sexta-feira, 3 de outubro de 2008

VIDUI (CONFISSÃO) - YOM KIPUR

BS"D

VIDUI (CONFISSÃO) - YOM KIPUR

1) ASHAMNU - NOS TORNAMOS CULPADOS ("Ashamá"=Culpabilidade; "Shmamá"=aridez, jogamos para cima nossas responsabilidades).

• Transgredimos contra D'us e trouxemos desolação espiritual.
• Transgredimos intencionalmente, para o nosso benefício.

2) BAGADNU - TRAÍMOS.

• Fomos  mal-agradecidos e desleais com D'us e com o próximo.
• Pagamos o bem com o mal.

3) GAZALNU - ROUBAMOS.

• Comemos sem fazer Brachá.
• Usamos bens de outros sem pagar.
• Não cumprimos nossas obrigações com as pessoas.
• Roubamos a privacidade e a dignidade das pessoas.
• Nos aproveitamos da ignorância dos outros.

4) DIBARNU DOFI - FALAMOS HIPOCRISIAS E LASHON HARÁ (Du pi = Duas bocas, isto é, pela frente falar bem, por trás falar mal; Dofi = Parede, isto é, falsidade, hipocrisia).

• Falamos mal de D'us, duvidando da Sua justiça.
• Falamos mal das pessoas e divulgamos seus erros.
• Falamos mal das pessoas por trás.

5) HEEVINU - FIZEMOS OUTROS TRANSGREDIREM ("Avon" = Transgressão).

• Influenciamos as pessoas para o mal com atos ou palavras.
• Pervertemos pessoas boas.

6) VEHIRSHANU - FIZEMOS OS OUTROS COMETEREM TRANSGRESSÕES ("Resha" = Transgressões premeditadas).

• Transformamos pessoas boas em Reshaim (pessoas que fazem o mal com premeditação, e não pela força do Ietzer).

7) ZADNU - TRANSGREDIMOS INTENCIONALMENTE.

• Transgredimos intencionalmente, e inventamos argumentos e filosofias para nos justificarmos, e com isso ficamos mais propensos a errar de novo (pior que "Resha").

8) CHAMASNU - EXTORQUIMOS, PEGAMOS COISAS QUE NÃO FORAM DADAS COM VONTADE ("Chamás" = tipo de roubo, pegar à força, mesmo pagando).

• Cometemos atos errados, mas não puníveis (ex: roubar menos de "Prutá", quantidade mínima para que o ato seja punível por roubo).
• Tiramos vantagem dos pobres e fracos.

9) TAFALNU SHEKER - NOS JUNTAMOS À MENTIRA.

• Não apenas vivemos na mentira, mas construímos mundos.
• Trouxemos falsidade ao nosso cotidiano.
• Acusamos falsamente outras pessoas, e para apoiar nossas mentiras, criamos mais mentiras.

10) IAATZNU RÁ - ACONSELHAMOS PARA O MAL.

• Transgredimos a proibição de "Lifnei Iver" (não colocar um obstáculo na frente de um cego).        
• Demos maus conselhos para o nosso proveito.
• Abusamos da confiança dos outros e os levamos a prejuízos ou transgressões.
• Não demos atenção aos problemas dos outros.

11) KIZAVNU - FOMOS ENGANOSOS (MENTIROSOS).

• "Mentirosos": grupo que não é recebido diante da Presença Divina.
• Fizemos promessas e não nos esforçamos para mantê-las.
• Falamos e não cumprimos, e não nos importamos.

12) LATSNU - ESCARNEAMOS (NÃO TIVEMOS ATITUDES SÉRIAS NA VIDA).

• "Palhaços": grupo que não é recebido diante da Presença Divina.
• Ridicularizamos pessoas honestas e justas.
• Tentamos encontrar  humor em tudo o que fazemos.
• Destruímos repreensões com piadas e fizemos a Teshuvá mais difícil.
• O escarneio leva à imoralidade sexual.

13) MARADNU - NOS REBELAMOS.

• Não tivemos "Emuná" (fé).
• Desafiamos a vontade de D'us.

14) NIATSNU - PROVOCAMOS.

• Desrespeitamos D'us e Suas Mitzvót.
• Fizemos Mitzvót com objetos roubados (por exemplo fazer Brachá sobre uma comida que não era nossa).

15) SARARNU - NOS AFASTAMOS.

• Ficamos indiferentes ao serviço de D'us.
• Deixamos de cumprir Mitzvót.
• Usamos o conforto e a prosperidade para nos afastar de D'us, ao invés de usar para servi-Lo melhor.

16) AVINU - NOS TORNAMOS PERVERTIDOS ("Taavót = Desejos).

• Transgredimos por causa de nossos cabeças pervertidas.
• Justificamos a imoralidade, a corrupção, a desonestidade.
• Nos tornamos, em nossas palavras e atitudes, rudes.

17) PASHANU - AGIMOS DE FORMA INTENCIONAL.

• Negamos a validade das Mitzvót.
• Deixamos de acreditar na Torá (mesmo uma pequena parte).

18) TSARARNU - FIZEMOS OS OUTROS SOFREREM.

• Causamos sofrimentos (perdas financeiras ou psicológicas, como por exemplo chamar o outro com apelidos maldosos).
• Odiamos uns aos outros.
• Não nos importamos com o sofrimento dos outros.

19) KISHINU OREF - FOMOS OBSTINADOS.

• Não mudamos os atos, mesmo depois de receber sofrimentos.
• Atribuímos nossas dificuldades ao acaso, não associamos nossos sofrimentos com nossas transgressões.

20) RASHANU - FOMOS MALVADOS.

• Cometemos atos que nos rotularam como "Reshaim" (malvados), tais como levantar a mão contra o próximo, roubar ou planejar transgressões.

21) SHICHATNU - CORROMPEMOS-NOS.

• Cometemos transgressões que corromperam nosso caráter, como arrogância, raiva, falta de caridade, imoralidade

22) TIAVNU - NOS TORNAMOS ABOMINÁVEIS.

• Transgredimos e nos degradamos a um ponto de nos tornar abomináveis aos olhos de D'us

23) TAINU - NOS AFASTAMOS.

• Por nossos maus atos, nos afastamos de D'us.
• Nos acostumamos com o erro, e tornamos a Teshuvá (retorno) mais difícil (e tudo por nossa culpa).

24) TITANU - VOCÊ NOS DEIXOU DESVIARMOS.

• Abusamos da nossa livre-escolha, nos afastamos e levamos os outros juntos.
• Medida por medida: nos afastamos, e D'us não nos impediu de cair.


SHABAT SHALOM MAIL - YOM KIPUR 5769

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EU NÃO FIZ NADA! – YOM KIPUR 5769 (03 de outubro de 2008)

"Um rico comerciante comprou um maravilhoso candelabro, feito de puro cristal e cravejado de pedras preciosas. O candelabro virou o grande orgulho da família, pois todos os convidados se admiravam com o seu esplendor. Como o candelabro era muito pesado, a única forma encontrada para prendê-lo foi amarrá-lo com uma corda e fazer um furo no forro da casa, para que a corda passasse pelo furo e a outra ponta pudesse ser fixada em uma roldana na parede do sótão.

Certo dia um homem muito pobre bateu na porta do rico comerciante. Suas roupas estavam imundas e completamente rasgadas. O dono da casa teve misericórdia daquele pobre homem, recebeu-o docemente e levou-o para o sótão, onde estavam guardadas muitas roupas em bom estado mas que não estavam sendo mais usadas. Deixou o homem à vontade para escolher o que quisesse, e saiu do sótão.

O pedinte escolheu algumas roupas e colocou-as em uma sacola. A sacola ficou muito cheia e o pobre procurou um pedaço de corda para fechá-la, mas não encontrou em nenhum lugar. Foi quando levantou os olhos e viu a corda que estava presa na roldana. Quis pedir permissão do dono da casa para pegar um pedaço, mas pensou "Que mal pode fazer se eu pegar apenas um pedacinho desta imensa corda?". Tirou do bolso seu canivete e cortou um pedaço da corda.

De repente, ecoou em toda a casa um terrível estrondo, e toda a família correu para o sótão. Quando viram o homem com um pedaço de corda na mão, logo entenderam o que havia acontecido. Ele havia soltado a corda que segurava o candelabro, e este havia se espatifado no chão. O dono da casa, que antes havia sido muito receptivo, gritou com o pedinte:

- Você viu o que você fez, seu ignorante?

- Mas eu não fiz nada! – gritou o pedinte, ofendido – Todo este escândalo só por causa de 10 centímetros de corda? Se for este o problema, eu devolvo!

Vendo que o mendigo realmente era tão ignorante que nem mesmo havia entendido o que aconteceu, o homem se acalmou e explicou:

- Sim, a única coisa que você fez foi pegar um pequeno pedaço de corda. Mas o que você não sabia é que um valiosíssimo candelabro de pedras preciosas, no valor de alguns milhares de dólares, estava justamente sendo sustentado pela corda que você cortou. O problema não são os 10 centímetros de corda, e sim o candelabro que, graças ao seu "pequeno" ato de cortar a corda, está agora espatifado no chão da sala, sem nenhuma chance de ser consertado."

Frequentemente cometemos enganos na vida, e muitas vezes consideramos serem apenas "pequenas" falhas, mas que na verdade podem estar causando catástrofes espirituais. Como ensina o Pirkei Avót (Ética dos Patriarcas): "Uma Mitzvá traz outra Mitzvá, mas uma má ação traz outra má ação", isto é, cada ato que fazemos na vida, por menor que seja, pode causar reações em cadeia. Qualquer ato, por mais insignificante que possa parecer, pode estar criando ou destruindo mundos espirituais.
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Na próxima quarta-feira de noite (08 de outubro) começa Yom Kipur, o Dia do Perdão, dia em que todos os nossos erros podem ser perdoados e apagados. Mas se podemos nos arrepender de nossos erros todos os dias, por que D'us fixou o dia de Yom Kipur como o dia do perdão? Além disso, por ser um dia de rezas e jejum, muitos vêem Yom Kipur como um dia triste. Como mencionamos em Yom Kipur muitos dos nossos erros cometidos durante o ano, sentimos que Yom Kipur tem um caráter negativo. Mas o Talmud diz justamente o contrário, que não há dia tão feliz para o povo judeu como Yom Kipur. Por que?

Em cada uma das festas judaicas não apenas recordamos, mas também revivemos uma certa influência espiritual que existe naquele momento. Para entender o quanto Yom Kipur é um dia feliz, precisamos saber exatamente qual é a fonte deste dia na Torá. Moshé Rabeinu subiu no Monte Sinai para receber a Torá no dia 6 do mês judaico de Sivan, e permaneceu lá por 40 dias. Ele desceu, trazendo as tábuas com os 10 mandamentos, no dia 17 do mês de Tamuz, dia fatídico em que o povo judeu cometeu o terrível pecado do bezerro de ouro. Moshé, ao ver o bezerro de ouro, quebrou as tábuas e imediatamente começou a rezar pelo povo judeu, pois D'us queria destruir todo o povo. Ele subiu novamente no Monte Sinai no dia 18 do mês de Tamuz e passou mais quarenta dias rezando e suplicando por misericórdia, e desceu no dia 29 do mês de Av. No dia primeiro do mês de Elul Moshé subiu pela terceira vez no Monte Sinai, levando as Segundas Tábuas já esculpidas para que D'us escrevesse nelas, e passou mais 40 dias recebendo novamente a Torá. Finalmente no dia 10 de Tishrei D'us perdoou completamente o povo judeu e permitiu que Moshé descesse com a Torá e a entregasse ao povo judeu. E é essa influência espiritual, de termos pecado, nos arrependido e termos sido completamente perdoados, que se repete todos os anos no dia 10 do mês de Tishrei, Yom Kipur.

Explicam nossos sábios que em Rosh Hashaná são abertos 3 livros: Os Tzadikim são imediatamente inscritos para a Vida, os Reshaim (malvados) são imediatamente inscritos para a morte, e os Beinonim (intermediários, cujas boas ações e más ações estão equilibradas) ficam com o julgamento pendente até Yom Kipur. Muitas vezes nos consideramos Tzadikim, afinal, o que fizemos de mal? Não matamos, não roubamos, na medida do possível tentamos ser boas pessoas. Muitos sequer se preocupam com Yom Kipur, imaginam que tem muito pouco para serem perdoados.

Mas se observarmos o texto do Vidui, a confissão que fazemos diante de D'us em todas as rezas de Yom Kipur, começamos a perceber que talvez nossos "pequenos erros" não sejam assim tão inocentes quanto pensávamos. Pois assim diz David Hamelech (Rei David) nos Salmos: "se afaste do mal e faça o bem". Não é suficiente somente não fazer o mal, temos que ativamente fazer o bem para os outros para sermos considerados boas pessoas, e infelizmente em nossas vidas corridas não sobra muito tempo para pensar em mais ninguém fora nós mesmos. Além disso, será que realmente não fazemos mal a ninguém? O Vidui traz alguns exemplos de atitudes negativas que todos nós, com maior ou menor intensidade, cometemos durante o ano inteiro: Fomos mal agradecidos, Influenciamos mal outras pessoas, Não nos preocupamos com os problemas e com os sofrimentos dos outros, Falamos mal do próximo, Causamos sofrimentos, Fomos arrogantes, Explodimos de raiva por motivos banais, etc. Se realmente sentássemos para escrever todas as "pequenas" transgressões que fizemos durante o ano, o tempo terminaria mas a nossa lista não.

Portanto, um das características mais importantes na preparação para Yom Kipur é a conscientização de que nós realmente erramos, que nossos erros têm graves consequências espirituais, e por isso precisamos nos arrepender do que fizemos. Como nos ensina a Torá: "E se acontecer de alguém escutar as palavras desta maldição e ele se abençoar no seu coração dizendo: 'Terei paz, ainda que eu ande conforme o parecer do meu coração', acrescentando água à sede, este D'us não perdoará..." (Devarim 29:18,19). O pecado do bezerro de ouro nos ensinou que, não importa a gravidade dos erros que fizemos durante o ano, todo aquele que se arrepende de verdade é perdoado. Mas aquele que diz "Estou tranquilo, afinal eu não fiz nada", este não tem perdão em Yom Kipur. Pois o pior cego é aquele que não quer ver.

A Teshuvá, isto é, a possibilidade de nós errarmos e, ao nos arrependermos, nosso erro ser apagado como se nunca houvesse existido, é um grande milagre e uma grande bondade. Quando D'us vê que alguém realmente quer fazer Teshuvá e voltar aos caminhos corretos, Ele remove as impurezas do coração da pessoas, dando mais força para o arrependimento dela. Ele limpa nossos corações para que possamos nos aproximar Dele. E por mais que durante todo o ano as portas da Teshuvá nunca se fecham, em Yom Kipur elas estão completamente escancaradas. Portanto, Yom Kipur não é um dia de depressão, é um dia de alegria. É um dia em que podemos dizer para D'us "Sim, erramos, mas queremos e podemos mudar".

Estamos nos "Asseret Iemei Teshuvá", os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, quando cada ato nosso pesa muito mais. Que possamos aproveitar cada instante para nos prepararmos para o presente que é o dia de Yom Kipur, e que possamos ser todos selados para um ano bom e doce.

SHABAT SHALOM e TZOM KAL (Que o jejum de Yom Kipur seja leve para todos nós).

"SHETECHATEM BESSEFER CHAIM TOVIM" (QUE SEJAMOS SELADOS NO LIVRO DA VIDA).

Rav Efraim Birbojm