sexta-feira, 21 de maio de 2010

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ NASSÓ 5770

BS"D
CUIDANDO DOS SENTIMENTOS DOS OUTROS – PARASHÁ NASSÓ 5770 (21 de maio de 2010)
"O Rav Isser Zalman Meltzer era muito conhecido pelo seu extremo cuidado com os sentimentos dos outros. Fazia de tudo para nunca magoar outra pessoa. Sua sensibilidade era tanta que ele vivia os problemas dos outros como se fossem seus próprios problemas. Era frequentemente visto chorando por causa de problemas que pessoas que ele nem mesmo conhecia vinham lhe contar.
Certo dia o Rav Aharon Kotler, que era seu genro, e seu neto foram visitá-lo. Eles queriam se despedir do Rav Isser Zalman, pois estavam indo para Israel, onde participariam de um casamento. Após uma longa e agradável conversa, o Rav Aharon Kotler e seu filho se levantaram para sair e foram acompanhados pelo Rav Isser Zalman. O Rav Aharon Kotler achou que o Rav Isser Zalman os acompanharia até a rua, onde daria um abraço em seu neto. Mas isso não aconteceu, o Rav Isser Zalman não acompanhou os dois até a rua. Ele parou no meio das escadas, acenou com as mãos e desejou uma boa viagem.
Quando eles voltaram de viagem, o Rav Aharon Kotler questionou o comportamento do seu sogro. Ele era sempre tão carinhoso com seu neto, estava sendo lhe dando muitos abraços, por que na véspera da viagem ele havia se despedido apenas com um aceno de mão? O Rav Isser Zalman então explicou:
- Você sabe que minha vontade era dar um grande abraço no meu querido neto. Mas eu me lembrei que neste bairro moram muitas pessoas cujos netos foram assassinados pelos nazistas. Como eu poderia ir para a rua demonstrar publicamente a alegria de abraçar meu querido neto sabendo que há outras pessoas não podem fazer o mesmo?"
Este é o nível de sensibilidade que os nossos grandes líderes chegaram. Eles sentiam as dores dos outros. Eles se preocupavam com a honra de cada pessoa como se fosse a sua própria honra. Este é o nível que nós também podemos e devemos chegar.
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Nesta semana lemos a Parashá Nassó que, entre outros assuntos, descreve as oferendas trazidas pelos líderes das tribos do povo judeu. A partir do primeiro dia do mês de Nissan, quando finalmente o Mishkan (Templo Móvel) foi inaugurado, cada um dos líderes das 12 tribos trouxe uma oferenda pessoal em comemoração ao grandioso evento. Cada dia um dos líderes trazia suas oferendas, que incluíam utensílios de ouro e prata, animais, incenso e farinha. Porém, algo nos chama a atenção nas oferendas: apesar de serem oferendas pessoais e não-obrigatórias, todos os líderes trouxeram exatamente a mesma oferenda. Por que?
Além disso, uma das regras mais conhecidas da Torá é que ela é completamente concisa, isto é, nenhuma palavra está escrita sem motivo. O Talmud (Torá Oral) muitas vezes nos traz ensinamentos baseados em uma única letra que está escrita a mais na Torá. Então por que nesta Parashá a Torá se alonga tanto, repetindo as oferendas dos líderes por doze vezes seguidas, ao invés de escrever apenas as oferendas do primeiro líder e depois "e assim também trouxeram os outros líderes"?
Explica o Chafetz Chaim que nossa meta neste mundo é chegarmos a ser completos, e a única maneira é nos comportando como D'us. Ao estudarmos a Torá observamos como D'us se comporta conosco e aprendemos como nos comportar com as pessoas. Por exemplo, a Torá começa com um grande ato de Chessed (bondade), quando D'us fez para Adam e Chavá (Adão e Eva) roupas, de onde aprendemos que devemos nos assegurar que todas as pessoas tenham pelo menos o que vestir. A Torá também termina com um ato de Chessed, quando D'us pessoalmente cuidou do enterro de Moshé Rabeinu, de onde aprendemos a importância da Mitzvá de se ocupar com todos os detalhes do enterro de um morto.
Desta Parashá podemos aprender um conceito muito importante. A repetição das oferendas nos ensina o cuidado que devemos ter com a honra dos outros. Quando os líderes decidiram fazer doações ao Mishkan, eles se reuniram e decidiram entre si que todos trariam exatamente a mesma oferenda, evitando que surgisse a inveja e a competição dentro do povo judeu, sendo muito louvados por isso. Apesar de todas as oferendas serem iguais, se D'us tivesse escrito as oferendas apenas para o primeiro líder, como se sentiriam os outros? Certamente que, em algum nível, eles ficariam desapontados e tristes. Por isso a Torá fez questão de repetir cada uma das oferendas, para que nenhum dos líderes se sentisse menosprezado. D'us "gastou" muitos versículos em respeito à honra de cada líder. E se a sagrada Torá "gasta" versículos para não diminuir a honra de uma pessoa, quanto mais nós temos a obrigação de nos cuidarmos para nunca desprezar ninguém.
Infelizmente, em nossa sociedade ocidental, diferentemente dos ensinamentos da Torá, as pessoas estão longe de se preocupar com a honra dos outros. Muitas vezes, sem nem mesmo perceber, acabamos magoando, ofendendo e humilhando as pessoas. Por exemplo, colocamos apelidos depreciativos em nossos próprios amigos, em geral envolvendo características físicas que as pessoas preferiam esquecer. Também quando estamos em grupo nossas "brincadeiras" giram em torno de humilhar outras pessoas em público. E em geral nossas conversas estão sempre centradas em denegrir a imagem e a reputação de outras pessoas. Não porque somos pessoas malvadas, mas de acordo com os valores da sociedade onde vivemos, o mais importante é sempre o nosso próprio bem estar e não o dos outros. Muitos pensam inclusive "que mal há, é apenas uma brincadeira!".
O que parece coisas simples e sem importância para nós, aos olhos de D'us não são desprezadas. Ensinam os nossos sábios que aquele que envergonha o próximo em público é como se tivesse derramando sangue. Por que tanto? Pois palavras podem marcar, podem causar depressão e falta de auto-estima, podem fazer uma pessoa perder a alegria de viver. Nos preocupamos com marcas físicas, mas esquecemos que as marcas psicológicas são muito mais profundas e duradouras.
Temos que nos esforçar para cuidar da honra dos outros. Precisamos desenvolver a nossa sensibilidade, sentir que às vezes podemos ferir os outros com brincadeiras de mau gosto ou com palavras não medidas. A Torá nos ordena cuidar da honra dos outros da mesma forma que cuidamos da nossa própria. O grande sábio Hilel nos ensinou uma forma de aplicarmos isso na prática: "Não faça aos outros o que não gosta que te façam". Gostaríamos de receber apelidos que ressaltam nossas características físicas indesejadas? Gostaríamos de saber que as pessoas falam mal de nós? Certamente que não. Então, se é tão ruim para nós, por que continuamos fazendo isso aos outros?
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm