiou o povo judeu desde sua criação. Moshé advertiu que, apesar disso, o povo judeu muitas vezes esqueceria de D'us, se desviando atrás de idolatrias. Por causa dessa infidelidade, D'us permitiria que nações estrangeiras oprimissem o povo judeu, como forma de punição e correção. Mas, apesar da fúria despertada, D'us nunca destruiria Seu povo. No final, Ele faria justiça contra seus inimigos e traria a Redenção, demonstrando Seu amor infinito pelo Seu povo. O amor entre o povo judeu e D'us também é o tema central da nossa próxima parada do Calendário Judaico, a Festa de Sucót, que começaremos a reviver na próxima segunda-feira de noite (06/out/25). Há um interessante ensinamento dos nossos sábios que envolve a Festa de Sucót. O Talmud (Avodá Zará 3a) prevê um diálogo que ocorrerá futuramente entre os povos do mundo e D'us, depois da vinda do Mashiach, na época em que D'us vai recompensar a todos pelos bons atos que fizeram. Os povos vão pedir a D'us que lhes dê uma Mitzvá para que possam cumprir. Mesmo com o tempo para o cumprimento das Mitzvót esgotado, ainda assim D'us dará a eles uma Mitzvá fácil, chamada Sucá. Imediatamente cada um montará sua Sucá e entrará nela, mas D'us fará o sol arder tão forte que será impossível permanecer dentro da Sucá. Então cada um chutará sua Sucá e sairá. O Talmud questiona: Qual é o problema? Quem está sofrendo está isento de cumprir a Mitzvá de Sucá! O Talmud responde que mesmo quando a pessoa está isenta e sai da Sucá, deve sair com tristeza, e não chutando ela. Mas este ensinamento do Talmud desperta alguns questionamentos. Em primeiro lugar, por que D'us escolheu, entre todas as Mitzvót da Torá, justamente a Mitzvá de Sucá para testar os povos? Além disso, fica claro que D'us não quis realmente dar uma Mitzvá para eles, e sim apenas provar que eles não tinham a capacidade para cumprir as Mitzvót, já que Ele fez o dia ficar insuportavelmente quente. Então por que a Mitzvá de Sucá foi a escolhida para provar aos povos que eles não estão preparados para o cumprimento das Mitzvót? Outro questionamento é que, embora os povos tenham agido de forma imprópria por terem chutado a Sucá, no final das contas eles cumpriram sua obrigação, pois montaram e entraram na Sucá. Por causa do calor, ficaram isentos da Mitzvá, mas fizeram tudo o que deveriam para cumpri-la. O fato de terem chutado a Sucá é aparentemente um defeito à parte, mas não algo que anula a Mitzvá. Assim, os povos ainda poderiam contestar que mereciam alguma recompensa! Explica o Rav Eliyahu Bahbout shlita que, antes de tudo, precisamos analisar um pouco mais sobre a essência da Mitzvá de Sucá. Assim diz a Torá: "Sentem-se em Sucót sete dias... para que saibam tuas descendências que em Sucót Eu fiz sentar os Filhos de Israel quando os tirei da terra do Egito" (Shemot 23:42,43). O Talmud (Sucá 11b) explica que sobre este versículo há uma discussão entre os nossos sábios. Segundo Rabi Eliezer, "em Sucót Eu fiz sentarem os Filhos de Israel" trata-se das Ananei Hakavod. A Mitzvá de Sucá vem lembrar, portanto, a proteção que as nuvens milagrosas de D'us ofereceram ao povo judeu quando vagaram pelo deserto, após a saída do Egito. As Ananei Hakavod tinham várias funções milagrosas, tais como: proteger do frio e do calor, formando um ambiente com temperatura ideal; alisar o caminho no deserto, tornando-o uma planície; limpar o terreno de répteis indesejáveis; e lavar e passar as roupas, sem causar desgaste ao pano. Se refletirmos um pouco, perceberemos uma diferença básica entre o milagre das Ananei Hakavod e todos os demais milagres que ocorreram com o povo judeu. Todos os outros milagres eram indispensáveis: o Man, para que o povo não morresse de fome; o poço de Miriam, para que não morressem de sede; as Pragas, para quebrar a resistência do Faraó. Já as Ananei Hakavod não eram uma necessidade absoluta. Elas eram, portanto, um sinal de amor e carinho de D'us pelo Seu povo, por ter dado a eles mais do que o estritamente necessário. Por isso, a essência da festa de Sucót, em lembrança deste milagre, é o amor e a afeição de D'us por nós. Esta é a "Época da nossa alegria", o cumprimento das Mitzvót por vontade, não por obrigação. É o momento de fazer Teshuvá por amor, e não por temor, como em Rosh Hashaná e Yom Kipur, assim como D'us nos deu as Ananei Hakavod por amor, e não por ser algo indispensável. É por isso que as Mitzvót de Sucót são diferentes. As quatro espécies devem ser "Hadar", belas. Em todas as demais Mitzvót, o embelezamento vem como um acréscimo, mas não faz parte da Mitzvá. Mas na Mitzvá das quatro espécies, fazer mais do que a obrigação é parte intrínseca. A essência de Sucót é, portanto, cumprir as Mitzvót com amor, não só por obrigação. A Mitzvá de Sucá também é diferente de todas as demais Mitzvót, pois nos ocupamos dela com todo o nosso corpo e o tempo todo. Não é um detalhe no decorrer do dia, mas a vida do judeu durante toda a Festa. Trata-se de uma expressão de amor a D'us. Não como alguém que, dentro de sua vida pessoal, "também" faz a vontade Divina. Trata-se de estar totalmente imerso na vontade Dele. Agora podemos entender o que o Talmud diz sobre a relação dos outros povos com a Mitzvá de Sucá. No futuro, quando os povos perceberem toda a verdade, serão capazes de cumprir as Mitzvót práticas. O Talmud (Avodá Zará 3b) afirma que, no futuro, todos os povos vão querer se converter: colocarão Tefilin, Tsitsit e Mezuzá. Mas quando D'us quiser demonstrar que existe uma diferença essencial entre o povo judeu e os demais povos, há somente uma Mitzvá onde isto fica claro: a Mitzvá de Sucá, pois é uma expressão de amor a D'us, uma vontade de fazer além do obrigatório. Uma vez que os povos não estão ligados a D'us na raiz de suas almas, não serão capazes de fazê-lo. Eles são capazes de cumprir sua obrigação de forma técnica, mas amar D'us, fazer de boa vontade o que não é obrigatório, já é um nível que eles não podem alcançar. Eles podem sentar na Sucá, mas não há significado algum nisso. A prova é que, quando ficarem isentos, não ficarão tristes, como ocorre com o povo judeu quando precisam sair da Sucá, ao contrário, chutarão suas Sucót, o oposto do amor que era esperado. O fato de chutarem a Sucá não é um defeito "externo", mas a negação da essência da Mitzvá da Sucá. Por isso, no futuro, quando os povos quiserem contestar perante D'us que eles também podem ser como Israel se somente tiverem a oportunidade, D'us lhes mostrará, justamente através da Sucá, o ponto essencial de diferença entre o povo judeu e as demais nações. O povo judeu está ligado a D'us e cumpre Suas Mitzvót com amor, como um filho que serve a seu pai. Que possamos desenvolver este amor por D'us, para que não apenas a Festa de Sucót, mas toda a nossa existência, se transforme em "a época da nossa alegria". SHABAT SHALOM E CHAG SAMEACH R' Efraim Birbojm |
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