sexta-feira, 18 de julho de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ PINCHÁS 5768

BS"D

O DOTE - PARASHÁ PINCHÁS 5768 (18 de julho de 2008)

"Havia um rei muito rico, que tinha um filho. E por ser filho único, foi criado com as coisas mais finas do reinado, se tornando uma pessoa mimada e conectada apenas aos prazeres materiais. Como sempre havia sido sustentado pelo pai, ele nunca se interessou em aprender nenhuma profissão, e na escola era um péssimo aluno, pois achava que nunca precisaria usar todo aquele conhecimento para nada. Quando chegou em idade de casar, o rei escolheu para ele uma boa moça, e deu para ele como dote uma quantia muito grande de dinheiro. Além disso, por muitos anos ele sustentou toda a família do filho. Um dia, o rei chamou seu filho para uma conversa séria, e assim falou para ele:

- Filho, por muitos anos eu tenho te sustentado, e até mesmo a comida que chega na sua mesa sou eu quem paga. Chegou o momento de você receber sobre si a responsabilidade de sustentar uma família. Você tem o dinheiro do dote que eu te dei no momento em que se casou, pegue este dinheiro e vá para a cidade, pois amanhã começa a grande feira anual. Compre mercadorias e revenda aqui no nosso reinado, e com o lucro comece o seu próprio negócio.

O filho ficou um pouco assustado, afinal, nunca tinha pensado por si mesmo, sempre seu pai havia feito tudo por ele. Mas como ele viu que o rei estava irredutível, pegou o dinheiro e foi para a cidade. Chegou na feira e viu centenas de barracas abarrotadas de mercadorias, e seus olhos percorriam todas as barracas em busca de algum objeto que ele pudesse comprar. Seus olhos pararam em uma barraca que continha alguns objetos dourados brilhantes, e ele teve certeza de que eram objetos de ouro. Aproximou-se do vendedor e perguntou:

- Quanto custam estes objetos de ouro?

O vendedor viu que se tratava de um grande ignorante, e quis aproveitar a oportunidade para enganá-lo:

- Estes objetos são de ouro puro. São objetos muito valiosos, com um preço muito caro. Porém, hoje é o seu dia de sorte, pois estou precisando urgentemente de dinheiro vivo, e estou disposto a vender para você pela metade do preço.

O rapaz gastou todo o dinheiro naqueles objetos e voltou para casa, contente pelos bons negócios que havia feito. O rei chamou-o e pediu para ver a mercadoria que ele havia comprado. O rapaz, com um grande sorriso, mostrou os objetos e falou que, apesar de serem de ouro puro, haviam custado a metade do preço. O rei, pegando um dos objetos na mão, percebeu rapidamente que eram simples vasilhas de madeira pintadas de tinta dourada, e explodiu de raiva:

- Seu ignorante, nestes porcarias sem valor você desperdiçou todo o dinheiro do dote que eu te dei? Você não viu que são feitos de madeira de pior qualidade e pintados com tinta dourada?

Como castigo, o rei mandou dar algumas chicotadas no filho, para que ele nunca mais esquecesse a lição e nunca mais voltasse a cometer o mesmo erro. Mas mais irritado ainda ficou o rei quando soube que o vendedor havia aproveitado da ignorância do seu filho para roubá-lo. Mandou os guardas do palácio buscarem o vendedor, e ele foi enforcado em praça pública, como uma demonstração de como o rei era rigoroso com aqueles que enganavam os outros"

Explica o Chafetz Chaim que nós também somos os filhos do Rei, e recebemos um dote valiosíssimo, os nossos muitos anos de vida, que devem ser utilizados neste mundo para que possamos adquirir um bem ainda mais precioso: a nossa vida eterna. Como se sentirá nosso Pai se voltarmos para casa e dissermos que utilizamos todo o nosso tempo apenas na busca de prazeres materiais? E mais ainda, como o Rei tratará aqueles que deliberadamente desviam as pessoas dos caminhos corretos?
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Na Parashá da semana passada, Balak, Bilam tentou por três vezes amaldiçoar o povo judeu, mas D'us interviu e transformou as maldições em bençãos. Bilam não desistiu, pois entendeu que a proteção do povo judeu vinha de seus méritos espirituais, e a única maneira de vencê-lo seria fazendo os judeus pecarem. Ele aconselhou Balak, o rei de Moav, a utilizar as mulheres do seu povo para seduzir os judeus e levá-los à imoralidade. O povo de Moav aceitou o conselho de Bilam e, junto com o povo de Midian, prostituíram suas próprias filhas para fazer o povo judeu pecar. O resultado foi desastroso, pois muitos judeus se corromperam moralmente, chegando até mesmo a fazer idolatria. Uma terrível praga atacou os judeus que haviam pecado, matando 24 mil pessoas.

E a Parashá desta semana, Pinchás, começa nos contando sobre o comando de D'us para guerrear contra o povo de Midian, em vingança pelo que eles nos haviam causado. Mas por que somente Midian foi atacado, e Moav não? Pois Moav agiu por medo, enquanto Midian agiu simplesmente por ódio aos judeus.

Explica o Midrash (parte da Torá Oral) que esta guerra foi diferente, em três detalhes, das outras guerras que o povo judeu travou contra seus inimigos. Em todas as guerras sempre era oferecido, inicialmente, a oportunidade da paz, e uma advertência era feita antes do ataque, mas contra Midian a paz não foi oferecida e o ataque foi feito sem nenhuma advertência. Além disso, sempre que o povo judeu atacava um outro povo, o cerco era feito apenas por 3 lados, deixando um lado aberto caso os habitantes quisessem fugir, mas contra Midian o cerco foi fechado nos 4 lados. E finalmente a proibição de derrubar as árvore frutífera durante uma guerra não se aplicou na guerra contra Midian. Mas por que D'us foi muito mais duro com Midian do que com outros povos, se outros povos tentaram nos exterminar, enquanto Midian apenas nos fez cometer transgressões?

Deste episódio aprendemos uma importante regra espiritual: pior é aquele que desvia uma pessoa do caminho correto do que aquele que mata uma pessoa. Pois aquele que mata tira da pessoa seu Olam Hazé (vida neste mundo), enquanto que aquele que a desvia tira seu Olam Habá (vida no Mundo Vindouro). Este foi a diferença na guerra contra Midian, pois enquanto os outros povos tentaram destruir nossos corpos, os midianitas tentaram destruir nossas almas.

Porém, o que mais nos surpreende é que várias vezes a ameaça de destruição espiritual veio de dentro do nosso próprio povo. Um exemplo foram os milhares de judeus que se afastaram do judaísmo por causa de falsos Mashiach que apareceram em vários momentos da nossa história, sendo o mais célebre de todos um homem chamado Shabtai Tzvi, que viveu no Império Otomano no século XVII. Ele convenceu muitos judeus de que era o Mashiach, mas sob ameaça do Sultão ele se converteu ao islamismo, fazendo com que muitos judeus seguissem o seu caminho.

Mas talvez nada tenha sido tão mortal para o judaísmo como as idéias de Moshé Mendelson, um judeu alemão que decidiu "reformar" as leis espirituais eternas que D'us havia entregado no Monte Sinai, com o pretexto de "atualizá-las". A consequência do seu trabalho foi uma assimilação em larga escala, levando à conversão de mais de 250 mil judeus ao cristianismo e ao incentivo dos casamentos mistos. Seu próprio neto, Félix Mendelson, que compôs a famosa "Marcha Nupcial", já não era mais judeu. Os Sidurim (livros de reza) na Alemanha foram alterados, ao invés do milenar "no próximo ano em Jerusalém'', foi escrito "no próximo ano em Berlim".

Até hoje observamos a diminuição do povo judeu, causado pelo alto índice de assimilação, herança destes movimentos que tentaram e continuam tentando acabar com a identidade e com a individualidade do povo judeu, como a célebre frase de Moshe Mendelson "Seja um bom judeu em casa, mas um bom alemão na rua". Estes movimentos levaram uma grande parte do povo judeu a abandonar as Mitzvót e a transformar a Torá em uma peça de museu, causando uma morte espiritual silenciosa. Pois após séculos de anti-semitismo, o povo judeu provou que pode resistir à qualquer nível de perseguição. Somente a uma coisa o povo judeu não pode resistir: à ignorância.

SHABAT SHALOM

Rav Efraim Birbojm