sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAERÁ 5769

BS"D

VIVER SEM SENTIDO DÓI - PARASHÁ VAERÁ 5769 (23 de janeiro de 2009)

Por muitos anos os judeus da Rússia foram proibidos de cumprir qualquer Mitzvá da Torá, sob a ameaça de serem deportados para a Sibéria. Muitos arriscaram suas vidas e, quando descobertos pelas autoridades russas, foram levados à Sibéria para trabalhos forçados sob um frio muito rigoroso. Muitos não aguentavam a rigorosidade do inverno e do trabalho, e morriam.

Apesar de todas as dificuldades, um judeu que sobreviveu a 5 anos de trabalhos forçados na Sibéria conta que o pior sofrimento da sua vida não foi por causa dos trabalhos forçados, nem dos duros castigos, nem do rigoroso frio. O pior sofrimento de sua vida foi o dia da sua libertação.

Por 5 anos ele havia passado muitas horas do seu dia girando uma pesada manivela, acreditando que estava moendo cereais. Apesar das terríveis condições, ele se sentia útil e isso lhe trazia um pouco de conforto. Mas os russos fizeram questão de, no momento de sua liberação, levá-lo até a sala ao lado e mostrar que a manivela não estava conectada a absolutamente nada.

A dor de saber que seus 5 últimos anos haviam sido sem propósito nenhum foi maior do que qualquer outra dor que já havia sentido na sua vida... (História real)
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Na Parashá da semana passada, Moshé foi pedir ao faraó para que ele libertasse o povo judeu, mas ao invés disso o faraó aumentou ainda mais o trabalho e o sofrimento dos judeus. E na Parashá desta semana, Vaerá, D'us fala para Moshé pedir novamente ao faraó para que ele deixasse o povo judeu sair. Mas Moshé questionou a ordem de D'us, dizendo que o faraó já havia se mostrado decidido a não libertar os judeus antes, por que mudaria de idéia diante de um novo pedido? Então D'us instruiu Moshé a tentar convencer o faraó fazendo diante dele um milagre: jogar sua vara no chão para que ela se transformasse em uma cobra.

Para nós talvez este sinal Divino teria sido algo impressionante. Mas a Torá diz que não impressionou nem um pouco o faraó. Ele imediatamente chamou seus magos, que prontamente também transformaram varas em cobras. A pergunta fica ainda mais forte segundo o Midrash (parte da Torá Oral), que nos ensina que os egípcios conheciam tanto de magia negra que mesmo crianças de quatro anos facilmente transformavam varas em cobras. Então por que D'us pediu para que Moshé fizesse este milagre diante do faraó?

Explica o livro "Lekach Tov" que a intenção de D'us não era impressionar o faraó mostrando que Ele podia controlar a natureza, isso Ele fez através das 10 pragas. Na verdade D'us estava transmitindo ao faraó uma mensagem, Ele estava revelando ao faraó o verdadeiro motivo pelo qual os egípcios seriam tão duramente castigados com as 10 pragas e com o afogamento no Mar Vermelho. Que mensagem era esta?

Diz o Rambam (Maimônides) que D'us já havia decretado ao povo judeu a escravidão, e se os egípcios tivessem escravizado os judeus apenas por seus interesses, como qualquer outro Império que, ao se expandir, escraviza outros povos visando território, impostos e mão-de-obra, eles não teriam sido punidos por D'us, pois teriam se comportado como uma vara, cujo golpe não é mais forte do que a força utilizada pela mão que a segura para golpear. Mas quando D'us fez com que a vara de Moshé se transformasse em uma cobra, Ele estava avisando que o duro castigo viria pois os egípcios haviam escolhido se comportar como uma cobra, isto é, eles haviam se comportado de maneira cruel, causando muito mais sofrimento do que havia sido inicialmente decretado por D'us ao povo judeu. Os egípcios chegaram ao ponto de escravizar e maltratar os judeus mesmo sem receber nada em troca, revelando requintes de crueldade.

Um dos maiores exemplos da crueldade dos egípcios foi a construção de duas cidades, Pitom e Ramsés, executada pelos judeus. Apesar de aparentemente os egípcios estarem interessados na mão-de-obra dos judeus para o seu benefício, o Talmud nos ensina que estas duas cidades foram construídas sobre areia movediça, e após algum tempo de trabalho tudo o que havia sido construído desmoronava, obrigado-os a recomeçar o trabalho do zero sabendo que tudo o que construíssem voltaria a cair em um futuro próximo. A maldade egípcia era tanta que o único motivo da escravidão foi infernizar a vida dos judeus, e os egípcios já sabiam que não há sofrimento maior para o ser humano do que saber que não há nenhum sentido no que ele faz na vida.

A humanidade se confronta com o problema da falta de sentido na vida há milênios. Os gregos também já conheciam este conceito e utilizaram-no em sua mitologia. Sísifo, um homem que enfureceu os deuses gregos, recebeu um castigo eterno e terrível: todos os dias ele era obrigado a rolar uma enorme e pesada pedra até o topo de uma montanha, e na manhã seguinte a pedra era derrubada para que ele recomeçasse o trabalho. Isto mostra que mesmo os gregos já entendiam que uma das piores punições possíveis para um ser humano é dar-lhe uma vida sem nenhum propósito.

Explica Viktor Frankel, o psiquiatra criador da "Logoterapia" (terapia de pessoas depressivas através da busca de um sentido para a vida), que a busca do homem por significado é a motivação primária de sua vida, e não uma racionalização secundária. Por que vivemos no "Século da depressão"? Pois o slogan da nossa geração é "Não importa para onde você vai, aproveite a viagem". Infelizmente a maioria das pessoas vive uma vida completamente sem sentido. Levantamos, vamos ao escritório ou à faculdade, trabalhamos, almoçamos, trabalhamos, voltamos para casa, comemos e dormimos. Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado, tudo no mesmo ritmo, sempre constante. Não sabemos onde queremos chegar e raramente paramos para pensar nisso.

Neste ponto o judaísmo nos ajuda muito, pois as Mitzvót servem como placas na estrada, nos indicando exatamente onde estamos, qual o caminho correto e onde precisamos chegar. O judaísmo nos dá estabilidade interna ao nos ensinar que a vida é significativa e nossas escolhas realmente importam e fazem a diferença. O importante não é apenas a meta final, cada pequeno ato do cotidiano faz parte do caminho e da nossa construção espiritual para a eternidade.

Portanto, conclui Viktor Frankel, tão vital quanto respirar, comer e dormir, todo ser humano precisa saber que sua existência importa. O judaísmo concorda.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm