sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

SENSIBILIDADE E PACIÊNCIA - SHABAT SHALOM M@IL -  PARASHÁ TETSAVÊ 5781

Para dedicar uma edição do Shabat Shalom M@il, em comemoração de uma data festiva, no aniversário de falecimento de um parente, pela cura de um doente ou apenas por Chessed, entrar em contato através do e-mail 
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PARASHÁ TETSAVÊ



São Paulo: 18h17                  Rio de Janeiro: 18h03 
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ASSUNTOS DA PARASHAT TETSAVÊ
  • Óleo para Menorá.
  • As 8 Vestes do Cohen Gadol
    1) Efod ("Avental") e os Engastes.
    2) Choshen Mishpat ("Peitoral").
    3) Meil ("Manto").
    4) Tsits ("Tiara", Placa para a cabeça).
    5) Avnet ("Cinto").
    6) Ktonet ("Túnica").
    7) Mitsnefet ("Turbante"). 
  • 8) Michnassaim ("Calças").
  • As 4 Vestes dos Cohanim simples.
    1) Ktonet ("Túnica").
    2) Avnet ("Cinto").
    3) Migbaat ("Turbante").
  • 4) Michnassaim ("Calças").
  • Consagração dos Cohanim.
  • Consagração do Altar.
  • Korban Tamid.
  • Mizbeach (Altar) de Incenso.
BS"D

SENSIBILIDADE E PACIÊNCIA - PARASHÁ TETSAVÊ 5781 (26 de fevereiro de 2021)

 
O Rav Moshe Feinstein zt"l (Lituânia, 1895 - EUA, 1986) foi um dos maiores rabinos da geração passada. Por ser um profundo conhecedor de Halachá (Lei judaica), ele era extremamente ocupado, pois recebia perguntas vindas do mundo inteiro, muitas vezes extremamente complexas, que exigiam muita reflexão e conhecimento. Certa vez o Rav Moshe Feinstein recebeu o telefonema de uma mulher aflita, que não parava de chorar. A primeira coisa que o rabino fez foi tentar acalmá-la, pois ela mal conseguia falar. Depois de se acalmar um pouco, ela começou a explicar o que a afligia:
 
- Rabino, aconteceu uma tragédia. Ontem de noite eu deixei um pedaço de carne não Kasher na minha pia para descongelar. Eu ia dá-lo para uma vizinha, que não é judia, já que na minha casa eu só como comida Kasher. Porém, quando acordei hoje de manhã, descobri que meu gato tinha comido aquela carne não Kasher. Rabino, estou desesperada. Meu gato sempre foi Kasher! Será que agora ele deixou de ser Kasher?
 
Qualquer um teria dado risada ou respondido de forma ríspida a uma pergunta assim tão tola. Mais ainda caso se tratasse de alguém muito ocupado, com enormes responsabilidades nas costas. Mas o Rav Moshe Feinstein nunca teria estes tipos de reação. Ele tinha uma sensibilidade especial com cada ser humano e uma paciência incrível. De forma muito carinhosa ele respondeu:
 
- Minha senhora, não se preocupe, a senhora pode ficar despreocupada, não aconteceu nada de errado com o seu gato, ele continua normal, da mesma forma como estava antes. Mas gostaria de aproveitar o ocorrido para ensinar uma Halachá importante. Não devemos nunca deixar uma comida que não é Kasher dentro de casa, pois sempre existe o risco de alguém acabar se confundindo e comendo o que não é Kasher.
 
O Rav Moshe Feinstein, com seu amor por cada ser humano, transformou uma pergunta tola em um ensinamento de Torá. Para isto foi necessário, além de conhecimento de Torá, muita paciência e sensibilidade.

 

Nesta semana lemos a Parashá Tetsavê (literalmente "Ordene"), que fala principalmente das roupas dos Cohanim, usadas no momento em que faziam os Serviços espirituais do Mishkan. As roupas do Cohen Gadol eram magníficas, feitas com tinturas caras, fios de ouro, pedras preciosas e detalhes de ouro puro. Além disso, a Parashá também fala da consagração dos Cohanim, para que pudessem dar início aos Serviços espirituais do Mishkan. Aharon, irmão de Moshé, foi escolhido como o primeiro Cohen Gadol, enquanto seus filhos foram os primeiros Cohanim. A partir daquele momento, somente os descendentes de Aharon e de seus filhos seriam permitidos de fazer os Serviços espirituais do Mishkan e, futuramente, do Beit HaMikdash. Os Cohanim são os herdeiros da maravilhosa característica de Aharon, que era um "amante e constante perseguidor da paz".
 
Além da beleza física, as roupas usadas nos Serviços espirituais também tinham uma enorme beleza espiritual. Cada uma das oito roupas do Cohen Gadol servia para trazer expiação de alguma transgressão do povo judeu. Por exemplo, o "Meil", um manto de lã completamente tingido de azul celeste, trazia expiação pelo Lashon Hará; o "Choshen Mishpat", um peitoral contendo 12 pedras preciosas e um pergaminho com o nome de D'us, trazia expiação pelos erros judiciais; e o "Mitsnefet", um turbante, trazia expiação pelo orgulho e descaramento. Assim, todas as roupas traziam algum benefício para todo o povo judeu.
 
Mas por que as roupas do Cohen Gadol precisavam ser de materiais tão caros? Não seria esperado que fossem roupas simples e baratas, que transmitissem humildade? Com a roupa do Cohen Gadol D'us está nos transmitindo uma incrível mensagem. Há um equívoco das pessoas pensarem que somente há santidade onde há uma total abstinência de prazeres materiais. As roupas do Cohen Gadol nos ensinam que podemos usar materiais caros e preciosos e, mesmo assim, não sentir nenhum tipo de orgulho. A essência do nosso trabalho neste mundo é saber utilizar o mundo material, mas canalizando para o lado espiritual. Podemos usar o mundo material, ter proveito dele, mas usando com controle, não nos tornando escravos dele.
 
As roupas do Cohen Gadol eram tão bonitas e esplendorosas que o Talmud (Shabat 31a) relata um interessante incidente envolvendo estas roupas. Certa vez um não judeu estava passando por um local de estudos de Torá e escutou alguém lendo os versículos referente às vestimentas do Cohen Gadol. Ele ficou tão fascinado que imediatamente decidiu se converter ao judaísmo para poder se tornar o Cohen Gadol. Ele foi até o sábio Shamai e pediu para que ele o convertesse, mas com a condição que pudesse se tornar o Cohen Gadol. Shamai não gostou da proposta, pois considerou um desrespeito com a sagrada Torá, e mandou o homem embora. Mas aquele homem estava tão obstinado que mesmo aquela expulsão não o fez desistir. Ele foi até o sábio Hilel com a mesma proposta, e Hilel concordou em convertê-lo. Porém, Hilel explicou que uma pessoa, para ser apontada como rei, necessitava ter o conhecimento sobre as regras e regulamentos que se aplicam ao rei. Da mesma forma, se alguém quisesse se tornar o Cohen Gadol, deveria estudar a Torá à fundo, para conhecer todas as leis e regras referentes ao cargo. O homem concordou e imediatamente começaram a estudar. Porém, quando aquele homem se deparou com o versículo "E você (Aharon) e seus filhos manterão seu sacerdócio em todos os assuntos concernentes ao altar... e qualquer estranho fizer uma oferenda, morrerá" (Bamidbar 18:7), ele se assustou e perguntou a quem se aplicava aquelas duras palavras. Hilel respondeu: "Isto aplica-se a um "estranho", isto é, qualquer um que não seja da família dos Cohanim, inclusive David, o Rei de Israel". O convertido, ao escutar aquilo, pensou: "Os judeus são considerados "filhos de D'us". No entanto, se eles não pertencem à família dos Cohanim e realizam os serviços que cabem aos Cohanim, são passíveis de uma punição tão grave, então muito mais eu, que apenas recentemente me juntei a este povo! Não posso realizar o serviço que foi proibido inclusive ao Rei David". Ele então entendeu a grandeza de Hilel e o louvou por sua sabedoria e paciência.
 
Deste ensinamento do Talmud aprendemos um princípio muito importante para as nossas vidas: para fazer o que é correto, não basta apenas tomarmos cuidado com o que fazemos, mas também é importante prestar atenção na forma de fazer as coisas. Muitas vezes tentamos cumprir as Mitzvót, mas acabamos tropeçando na forma de realizá-las. Um exemplo clássico é a Mitzvá da Torá de repreender uma pessoa que está cometendo uma transgressão, conforme está escrito: "Repreenda seu companheiro" (Vayikrá 19:17). Esta Mitzvá se assemelha a vermos alguém se afogando. Não fazer nada é um crime grave, é omissão de socorro. Da mesma forma, ao vermos uma pessoa "se afogando" em uma transgressão, colocando em risco sua vida eterna no Olam Habá, então não podemos ser omissos.
 
Muitas vezes tropeçamos nesta Mitzvá por não nos importamos com os outros, ou por queremos parecer "bacanas" aos olhos das pessoas, e por isso perdemos oportunidades de ajudá-las a consertar seus erros. Para não sermos vistos como os "chatos" do grupo, acabamos até mesmo incentivando as pessoas a continuarem com suas más condutas, ao invés de repreendê-las. Porém, o maior problema ocorre quando cumprimos esta Mitzvá, mas a fazemos da maneira equivocada. O que ocorre quando uma pessoa faz algo que nos incomoda? Normalmente sentimos que devemos corrigir os erros do outro imediatamente. Às vezes também acabamos repreendendo de forma ríspida e dura. Porém, saber o momento correto é essencial. Se você disser a uma pessoa algo que ela ainda não está preparada para ouvir, você perderá a oportunidade de influenciá-la positivamente caso tivesse sido mais paciente e esperasse o momento adequado, como fez Hilel. Também falar de maneira inadequada pode afastar ainda mais a pessoa e criar um bloqueio que a impedirá de crescer.
 
É por isto que o versículo que traz a Mitzvá de repreender alguém que está fazendo algo errado termina com as palavras: "E que a transgressão não recaia sobre você". Se repreendermos uma pessoa de forma precipitada ou incorreta, podemos causar um afastamento ainda maior. A pessoa pode se revoltar e decidir que não quer mais melhorar. Desta maneira, aquela Mitzvá de repreender o próximo pode se transforma em uma transgressão, e a partir daquele momento, teremos uma participação em tudo o que a outra pessoa fizer de errado.
 
Sempre devemos estar cientes sobre qual é o nosso objetivo quando queremos corrigir alguém. Pergunte a si mesmo: "Qual é a melhor forma de eu conseguir alcançar essa pessoa? De que forma posso falar com ela? Quando é que ela estará mais receptiva a escutar o que eu tenho a dizer?". Normalmente colocamos a culpa na pessoa por não estar querendo escutar nossas críticas "construtivas". Porém, se realmente quer ajudar alguém a crescer, pense bastante em como e quando você deve fazer suas críticas.
 
Há uma dica de como cumprir esta Mitzvá da forma correta. No versículo que vem após a Mitzvá de repreender o próximo aparece outra famosa Mitzvá: "Ame ao próximo como a si mesmo" (Vayikrá 19:18). A Mitzvá de repreender deve vir do sentimento de amor ao próximo, a vontade de ajudar os outros a se comportarem da maneira correta, para que tenham mais méritos espirituais. Antes de repreender uma pessoa, imagine se a situação fosse inversa, isto é, você merecesse ser repreendido. Certamente você não gostaria que a repreensão fosse feita com gritos, e sim de forma carinhosa. Imagine como você gostaria de ser repreendido, e desta forma repreenda os outros. Assim estaremos garantindo que esta importante Mitzvá não se transforme em uma terrível transgressão. Pois a repreensão perfeita precisa, além de muita sabedoria, de um coração paciente e sensível.
 

SHABAT SHALOM

 
R' Efraim Birbojm

 

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