sexta-feira, 8 de agosto de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - TISHÁ BE AV 5768

BS"D

POR QUE CHORAR? – TISHÁ BE AV 5768 (08 de agosto de 2008)

Atualmente viajar para Israel e visitar o Kotel (Muro das Lamentações) é um ato normal para milhares de judeus do mundo inteiro. Mas nem sempre foi assim. Por muitos anos Jerusalém esteve nas mãos dos árabes, e ficamos proibidos de visitar o Kotel, a única parte remanescente do nosso Templo Sagrado.

A história recente de Israel foi marcada por momentos dramáticos de luta e guerra, onde os judeus, sempre em desvantagem, conseguiram vitórias milagrosas contra seus vizinhos árabes. Foi o que ocorreu na Guerra dos 6 dias, em 1967, quando Israel lutou sozinho contra Egito, Jordânia, Síria, Iraque, Kuweit, Arábia Saudita, Argélia e Sudão, e venceu. E de todas as lembranças memoráveis, talvez o momento mais emocionante, eternizado em fotos e filmes, foi quando um grupo de paraquedistas israelenses conseguiu capturar a Cidade Velha de Jerusalém e chegar até o Kotel.

Entre os soldados que foram os primeiros a chegarem ao Kotel estavam muitos jovens religiosos que, tomados pela imensa emoção, choravam sem parar, com a cabeça encostada no Muro. Os soldados não-religiosos ficaram afastados, vendo aquela cena sem entender muito bem o que estava acontecendo. Um deles, de repente, começou a chorar. Seu amigo perguntou, curioso:

- Ei, por que você está chorando?

O jovem rapaz, ainda chorando, respondeu:

- Eu estou chorando por ver todas estas pessoas chorando e não saber nem porque eu deveria estar chorando.
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Na noite deste Sábado, 09 de agosto, revivemos o triste dia de Tishá Be Av, data na qual nossos dois Beit-Hamikdash (Templos Sagrados) foram destruídos. É um dia de jejum, e nos comportamos como enlutados, sentando no chão e recitando as rezas em tom de choro. Mas qual a razão de chorar por algo que ocorreu há mais de 2000 anos?

O Beit-Hamikdash foi, e ainda é, um dos conceitos mais básicos e centrais do judaísmo. Uma das 19 Brachot existentes na Amidá (reza silenciosa, a parte central das 3 rezas diárias) é justamente para pedir para D'us a sua reconstrução. Nossos sábios ensinam que o Beit-Hamikdash deveria ser uma das nossas principais preocupações, e que deveríamos sentir a sua falta em cada momento. Mas para a grande maioria de nós não é assim. Talvez muitos de nós nem saiba porque deveríamos chorar em Tishá be Av. Por que isso acontece?

Nossa vida, em muitos momentos, é boa e confortável. Nós não sentimos que está faltando algo. Nós acreditamos na ilusão do mundo físico, e imaginamos que a vida é boa como ela é. Vivemos anestesiados e alienados da vida real que poderíamos viver.

Mas a verdade é que, apesar de todas as coisas boas que temos na vida, lá no fundo cada um de nós sente que algo está faltando. Algumas vezes isto se manifesta na confusão que temos sobre o propósito da vida, outras vezes na decepção de sentirmos que não atingimos nosso potencial, ou até mesmo naquela estranha sensação de que a vida poderia ser mais do que ela é. Quem nunca escutou sobre a "Crise da meia-idade" ou sobre os altos índices de depressão que atinge velhos e jovens, homens e mulheres? Pessoas ricas, bonitas e sociáveis se afundam em terríveis depressões. O que falta para elas?

Há cerca de 2000 anos atrás nós tínhamos o nosso Templo em Jerusalém, que constantemente nos lembrava quem somos, quais são as nossas prioridades e para onde estamos indo. Era nossa âncora em um mundo escuro e tempestuoso. O Templo não era apenas uma construção bonita, era a manifestação física da nossa conexão com D'us, como diz o versículo "Construam para Mim um Templo, e Eu morarei dentro de vocês". Não está escrito "dentro dele", e sim "dentro de vocês", mostrando que a construção do Templo significou, para cada judeu, uma real conexão com D'us. Nos dias do Beit-Hamikdash a presença de D'us e a existência da espiritualidade eram evidentes, e o ateísmo era uma grande piada. As pessoas podiam ir para Jerusalém e literalmente sentir Sua presença. Havia claridade e auto-estima, pois as pessoas conseguiam entender que haviam sido cridas à imagem e semelhança de D'us. As pessoas viviam vidas com propósito, com o entendimento de que tinham um objetivo a alcançar.

Quando o Beit-Hamikdash foi destruído, nós perdemos tudo o que tínhamos. A base de toda a alienação e baixa auto-estima que vemos atualmente no mundo está enraizado na destruição do nosso Beit-Hamikdash. Tishá be Av vem para contrastar a maneira como vivemos e a maneira como poderíamos viver. O Kotel é chamado "Muro das Lamentações" pois, mesmo passados mais de 2000 anos, nós ainda choramos e lamentamos tudo o que perdemos com a destruição do nosso Beit-Hamikdash.

D'us não espera que consigamos atingir imediatamente elevados níveis espirituais. Mas isso também não nos exime de tentar. Se nós não sentirmos a falta do Beit-Hamikdash em nossas vidas, então não há mais esperança de reconstruí-lo. Portanto, se neste Tishá be Av não conseguirmos chorar pela falta do nosso Beit-Hamikdash, que possamos ao menos chorar pelo fato de não sentirmos vontade de chorar.

"Desde o dia em que o Beit-Hamikdash foi destruído, nunca mais houve um dia em que o céu esteve perfeitamente claro" (Talmud Brachót 59)

SHABAT SHALOM e um TZOM KAL (que seja um jejum leve para todos)

Rav Efraim Birbojm