Nesta semana lemos a Parashá Ki Tavô (literalmente "quando vocês vierem"). Moshé ensinou algumas Mitzvót que se aplicariam apenas quando o povo entrasse em Israel. A Parashá também se alonga nas Brachót e Klalót (maldições) que recairiam sobre o povo judeu, durante a história, de forma condicional. As Brachót são resultado de andarmos nos caminhos de D'us, enquanto as Klalót são resultado de abandonarmos os caminhos Dele. A Parashá começa falando sobre a Mitzvá de Bikurim, as primícias das frutas que representam a fartura da Terra de Israel: trigo, cevada, figo, romã, uva, tâmara e azeitona. A Torá nos ensina que devemos dar os Bikurim aos Cohanim, como está escrito: "Você deverá vir ao Cohen que estiver naqueles dias" (Devarim 26:3). Os Bikurim fazem parte dos "Matanót Kehuná", isto é, os 24 presentes que o povo judeu deve dar aos Cohanim. Porém, observando com atenção as palavras do versículo, há algo que chama a atenção. A priori as palavras "que estiver naqueles dias" parecem supérfluas. A Torá poderia ter dito apenas que devemos dar os Bikurim aos Cohanim. Não é óbvio que isso se refere apenas aos Cohanim que estivessem vivos naquele momento? Rashi (França, 1040 - 1105) explica que a Torá está nos dando uma advertência. Uma pessoa não deve pensar que o Cohen dos seus dias não é do mesmo "calibre" que os Cohanim de antigamente, rotulando-o assim como não merecedor dos Matanót Kehuná. A Torá está ressaltando que, apesar de existir uma queda espiritual com o passar das gerações, ainda assim a pessoa está obrigada a dar os Matanót Kehuná aos Cohanim da sua geração, já que eles são agentes de D'us neste mundo. Há um ensinamento semelhante em relação aos juízes, como está escrito: "E você deverá vir... ao juiz que estará naqueles dias, e você perguntará, e eles lhe dirão as palavras do julgamento" (Devarim 17:9). Rashi também explica neste versículo que, embora os juízes da sua época possam não ser da mesma estatura dos juízes que o precederam, você deve ouvi-los, pois você tem apenas o juiz daquele momento. Porém, em relação aos juízes este ensinamento realmente faz sentido, pois seria lógico supor que os juízes das gerações posteriores poderiam não ser qualificados para fazer os julgamentos da maneira correta, uma vez que não possuíam a mesma sabedoria e intelecto das gerações anteriores. Por isso a Torá precisou ensinar que mesmo assim devemos confiar nos juízes dos nossos dias. No entanto, por que precisaríamos de tal ensinamento em relação aos Cohanim? Por que pensaríamos que não estamos obrigados a dar a eles os Matanót Kehuná? Além disso, depois de declarar a exigência de trazer os Bikurim aos Cohanim, o versículo registra a declaração que o dono das frutas faz a ele: "Eu declaro hoje a Hashem, seu D'us" (Devarim 26:3). Por que o dono das frutas diz "seu D'us", e não "meu D'us" ou "nosso D'us"? Explica o Rav Yochanan Zweig que há dois componentes envolvidos no ato de dar presentes aos Cohanim. O primeiro é garantir que os Cohanim tenham o suficiente para se sustentar. Como eles se dedicam apenas à parte espiritual, instruindo o povo e fazendo os Serviços do Beit Hamikdash, o povo tem a responsabilidade de sustentá-los. O segundo é o benefício para o próprio doador. Ter um relacionamento com o Cohen é uma experiência de elevação, pois conectar-se a um agente de D'us no mundo serve para concretizar nosso relacionamento com D'us. Os presentes são o veículo através do qual criamos o vínculo com D'us. Seria possível pensar que os Cohanim da nossa geração não podem nos oferecer a conexão com D'us que desejamos e, portanto, estaríamos isentos de dar a eles os Matanot Kehuná. É por isso que a Torá vem enfatizar que em cada geração somos obrigados a dar os presentes aos Cohanim, pois esse relacionamento com D'us através deles ainda pode ser alcançado. O versículo faz alusão a esse conceito ao registrar a declaração do dono das frutas ao Cohen: "Eu declaro a Hashem, seu D'us", sugerindo que há um relacionamento especial entre o Cohen e D'us. O dono das frutas, ao trazer seus Bikurim, também deseja se conectar a este relacionamento. Na continuação da Parashá, há outro versículo que ensina sobre a nossa conexão com D'us. A Torá enumera as Brachót que receberemos condicionalmente. Uma das Brachót nos chama a atenção: "Você será abençoado na cidade e você será abençoado no campo" (Devarim 28:3). O Midrash afirma que as Brachót na cidade são resultado das Mitzvót de Tzitzit, Sucá, acender velas de Shabat e "Chalá", isto é, remover uma porção da massa para dar de presente ao Cohen. Já as Brachót no campo são resultado das Mitzvót de "Leket", "Shichechá" e "Peá", que consistiam em deixar partes da produção para que os pobres recolhessem. Porém, existem muitas outras Mitzvót que podem ser feitas na cidade e no campo. Por que o Midrash especifica apenas estas? Além disso, as outras Brachót que aparecem neste capítulo são expressas sempre com pronomes possessivos, tais como "abençoado será o fruto do seu ventre e o fruto da sua terra... sua cesta de frutas... seus armazéns" (Devarim 28:4-11). Então por que a Brachá neste versículo é registrada de forma diferente, apenas "na cidade" e "no campo", sem nenhum pronome possessivo? O Talmud (Brachót 35a) registra uma aparente contradição. Um versículo afirma "O mundo em sua totalidade pertence a D'us" (Tehilim 24:1) enquanto outro versículo afirma "Ele deu este mundo ao ser humano" (Tehilim 115:16). O Talmud reconcilia os dois versículos explicando que antes de recitar uma Brachá, isto é, reconhecer D'us como a Fonte de toda a existência, o homem não tem permissão de usufruir deste mundo. No entanto, após o reconhecimento, ele recebe permissão para usufruir. O reconhecimento o torna o recipiente da generosidade de D'us. Receber Brachót é a consequência da conexão com a Fonte. Ao nos conectarmos a D'us, os canais de Brachót são abertos. O nível mais alto de conexão ocorre quando fazemos atos que criam um lugar para a Presença Divina se manifestar neste mundo, bem como quando identificamos D'us como a Fonte de toda a existência. A linha que conecta todas as Mitzvót mencionadas pelo Midrash é que elas são eficazes na criação de um lugar para a Presença Divina neste mundo e o reconhecimento de D'us como a Fonte de toda a existência. O Midrash afirma que aquele que cumpre as Mitzvót de Leket, Shichechá e Peá é considerado como se tivesse construído o Beit Hamikdash, o local de repouso da Presença Divina. O Talmud (Menachót 43b) ensina que uma pessoa que usa Tzitzit conecta os elementos deste mundo ao trono de D'us. O Talmud (Sucá 11b) também nos ensina que a Sucá, que representa as "Ananei HaCavod" que protegeram o povo judeu no deserto, cria um ambiente destinado a abrigar a Presença Divina. Finalmente, nossos sábios ensinam que a Chalá e acender velas de Shabat são Mitzvót que visam aumentar o "Shalom Bait", a harmonia familiar. De acordo com o Talmud (Sotá 17a), quando uma casa tem Shalom Bait, isso indica que a Presença Divina é um participante ativo no casamento. Como o versículo não descreve a cidade e o campo com pronomes possessivos, esta Brachá representa uma situação na qual o homem entende que o mundo em sua totalidade pertence a D'us. Ao reconhecer o lugar de D'us neste mundo, o homem merece participar de Sua Brachá. Os Tzadikim de cada geração ajudam a criar nossa conexão com D'us. Os Cohanim e os juízes são Seus agentes para nos trazer espiritualidade. As Mitzvót também podem trazer a Presença de D'us para o mundo. Mas nunca devemos esquecer que a Brachá vem através da nossa conexão direta com D'us, pois Ele é a Fonte de tudo. SHABAT SHALOM – QUE SEJAMOS INCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA R' Efraim Birbojm |
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