quinta-feira, 5 de março de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PURIM 5769

BS"D

OLHE NAS ENTRELINHAS - PURIM 5769 (06 de março de 2009)

No 50º aniversário da morte de Iosef Vissarionovich Dzugashvili, mais conhecido como Joseph Stalin, o sanguinário ditador soviético, foi publicados nos Estados Unidos um livro chamado "Stalin's Last Crime", que traz a hipótese de que Stalin pode ter morrido envenenado. O líder soviético caiu desacordado após um jantar com com quatro membro do partido Politburo, em Blizhnaya, norte de Moscou, e agonizou durante alguns dias antes de morrer. E se ele realmente foi envenenado, como tudo indica, o principal suspeito seria Lavrenti P. Beria, o chefe da polícia secreta soviética.

O livro também conta a famosa história do "Complô dos médicos", uma falsa acusação de conspiração contra os médicos do Kremlin, na sua maioria judeus, que segundo Stalin planejavam matar os líderes comunistas para destruir a União Soviética. Em janeiro de 1953 Stalin denunciou publicamente o complô e acusou abertamente os judeus americanos, com o apoio dos Estados Unidos, de serem os mentores da conspiração.

Porém, além de relatar partes da história que são bastante conhecidas, o livro também revelou segredos que há pouco tempo atrás eram completamente desconhecidos pela grande maioria das pessoas. Em fevereiro de 1953, logo após Stalin ter denunciado publicamente que o "Complô dos médicos" era encabeçado por judeus, o Kremlin ordenou a construção de quatro campos de prisioneiros gigantescos, no Cazaquistão, na Sibéria e no Ártico norte. Era a preparação para um novo genocídio dirigido contra milhões de cidadãos soviéticos de ascendência judaica, que mal haviam se recuperado do duro golpe do Holocausto.

Porém, por uma intervenção Divina, esse novo holocausto felizmente nunca chegou a acontecer. Duas semanas após ter ordenado a construção dos campos de prisioneiros, Stalin foi ao jantar de Blizhnaya e, quatro dias depois, estava morto, com a idade de 73 anos.

É incrível ver como a história se repete, quantas vezes nossos inimigos se levantaram contra nosso povo para nos destruir, como tentou fazer Haman, mas nunca alcançaram seu objetivo. Enquanto o mundo ainda se recuperava dos horrores do Holocausto, um milagre salvava os judeus de uma nova tentativa de extermínio, e de uma forma tão oculta que a maioria das pessoas nunca ficou sabendo do grande perigo que correram.

E observando os detalhes poderemos notar algo fantástico, especialmente durante os dias que antecedem a festa de Purim, época repleta de "coincidências" felizes ao povo judeu. São nos detalhes que a mão de D'us se torna ainda mais evidente, justamente nas "entrelinhas" da história. Nikita Khrushchev, sucessor de Stalin, esteve presente no fatídico jantar do partido. Ele relatou que Stalin caiu desmaiado após o jantar, no qual havia bebido em excesso. O jantar terminou na madrugada do dia 1º de Março, data que, em 1953, correspondia ao dia 14 do mês de Adar no calendário judaico, também conhecido como Purim.

Coincidência?
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Na noite da próxima segunda-feira (09/03) começa a festa de Purim (em Jerusalém começa na noite de terça, 10/03). O Judaísmo nos ensina que o calendário é cíclico, isto é, todos anos nos reencontramos com as festas, e em cada nova volta temos a oportunidade de reviver e crescer a partir da mesma energia espiritual que influenciou aquele dia em algum momento anterior na história do povo judeu. E Purim, que não foge à regra, tem o seu próprio conjunto de oportunidades especiais.

O livro de Ester pode parecer apenas o relato de uma história que aconteceu com o nosso povo há mais de 2.000 anos atrás. Mas a Meguilá é muito mais do que isso, pois se prestarmos atenção à seqüência de eventos, começamos a notar algumas "coincidências" interessantes. Quando terminamos a Megilá, uma improvável e longa seqüência de eventos, que se conectam desde a primeira palavra do livro até a última, entendemos que na realidade nada foi coincidência. Esta é uma das principais lições de Purim, da mesma forma que fica óbvio no final da Meguilá que nada foi aleatório, que não existiu nenhuma coincidência, assim também nossa vida é tecida como parte de uma maravilhosa tapeçaria Divina, onde tudo acontece com precisão e exatidão milimétrica.

E em cada pequeno detalhe da Meguilá captamos mensagens que nos trazem ensinamentos importantes para a vida. Quando o rei Achashverosh deu plenos poderes para que Haman decretasse a "solução final" do povo judeu, Mordechai pediu, através de um mensageiro, para que a rainha Ester implorasse ao rei pela vida dos judeus. Mas a resposta de Ester foi desanimadora, pois ela não quis aceitar o pedido de Mordechai. Havia uma lei que, caso alguém fosse à sala do rei sem ter sido chamado, poderia receber imediatamente pena de morte, a menos que o rei estendesse seu cetro e permitisse a pessoa viver. Ester respondeu que no momento não poderia fazer nada pelo povo judeu, teria que aguardar ser chamada pelo rei, pois caso contrário não teria quase nenhuma chance de sair viva. Mordechai não se abalou com a recusa de Ester e novamente enviou-lhe uma mensagem, mas desta vez muito mais dura: "Mordechai mandou responder a Ester: 'Não imagine que, por estar na casa do rei, você vai escapar do destino de todos os outros judeus. Pois se você permanecer calada neste momento, o socorro e o alívio para os judeus virão de alguma outra fonte, e você e a casa de seu pai perecerão' " (Ester 4:12-14).

Que resposta foi esta que Mordechai mandou para Ester? Ele por acaso disse que Ester era a única esperança do povo judeu? Ele disse que ela deveria tentar alguma coisa, não importava quais seriam as consequências, mesmo que o risco fosse a morte dela? Obviamente que não. Ele estava dando um recado que tocou diretamente a alma de Ester. É como se ele estivesse dizendo: "Ester, se você não fizer isso pelo povo judeu, alguém vai fazer. Pois D'us não precisava de você para que o povo judeu possa ser salvo, afinal o povo judeu tem um objetivo a cumprir no mundo e D'us o salvará com ou sem a sua ajuda. A única pergunta, Ester, é esta: você vai optar por cumprir o seu papel de escrever a próxima página da história e ser contada entre aqueles que escolheram cumprir o papel pessoal para os quais foram criados, ou vai perder para sempre esta grande oportunidade? Ester, talvez a única razão de você ter se tornado rainha foi para este momento!"

Explica o rabino Chaim Levine que Mordechai estava ensinando para Ester, e também para nós, um princípio básico do judaísmo: não existem coincidências, tudo é parte de um grande plano Divino, e cada um de nós foi escolhido para cumprir um papel específico na história do mundo. Temos o livre arbítrio para escolher se queremos viver e alcançar o nosso potencial, deixando para sempre a nossa contribuição e o nosso nome escrito na história do mundo. D'us pode fazer sozinho os milagres acontecerem, e assim o fez em várias ocasiões da nossa história, como no caso da morte repentina de Stalin. Ensinam os nossos sábios que "muitos são os mensageiros de D'us", isto é, D'us tem o mundo inteiro à sua disposição para que Sua vontade se cumpra exatamente como Ele decretou. Mas muitas vezes D'us quer nos dar o mérito de participarmos como "sócios" no encaminhamento do mundo em direção ao seu propósito. A nossa escolha é aceitar nosso "papel" ou ignorá-lo.

Ester não precisou ouvir mais nada, ela entendeu bem o recado de Mordechai. Deste momento em diante Ester recebeu sobre si a responsabilidade de salvar o povo judeu. Ela pediu para Mordechai instruir o povo judeu a se arrepender e jejuar por 3 dias, aumentando assim os méritos do povo e auxiliando para que sua missão fosse um sucesso. Fora os preparativos espirituais, Ester também fez seu esforço nos assuntos materiais, arquitetando uma armadilha perfeita para derrubar para sempre Haman e cancelar seus decretos malignos. Os esforços deram certo, o povo judeu foi salvo, e Haman e sua família foram apagados da história. Ester cumpriu tão bem seu papel no mundo que um dos livros do Tanach (Bíblia judaica) leva o seu nome: Meguilat Ester.

Purim nos ensina muito mais do que apenas uma bela histórinha com final feliz. Nos ensina que, no contexto da nossa própria vida, todos nós somos como Ester. Em Purim nos recordamos da nossa responsabilidade de focar nossas energias no jogo da vida. Temos que olhar as ferramentas que D'us nos deu e canalizá-las no cumprimento do nosso papel, pois estas ferramentas e forças especiais foram colocadas dentro da alma de cada um de nós. Em Purim, temos que nos perguntar: Que diferenciais me foram dados por D'us? Como posso usar esses pontos fortes no contexto do meu trabalho espiritual? Como posso preencher o meu potencial da melhor maneira possível?

Os cabalistas dizem que cada pessoa tem seu nome escondido em algum lugar da Torá. A Torá é a maquete do mundo, e cada um tem uma participação neste projeto. As pessoas que realmente conseguirem viver em sintonia com a sua alma, que buscarem em cada instante atingir seu máximo potencial, vão saber exatamente onde encontrar o seu nome na Torá.

SHABAT SHALOM e PURIM SAMEACH

Rav Efraim Birbojm