Nessa semana lemos a Parashá Balak, que se conecta com o assunto final da Parashá da semana passada. O povo judeu se aproximava de sua entrada na Terra de Israel, depois de quase 40 anos vagando pelo deserto. Quando foram passar pela terra de Sichon, rei dos Emorim, os judeus pediram permissão para atravessar em paz, sem nenhum tipo de dano ou ameaça à soberania deles. Porém, os Emorim se levantaram contra o povo judeu e os atacaram, mas foram derrotados. Logo depois foi a vez de Og, o rei de Bashan, que também tentou se levantar contra o povo judeu e foi derrotado. Nossa Parashá começa justamente com a descrição de como Balak, o rei de Moav, se sentiu ao ver o que havia acontecido com Sichon e Og, dois reis extremamente poderosos. Ele sentiu muito medo do povo judeu, imaginando que seu povo seria a próxima vítima deles. Após ver que os judeus haviam passado como um trator sobre seus inimigos, Balak entendeu que tentar guerrear contra um povo tão poderoso, com tamanha proteção espiritual, seria tolice. Ele então resolveu mudar de tática e, ao invés de uma guerra material, ele quis atacar o povo judeu espiritualmente. Balak contratou um dos maiores profetas da época, Bilaam, cujo potencial espiritual era do nível de Moshé Rabeinu. Bilaam possuía um incrível poder na fala. Quem ele amaldiçoava era efetivamente amaldiçoado e sofria as consequências de sua energia negativa. De onde Balak conhecia Bilaam? Ele havia sentido na pele a força de suas maldições. Quando Moav estava em guerra contra os Emorim, o rei Sichon não conseguia derrotá-lo. Então ele contratou Bilaam para amaldiçoar Moav, e foi somente depois da maldição que o rei Sichon saiu vitorioso. Portanto, Balak tinha visto que o poder da fala de Bilaam era algo real e extremamente poderoso, e se apoiou na força de sua maldição para tentar vencer o povo judeu. Como Balak sabia que Bilaam gostava de honra e dinheiro, mandou pessoas importantes para contratá-lo, oferecendo uma quantia enorme de moedas de ouro. Apesar de Bilaam saber que D'us não queria que ele fosse, mesmo assim decidiu ir com os emissários de Balak. E, quando estava no caminho, algo incrível aconteceu. O jumento no qual ele montava se recusou a continuar andando e, de repente, abriu a boca e começa a conversar com Bilaam. Desde o início da história da humanidade tal evento nunca havia ocorrido, de um animal conversar com um ser humano. Mas qual é o grande ensinamento que este acontecimento traz para as nossas vidas? Infelizmente acabamos lendo a Torá sem refletir sobre os detalhes e, por isso, acabamos perdendo incríveis lições. Para entendermos o que ocorreu, precisamos tentar trazer as histórias da Torá para a nossa realidade. Imagine se estivéssemos, em um dia qualquer, dirigindo tranquilamente nosso carro pela estrada e, de repente, nos deparássemos com uma bifurcação. Sem o waze para nos auxiliar, ficaríamos na dúvida de qual dos dois caminhos é o correto, isto é, qual é aquele que nos levaria à cidade onde queremos chegar. Neste momento de dúvida, escolhemos aleatoriamente o caminho da esquerda. O que aconteceria se, neste exato momento, o nosso carro parasse e falasse conosco: "Ei, pare! Você está indo no caminho errado! O caminho correto era o da direita!". O que faríamos? Ao menos não pararíamos para refletir se realmente estamos indo no caminho correto? Será que alguém poderia ignorar este acontecimento e continuar no caminho da esquerda como se nada tivesse acontecido? Dificilmente isso aconteceria, até mesmo se fosse uma pessoa comum, meio avoada, não muito inteligente e perspicaz. Portanto, esperaríamos que Bilaam, uma pessoa inteligente e perspicaz, dono de incríveis dons espirituais, parasse para questionar suas atitudes. Como uma pessoa como ele deveria ter reagido ao fato de o seu jumento estar falando que ele estava errado? Certamente deveria ter parado para refletir sobre aquele incrível acontecimento, completamente fora das leis da natureza. Ele deveria ter concluído que não estava utilizando seu poder da fala corretamente e que deveria retornar imediatamente para casa, arrependido por ter ido, sem a autorização de D'us, acompanhar pessoas ruins para fazer o mal. Isso não é claro como o dia? Isso não deveria ter deixado uma marca, uma impressão forte em Bilaam? Mas, por incrível que pareça, este incrível evento não deixou absolutamente nenhuma marca em Bilaam. Ao final desse episódio, a Torá nos conta que "Bilaam levantou-se e retornou ao seu lugar" (Bamidbar 24:25). Isso não significa que ele retornou ao seu lugar apenas em termos físicos, mas também em termos espirituais. Mesmo após aquele milagre aberto, tudo voltou a ser o que era antes, não houve absolutamente nenhuma mudança. Bilaam, mesmo com todo o seu potencial, não conseguiu enxergar a incrível mensagem Divina. De acordo com o Rav Yssocher Frand, essa é a importante lição a ser aprendida da nossa Parashá: o quão cego uma pessoa pode ser. Quando a pessoa tem algum motivo pessoal, que pode ser dinheiro, poder ou qualquer outro desejo, verdadeiros subornos ao nosso julgamento, ela pode ficar cega. D'us pode enviar uma mensagem claríssima, mas ela não conseguirá enxergar. Isso é assustador. Queremos sempre fazer o que é o correto. Ninguém quer intencionalmente fazer o mal e prejudicar os outros. Porém, uma situação pode estar clara como o dia para um observador atento, porém a própria pessoa que está indo no caminho da transgressão não consegue enxergar o que está diante dos seus próprios olhos. E o mais assustador é o fato de que, se isso pôde acontecer com Bilaam, alguém com um potencial espiritual tão elevado, que podia falar diretamente com D'us, pode acontecer a qualquer um de nós. Se até mesmo Bilaam ficou completamente "cego" por causa de seus subornos, qualquer um de nós também pode ficar. Explica o livro "Messilat Yesharim", de autoria do Rav Moshe Chaim Luzzato zt"l (Itália, 1707 - Israel, 1746), que o mundo material se assemelha a uma noite escura. A escuridão pode trazer dois problemas para o ser humano. O primeiro problema é a pessoa não conseguir enxergar nada, mesmo o que está diante dela. Por isso, quando aparecem obstáculos no caminho, a pessoa simplesmente cai, sem nem mesmo ter percebido o perigo que estava diante dela. Porém, o segundo problema é certamente muito mais grave. A escuridão pode causar na pessoa uma ilusão de ótica, de forma que ela pensa que um pilar é uma pessoa e uma pessoa é um pilar. Isso quer dizer que uma pessoa pode passar uma vida inteira achando que o mal é algo bom e que o bem é algo ruim. Desta maneira, a pessoa vai fortalecer seus maus atos, pois não apenas a pessoa não enxerga a verdade, mas também inverte os valores e procura evidências para apoiar suas teorias e ideias falsas. O grande problema desta "cegueira espiritual" é que a pessoa não engana os outros, ela engana a si mesma. Como fugir desta "cegueira espiritual"? Explica o Rav Moshe Chaim Luzzato que há duas maneiras. A primeira é se aconselhar com os sábios de Torá, pois além de terem o conhecimento das leis espirituais, eles estão livres dos nossos subornos e podem nos orientar sem estarem sob influência dos nossos desejos. Outro conselho dos nossos sábios é fazer "Cheshbon Hanefesh", isto é, refletir sobre nossos atos, principalmente nos momentos em que não estamos com o desejo fervendo dentro de nós. Este é o principal ensinamento que pode ser extraído do incidente com Bilaam: não há maior cego do que aquele que não quer ver. Sabemos o final medíocre da vida de Bilaam, alguém com potencial de Moshé Rabeinu, mas que escolheu um caminho de prazeres e honra. Que possamos abrir os nossos olhos. SHABAT SHALOM R' Efraim Birbojm |
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