Na próxima 4ª feira de noite (05/abril) começaremos a reviver uma das Festas mais importantes do povo judeu: Pessach, a Festa da nossa liberdade, na qual recontamos e sentimos todos os passos do processo de libertação da escravidão egípcia como se nós mesmos tivéssemos saído de lá. Após uma semana exaustiva de preparação, na qual limpamos nossas casas de qualquer resíduo de Chametz, que representa o comodismo e o orgulho, finalmente podemos aproveitar o Chag. Na primeira noite de Pessach (e fora de Israel também na segunda noite) nos sentamos com nossas famílias e fazemos o Seder, no qual nos alongamos lendo a nossa Hagadá e contando muitos detalhes de tudo o que aconteceu na libertação do povo judeu. Um dos tópicos da Hagadá que mais desperta a nossa atenção é o diálogo entre o pai e os quatro filhos: o Chacham (sábio), o Rashá (perverso), o Tam (ingênuo) e o Sheino Iodea Lishol (aquele que não sabe perguntar). Cada filho questiona de acordo com a sua natureza, e a resposta também é dada de acordo com a capacidade de absorção do conteúdo de cada um. O filho Chacham faz um interessante questionamento ao seu pai: "Quais são os testemunhos, decretos e ordenanças que Hashem, nosso D'us, ordenou a você?". A resposta dada a ele é: "Portanto, explique a ele as leis do Korban Pessach: não se pode comer sobremesa após o gosto final do Korban Pessach". Porém, ao refletirmos um pouco, percebemos que tanto a pergunta quanto a resposta despertam questionamentos. Em primeiro lugar, o que exatamente o filho Chacham está questionando? O que o está incomodando? Além disso, será que uma resposta tão concisa e específica é apropriada para uma pergunta tão abrangente? A resposta mais simples é que esta declaração "Não se pode comer sobremesa após o gosto final do Korban Pessach" é, no Tratado de Pessachim, a última Mishná do capítulo que discute as leis da noite do Seder. Portanto, quando o pai responde ao filho a última Mishná, então na verdade ele está contando ao filho tudo, de A a Z, daquele capítulo, nos ensinando que quando alguém faz um questionamento amplo, devemos dar a ele uma resposta completa. No entanto, há uma explicação mais profunda, que traz um ensinamento fundamental para as nossas vidas, tanto para aprendermos a como viver da forma correta quanto para sabermos como educar nossos filhos. O filho Chacham está fazendo uma pergunta muito fundamental. Todos nós sabemos como a história da saída do Egito é uma das bases do judaísmo e da nossa experiência histórica. Mesmo assim, o filho Chacham questiona: existem muitas Mitzvót que estão relacionadas com a saída do Egito. Por que precisamos dessa abundância de Mitzvót? Não bastaria apenas uma ou duas Mitzvót, que seriam simbólicas para recordar o acontecimento? Além disso, além de todas as muitas Mitzvót associadas à Festa de Pessach em geral, e à noite do Seder em particular, há outras dezenas de Mitzvót que a Torá identifica como sendo "Zecher LeIetziat Mitzraim" (em lembrança da saída do Egito). Por exemplo, as Mitzvót de Tefilin e de redimir o filho Primogênito são classificadas como "Zecher LeIetziat Mitzraim". É isso o que o filho Chacham questiona: por que todos esses testemunhos, decretos e ordenanças? É necessário tantos lembretes? O Sefer HaChinuch, um livro que explica as 613 Mitzvót da Torá, dirige ao seu filho exatamente esta pergunta. Na Mitsvá 16, que fala sobre a proibição de quebrar os ossos do Korban de Pessach, o autor explica o motivo dessa Mitzvá: na noite do Seder, precisamos nos sentir ricos e importantes, como reis e príncipes. Reis e príncipes não quebram os ossos quando comem carne. Tal comportamento caracteriza um pobre, alguém que raramente come carne e, quando tem a oportunidade, quer sugar até o último resquício de suco do osso quebrado. O Sefer HaChinuch escreve que, para sentir e demonstrar que somos homens livres e ricos, isto é, passarmos por uma experiência de liberdade, a Torá nos ordena a imitar tais práticas e não quebrar os ossos na noite do Seder. Então, em um ensinamento fundamental, o autor escreve ao filho: "Não pense que o número de Mitzvót relativos à saída do Egito é excessivo, e que uma ou duas Mitzvót rituais seriam suficientes para que nossos filhos e netos não esquecessem os eventos históricos da saída do Egito". Tal ideia, que é basicamente a questão do filho Chacham, é equivocada. "Escute isso, meu querido filho, pois lhe dará uma compreensão básica da razão de grande parte da Torá e muitas das Mitzvót: o homem é influenciado por suas ações". Explica o Rav Yssocher Frand que, enquanto o ditado popular diz "Você é o que você come", o Sefer HaChinuch está nos ensinando um conceito parecido: "Você é o que você faz", isto é, da maneira como você age, assim será o que você se tornará. Isso pode acontecer até mesmo em situações extremas. Por exemplo, o Sefer HaChinuch conta uma famosa parábola sobre um homem que era justo, gentil, compassivo e de bom coração. Por alguma razão, ele acabou sendo obrigado a trabalhar em uma profissão na qual precisava ser cruel. Se pudéssemos trazer esta parábola para os nossos dias, seria como alguém que teve problemas com a máfia e foi obrigado a trabalhar para eles como cobrador de dívidas. E assim o chefe da máfia diz para ele: "Você vai começar a quebrar as pernas das pessoas que não pagam as dívidas, ou vamos quebrar suas pernas!". Essa pessoa, sem outra opção, começou neste trabalho como um indivíduo bondoso e compassivo. Porém, após anos e anos e anos sendo um capanga da máfia, usando todos os tipos de técnicas violentas para cobrar as dívidas e extorquir dinheiro, essa pessoa inevitavelmente desenvolverá uma natureza cruel e se tornará alguém de coração duro. Você se torna o que você pratica de forma repetida. Você é o que você faz. Por outro lado, o Sefer HaChinuch escreve que até mesmo uma pessoa má e cruel que é forçada a trabalhar em uma profissão na qual deve ser gentil e generosa acabará se tornando uma pessoa compassiva. Segundo o Sefer Hachinuch, este é um dos principais significados das Mitzvót. Não basta apenas fazermos uma ou duas coisas, isso não nos influencia. Quanto mais você faz, mais você se torna. A ideia fundamental de cumprir Mitzvót é nos transformar em pessoas melhores. A Torá quer que haja uma impressão duradoura em nossas almas. Através do cumprimento das Mitzvót deixamos uma impressão. Essa impressão duradoura em nossas almas ocorre quando fazemos ações Divinamente ordenadas repetidas vezes. Portanto, se bebermos vinho, nos reclinarmos, não quebrarmos os ossos e fizermos o papel de homens ricos e livres, nos tornaremos como pessoas ricas, reis e príncipes. É por isso que não comemos a sobremesa depois do Afikoman. Queremos que o sabor da Matzá, que está representando o Korban Pessach, permaneça em nossas bocas. Queremos criar uma impressão duradoura das Mitzvót que cumprimos. Isto é o que dizemos ao filho Chacham. O desejo de ter uma impressão duradoura em nossas almas é um símbolo do que são as Mitzvót em geral. O objetivo das Mitzvót é que nos tornemos pessoas melhores. Somente atingimos esse objetivo fazendo coisas na prática. Quanto mais fazemos, melhor nos tornamos. Esta é, portanto, a razão dos testemunhos, decretos e ordenanças que Hashem, nosso D'us, ordenou. PESSACH KASHER VE SAMEACH R' Efraim Birbojm |
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