sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

SHABAT SHALOM MAIL - PARASHÁ VAISHLACH 5770

BS"D
É MAIS FÁCIL ACORDADOS - PARASHÁ VAISHLACH 5770 (04 de dezembro de 2009)
"Em uma vila moravam pessoas muito pobres, sem nenhum estudo. Não conheciam os avanços tecnológicos, viviam de maneira muito simples, suas casas ainda eram todas de madeira. Certa vez, em uma das casas irrompeu um grande fogo que começou a consumir tudo, enquanto lá dentro ainda havia um homem que, apesar do incêndio, dormia profundamente.
Os habitantes da cidade todos correram para a casa em chamas, e começou uma grande discussão de como salvar aquele homem, pois ele continuava dormindo e a cama era mais larga do que a porta. Tiveram então uma idéia genial: trouxeram machados e começaram a arrancar os batentes para alargar a porta, o que possibilitaria passar com a cama.
Naquela cidade estava de passagem um homem vindo da cidade grande, uma pessoa estudada e inteligente. Vendo o esforço das pessoas em alargar a porta, ele imediatamente gritou:
- Seus tontos, o que vocês estão fazendo? Por que vocês estão desperdiçando este tempo precioso? Até vocês terminarem de alargar esta porta, não haverá mais quem salvar! Por que vocês não acordam o homem e deixam que ele saia com suas próprias pernas, se salvando do incêndio?"
Quando acontecem sofrimentos em nossa vida, podemos tentar encontrar os motivos naturais que causaram o problema ou procurar em quem colocar a culpa. Mas não existe maneira mais eficiente de entender e acabar com os sofrimentos do que despertando do "sono" espiritual em que vivemos.
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Na Parashá da semana passada, Vaietze, Yaacov tinha fugido de casa para salvar sua vida, pois Essav, seu irmão, queria matá-lo. E na Parashá que lemos nesta semana, Vaishlach,Yaacov começou a voltar com toda sua família, após mais de 30 anos fora de casa. Talvez ele não esperava uma comissão de boas vindas, mas acreditava que o ódio de Essav já teria passado após tanto tempo. Ele enviou anjos para verificar a situação, mas os anjos não voltaram com boas notícias: Essav vinha ao encontro de Yaacov acompanhado de 400 homens, armados até os dentes. E não seguravam nenhuma faixa de "Bem vindo Yaacov".
Ao perceber que um confronto estava iminente, a Torá descreve que Yaacov teve medo, como está escrito "E Yaacov temeu muito, e isso o deixou angustiado" (Bereshit 32:8). Mas como entender este medo de Yaacov, pois aparenta uma grande falta de Emuná (fé) em D'us, que havia prometido que o protegeria. Não temos que acreditar sempre que D'us nos protegerá de coisas ruins? Mesmo que Essav vinha com um verdadeiro exército, D'us não poderia fazer milagres para protegê-lo?
Explica o livro Shaarei Teshuvá (Os portões do arrependimento), do Rebeinu Yona, que neste mundo ocorre um fenômeno interessante. Os Tzadikim (justos), que fazem muitos bons atos e cometem alguns poucos pecados, estão constantemente se preocupando e fazendo Teshuvá (voltando aos caminhos corretos), enquanto os Reshaim (malvados), que cometem muitos pecados e poucas boas ações, estão sempre tranqüilos e confiantes de si mesmos. Por que? Pois os Tzadikim têm Irat HaChet (medo do pecado), eles sabem a gravidade de cada mal ato e suas conseqüências, e por isso estão sempre temendo que possam ter feito algo errado. Já os Reshaim, que não refletem sobre seus atos e vivem como se nada tivesse consequências, estão sempre tranqüilos.
Era justamente este sentimento que atormentava Yaacov, e que o deixava tão preocupado. Em nenhum momento ele temeu por ter de lutar com menos pessoas ou com menos armas, pois ele tinha certeza de que D'us poderia fazer o que bem desejasse. O que Yaacov temia era que D'us talvez o castigasse com a derrota na batalha por causa de algum pecado que ele pudesse ter cometido. Em especial Yaacov tinha medo que Essav tinha os méritos de ter se esforçado muito para cumprir a Mitzvá de Kibud Av ve Em (Honrar os pais), enquanto ele havia passado muitos anos longe de casa, sem honrar os seus pais. Seu medo não era a luta física, e sim a luta espiritual, a possibilidade de que alguma transgressão diminuísse sua proteção espiritual.
Explica o Rav Yerucham Leibovitz que os Tzadikim sabem que todas as dificuldades e sofrimentos que passamos na vida são conseqüência das nossas transgressões. O Talmud (Torá Oral) traz o caso de Rav Huna, um Tzadik que tinha uma grande fortuna em vinho. Um dia Rav Huna foi verificar sua mercadoria e percebeu que seus 400 barris de vinho haviam fermentado e se transformado em vinagre sem valor, o que lhe causou um enorme sofrimento. Quando vieram questioná-lo sobre os motivos daquela gigantesca perda, Rav Huna fez uma longa reflexão sobre seus atos até que encontrou um erro que havia cometido e que explicava a perda e o sofrimento. Em nenhum momento ele procurou as causas naturais do vinho ter fermentado. Ele não colocou a culpa na qualidade dos barris, ele não procurou culpar a temperatura ou a umidade do ar, pois ele sabia que não existem causas naturais, tudo vem da mão de D'us, e portanto o motivo principal era o motivo espiritual. O Talmud conta que quando Rav Huna encontrou seu erro e fez Teshuvá, o valor do vinagre subiu tanto no mercado que ultrapassou o valor do vinho, fazendo com que as perdas dele se anulassem.
Nós fazemos justamente ao contrário. Quando nos acontece algo ruim, algum sofrimento ou dificuldade, procuramos a culpa sempre nos outros ou nos fenômenos naturais. O problema é a crise econômica, o presidente do Irã, os desvios de dinheiro do governo, o vizinho chato. O problema, aos nossos olhos, está sempre com os outros e não em nós mesmos. Chegamos ao extremo de colocar em D'us a culpa pelos nossos problemas e dificuldades na vida. Com isso perdemos a chance de fazer Teshuvá, de consertar algo que estamos fazendo de errado. Um dos conceitos mais importantes do judaísmo é que D'us nos manda castigos "Midá Kenegued Midá" (Medida por medida), isto é, da mesma maneira que erramos somos castigados. Isto ocorre justamente porque o castigo não é por que D'us está irritado conosco, e sim para nos dar a chance de refletir, encontrar o que erramos e consertar nosso erro.
Toda vez que buscamos a culpa nos outros, estamos na verdade fugindo do problema, dificultando a sua solução e nos deixando propensos a errar de novo. Quando despertamos e refletimos, temos a possibilidade de aprender com os nossos erros, aumentando nossas chances de consertá-los e de não voltar a errar novamente. Portanto, ao invés de continuar sempre procurado a culpa dos nossos problemas nos outros, devemos começar a procurar no lugar mais óbvio de todos: em nós mesmos.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm