sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

SHABAT SHALOM MAIL - CHÁNUKA 5769

BS"D

A VERDADEIRA RIQUEZA - CHÁNUKA 5769 (19 de dezembro de 2008)

"Em uma aldeia próxima de Cracóvia, na Polônia, morava um camponês muito pobre chamado Itzik, que tinha uma vida muito pacata e sem novidades. Mas algo aconteceu que mudou completamente sua vida. Ele começou a ter um sonho estranho, que se repetia várias vezes. No sonho ele via que sob uma certa ponte de Praga estava enterrado um enorme tesouro, que pertenceria a quem o desenterrasse. Nas primeiras vezes ele não deu importância ao sonho, considerando-o inclusive absurdo, mas após inúmeras repetições, começou a levar a sério. Como poderia ele, que não tinha um centavo, viajar até Praga? A idéia não lhe dava sossego, e apesar de sua esposa insistir para que ele tirasse aquela idéia maluca da cabeça, ele decidiu que daria um jeito de ir até Praga para encontrar o tesouro. Juntou algumas míseras provisões e partiu.

Quando Itzik tinha sorte, viajava de carona em algum veículo que passava. Caso contrário ele caminhava, mendigando restos de comida em hospedarias pelo caminho e dormindo sob as árvores. Assim, depois de muitas semanas, Itzik chegou em Praga e procurou a ponte que aparecia no seu sonho. Encontrou-a e imediatamente começou a cavar. Porém, para sua infelicidade, naquele momento estava passando por ali um policial que, vendo sua atitude suspeita, se aproximou gritando:

- Ei, o que você está fazendo? O que você deseja aqui?

Itzik pensou em inventar alguma mentira, mas sabia que não seria acreditado. Ele não teve outra solução a não ser simplesmente contar toda a verdade. Ele descreveu o seu sonho ao policial e contou detalhes de todas as semanas de esforço e sofrimento para conseguir chegar até Praga. O policial começou a rir:

- Seu tolo, por causa de um sonho bobo você fez esta longa viagem? Bem, eu também tenho tido um sonho repetitivo. Tenho sonhado que em uma pequena aldeia perto de Cracóvia existe uma casinha de madeira, que pertence a um camponês chamado Itzik, e debaixo desta casinha está enterrado um imenso tesouro. Você acha que eu gastaria meu precioso tempo e o meu dinheiro por causa de um sonho bobo desses?

Ao escutar aquelas palavras, Itzik tremeu. Arrumou suas coisas e voltou imediatamente para casa. Ao escavar o chão da sua casa, descobriu um imenso tesouro".

Muitos procuram a maior riqueza de todas, a felicidade, em lugares distantes. Gastam uma energia enorme procurando-a no mundo material. "Quando tiver isso, serei feliz". Mal sabem que a felicidade que buscam se encontra dentro delas mesmas, em suas almas. Não há necessidade de percorrer longas distâncias, pois ela está ali, ao alcance de todos, dentro de cada um de nós.
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Na noite do próximo Domingo (21 de dezembro) acenderemos a primeira vela de Chánuka, revivendo a vitória militar e ideológica contra os gregos, na época do Segundo Templo. Nossos sábios explicam que não foi apenas uma vitória na batalha, foi o fim de um dos exílios do povo judeu, o exílio grego.

A palavra exílio nos lembra da idéia de expulsão, de ser retirado da nossa terra e ser levado para outro lugar. Mas se estudarmos o período de dominação grega, o povo judeu viveu em Israel e nunca houve nenhuma tentativa de nos tirar de lá. Então por que os nossos sábios chamam este período de "Exílio Grego"?

A resposta está nos primeiros versículos da Torá: "No princípio D'us criou os céus e a terra. E a Terra estava desolada e vazia, e havia escuridão sobre a face do abismo, e o espírito de D'us pairava sobre a face das águas. E disse D'us: "Haja luz", e houve luz" (Bereshit 1:1-3). Há um Midrash (parte da Torá Oral) que que nos ensina que o exílio grego já estava indicado nos primeiros versículos da criação do mundo, nas palavras "e havia escuridão". Como esta escuridão foi afastada? Com a luz que D'us criou no primeiro dia. Mas que luz é esta, já que os astros somente foram criados no quarto dia? Esta luz é uma luz espiritual, não uma luz física. A escuridão era, portanto, uma ausência de espiritualidade. Esta é a essência do exílio grego.

O Helenismo, a cultura grega, glorificava o ser humano, tanto seu corpo quanto seu intelecto. Para os filósofos gregos, o mundo era governado por leis naturais inteiramente acessíveis ao intelecto humano. A cultura Ocidental é o legado desta visão grega. Muitos vivem imersos em um mundo onde não existe nenhuma realidade além do mundo material que nossos olhos enxergam. Outro legado grego é a "moralidade relativa", que nega a existência de um certo e errado absolutos pois se apóia na capacidade intelectual do ser humano de definir o certo e o errado. Isso causa com que muitas pessoas vivam completamente desprovidas de sentido em suas vidas, o que pode ser visto nos inúmeros casos de depressão, que ataca até mesmo jovens e crianças. Segundo os ensinamentos que ficaram dos gregos, somos apenas átomos organizados, um mero acaso no infinito universo. O entendimento profundo do universo foi substituído por explicações superficiais apenas porque eram mais entendidas pelo limitado intelecto humano.

O judaísmo, por outro lado, ensina que as leis da natureza existem, mas estão subordinadas a uma realidade superior. O intelecto humano é a ferramenta mais poderosa e confiável do ser humano, mas nada mais do que isso. Existe uma realidade moral e espiritual objetiva, mesmo que nem sempre o intelecto e nossos sentidos físicos possam captá-las e compreendê-las em sua totalidade.

A batalha foi difícil, e muitos judeus se deixaram seduzir pelas idéias gregas. Mesmo vivendo em Israel, o povo judeu estavam em exílio, não um exílio físico, mas sim um exílio espiritual. A escuridão da filosofia grega ameaçava contaminar todo o brilho do judaísmo. O judaísmo milagrosamente venceu a batalha, mas a guerra ainda não terminou, pois apesar dos gregos não mais existirem, seu legado continua, como definiu Winston Churchill no seu livro 'A história da Segunda Guerra mundial': "Nenhum outro povo conseguiu, como os judeus e os gregos, deixar uma marca tão forte no mundo inteiro, cada um em um ângulo completamente diferente". A luta continua, entre o entendimento de que existe uma Força Superior versus a vontade de acreditar somente no que os olhos enxergam. Entre a filosofia de que este mundo material é apenas um meio versus a idéia de que o mundo material é o propósito de tudo.

Não foi por coincidência que a vitória judaica sobre os gregos culminou em um milagre relativamente pequeno: um pote de óleo que deveria durar 1 dia mas durou 8 dias. Para os pensadores gregos, o mundo material é tudo o que temos. O óleo queimando por 8 dias é um símbolo que deixa para o mundo a idéia de que dentro do mundo material dos gregos existe uma outra dimensão. O desafio dos judeus é ver além do mundo físico e elevá-lo, permitindo que o potencial espiritual possa brilhar.

Para comemorar nossa vitória colocamos velas em nossas janelas, para que brilhem e iluminem a escuridão. Uma iluminação não apenas física, mas principalmente espiritual. É a mensagem de que, apesar de muitos pensarem que o ser humano é apenas um monte de células casualmente organizadas, a realidade é que dentro de cada um de nós brilha uma alma, esperando o momento de ser acendida e preencher seu potencial espiritual. Essa é a mensagem de Chánuka, esta é a mensagem do povo judeu para o mundo. Esse é o trabalho para o qual fomos escolhidos como "Luz para as nações".

SHABAT SHALOM E CHÁNUKA SAMEACH

Rav Efraim Birbojm