sexta-feira, 17 de agosto de 2018

TORNANDO-SE UMA TORÁ VIVA - SHABAT SHALOM M@IL - PARASHAT SHOFTIM 5778

BS"D
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TORNANDO-SE UMA TORÁ VIVA - PARASHAT SHOFTIM 5778 (17 de agosto de 2018)

"Yair (nome fictício), um judeu israelense que estava muito afastado do cumprimento das Mitzvót. Porém, havia algo que ele cuidava com extremo rigor: o jejum de Yom Kipur. Desde o seu Bar-Mitzvá ele jejuava do início ao fim. Certa vez, na véspera de Yom Kipur, querendo saber qual era o horário exato do início do jejum, ele entrou na primeira sinagoga que passou em seu caminho para casa. Quando pediu informações, foi encaminhado para a sala do rabino, o Rav Elya Dushnitzer zt"l (1876 - 1949).
 
Yair ficou um pouco envergonhado. Será que o rabino não iria se aborrecer de ser interrompido com uma pergunta assim tão tola, na véspera de Yom Kipur? Porém, tomou coragem e bateu na porta. O rabino então pediu para que ele entrasse. Yair ficou chocado com a cena que viu: o rabino estava sentado em sua mesa, cortando uma enorme quantidade de tiras de papel higiênico. Era a última coisa que ele esperaria ver um rabino fazendo em plena véspera de Yom Kipur. Incomodado, Yair perguntou:
 
- Rabino, desculpe a curiosidade, mas por que você está cortando tanto papel higiênico? Isto é o mais importante que você tem para fazer na véspera de Yom Kipur?
 
O Rav Elya, abrindo um sorriso, explicou:
 
- Você tem razão, parece um pouco estranho o que eu estou fazendo. Porém, amanhã é um dos dias do ano em que a sinagoga fica mais lotada. Centenas de pessoas passarão o dia inteiro aqui, rezando e chorando para D'us. Eu não quero que ninguém se sinta incomodado por não ter papel higiênico cortado no banheiro...
 
Alguns anos depois, Yair acabou fazendo Teshuvá e tornou-se um judeu cumpridor de Mitzvót. Ele conta que aquele dia fez uma enorme diferença em sua vida. Ele nunca havia visto alguém se preocupar tanto com as outras pessoas. Em um dia em que todos estão preocupados com seus próprios problemas, aquele rabino estava preocupado com a comodidade dos frequentadores da sinagoga. Cada vez que o rabino rasgava um pedaço de papel, era como se o seu coração estivesse sendo rasgado. Foi naquele dia que ele resolveu mudar."

Nesta semana lemos a Parashat Shoftim (literalmente "Juízes"), que traz algumas leis em relação às guerras do povo judeu. Uma lei que nos chama a atenção é a que ordena a todos os que estão com medo que voltem para casa, como está escrito: "Quem é o homem que é temeroso e desanimado? Deixe que ele vá e volte para sua casa, e não deixe que ele derreta o coração de seus companheiros para que fiquem como o seu coração" (Devarim 20:8). Mas qual era o problema de alguém sentir medo na guerra? Não é um sentimento natural?
 
Em primeiro lugar, o medo é uma demonstração de falta de Emuná (fé) em D'us. Temos que confiar na proteção Divina e ter a claridade de que é Ele que controla tudo. A vitória na batalha não depende do tamanho do exército nem da quantidade de armas, e sim dos méritos espirituais. Como a pessoa que sentia medo perdia seus méritos, ela se colocava em risco de vida e, por isso, era melhor que voltasse para casa. Além disso, a Torá foca em outro tipo de consequência da pessoa sentir medo: as más influências que ela causava aos seus companheiros. Como somos seres sociais, fortemente influenciados pelos atos dos outros, temos uma enorme responsabilidade em cada pequeno ato que fazemos. De acordo com alguns comentaristas, há inclusive uma proibição na Torá de causar más influências aos outros através de atos que aparentem displicência no cumprimento das Mitzvót. Para que não "contaminasse" seus companheiros com o seu medo, era melhor que a pessoa temerosa abandonasse o campo de batalha e voltasse para casa.
 
Porém, de acordo com o Rav Yehonasan Gefen, podemos aproveitar também o lado positivo deste aspecto social do ser humano. Com nossos atos, podemos influenciar construtivamente outras pessoas. Podemos inspirar, motivar e levar pessoas a um crescimento espiritual. Como? Simplesmente nos transformando em modelos de retidão. Nossos atos nunca estão no "vácuo", isto é, estamos sempre sendo observado por outras pessoas. Portanto, devemos estar constantemente conscientes dos possíveis efeitos positivos que podemos e devemos causar nas outras pessoas sem a necessidade de uma comunicação direta com elas.
 
Além do benefício que causamos aos outros, ao influenciarmos positivamente outras pessoas também acabamos sendo recompensados por isso. Se pessoas se inspiram com os nossos atos e crescem em seu Serviço espiritual, então recebemos recompensa por cada bom ato que elas fazem. De acordo com o Rav Chaim Shmulevitz zt"l (Lituânia, 1902 - Israel, 1979), causar com que outras pessoas façam Mitzvót é considerado ainda maior do que se nós tivéssemos pessoalmente feito a Mitzvá. Ele cita uma passagem do Talmud (Sotá 7b) que nos ensina que o corpo de Yehudá, filho de Yaacov, não encontrou descanso até que Moshé rezou por ele e mencionou um de seus méritos. Moshé disse para D'us em relação a Yehudá: "Aquele que causou com que Reuven confessasse sua transgressão (de ter movido a cama de seu pai)". De onde Reuven tirou inspiração para assumir seu erro e confessar? O Talmud diz que foi de uma corajosa atitude de Yehudá, quando ele confessou publicamente seu erro em um incidente envolvendo sua nora Tamar.
 
O incidente ao qual o Talmud se refere é um caso no qual Tamar foi injustamente condenada à morte. Ela poderia escapar desta terrível pena, bastava apenas revelar que o culpado era Yehudá. Porém, Tamar era tão Tzadeket (Justa) que estava disposta a dar a vida para não revelar o erro de Yehudá, que era uma pessoa muito respeitada. Yehudá também poderia ter ficado quieto e ninguém nunca saberia do seu erro, mas ele passou por cima de sua honra e, em uma atitude digna de louvor, assumiu publicamente seu erro. Sua confissão salvou a vida de 3 pessoas (pois Tamar, que estava grávida de gêmeos, foi absolvida da pena de morte).
 
Porém, se o ato de Yehudá foi algo tão incrível, por que Moshé, ao mencionar seus méritos, falou apenas sobre o impacto positivo que o ato dele teve sobre Reuven, ao invés de mencionar o próprio ato de assumir a culpa? Segundo o Rav Chaim Shmulevitz, daqui aprendemos que ajudar espiritualmente um companheiro é maior do que os próprios atos da pessoa. Isto significa que o mérito de Yehudá por ter influenciado positivamente Reuven trouxe a ele mais méritos do que ter passado por cima de sua honra para salvar 3 vidas.
 
Qual é a recompensa de quem inspira os outros a crescerem espiritualmente? Nossos sábios ensinam algo fantástico: "Se alguém traz mérito para muitos, a transgressão não vem pela sua mão... Moshé foi meritório e trouxe mérito a muitos (ele ensinou a Torá a todo o povo judeu). Por isso o mérito de muitos é atribuído a ele" (Pirkei Avot 5:18). Muitos comentaristas explicam que a expressão "a transgressão não vem pela sua mão" se refere a uma enorme ajuda dos Céus que a pessoa recebe para evitar transgressões. Esta proteção Divina extra nunca poderia ser alcançada com os nossos próprios atos.
 
Nos nossos atos cotidianos mais simples podemos influenciar, inspirar e levar outros a quererem nos imitar. Por exemplo, alguém que nunca atrasa na sinagoga para a Tefilá de Shacharit, vencendo diariamente o seu Yetser Hará (mau instinto), influencia outros frequentadores a fazerem o mesmo. Uma pessoa que trabalha o dia inteiro e mesmo assim é rigorosa em fixar um tempo diário de estudo da Torá se transforma em um exemplo para aqueles que dizem que não têm tempo para estudar regularmente. Alguém que é extremamente cuidadoso em não falar Lashon Hará (maledicência) faz com que pessoas tenham vergonha de falar Lashon na frente dele.
 
Este foi um conceito muito utilizado pelo Rav Naftali Amsterdam z"l (
Lituânia, 1832 - Israel, 1916). Certa vez ele afirmou diante de seus alunos que estava decidido a ajudar todos os judeus a voltarem para os caminhos de Torá. Os alunos então questionaram como ele pretendia colocar em prática sua decisão, já que se tratava de uma missão muito difícil de ser cumprida. Ele então respondeu: "Eu decidi cumprir todas as leis do Shulchan Aruch (Código de Leis da Torá) de forma mais rigorosa. Desta maneira, eu poderei me transformar em um "Shulchan Aruch ambulante" e qualquer um que queira cumprir as Mitzvót da Torá poderá olhar para os meus atos e aprender a como se tornar um judeu mais completo. Meu esforço não será em mudar os outros. Ao contrário, ao mudar meus próprios atos, automaticamente eu estarei contribuindo da melhor maneira para que outras pessoas voltem aos caminhos da Torá".
 
Nós não sabemos o quanto nossos atos podem influenciar positivamente os outros. Mesmo pequenas atitudes, como cortar papel higiênico em um ato de genuína preocupação com a honra das pessoas, pode deixar uma enorme marca no coração de um judeu afastado. Quando o Rav Elya Dushnitzer zt"l chegou ao Céu, certamente se surpreendeu ao descobrir que receberia parte de todas as Mitzvót de Yair. Até mesmo depois da morte, enquanto os atos que fizemos em vida afetar positivamente os outros, receberemos recompensa por isso, como se nós mesmos tivéssemos cumprido aquela Mitzvá. Por isso, vale a pena se esforçar para se tornar um modelo para os outro, pois a recompensa é eterna.

"QUE SEJAMOS INSCRITOS E SELADOS NO LIVRO DA VIDA"

Shabat Shalom

R' Efraim Birbojm

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São Paulo: 17h31  Rio de Janeiro: 17h19  Belo Horizonte: 17h24  Jerusalém: 18h45
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Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) dos meus queridos e saudosos avós, Meir ben Eliezer Baruch Z"L e Shandla bat Hersh Mendel Z"L, que nos inspiraram a manter e a amar o judaísmo, não apenas como uma idéia bonita, mas como algo para ser vivido no dia-a-dia. Que possam ter um merecido descanso eterno.
 
Este E-mail é dedicado à Leilui Nishmat (elevação da alma) de minha querida e saudosa tia, Léa bat Meir Z"L. Que possa ter um merecido descanso eterno.
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