sexta-feira, 16 de agosto de 2013

SHABAT SHALOM M@IL - PARASHÁ KI TETSÊ 5773


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EDUCANDO NOSSOS FILHOS NOS DIAS DE HOJE - PARASHÁ KI TETSÊ 5773 (16 de agosto de 2013)

Era uma sexta-feira fria de inverno, e Alexandre foi com seu filho Guilherme para a Mikve (local de imersão ritual) da cidade, para fazer um mergulho de purificação antes do Shabat. Apesar de normalmente haver um sistema de aquecimento da água, naquele dia o sistema não estava funcionando e quem quisesse mergulhar na Mikve precisava de muita coragem para enfrentar o frio.

Mas Guilherme não era de desistir tão fácil e decidiu que entraria na água assim mesmo. Alexandre ficou esperando seu filho do lado de fora, já segurando uma toalha quentinha. Quando Guilherme entrou na água, estava tão fria que ele instintivamente gritou: “Aiaiai”. Mergulhou rapidamente 3 vezes e saiu da Mikve. Lá fora, seu pai rapidamente o enrolou com a toalha quentinha. Quando sentiu aquela sensação gostosa de calor, ele exclamou com alívio e prazer: “Ahhhhh”. Alexandre aproveitou a situação para ensinar a Guilherme uma importante lição de vida:

- Meu filho - disse Alexandre - aproveite este momento para aprender uma importante regra. Há uma maneira simples de saber se você está fazendo a coisa certa ou não. Se você faz algo que no início dizemos “Aiaiai” e no final dizemos “Ahhhhh”, isto é sinal de que você está fazendo a coisa certa. Mas se você começa com o “Ahhhh” e termina com o “Aiaiai”, é sinal de que você está provavelmente no caminho errado...”

Apesar de parecer uma piada, vemos estas palavras se cumprindo nos nossos dias. Aqueles que vivem de acordo com as Mitzvót da Torá começam com regras e limitações, mas acabam tendo uma vida mais harmônica e feliz em todas as áreas. Já aqueles que começam apenas buscando preencher seus prazeres, apesar de realmente os encontrarem no começo, depois acabam sofrendo em várias áreas da vida. Depressão, alta taxa de divórcios e delinquência juvenil são apenas alguns exemplos do preço que pagamos pela busca desenfreada de prazeres imediatos.

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No início da Parashá desta semana, Ki Tetsê, a Torá nos ensina sobre um assunto que desperta muitos questionamentos: o “Ben Sorer Umorê” (filho teimoso e rebelde), um jovem que não respeita os limites impostos pelos pais e começa a se afundar na vida, tornando-se um glutão e um beberrão, e chegando ao ponto de roubar os próprios pais para manter seus vícios. A Torá nos ensina que este jovem recebia pena de morte por seu comportamento inadequado. Mas vemos atualmente tantos jovens que não respeitam seus pais, e adolescentes que têm cada vez menos limites, será que o “Ben Sorer Umorê” não é apenas a descrição de um jovem normal, mas com problemas de conduta? Então por que uma punição tão grave?

Explicam nossos sábios que este jovem, com a idade próxima dos 14 anos, apesar de não ter cometido nenhum crime capital, demonstra estar entrando em um caminho de profunda e crescente queda espiritual. Seu comportamento decadente, como o absurdo de chegar a roubar dinheiro dos próprios pais para alimentar seus vícios, indica que ele futuramente será uma pessoa totalmente sem limites, que chegará até mesmo a matar para obter o que deseja. O Talmud (Sanhedrin 72a) ensina que o jovem não recebia pena de morte por sua condição atual, e sim por causa dos seus prováveis futuros atos. Por misericórdia, era melhor que ele morresse jovem, quando ainda era inocente, do que quando já fosse culpado por crimes graves como assassinato.

Mas este conceito se contradiz com outro ensinamento da Torá, descrito no Livro de Bereshit. Após Sara perceber o quanto Ishmael, filho de Avraham com sua escrava Hagar, era uma péssima influência para seu filho Yitzchak, ela pediu para que Avraham os expulsasse de casa. Para Avraham, expulsar seu próprio filho era uma decisão muito difícil, mas D’us confirmou que era o correto a se fazer. Hagar e Ishmael, que em pouco tempo de caminhada chegariam a alguma cidade povoada, se perderam no deserto e ficaram sem água. Ishmael ficou encostado em uma árvore, à beira da morte, e Hagar se afastou para não presenciar a morte do filho. Um milagre então aconteceu e um anjo revelou para Hagar uma fonte de água, de onde ela conseguiu encher seu cantil e salvar a vida de seu filho. Porém, há um Midrash (Torá Oral) que ensina que os anjos imploraram para que D’us não salvasse a vida de Ishmael, pois sabiam que dele sairia no futuro um povo que perseguiria e causaria muitos sofrimentos ao povo judeu. D’us respondeu aos anjos que a pessoa é julgada de acordo com o seu estado presente e não de acordo com o que ocorrerá no futuro.

Mas qual a diferença entre Ishmael, que foi julgado pelos seus atos presentes, e o “Ben Sorer Umorê”, que era julgado por seus atos futuros? Da mesma forma que o “Ben Sorer Umorê” já tinha desde cedo um comportamento inadequado, nossos sábios ensinam que também Ishmael já tinha desde cedo uma conduta muito ruim, envolvendo-se em idolatria, tentativa de assassinato e relações ilícitas. Então por que D’us julgou Ishmael de maneira tão leniente, enquanto o “Ben Sorer Umorê” é julgado de forma tão dura?

Além disso, o Talmud (Sanhedrian 71a) afirma que, por causa de todos os requisitos necessários para que um jovem se torne um “Ben Sorer Umorê”, nunca ocorreu e nunca ocorrerá um caso com este. Por que a Torá precisa nos ensinar que este filho “Ben Sorer Umorê” nunca existirá na prática? E se é uma lei que nunca será aplicada, então por que foi ensinada na Torá?

Explica o Rav Yohanan Zweig que, observando os pré-requisitos para um jovem se tornar um “Ben Sorer Umorê”, podemos responder todos os questionamentos. O Talmud traz uma lista destes pré-requisitos: os pais deste jovem devem ter vozes similares, não podem ter nenhum problema de fala, visão ou audição, não podem ter nenhum membro do corpo faltando e a cidade onde este jovem vive deve ter um Beit Din (Tribunal Rabínico). O que estes pré-requisitos todos têm em comum?

Embora o ambiente e as influências externas negativas não possam ser utilizados para isentar uma pessoa das responsabilidades por seus maus atos, certamente eles podem incliná-la a agir de maneira equivocada. Isto quer dizer que nem sempre o comportamento de uma pessoa é o reflexo de sua essência. E se o comportamento negativo da pessoa é fruto das influências do ambiente, então ainda há esperanças de que ele mudará, pois não necessariamente sua essência foi corrompida. Por outro lado, se o comportamento negativo de uma pessoa não é por influencia do ambiente, isto quer dizer que seu comportamento é o real reflexo de sua essência e, portanto, há poucas esperanças de que esta pessoa conseguirá mudar seus caminhos.

Segundo a Torá, para um jovem ser considerado um “Ben Sorer Umorê”, é necessário ter a certeza de que seus atos são reflexo total de sua verdadeira essência e não foram influenciados pelo ambiente. Quando o Talmud diz que as vozes dos seus pais devem ser semelhantes, isto significa que eles não podem transmitir ao filho, através de ensinamentos ou broncas, mensagens contraditórias. Os pais devem, antes de tudo, chegar a um acordo do que eles esperam do seu filho e devem transmitir isto de uma maneira clara. Além disso, os pais devem ser vistos pelo filho como autoridades legítimas e absolutas, que exigem o devido respeito do filho. Portanto, os pais devem ter os membros perfeitos e devem poder falar, enxergar e escutar, pois a falta de qualquer um destes itens pode impedir os pais de projetarem sobre o filho a figura de autoridade. E para ser um local saudável, a cidade deve ter um Beit Din, que transmita aos moradores o temor de cometer transgressões e os valores necessários para criar na cidade um ambiente onde educar os filhos seja algo positivo.

Portanto, quando o Talmud diz que nunca haverá um caso real de “Ben Sorer Umorê”, nossos sábios estão afirmando que é impossível existir um ambiente tão perfeito e utópico como este que não cause absolutamente nenhum efeito negativo sobre uma criança. Por isso nunca haverá uma criança, por pior que seja seu comportamento, cuja má índole seja reflexo apenas de seu interior corrompido.

Isto explica o comportamento misericordioso de D’us com Ishmael. Embora desde cedo ele tivesse um desvio grave de comportamento, se envolvendo com os piores tipos de transgressão, isto não refletia sua verdadeira essência. Ele foi fortemente influenciado por sua mãe, Hagar, que havia sido no passado uma princesa egípcia, uma idólatra que vinha de um povo completamente imoral. O crescimento de Ishmael e sua educação também ocorreram em um ambiente conturbado, de constante conflito entre Sara e Hagar. Isto explica porque Ishmael não é chamado, durante este período, pelo seu nome, e sim como “o filho da escrava” (Bereshit 21:10), ou simplesmente “o jovem” (Bereshit 21:12). O nome representa a essência da pessoa, e aquela não era a essência verdadeira de Ishmael, e sim o reflexo de um ambiente muito negativo. Isto permitiu com que D’us o julgasse de forma mais leniente, levando em consideração que sua verdadeira essência não estava completamente corrompida. E isto se confirmou no final de sua vida, quando Rashi, comentarista da Torá, afirma que Ishmael fez Teshuvá (se arrependeu por seus maus atos).

Mas ainda fica a pergunta mais intrigante: Se o Talmud afirma que um caso de “Ben Sorer Umorê” nunca acontecerá na prática, então para que a Torá nos ensinou estas leis? Para nos indicar qual o padrão perfeito para uma sociedade. Este padrão deve ser o modelo que devemos buscar implantar em nossa sociedade para tentarmos criar um ambiente saudável, onde poderemos criar nossos filhos com sucesso.

Deste ensinamento fica uma preciosa lição. Por que temos atualmente tantos jovens com problemas, que se envolvem desde cedo com os piores tipos de vícios? Pois os pais acreditam que mandando o filho para o colégio estão automaticamente fazendo a sua parte na educação dele. Mas isto é um grande equívoco, pois os colégios cumprem o objetivo de informar os alunos, não de formar. Um bom colégio é aquele que prepara o jovem para o vestibular, não aquele que prepara o jovem para a vida. Assim vemos não apenas jovens sem educação, mas também muitos profissionais desonestos e imorais. Aprendemos desde cedo que sucesso é conseguir preencher todos os nossos desejos, e fazemos isto mesmo que seja necessário passar por cima dos outros para atingir nosso objetivo. Por isso a cultura ocidental, com pouco mais de 200 anos de existência, já apresenta visíveis sinais de decadência, enquanto o judaísmo, com mais de 3 mil anos, continua vivo e estável.

A boa educação não vem da escola, vem de casa. A presença constante dos pais é um requisito fundamental para que os filhos recebam uma boa educação, principalmente na sociedade em que vivemos, onde o consumismo tornou-se a principal meta de vida. Se a criança aprende que o principal na vida é o que o dinheiro pode comprar, assim será seu comportamento por toda a vida. É obrigação dos pais ensinar que, antes de ser um engenheiro, médico ou advogado, a pessoa deve ser um “Mentch” (ser humano decente).

SHETIKATEV VETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM (Que sejamos inscritos e selados no Livro da Vida)

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm

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